SÃO LUÍS (GONZAGA) E O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
(Hoje,
21 de Junho, Comemora-se São Luís Gonzaga, Patrono da Juventude)
O Sagrado Coração de Jesus adorado por Santo Inácio de Loyola e São Luís Gonzaga |
Em
abril de 1600, no convento de Santa Maria dos Anjos, em Florença,
estava a mística Magdalena de Pazzi a considerar, com dez de suas
Irmãs, uma preciosa relíquia – um osso de um dedo de S. Luís.
Enquanto consigo revolvia de que bela alma fora instrumento aquele
osso que tinha na mão, arrebatada de improviso a contemplar a glória
de São Luís, em alta voz, como por vezes costumava, de modo que as
outras Irmãs puderam escrever suas palavras, exclamou: “Oh!
quanta é a gloria de Luís, filho de Inácio!… Quando era mortal
despendia setas ao Coração do Verbo; e agora, no céu, essas setas
repousam em seu coração; porque aquelas comunicações que ele
merecia com os atos de amor e união que fazia, agora
as entende e goza …”.
Serafim
em carne humana, abrasado no divino amor, Luís incendiava-se sempre
na contemplação da cruz e da Humanidade sacratíssima de Cristo, as
chamas que nesta terra o consumiam e ao presente o beatificam no céu.
O
incêndio de pura caridade para com seu ansiado Jesus, que lavrava
nesse coração ilibado, com muita razão lhe mereceu que
espontaneamente os fieis considerem a essa virtude como
característica própria de S. Luís e nele vejam um dos mais
notáveis precursores da virgem de Paray no culto do Coração
dulcíssimo de nosso Redentor.
Poucos
dias depois das revelações de Paray, o Pe. Croiset, em seu famoso
livro sobre a devoção ao Coração de Jesus,
entre outros meios para alcançar um terno amor ao Coração divino
apontava o recurso especial ao “Beato Luís Gonzaga”.
Por
isso escrevia-lhe Santa Margarida Maria, a 10 de agosto de 1689:
“Visto como V. R. indica a devoção ao Beato Luís Gonzaga como
meio eficaz para alcançar um grande amor ao Coração Santíssimo de
Jesus, ser-lhe-íamos muito agradecidas, se nos quisesse mandar uma
imagem dele, do mesmo tamanho que a do Pe. De la Colombière, para
colocá-la em nossa capela do Sagrado Coração…
Esse
mesmo livro traz uma gravura, em que vem representada a Virgem
Santíssima em ato de apontar o Coração de Jesus a São Francisco
de Sales e a S. Luís Gonzaga, como para indicar, na pessoa do
primeiro a ordem da Visitação, a qual pertencia Santa Margarida
Maria, e no segundo a Companhia de Jesus, que deu à Santa, como
diretor, o Venerável Pe. De la Colombiére.
Outro
apóstolo igualmente incansável do Coração divino, o Pe. de
Gallifet, em seu livro não menos célebre, sobre as excelências
do culto do Sagrado Coração, também concede a
São Luís lugar de destaque entre as almas de modo especial
consagradas a esse culto suavíssimo.
Se
durante a vida S. Luís foi um Serafim abrasado no amor do Coração
de Jesus, mostrou-se, depois da sua morte, apóstolo de nossa devoção
querida. Para comprová-lo, quero aqui, em poucas linhas, referir um
fato que teve grande fama. Deu-se o acontecimento três dias apôs o
breve apostólico de Clemente XIII que, para toda a Igreja, instituía
a festa do Sagrado Coração, designando para a mesma a primeira
sexta-feira depois da oitava do Corpo de Deus.
Em
1675, jazia gravemente enfermo, no noviciado romano da Companhia de
Jesus, o jovem Nicolau Celestini. Tudo sofria com admirável
paciência o exemplar noviço, e com inteiríssima resignação à
vontade de Deus. Tinha, porém, um ardente desejo de não passar
desta vida sem confortar-se com o Viático do Senhor. Mais se
inflamou neste desejo santo, ao ouvir os discursos que faziam os
circunstantes sobre o Sacratíssimo Coração de Jesus, de que fora
devotíssimo, e cuja festa havia sido, poucos dias antes, a 7 de
fevereiro, aprovada pela Santa Sé.
Acrescia
a isto que, não podendo ele ver absolutamente nada, contudo, quando
se lhe punha diante dos olhos uma devota imagem do Sagrado Coração,
contemplava-a com atenção e claramente a distinguia, o que aumentou
nele a confiança de que seus anseios seriam satisfeitos.
O Milagre de S. Luís Gonzaga ao noviço Celestini (óleo sobre tela, Miguel Cbrera, 1766) |
Rogou,
pois, que lhe dessem de beber água misturada com um pouco da farinha
milagrosamente multiplicada por São Luís. Assim se fez, e, na
segunda vez, a prova deu feliz resultado, por onde pôde receber o
sagrado Viático, e ainda uma vez apertar ao peito o Coração do
amoroso Jesus, antes de o ver, já sem véu, como esperava, no
paraíso. Desenganado do médico, aguardava sereno o fatal desenlace,
quando, de um modo portentoso, interveio a prolongar-lhe a vida o
nosso São Luís.
O
que se deu, narrou-o o próprio Celestini, e disse como naquela
manhã, estando a ponto de ser novamente assaltado de convulsões,
começara a ver a imagem de São Luís, que não pudera ainda ver em
todo o tempo da doença, e que assim continuara a vê-la por toda a
manhã. Ultimamente, tinha-o visto como inflamar-se de improviso, e
resplandecer com luz brilhantíssima, do meio da qual, em certo modo,
saíra, adiantando-se para ele, o amabilíssimo São Luís, não de
perfil e nem só em busto, como no quadro, mas inteiro e com o rosto
voltado para o enfermo. Estava vestido como o representa o relevo no
altar do Colégio Romano; na mão esquerda trazia um crucifixo,
ficando livre a direita. Com esta tinha-lhe o Santo feito sinal de se
aproximar, e Nicolau se esforçara por achegar-se a ouvir o que
queria seu celeste amigo; mas, recaindo logo de costas e tornando a
deitar-se, continuara sempre a vê-lo, sem poder ter que não
exclamasse: “Quanto sois belo, meu S.
Luís!” A um novo aceno do Santo, levantara-se outra
vez, e ouvira dele estas palavras: “Que queres, a
saúde ou a morte?” Ao que respondendo Nicolau: “Seja
feita a vontade de Deus”,
prosseguiu o benigníssimo Santo:
“Pois
que na tua doença nada mais desejaste que o Sagrado Viático, e em
tudo o mais te conformaste com a vontade de Deus, o Senhor, por minha
intercessão, te conserva a vida, contudo que cuides em te
aperfeiçoar, e procures em todo o tempo dela propagar o culto do
Sagrado Coração de Jesus, que é sumamente agradável ao céu.”
Dito
isto, lançou-lhe a bênção, e, deixando-o completamente são,
desapareceu.
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FONTE:
livro São Luiz Gonzaga Padroeiro da Juventude Catholica Esboço
Biographico e Devocionario, Casa
Mayença, São Paulo/1926, Cap. XVII, pp. 64-69 – Texto
revisto e atualizado.
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