«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

HORA SANTA DO MÊS DE JUNHO
(por Santo Afonso de Ligório)


"Aqui está o coração que tanto amou os homens"
(postal francês)
CORAÇÃO DE JESUS, AFLIGIDO POR CAUSA DOS PECADOS DO MUNDO


Parece que o Coração de Jesus nos convida ao pio exercício da Hora Santa por estas palavras do profeta Jeremias: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai-me e vede se dor igual à minha dor. Para conceber toda a extensão e intensidade dessa aflição, é necessário que meditemos: de um lado o amor que nos tinha o Coração de Jesus desejoso de nos salvar a todo preço, do outro, o horror que ele tinha do pecado, causa de nossa perdição. Seria muito, alma fiel, consagrar cada mês uma hora a esta meditação tão salutar?

Jesus trazia todos os homens no seu Coração, porque ele amava a todos. Mas sendo eles todos pecadores, que eram para o Coração amante de Jesus, senão cruéis espinhos que o dilaceravam segundo o pensamento de Santo Agostinho? É, portanto verdade que nós temos sido os algozes desse Coração amabilíssimo, e algozes mais cruéis do que aqueles que rasgaram o corpo do Salvador.

Com efeito, procurai no Jardim das Oliveiras, e não achareis nem algozes para o flagelar, nem espinhos, nem cravos, e entretanto o sangue divino corre. Ele teve, diz S. Lucas, um suor de sangue que corria na terra em forma de gotas de chuva (Lc 22,44). Qual pode ser a causa deste suor? É a previsão de seu suplício que o lança nessas agonias? Não, porque ele se ofereceu espontaneamente para padecê-lo. (Is 58,7) Ah! Não busquemos outra causa que os nossos pecados. Da mesma sorte que o lagar faz correr o vinho da uva, assim nossos pecados fizeram correr o sangue das veias sagradas de Jesus Cristo. Quantas vezes não temos contribuído para esta aflição aumentando o peso de nossas faltas? Ah! Pesemos aqui a malícia do pecado, a fim de maldizer para sempre o que tanto afligiu o Coração deste bom Senhor.

O pecador aflige o Coração de Jesus, porque desonra a Deus. (Rm 2,23) cuja gloria o Salvador veio restabelecer. Não renuncia, com efeito, à graça santificante e a amizade divina por uma indigna satisfação? Se o homem consentisse em perder a amizade divina para ganhar um reino, e até o mundo inteiro, certamente faria imenso mal, porque a amizade de Deus vale mais que o mundo e mil mundos. Mas por que o pecador ofende a Deus? Por um pouco de terra, por um movimento de cólera, por um prazer brutal, por um fumo, por um capricho. Quando o pecador se põe a deliberar se consentirá ou não no pecado, toma, digamos assim, a balança na mão, para ver o que pesa mais, o que é preferível, a graça de Deus, ou essa paixão, esse fumo, esse prazer; quando, em seguida, dá seu consentimento, declara, quanto o pode fazer, que essa paixão, esse prazer, valem mais que a amizade de Deus! Não é isto desonrar a Deus? O pecador aflige também o Coração de Jesus, porque entrega-se ao poder do demônio, cujo império o Salvador veio destruir. Quando a alma consente no pecado, diz a Deus: Senhor, retirai-vos de mim. (Jó 21,14) Ela não o diz com a boca, mas de fato, porque sabe que Deus não pode ficar com o pecado; pecando, ela o obriga então a separar-se. E expulsando a Deus de seu Coração, faz entrar nele imediatamente o demônio para lhe tomar posse. Pela mesma porta pela qual sai Deus, entra o inimigo que vem estabelecer-se como senhor em lugar de Deus. Quando se batiza um menino, o Coração de Jesus se regozija porque o padre intima o demônio a ordem de sair dessa alma e dar o lugar ao Espírito Santo. Mas quando o homem consente no pecado, o Coração divino se aflige, porque o pecador diz a seu Deus que saia de sua alma e ceda o lugar ao demônio.

Não é isto restabelecer o império de Satanás, destruído pela Redenção? Enfim, o que aflige o Coração de Jesus, é que o pecador o obriga a pronunciar sobre sua cabeça a fatal sentença de condenação: Retira-te de mim maldito, vai para o fogo eterno. (Mt 25,41) Desgraçado daquele que rejeita as graças que Jesus Cristo lhe granjeou por tantos trabalhos e dores! Ah! Seu maior tormento no inferno, será pensar que Deus, para atraí-lo a seu amor, deu sua vida sobre uma cruz, e que ele, de seu modo próprio, quis se perder, e de modo irreparável, para sempre! ... durante toda a eternidade!... Ó eternidade! …

PRÁTICA

Oferecerei muitas vezes ao eterno Pai as aflições do Coração de Jesus, em reparação de meus pecados e de todo o mundo.

AFETOS E SÚPLICAS

Assim, meu Jesus, não foi a vista dos açoites, dos espinhos e da cruz, que vos causaram tanta aflição no Jardim de Getsêmani, foi a vista de meus pecados, cada um dos quais acabrunhou vosso Coração com tanta dor e tristeza, que vos fez suar sangue e vos reduziu à agonia. Eis aqui como respondi ao amor que me testemunhastes morrendo por mim. Ah! Dai-me parte da dor que sentistes por causa de meus pecados no Jardim das Oliveiras, a fim de que esta dor me conserve em aflição durante todo o resto de minha vida. Ó meu terno Redentor, pudesse eu agora vos consolar, por meu arrependimento e amor, tanto quanto vos tenho afligido! Do fundo da minha alma me arrependo, ó amor meu, de ter preferido a vós satisfações miseráveis: disto me arrependo, ó meu Jesus, e amo-vos sobre todas as coisas. Apesar de meus pecados, sei que me pedis meu amor: Amareis, dizeis, o Senhor vosso Deus de todo vosso Coração e de toda vossa alma. (Mt 22,37) Sim, meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, eu vos amo de toda a minha alma: dai-me vós mesmo todo o amor que de mim quereis. Se outrora procurei a mim mesmo, quero agora procurar somente a vós, conhecendo que me tendes amado mais do que os outros, quero também vos amar mais que os outros.

Atraí-me sempre, meu Jesus, atraí-me cada vez mais a vosso amor pelo odor de vossos perfumes, isto é, pelos doces atrativos de vossa graça. Dai-me, numa palavra, a força de corresponder à ternura de um Deus para com um verme da terra, ingrato e infiel. Ó Maria, Mãe de misericórdia, assisti-me com vossas orações.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Eterno Pai, perdoai-me pelos merecimentos do Coração de Jesus.

EXEMPLO

Santa Rosa de Lima teve o feliz destino de tornar-se esposa do Coração de Jesus. Um dia em que ela estava cercada de alguma de suas companheiras, veio uma borboleta, que, voando algum tempo à sua esquerda, pousou sobre seu coração. Depois de ter estado ai alguns instantes numa atividade contínua, voou, deixando na roupa da virgem donzela um coração perfeitamente desenhado. Todas as pessoas presentes notaram com surpresa esta pintura misteriosa, mas sem compreenderem sua significação. Rosa também não compreendeu. Somente ouviu uma voz que lhe dizia: Rosa, dá-me teu coração. Um dia Jesus Cristo lhe apareceu com sua divina Mãe, e disse-lhe esta palavra, a mais suave e amável que um Deus pode dirigir à sua criatura: Rosa de meu coração, sede para sempre minha esposa fiel. Para não perder a lembrança de tão grande beneficio, ela formou o desígnio de mandar fazer para si um anel nupcial. Rosa comunicou este projeto a seu irmão, sem lhe falar do que sucedera. Este bom irmão, desejando ver logo cumprida a vontade de Rosa, tirou medida no dedo dela e desenhou o anel num papel, ornando-o com um pequeno medalhão representando Jesus Cristo. Restava só tratar-se da divisa que devia cercá-lo. Rosa, com o olhar, consultava a seu irmão; este não fez esperar sua decisão: tomou a pena e escreveu estas palavras: Rosa de meu coração, sede minha esposa. Grande foi o espanto desta Santa donzela, vendo seu irmão reproduzir, sem o saber, as mesmas palavras que Jesus Cristo lhe dirigira na maravilhosa aparição com que a honrara.

Ela foi esposa fiel, porque, não obstante ficar no mundo, amou a Jesus Menino, a Jesus nos tormentos, e a Jesus na Eucaristia, de um modo superior ao que nos é possível imaginar.

Na idade de quatorze anos, ela já comungava três vezes por semana. Rosa preparava-se para o divino banquete, como se cada vez fosse a última de sua vida. «Não há neste mundo, dizia ela, prazer, nem gozo que possa dar uma ideia da alegria que sinto no delicioso festim, em que minha alma faminta come a carne de meu Deus.» Por um efeito de sua devoção para com o Santíssimo Sacramento, ela assistia cada dia a todas as Missas que se diziam na igreja dos Dominicanos. Nos dias em que havia exposição do Santíssimo, ficava em adoração desde a manhã até a tarde. Quando se nomeava o Santíssimo Sacramento na conversação, ela inclinava a cabeça; um de seus mais deliciosos prazeres era ouvir exaltado pelos pregadores este inefável mistério. Não contente de ornar os tabernáculos com flores naturais que ela cultivava no seu jardim, fazia artificiais de beleza surpreendente. Uma parte de suas noites era consagrada a esta ocupação, reservando o dia para trabalhar para sua família, que não tinha grande fortuna. A feliz esposa do Coração de Jesus deixou a terra para receber a coroa das virgens, em 1617.





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 238-243 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil)

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI


Coração Eucarístico de Jesus
(postal Italiano)
O DIVINO CORAÇÃO DE JESUS, FORNALHA DE AMOR POR NÓS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Com razão, São Bernardo chama o divino Sacramento da Sagrada Eucaristia, Amor amorum, o Amor dos amores. Porque se abrirmos os olhos da fé para contemplar os prodigiosos efeitos da bondade inefável de nosso Salvador para conosco neste adorável mistério, veremos as oito chamas de amor que de contínuo saem desta admirável fornalha.

A primeira chama consiste no amor inconcebível do divino Coração de Jesus, que levou-lhe a se encerrar neste sacramento, e o obriga a morar nele continuamente, dia e noite, sem sair jamais, para estar sempre conosco, a fim de realizar a promessa que nos fez por estas palavras: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.»1. “És o bom pastor que quer estar sempre com suas ovelhas. És o médico divino que quer estar sempre à cabeceira de seus enfermos. És o pai cheio de ternura que jamais abandona a seus filhos. És o amigo fidelíssimo e afetuosíssimo que encontra suas delicias em estar com seus amigos: Deliciae meae esse cum filiis hominum2”.

A segunda chama desta ardente fornalha é o amor do Coração adorável de Nosso Salvador, que neste sacramento lhe impõe muitas, e grandiosas e importantes ocupações por nós. Porque aqui está adorando, louvando e glorificando incessantemente a seu Pai por nós, ou seja, para dar cumprimento às infinitas obrigações que nós temos em adorar-lhe, louvar-lhe e glorificar-lhe.

Aí está rendendo contínuas ações de graças a seu Pai por todos os bens corporais e espirituais, naturais e sobrenaturais, temporais e eternos que nos têm feito, continua fazendo-nos e seguirá fazendo, se nós não o impedirmos.

Está aí amando por nós a seu Pai, ou seja, cumprindo nossos deveres pelas infinitas obrigações que temos de lhe amar.

Está aí oferecendo seus méritos para satisfazer a seu Pai, para pagar-lhe, por nós, pelo que lhe devemos por nossos pecados.

Está aí rogando continuamente a seu Pai por nós, e por todas as nossas necessidades: «Pois vive sempre para interceder por eles»3.

A terceira chama desta fornalha, é o amor infinito de nosso amável Redentor, que impulsiona a sua onipotência para fazer-nos muitos prodígios neste adorável Sacramento, convertendo o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue, realizando muitos outros milagres que superam incomparavelmente a todos os que fizeram Moisés, os Profetas, os Apóstolos e até mesmo nosso Salvador enquanto esteve na terra. Porque todos esses milagres se fizeram unicamente na Judéia, mas estes se realizam em todo o universo. Aqueles foram passageiros e de pouca duração, mas estes são contínuos e durarão até o fim do mundo. Aqueles se fizeram em corpos separados de suas almas, que ressuscitaram, em enfermos que foram curados, e em outras criaturas parecidas, porém, os atuais se fazem no corpo adorável de um Deus, em seu precioso sangue e até na glória e grandezas de sua divindade, que estão neste Sacramento como que aniquiladas, sem que, de nenhuma forma, apareçam, como se na realidade não existissem.

A quarta chama está assinalada nestas divinas palavras do Príncipe dos Apóstolos, o melhor do Espírito Santo que fala por sua boca: «Deus primeiro enviou seu Filho Jesus a vós, para que nisso fosses abençoado»4; e vindo este Filho adorável todo cheio de amor por nós, e com um desejo ardentíssimo de derramar incessantemente suas santas bênçãos sobre os que lhe honram e lhe amam como a seu Pai. Principalmente por este divino Sacramento cumula de bênçãos os que não a recusam.

A quinta chama é seu amor imenso por nós, que lhe obriga conceder-nos todos os tesouros da graça e de santidade que adquiriu na terra. E, com efeito, na santa Eucaristia nos concede bens imensos e infinitos, graças abundantíssimas e muito particulares, se possuirmos as disposições necessárias para recebê-las.

A sexta chama é o amor ardentíssimo que lhe põe todos os dias à nossa disposição, não só para enriquecer-nos com os dons e graças que, com seu sangue nos adquiriu, senão também para dar-nos a si mesmo inteiramente pela santa comunhão; quer dizer, dar-nos sua divindade, sua humanidade, sua pessoa divina, seu corpo adorável, seu sangue preciosíssimo, sua santa alma, numa palavra, tudo o que tem e é, enquanto Deus e enquanto homem; e, consequentemente, dar-nos seu eterno Pai e seu Santo Espírito, que são inseparáveis d'Ele; como também nos inspirar a devoção à sua Santíssima Mãe, que segue seu divino Cordeiro por todos os lugares, muito mais que as santas Virgens, das quais se diz: «Estas são as que seguem o Cordeiro para onde quer que vá»5.

A sétima chama é o amor infinito que leva este boníssimo Salvador a se sacrificar agora continuamente por nós. Amor que, de certa maneira, supera o amor com que se imolou no altar da cruz. Porque lá se imolou só no Calvário, e aqui se sacrifica em todos os lugares nos quais se faz presente por meio da santa Eucaristia. Lá, imolou-se só uma vez, aqui sacrifica-se milhões de vezes, todos os dias. É certo que o sacrifício da cruz se realizou em um mar de dores, e o daqui se faz em um oceano de gozo e de felicidade; entretanto, estando o Coração de nosso Salvador tão abrasado de amor por nós agora como antes, se for possível e necessário para nossa salvação, está disposto a sofrer as mesmas dores que suportou ao se imolar no Calvário, tantas vezes como a cada dia se sacrifica em todos os altares do mundo, e isso por causa do infinito e imenso amor que nos tem.

A oitava chama dessa amável fornalha, consiste no amor que nosso benigníssimo Redentor nos demonstra quando dá aos homens todos esses testemunhos de sua bondade, num tempo em que não recebe da maior parte deles senão demostrações do mais furioso ódio que se possa imaginar.
Na Santa Ceia, Jesus institui o Sacramento da Eucaristia

Em que tempo nos fez patente tanto amor? O último de seus dias e a véspera de sua morte, é quando instituiu este divino Sacramento, quando os homens despejavam contra Ele tanta raiva e furor como os demônios, segundo estas suas palavras: «Mas esta é a vossa hora e do poder das trevas»6.

Ó Salvador meu, não tens Vós senão pensamentos de paz, de caridade e de bondade para com os homens, e eles não têm senão pensamentos de malícia e de crueldade contra Vós. Vós não pensais senão em encontrar meios de salvá-los; e eles não pensam senão encontrar meios de se perderem.

Todo vosso Coração e todo vosso Espírito se dedicam a romper as cadeias que lhes mantém cativos e escravos dos demônios; e eles os vendem, os traem e os entregam nas mãos de vossos cruéis inimigos. Vós vos ocupais em instituir um Sacramento admirável, para estar sempre com eles, mas eles não querem nada de Vós, se esforçam por retirá-los do mundo, exilá-los da terra, e, se puderem, até aniquilá-los. Vós lhes preparais uma infinidade de graças, de dons e de favores na terra, tronos magníficos e coroas gloriosas para o céu, senão quiserem fazer-se indignos delas; e eles, vos preparam cordas, açoites, espinhos, cravos, lanças, cruzes, cusparadas, opróbrios, blasfêmias, e toda sorte de ignomínias, de ultrajes e de crueldades. Vós lhes fazeis um festim deliciosíssimo com vossa própria carne e vosso próprio sangue; e eles vos oferecem fel e vinagre. Vós lhes dais vosso corpo santíssimo, inocentíssimo e imaculado; e eles o marcam a golpes, dilacerando-o à força de açoites, traspassam-no com cravos e com espinhos, e cobrem-lhe de chagas, desde os pés até a cabeça, desconjuntando-o na cruz, fazendo-lhe sofrer os mais terríveis suplícios. Enfim, Senhor meu, Vós os amais mais que o vosso sangue e vossa vida, posto que por eles vos sacrificastes, e eles vos arrancam a alma do corpo à força de tormentos.

Ó que bondade! Ó que caridade! Ó que amor de vosso Coração adorável! Ó Salvador meu! Ó que ingratidão, que impiedade, que crueldade a do coração humano para convosco!

O que então passastes (no Calvário), passas também agora. Porque vosso amabilíssimo Coração, ó Jesus meu, está neste Sacramento, todo abrasado de amor a nós, e está aí para nosso bem, cheio de efeitos de sua bondade. Porém, de que forma vos devolvemos, Senhor meu? Com ingratidões e ofensas de mil modos e maneiras, de pensamentos, palavras e obras, pisoteando vossos divinos mandamentos e os de vossa Igreja. Ah! Que ingratos somos! Nosso benigníssimo Salvador nos há amado tanto que haveria de morrer de amor por nós mil vezes enquanto esteve na terra, se não houvesse conservado Ele mesmo sua vida milagrosamente, e a ser possível, e se necessário fosse para nossa salvação, estaria ainda disposto a morrer mil vezes por nós. Morramos de dor à vista de nossos pecados, morramos de vergonha ao ver que tão pouco amor lhe temos, morramos mil vezes antes de lhe ofendermos no futuro. Oh! Salvador meu, concede-nos esta graça! Oh! Mãe de Jesus, obtêm-nos de vosso amado Filho este favor!


____________________ São João Eudes, Apóstolo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria



NOTA DO BLOG: Mais tarde postaremos a meditação para Hora Santa de Junho, pois amanhã é a Primeira Sexta-Feira do mês dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, no Mês do Sagrado Coração.




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1 Mateus 28,20
2 Provérbios 8,20
3 (Hebreus 7,25): “Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles.” (grifamos)
4Misit Deus Filium suum benedicentem vobis” (At 3,26)
5 Atos 14,4
6 Lucas 22,53


FONTE: opúsculo, em PDF, “El Corazón de Jesús”, Obras de San Juan Eudes, Editoria “San Juan Eudes”, Usaquen-Bogotá, D.E., 1957, Capítulo IX: El Divino Corazón de Jesús, Horno de Amor a Nosotros en el Stmo. Sacramento – Texto por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Lyceu do Sagrado Coração de Jesus


ENTENDENDO A DOUTRINA E O CULTO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Foto: Gaudium Press

Estando às portas da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, é sempre conveniente nos perguntarmos se realmente compreendemos o que estamos fazendo quando oramos de modo privado ou comunitário, no dia dessa Solenidade1, bem como na primeira sexta-feira de cada mês ou noutro momento em que a oração tenha como fim este mesmo Coração do Redentor.

Não nos dedicaremos, nesta postagem, à história do culto ou aos detalhes litúrgicos, mas ao aspecto doutrinal, que obviamente é também indispensável para que amemos o que, enfim, conhecemos.

Que diríamos nós a um protestante que nos perguntasse o que significa este culto ao Coração de Cristo?

Pois bem, tomaremos como base a sempre recomendada Catholic Encyclopedia, no tópico sobre a “Devoção ao Sagrado Coração”.

Primeiramente convém afirmarmos categoricamente que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus nada mais é que uma forma especial de devoção ao Senhor Jesus. São o seu objeto, seus fundamentos e seu ato próprio que a distinguem.

OBJETO

A palavra "coração" se identifica imediatamente com o órgão vital que bate em nosso peito, mas também a aspectos de nossa vida moral e emocional, com os quais vagamente percebemos alguma íntima conexão. Por esta razão a palavra "coração", na linguagem simbólica, designa estas mesmas coisas simbolizadas por ele. Às vezes ocorre de a palavra passar a designar tão somente as coisas simbolizadas e já não mais a realidade material. Ex: "alma" ou "espírito" não nos sugerem normalmente um pensamento relacionado à respiração; "coração" muitas vezes nos sugere a ideia de coragem, amor, etc. Assim sendo, isto está mais para uma metáfora do que para um símbolo, dado que o símbolo é um sinal real e a metáfora é um sinal verbal.

Em nosso contexto, o culto é tributado ao Coração de carne, ao passo em que este simboliza o amor de Jesus, e sua vida emocional e moral. Direcionado ao Coração material, o culto não para por aí, mas inclui o amor, que é o seu principal objeto, e que é alcançado pelo Coração de carne, sinal e símbolo deste amor.

Nesta devoção, portanto, não se cultua isoladamente o coração físico, nem tão somente a caridade de Cristo, mas consideram-se os dois elementos: o elemento sensível, que é o coração de carne, e o elemento espiritual, que o coração de carne recorda e representa. Estes dois elementos não devem ser entendidos como dois objetos distintos, mas como um todo. Dos dois, todavia, sobressai como essencial o amor de Cristo, que é como a causa e a razão da devoção de que tratamos. Resumamos dizendo que esta devoção é ao coração de Cristo, enquanto ele recorda e representa o seu amor, ou ao amor de Cristo, enquanto recordado e simbolicamente representado por seu coração de carne.

Sendo assim, a devoção se baseia sobretudo no simbolismo do coração e, por isto, não se preocupa tanto com a anatomia. Aliás, deixar o simbolismo menos evidente, em prol de uma precisão anatômica (ex: pintá-lo ou esculpi-lo cheio de veias, artérias, átrios, ventrículos e outros detalhes do órgão humano), seria uma injúria a esta devoção.

A ferida no coração (como se retrata nas imagens) é bastante conveniente e acaba por completar o simbolismo, pois nos recorda e representa o amor ferido do Senhor (ex: por nossas ingratidões).
Detém-te francês do Coração de Jesus

O Coração de Jesus também designa o próprio e inteiro Senhor, todo amante e amável, sua Pessoa.

Fase indispensável da devoção ao Coração do Senhor é, também, o reconhecimento de que este amor é rejeitado, desprezado, ignorado. Esta realidade é bastante encontrada nas Escrituras e nas experiências das vidas dos santos (particularmente nas próprias aparições do Senhor a Santa Margarida Maria, no fim do séc. XVII, que deram forma a esta devoção).

Este amor do Senhor manifesta-se nele por inteiro, em suas palavras e atos, mas três mistérios brilham de forma inigualável quando se trata de seu amor: a Encarnação, a Paixão e a Eucaristia.

No Coração de Cristo este amor não é encontrado apenas pelos homens, mas também por Deus. Todavia, esta devoção dirige-se, sobretudo, "ao Coração que tanto amou os homens", como dizem as palavras dirigidas a Santa Margarida Maria.

Por fim, poder-se-ia perguntar se este amor seria o amor de Jesus homem ou o amor de Jesus Deus. Ora, o objeto desta devoção é o amor de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus feito homem.

FUNDAMENTOS

– Históricos

Ainda que se possa dizer que esta devoção foi principalmente propagada pelo movimento nascido em Paray-le-Monial, cidade francesa, com as visões e o apostolado de Santa Margarida Maria Alacoque (22/07/1647~17/10/1690), a devoção não seria menos sólida ou digna se elas fossem falsas. Ainda que ajudada pelas visões, a devoção não depende necessariamente delas. A Igreja, aprovando-a, examinou as duas coisas separadamente.

– Teológicos

O coração de Jesus, como tudo que pertence à sua Pessoa, é digno de adoração (culto de latria, que se deve a Deus somente). Não se considera o coração como isolado ou não conectado à Pessoa de Jesus. Como já dito, este culto se estende, do coração de carne, ao amor de Jesus, do qual é símbolo vivo e expressivo. Sendo uma devoção dirigida à Pessoa de Jesus, ela não precisa de nenhuma justificativa ou argumentação especial. Jesus, o rosto vivo da bondade e do amor de Deus, Jesus infinitamente amante e amável, é o objeto da devoção ao seu Sagrado Coração e, enfim, o objeto mesmo de toda a religião cristã.
Aparição a Santa Margarida Maria Alacoque
século XVII

– Filosóficos e Científicos

Para esta devoção não é preciso dizer que o coração é o "órgão do amor". Para a devoção basta que o coração seja o símbolo do amor e que, como base, exista uma conexão entre o coração e as emoções. O simbolismo do coração é um fato; qualquer pessoa pode experimentar e afirmar que no coração há uma espécie de eco de nossos sentimentos. Um estudo fisiológico sobre isso não é, todavia, necessário.

ATO PRÓPRIO

Este ato é exigido pelo próprio objeto da devoção, e seria exatamente o amor por Jesus. Ele é caracterizado pelo amor recíproco e sua meta é amar a Jesus que tanto nos amou, retribuir amor com amor. Dado que o amor de Jesus manifesta-se para a alma devota como um amor desprezado e ultrajado, o amor expressado na devoção assume naturalmente um caráter de reparação. Daí a importância dos atos de desagravo, a Comunhão reparadora e a compaixão por Jesus padecente. Todavia, nenhum ato especial pode esgotar a devoção ao Sagrado Coração.

Esta devoção nos recorda e ensina a obedecer ao sagrado mandamento: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças" (Mc 12,30).

Segundo o Servo de Deus Pe. João Batista Reus, SJ, "é sobretudo no Sacrossanto Sacrifício da Missa que nos é dado retribuir o Amor do Sagrado Coração de Jesus. Eis porque a Santa Missa em honra do Sagrado Coração é a melhor devoção ao mesmo". Recomendamos nossa postagem sobre esta devoção na vida do Servo de Deus2.

Por fim, recomendamos a leitura da Carta Encíclica Haurietis Aquas, do Papa Pio XII, que trata exatamente do culto ao Sagrado Coração de Jesus, e da qual queremos enfatizar a seguinte exortação:

"Desejando ardentemente opor segura barreira às ímpias maquinações dos inimigos de Deus e da Igreja, como também fazer as famílias e as nações voltarem ao amor de Deus e do próximo, não duvidamos em propor a devoção ao Sagrado Coração de Jesus como escola eficacíssima de caridade divina; dessa caridade divina sobre a qual se há de construir o reino de Deus nas almas dos indivíduos, na sociedade doméstica e nas nações, como sabiamente advertiu o nosso mesmo predecessor (Leão XIII), de piedosa memória: 'Da caridade divina recebe o reino de Jesus Cristo a sua força e a sua beleza; o seu fundamento e a sua síntese é amar santa e ordenadamente. Donde necessariamente se segue o cumprir integralmente os próprios deveres, o não violar os direitos alheios, o considerar os bens naturais como inferiores aos sobrenaturais, e o antepor o amor de Deus a todas as coisas'" (Haurietis Aquas, 73).



______________Luís Augusto - membro da ARS





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1 A postagem foi originariamente publicada no dia 26 de junho de 2014 (véspera da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus), daí porque adaptamos esta parte do texto para o dia de hoje, final de maio, mês que antecede a celebração da solenidade.

2 Postaremos,  oportunamente, o referido texto.




FONTE: blog Associação Redemptionis Sacramentum – Texto revisto e com grifo e alguns destaques nossos.