«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quarta-feira, 31 de outubro de 2018


REFLEXÕES A FAZER NA NOITE ANTES DA PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DE CADA MÊS (Frei Salvador do Coração de Jesus, Frade Terceiro dos Menores Capuchinhos)



Alma minha, reentra em ti mesma e considera por um instante quanto te ama o Coração de Jesus ….

Apesar de tuas repetidas recaídas … apesar de tuas infidelidades, o seu Coração não deixa num um só instante de te amar. Ainda mesmo quando te afastavas para longe dele, ainda mesmo quando tapavas os ouvidos para não ouvir a sua voz amorosa, que te repetia docemente 'Filha minha, volta arrependida ao meu Coração …', e tu ingrata não o querias ouvir … o Coração de Jesus te amava da mesma forma! … e quando, finalmente cega pelas paixões, enganada pelo falaz prazer, seduzida pelo demônio, ousando expulsar o divino amante da morada de tua alma e, com o fato se não com palavras, consentindo no pecado, tu lhe disseste: 'vai-te, importuno!' lembras-te disso? … então o Coração de Jesus deu lugar a Satanás … Mas oh! Coração de um Deus! Jesus partiu, mas não fugiu para longe, como tu o merecias que fugisse … Ele parou assentando-se à porta de tua alma, esperando com paciência que tu, impelida pelos desenganos e remorosos, o tornasses a chamar … Eis como te amou e te ama o Coração de Jesus.

Alma cristã, não será essa a história de tua vida? Diante desse excesso de amor do Coração de Jesus, não pensas em nada? Prostra-te arrependida a seus pés, repetindo ao seu Coração a palavra de São Paulo: 'Senhor, que quereis de mim, falai, Senhor, que o vosso servo vos escuta … Está já preparando meu coração, está …. Senhor, mostrai-me o que sou e fazei que me conheça a mim mesmo'.

Coração Sacratíssimo de Jesus, Vós me tendes sempre amado tanto; eu, também, da minha parte, Vos quero amar, e até já não quero amar outra coisa alguma, senão a Vós. Dai-me, pois, a graça que eu seja o que sou e que deveria ser. Coração de meu Jesus, fazei que eu veja a minha alma, que veja como ela realmente é … veja os meus pecados e os aborreça; veja as minhas fraquezas e não as desculpe. Coração de Jesus, fazei que eu veja e conheça as vossas misericórdias sempre maiores que as minhas misérias. Coração de Jesus, Vós vedes que eu agora estou resolvido firmemente a abandonar o pecado; ajudai-me, pois, com a vossa santa graça a fazer uma boa e sincera confissão, a fim de que Vos possa receber em meu pobre coração no banquete eucarístico amanhã, e isso de modo mais digno possível, para poder merecer o favor da Vossa Grande Promessa*.

(Depois de terdes examinado com cuidado a vossa consciência, recitareis o ato de contrição [abaixo transcrevemos] e vos confessareis com humildade, ouvindo com atenção os conselhos do confessor. Se não houver tempo de fazer a confissão e estas reflexões na véspera, pode fazê-las também na manhã da primeira sexta-feira.)”

ATO DE CONTRIÇÃO
(sugestão nossa)

Meu Deus, eu me arrependo, de todo coração de todos meus pecados e os detesto, porque pecando não só mereci as penas que justamente estabelecestes, mas principalmente porque Vos ofendi a Vós, sumo bem e digno de ser amado sobre todas as coisas. Por isso, proponho firmemente, com a ajuda da vossa graça, não mais pecar e fugir das ocasiões próximas de pecar. Amém.



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FONTE: JESUS, Frei Salvador do Coração de. “A Grande Promessa do Sacratíssimo Coração de Jesus”, Edições Loyola, 1987, pp. 12 a 14 (destaques do original).

___________________
*A Grande Promessa do Sagrado Coração de Jesus: “A todos os que comungarem na primeira sexta-feira, em nove meses consecutivos, eu prometo a graça da penitência final. Eles não morrerão no meu desagrado, mas receberão os santos sacramentos, e o meu coração será para eles asilo seguro naquele momento extremo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

APOSTOLADO DA ORAÇÃO: A ORAÇÃO DO “OFERECIMENTO DIÁRIO”

"A primeira e principal obrigação dos associados é o oferecimento cotidiano, em que cada um oferece diariamente a Deus todas as suas orações, obras, alegrias e sofrimentos em união com Cristo e com as intenções de Seu Coração..."
(Santo Inácio de Loyola e São Luís Gonzaga adorando o Sagrado Coração)
PAI «Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim.» (João 17, 20-22)1

A oração do “Oferecimento Diário” deve ser feita diariamente, e preferencialmente pela manhã, por meio dela os membros do AO-Apostolado da Oração oferecem a Deus suas orações, trabalhos, sofrimentos e alegrias, bem como pedem as bênçãos para cada momento vivenciado durante o dia.

A importância e o valor dessa oração para os membros do AO está assim expressa num antigo “Manual do Coração de Jesus” para os membros do AO2:

A primeira e principal obrigação dos associados é o oferecimento cotidiano, em que cada um oferece diariamente a Deus todas as suas orações, obras, alegrias e sofrimentos em união com Cristo e com as intenções de Seu Coração, segundo as quais Ele, como Cabeça de seu Corpo Místico, está continuadamente intercedendo e oferecendo-Se em sacrifício por nós. Em virtude de nossa união com Cristo esta oblação não só confere às nossas ações uma força impetratória e satisfatória, mas transforma a nossa vida inteira num sacrifício de louvor e de expiação.

E porque esta nossa união com Cristo nossa Cabeça supõe necessariamente uma união íntima com o Sumo Pontífice, seu Vigário na terra, o Apostolado da Oração propõe, cada mês, a todos os associados, dois motivos de orar ou intenções, uma geral e outra missionária 'que o próprio Romano Pontífice examina, aprova e abençoa com uma bênção celestial' (Cf. Epist. Pio XII «Cum proxime exeat», de 16 de junho de 1944).”

O Concílio Vaticano II também louva e recomenda a prática da oração do Oferecimento Diário3:

Todas as obras, orações e iniciativas apostólicas… o trabalho cotidiano e o descanso do corpo e da alma, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida suportadas com paciência, se tornam outros tantos sacrifícios espirituais… piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração eucarística. Desta maneira os Leigos… consagram a Deus o próprio mundo” (Lumen Gentium, n. 34)

Embora seja uma oração própria dos membros do AO, não há nenhum impedimento ou vedação para que seja feita por todos os cristãos, especialmente os devotos do Coração de Jesus. Traduz uma espécie de unidade de oração e espírito entre os membros da Igreja, como é o desejo do Senhor (Jo 17, 20-22). Ademais, na postagem anterior, vimos que esse movimento começou dentro de um convento Jesuíta no ano de 1844, mas logo se espalhou por paróquias circunvizinhas, e após, pelo mundo inteiro.

É válido citar-se aqui, por mais uma vez, uma outra passagem do antigo “Manual do Coração de Jesus”4, acerca da questão da união dos cristãos na única Igreja de Cristo:

Entre os desejos que mais inflamavam o Coração de nosso Salvador durante a sua vida terrena e que, no céu, constituem sem dúvida objeto particular de sua intercessão junto ao Eterno Pai, a unidade da Igreja por Ele fundada ocupa certamente um lugar principal. Pois aquele grande desejo do Senhor «de que todos sejam uma coisa só» (Jo 17,21), não se pode realizar senão na sua mesma Igreja, a qual, assim como é, por sua natureza, santa e apostólica, assim é também una e católica.”

Atualmente existe uma rede de oração denominada “Rede Mundial de Oração do Papa”5, pela qual os membros do AO unem-se ao Sumo Pontífice, através da oração do “Oferecimento Diário”, nas intenções mensais propostas e destinadas de um modo geral a toda Igreja.


Existem duas fórmulas oficiais para esta oração. A mais usada, atualmente, consta da carta do diretor mundial do AO, Padre Peter-Hans Kolvenbach, SJ, datada de 8 de junho de 2003 e direcionada aos Secretários Nacionais do AO:

Deus, nosso Pai, eu te ofereço todo o dia de hoje: minhas orações e obras, meus pensamentos e palavras, minhas alegrias e sofrimentos, em reparação de nossas ofensas, em união com o Coração de teu Filho Jesus, que continua a oferecer-se a Ti, na Eucaristia, pela salvação do mundo. Que o Espírito Santo, que guiou a Jesus, seja meu guia e meu amparo neste dia, para que eu possa ser testemunha do teu amor. Com Maria, Mãe de Jesus e da Igreja, rezo especialmente pelas intenções do Santo Padre para este mês:… (aqui se acrescenta a intenção mensal)

A tradicional é:

Ofereço-vos, ó meu Deus, em união com o Santíssimo Coração de Jesus, e pelo Coração Imaculado de Maria, as orações, obras e sofrimentos deste dia, em reparação de nossas ofensas e por todas as intenções pelas quais o mesmo divino Coração está de contínuo a interceder e sacrificar-se em nossos altares. Eu vo-los ofereço de modo particular pelas intenções recomendadas aos associados do Apostolado neste mês e neste dia.

Como devotos do Coração de Jesus, juntemos às nossa orações diárias de toda manhã o “Oferecimento Diário”, colocando-nos em união com toda a Igreja de Cristo.

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.




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2 cf. “Manual do Coração de Jesus para os Associados do Apostolado da Oração”, Apostolado da Oração, 31ª edição brasileira, 1965, pp. 17/18 (texto atualizado).

3 cf. “Manual do Coração de Jesus”, Edições Loyola, 92ª edição/2017, Nova Edição, Revista e Ampliada, p. 16.

4 Idem, “Manual do Coração de Jesus para os Associados … ”, p. 30 (texto atualizado)


quarta-feira, 24 de outubro de 2018


APOSTOLADO DA ORAÇÃO: HISTÓRIA DE VIDA NUM “OFERECIMENTO DIÁRIO”



O AO* nasceu em 1844, numa casa de formação de jovens jesuítas, em Vals, no sul de França. O P. Francisco Xavier Gautrelet, sj, diretor espiritual destes jovens, propôs‐lhes um modo de ser apóstolos e missionários na sua vida corrente, unindo‐se a Cristo em tudo o que faziam durante o dia. O contexto desta proposta surge a partir de uma situação muito concreta: os sacerdotes que realizavam o seu ministério como missionários em terras longínquas, em particular em Maduré, no sul da Índia, ao regressarem à pátria, em visita, passavam pelo seminário onde se tinham formado. Com naturalidade e entusiasmo contavam aos jesuítas mais jovens os seus trabalhos e aventuras, tantas pessoas e situações necessitadas do Evangelho. Escutar as narrações de fervor e ação missionária entusiasmava‐ os, mas também causava tristeza e desânimo nos jovens estudantes de Vals, ao constatarem que ainda lhes faltava muito para serem ordenados sacerdotes e receberem uma missão: os estudos tornavam‐se intermináveis, os exames áridos, os tempos de convívio pura perda de tempo, as orações rotina, os apostolados pouca coisa. Buscavam consolação dedicando horas na biblioteca a ler livros sobre a Índia, com o consequente descuido nos estudos. O P. Gautrelet far‐lhes‐á então uma proposta que lhes permitirá encontrar um novo sentido no meio das frustrações que experimentavam.

Na missa de 3 de dezembro de 1844, Gautrelet explica que S. Francisco Xavier entregou a sua vida seguindo a Jesus Cristo, e que celebrá‐lo hoje implicava fazer a mesma coisa. Francisco Xavier chegou até às portas da China e passou muitas tribulações, movido pelo seu amor apaixonado a Jesus. Hoje, nas próprias circunstâncias, cabe realizar a mesma missão cristã mas aqui, na casa de formação de Vals, e não no longínquo Oriente. Era a mesma eleição, o mesmo chamamento de Jesus, o mesmo amor apaixonado, a mesma missão, mas com tempos e formas diferentes. Convidava a todos – estudantes e professores, seus dirigidos ou não – a ser missionários aqui e agora através da simples oferenda a Deus de tudo o que faziam, esforçando‐se por serem disponíveis a Cristo, para cumprir bem as suas obrigações de cada dia. No caso dos jovens, deviam, antes de mais, cumprir bem o seu dever de estudantes.
Brasão da Companhia de Jesus - Jesuítas

Ao propor‐lhes praticar o que ele chamou um «apostolado da oração», o P. Gautrelet fê‐los entender que mais importante do que aquilo que faziam, era o amor e a dedicação com que o faziam. Não era fazer muito o que importava, mas sim o amar muito. Deviam oferecer a Deus com amor os seus afazeres diários, disse‐lhes, e uni‐los a Cristo que continuava a oferecer a sua vida pela salvação da humanidade. Fê‐los entender que as suas vidas eram tão válidas e tão úteis para a missão da Igreja quanto as vidas dos missionários mais sacrificados, se eles as viviam com o mesmo amor. As suas vidas seriam tão apostólicas quanto as dos mais fervorosos pregadores, se vivessem cada pequena coisa unidos ao Coração do Senhor. O que importava era a atitude interior de querer renovar o seu amor por Jesus e fazer nova, cada dia, a sua disponibilidade e entrega da vida. Era o amor do Coração de Jesus que os tinha escolhido, dizia‐lhes, e deviam responder‐Lhe estando dispostos a cumprir o que Ele lhes pedia agora e a corresponder com generosidade a tanto bem recebido.

A prática concreta que o P. Gautrelet lhes sugeria para manter vivo este espírito era uma oração de oferecimento do dia, ao início da jornada. Declarariam com ela a sua decisão e disposição de que todo o dia fosse para o Senhor. Convidava‐os a ter como centro, cada dia, a disposição da própria vida na vontade divina, depois de tirar de si todas as afeições desordenadas, para a salvação da alma, como tinham aprendido nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio (EE 1). Aquilo que então se chamou o Apostolado da Oração mostrar‐lhes‐ia um caminho que os ajudaria a tornar realidade a ideia de buscar e encontrar a Deus em todas as coisas, mesmo as mais simples e prosaicas, para em tudo amar e servir (EE 233).

Em síntese, o AO propunha‐lhes o exigente e apaixonante caminho de viver em permanente disponibilidade apostólica por amor do Senhor. Renovariam em cada dia o sim que tinham dado ao Senhor nos Exercícios Espirituais, pedindo novamente a graça de responder com toda a generosidade ao chamamento do Rei Eterno.
Bandeira do Apostolado da Oração
(Foto: Ed. Vozes)
 
Isto deu aos jovens jesuítas um novo entusiasmo nos afazeres quotidianos que antes lhes causavam aborrecimento. Entenderam que, com os seus esforços e gestos de cada dia, podiam expressar o seu amor terno e pessoal a Jesus e que, através deles, estavam a responder à missão para a qual Ele os chamava. Sentiam‐se dispostos a fazer por Ele qualquer sacrifício. Queriam de verdade ser bons missionários para o seu Senhor, agora e no futuro.

O exercício quotidiano da oração de oferecimento permitiu‐lhes, além disso, entender a unidade desta prática com a oferenda de Jesus ao Pai, que tornavam presente cada manhã na Eucaristia. Compreenderam que a oferenda dos seus corações era, de certo modo, uma oferenda eucarística, como toda a vida de Jesus o fora e misteriosamente continuava a ser. Jesus amou‐os «até ao extremo», dando a vida por eles, e isto tornava a fazer‐se realidade para eles na Eucaristia. Queriam que os seus corações se assemelhassem ao Coração de Jesus, e era precisamente este o conteúdo do que pediam: ter corações eucarísticos como o de Cristo, quer dizer, corações (e vidas) oferecidas a Deus e entregues pelos outros. As suas vidas uniam‐se a esta realidade misteriosa e profunda, ajudados pela simples oração de oferecimento que faziam cada manhã.

Entenderam que viver cada dia este modo de oferecer as suas vidas era um verdadeiro apostolado. Sonhavam ser missionários e dar a vida por Jesus. Agora era‐lhes muito claro que não tinham que esperar até ao final da sua formação, da sua ordenação sacerdotal, ou ser enviados para terras longínquas para começar a ser apóstolos e colaboradores da missão de Cristo. A entrega radical por Jesus podiam‐na tornar realidade desde já, na fidelidade às tarefas simples de cada dia, em particular os estudos. Esse era precisamente o seu apostolado, o que lhes cabia nesse momento, como estudantes em formação para o sacerdócio. Um apostolado silencioso, humilde, mas importante e efetivo, pois em Cristo uniam‐se espiritualmente a toda a missão da Igreja e colaboravam, com o seu sacrifício e entrega quotidianos, no sustento dos trabalhos desses missionários espalhados pelo mundo.
Broche do AO

Os jovens jesuítas também estabeleceram a ligação entre a oração de oferecimento que faziam pela manhã com a sua oração de exame à noite. No final do dia, a oração do exame permitia‐lhes reconhecer e agradecer o que Deus tinha feito nas suas vidas com o que Lhe tinham oferecido pela manhã. Estes dois momentos de oração, de manhã e à noite, tornavam‐nos mais disponíveis à ação de Deus neles, durante todo o dia, e mais atentos a deixar‐se guiar por Ele.

Estas práticas e o nascente Apostolado da Oração difundiram‐se entre os cristãos da região circunvizinha de Vals, começando pelos camponeses que os jovens jesuítas visitavam nos fins de semana. Estes também foram convidados a colaborar na missão de Cristo, vivendo em fidelidade ao Evangelho e oferecendo os seus trabalhos, sofrimentos e a sua oração pela Igreja. Também eles podiam ser apóstolos. Em pouco anos, esta nova proposta de vida tinha‐se difundido em todo o país, e fora dele, chegando a ter milhões de aderentes. Formaram‐se grupos do AO nas paróquias e instituições católicas, criou‐se uma estrutura bem definida de Diretores à cabeça da nova associação em cada Diocese, os bispos encarregavam‐se de assegurar a sua vitalidade. O AO passou a ter, em muitos lugares, a forma visível e estruturada de um Movimento eclesial. Também se propunha o AO sem necessidade de pertencer a estes grupos específicos, pois todos os cristãos eram convidados a viver o seu espírito e a seguir as suas práticas simples. Estes dois modos de viver o AO estavam presentes desde os seus inícios. Canonicamente foi considerado, pouco tempo depois, uma pia associação de fiéis.

A prática do AO dava aos seus seguidores um novo sentido ao esforço e rotina de cada dia. A monótona vida quotidiana podia agora ser oferecida a Deus como um modo de colaboração com Cristo na missão da Igreja.

Dito de outro modo, o AO dava‐lhes meios para viver o próprio batismo na simplicidade da vida quotidiana e participar no sacerdócio de toda a Igreja, muito antes que se falasse da vocação batismal ou do sacerdócio comum dos fiéis.

No período entre o ano 1890 e 1896, o Papa interessou‐se por fazer sua esta imensa rede de católicos que ofereciam as suas vidas e a sua dedicação para apoiar espiritualmente a missa da Igreja. Assumiu‐a como uma obra própria do Papa e confiou‐a à Companhia de Jesus, na pessoa do Padre Geral. Além disso, desde essa altura começou a confiar ao AO uma intenção mensal de oração que expressava uma preocupação sua e pela qual pedia orações a todos os católicos. A partir de 1928, acrescentou‐se uma segunda intenção de oração, de modo que o AO receberia do Papa duas intenções de oração para cada mês e se encarregaria de difundi‐las por todo o mundo católico. Foram chamadas Intenção Geral e Intenção Missionária.
Bentinho do Coração de Jesus
o "Detém-te"

Orar com estas intenções por temas mundiais da sociedade e da Igreja, de modo especial pelos chamados “países de missão”, abria os horizontes de todos esses cristãos a dimensões universais. Além disso, fortalecia o seu sentido de pertença à Igreja, sentiam‐se apóstolos escolhidos por Jesus para colaborar com Ele, sentindo que as suas vidas simples se tornavam úteis para sustentar a missão da Igreja.

O enunciado dos temas propostos pelo Papa ano após ano evoluiu até aos nossos dias. Hoje verificamos que uma boa parte das intenções de oração manifestam a preocupação da Igreja universal pela paz e pela justiça no mundo. Orar por elas coloca os cristãos, mês a mês, diante dos grandes desafios e necessidades da humanidade, pelos quais são convidados a comprometer as suas vidas em oração e em serviço.


HINO DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO

Levantai-vos soldados de Cristo;
Eia avante! na senda da glória;
Desfraldai no pendão da vitória;
O imortal Coração de Jesus.

Não nascemos senão para a luta;
De batalha amplo campo é a terra;
É renhida e constante esta guerra,
Apanágio dos filhos de Adão.

No combate esforçados valentes.
Não temais, ó soldados de Cristo;
O triunfo será nunca visto,
Se souberdes cumprir sua lei.

Amparai-vos no escudo da graça,
Fortaleza circunde vossa alma;
Pela fé do Senhor vossa palma;
É segura na eterna mansão.

É Jesus nosso rei soberano;
Seu amor de atrair-nos não cessa.
De vencer dá-nos firme promessa,
E prepara fiel galardão.

Oh! segui esse Rei tão amante
O estandarte divino, glorioso;
Contra as forças do inferno teimoso
Ele só à vitória conduz.

De Jesus Coração sacrossanto,
Guardai pura esta santa bandeira.
No combate esperança fagueira;
Do triunfo seguro penhor.






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FONTES:


  1. Hino: domínio público, extraído do livro “Manual do Coração de Jesus”, Edições Loyola, 92ª edição/2017, Nova Edição, Revista e Ampliada, pp. 213/214.


________________
* Sigla do APOSTOLADO DA ORAÇÃO.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018


DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: CONSAGRAÇÃO E REPARAÇÃO


Em 16 de Julho de 1675, durante a oitava da celebração de Corpus Christi, em sua Terceira Revelação, Jesus se manifesta a Santa Margarida Maria e, apresentando seu Sacratíssimo Coração, faz-lhe essa sentida queixa:

«Eis aqui o Coração que tanto amou aos homens, nada poupando até definhar e consumir-se para dar testemunho do seu amor; e eu, neste mistério de amor, da maior parte dos homens só recebo ingratidões, irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos com que me afligem neste Sacramento de amor.»1



Sua Santidade, o Papa Pio XI, por meio da Encíclica Miserentissimus Redemptor, a 8 de Maio de 1928 (sétimo ano de seu pontificado), exortava que se aliasse ao ato de consagração ao Sagrado Coração de Jesus o dever de reparação diante de tantas ingratidões, agravos, irreverências e pecados cometidos contra o Amor de Cristo, ora representado por seu Coração.

Pois bem. Vejamos2.

Dentre todas as práticas de culto ao Coração de Jesus, convém assinalar o ato de consagração, com que nos entregamos totalmente ao Coração Divino, reconhecendo que da divina bondade recebemos todo bem. Quando o Salvador, movido mais pelo amor para conosco do que por seus soberanos direitos, revelou à inocente discípula de seu Coração, Margarida Maria, quanto desejava que os homens lhe tributassem esta piedosa homenagem, Margarida, como seu confessor, o Pe. Cláudio de la Colombière, foi a primeira a cumprir esse desejo de Jesus. Outro tanto foram fazendo, no decorrer dos anos, indivíduos, famílias e associações, e por fim, magistrados, cidades e povos inteiros. E como, no século passado e em nossos tempos, as maquinações dos ímpios tentaram rejeitar a realeza do Senhor Jesus, guerrear ostensivamente à Igreja com leis adversas ao direito divino ou à lei natural, e chamar em assembleias públicas: 'Não queremos que reine sobre nós' (Lc 19, 14), a consagração, irrompendo dos cristãos em altas vozes e uníssona, como protesto de fidelidade, vingava a glória e afirmava os direitos do Coração Santíssimo: 'É mister que Cristo reine' (1 Cor 15, 25). 'Venha a nós o vosso Reino'. Finalmente, como consequência feliz, no início do nosso século, o nosso predecessor de feliz memória, Leão XIII, anuindo aos pedidos do universo cristão consagrou ao Sagrado Coração todo o gênero humano, de que Jesus Cristo – no qual todas as coisas são restauradas (Ef 1, 10) – é o Rei por direito de natureza.

Pois, com efeito, se a consagração tem por fim principal, responder com amor ao amor infinito de nosso Deus, é consequência manifesta que devemos desagravar o amor incriado da injustiça que lhe infligem tantas negligências, esquecimentos e injúrias – é este o conceito de reparação.
Papa Pio XI
(Foto: sl.wikipedia.org)

Ao desagravo obriga-nos um duplo dever de justiça e de amor. Da justiça, pois cumpre-nos expiar a ofensa feita a Deus pelas nossas culpas, restabelecendo assim a ordem violada. De amor, pois assim damos prova de nos compadecermos de Cristo padecente, 'saturado de opróbrios', dando-lhe, na medida de nossa pequenez, algum consolo. Pecadores que somos todos, réus de múltiplas culpas, ao nosso Deus não só devemos honrar com culto de adoração, ofertando à suma majestade as devidas homenagens, com o culto de reconhecimento, que enaltece a sua grandeza infinita; devemos ainda prestar ao nosso Deus justíssimo a reparação de nossos 'inumeráveis pecados, ofensas e negligências'. À consagração, portanto, que nos volta a Deus e nos vale o título de 'dedicados a Deus', com a santidade e firmeza – no sentir do Doutor Angélico (2-2, q. 81, a. 8, c) – próprias deste ato, é mister juntar outrossim a expiação, que apaga inteiramente os pecados, para que a santidade da justiça infinita não nos repila como indignos e imprudentes, e recuse o nosso presente sem sequer dignar-se de deitar-lhe a vista.

Este dever de desagravo cabe ao gênero humano inteiro, já que, como no-lo ensina a fé cristã, após a deplorável queda de Adão, manchado com o pecado original, está sujeito à concupiscência, entregue a lastimosas depravações e é merecedor de perdição eterna. Muito embora soberbos filósofos dos nossos tempos neguem essa verdade, renovando o erro antigo de Pelágio3, enaltecendo a virtude inata do gênero humano a altear-se até os mais remontados cimos; o Apóstolo rejeita essas falsas teorias do orgulho humano, lembrando-nos de que 'éramos, por natureza, filhos da ira' (Ef 2, 3). Por isso, desde o berço da humanidade, reconheceram os homens este dever de expiação comum e, guiados pela luz natural, começaram a cumpri-lo, ofertando a Deus sacrifícios, até mesmo públicos e coletivos.

Assim, pois, como a consagração proclama e confirma a nossa união com Cristo, assim o desagravo, enquanto nos purifica de nossas culpas, dá princípio a esta mesma união, desenvolve-a, tornando-nos participantes dos sofrimentos de Cristo, e leve-a a seu total cumprimento mediante a oblação de sacrifícios em prol de nossos irmãos. Este foi exatamente o misericordioso desígnio de Jesus, quando se dignou revelar-nos o seu Coração Santíssimo com os emblemas da Paixão e a arder em chamas de amor: quis, por uma parte, que entendêssemos a malícia infinita do pecado, e que, por outra, admirando a infinita caridade do Redentor, detestássemos com todas as forças o pecado e com amor retribuíssemos o amor.

E, na verdade, o espírito de expiação ou desagravo foi sempre parte principal do culto que se tributa ao Coração de Jesus, e é por certo a prática mais condizente com a história, a natureza, a eficácia, a índole própria deste culto, segundo demonstram os fatos, a praxe dos fieis, a sagrada liturgia e os atos dos Sumos Pontífices. Com efeito, ao manifestar-se a Margarida Maria, Jesus, ao mesmo tempo que enaltece a imensidade do seu amor, com aspecto aflito e consternado, lamenta-se das inúmeras e graves ofensas que recebe da ingratidão dos homens, com termos que prontamente deveriam repercutir no âmago de quantos o queiram e nunca apagar-se de sua memória: «Eis – diz – o Coração que tanto amou os homens, que os encheu de inúmeros benefícios; mas em troca de seu amor infinito, bem longe de encontrar reconhecimento, só recebe indiferença, esquecimento e ofensas; e assim correspondem almas, que lhe deveriam tributar homenagem de especial amor». Para desagravar essas culpas, entre outros piedosos exercícios, o próprio Jesus indicou como especialmente gratas a seu Coração Santíssimo a Comunhão, que por isso mesmo se chama Reparadora, e a prática da Hora Santa, consagrada a atos e orações expiatórios – devoções estas que a Igreja não somente aprovou, mas enriqueceu com copiosos favores espirituais.

Quantos abrasados pelo amor a Jesus padecente, aplicarem o ânimo a estas considerações, não poderão deixar de reparar com maior empenho a honra de Cristo, expiar as culpas próprias e alheias e procurar a eterna salvação das almas. Por certo, podemos, de algum modo, aplicar a nossos tempos as palavras do Apóstolo: 'Onde abundou o pecado, superabundou a graça' (Rm 5, 20). Com efeito, acrescidas em vasta proporções a malícia humana, também vai aumentando, de modo prodigioso, por mercê do Espírito Santo, o número dos fieis de ambos os sexos, que, com ânimo mais generoso, se esforçam por dar satisfação ao Coração Divino pelas injúrias que recebe, a ponto de não duvidarem em oferecer-se a Cristo como vítimas. […]


Por estes motivos, veneráveis irmãos, assim como a prática da consagração, nascida de humildes inícios e depois largamente espalhada, recebeu com a nossa aprovação o esplendor e a desejada coroa, assim também muito desejamos que o ato de desagravo, já há tempo santamente introduzido e propagado, tenha o mais firme sinete de nossa autoridade apostólica e se torne o seu uso mais universal e mais solene no meio do provo cristão. Estabelecemos, portanto, e mandamos que todos os anos, na festa do Coração Santíssimo de Jesus – que, nesta ocasião, havemos por bem elevar à dupla de primeira classe com oitava – em todas as igrejas do mundo se faça, uniformemente, de acordo com a fórmula anexa à presente Encíclica, um ato solene de desagravo a nosso amadíssimo Redentor, para reparar assim as nossas culpas e ressarcir os violados direitos de Cristo, Sumo Rei e Senhor.

Com essas palavras, dentre outras, o Santo Padre firmemente exorta a unirmos à consagração a reparação ao Sacratíssimo Coração de Jesus, lembrando-nos, portanto, que a devoção ao Divino Coração tem esse duplo aspecto: consagrar-Lhe nosso amor e reparar, expiar nossas próprias faltas e as de nosso próximo, materializadas nos inúmeros pecados cometidos, nas injúrias, sacrilégios e profanações cometidas contra o Sacramento do Amor, presente em inúmeros Sacrários pelo mundo.

Cremos que, além do ato solene a ser realizado em todas as igrejas na festa anual, mensalmente, e especialmente durante a Hora Santa, a oração composta pelo Pontífice deve ser recitada, com autêntico espírito de devoção e compromisso de não se voltar a agravar o Coração de Jesus.

A seguir, transcrevemos o Ato de Desagravo composto por Pio XI, anexo à Encíclica:

ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é por eles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravar, com especiais homenagens, pela insensibilidade tão insensata e pelas nefandas injúrias com que é de toda parte, alvejado o vosso amorosíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou conculcando as promessas do batismo, sacudiram o suavíssimo jugo da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente pela licenciosidade dos costumes e imodéstias no vestir, por tantos laços de corrupção armados à inocência, pela violação dos dias santificados, pelas execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, pelos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, pelo desprezo e pelas horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino amor, e, enfim, pelos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh! se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades!

Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Pai eterno sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nosso próximo, impedir por todos os meios novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair, ao vosso serviço, o maior número de almas possível.

Recebei, ó benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais – Deus – por todos os séculos. Assim seja

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.


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1 cf. opúsculo, em formato PDF, “Santa Margarida Maria Alacoque. A Esposa do Sagrado Coração de Jesus. Historia de sua Vida”, Compilada pelo Servo de Deus Pe. André Beltrame da Pia Sociedade Salesiana,Escolas Profissionais do Lyceu C. de Jesus, 2ª edição brasileira, São Paulo/1932, Cap. XVIII, p. 52.

2 Opúsculo “Encíclicas Sobre o Sagrado Coração de Jesus. Miserentissimus Redemptor-Pio XI. Sobre o Culto do SS. Coração de Jesus. Haurietis Aquas-Pio XII”, Edições Loyola, 2ª edição, São Paulo/1990, pp. 3 a 13 (excertos).

3 “Pelagianismo”: Trata-se de uma heresia iniciada por um monge oriundo da Bretanha, chamado Pelágio. Ele dizia que não era necessário o auxílio da graça de Deus para que o homem realizasse atos de virtude. Cristo morreu na cruz e deu o exemplo. Bastaria ao homem segui-lo. Santo Agostinho que por trinta anos viveu amarrado às correntes do pecado sabia que a afirmação de Pelágio era falsa. Ele sabia da incapacidade do homem em vencer o pecado sem o auxílio da graça divina. A heresia pelagiana foi condenada no XV Sínodo de Cartago, iniciado em 01 de maio de 418 […] (cf. https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-e-o-pelagianismo)