«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 26 de abril de 2019


O GRANDE APÓSTOLO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DO SÉCULO XX: PADRE MATEO CRAWLEY-BOEVEY

Réplica da imagem do Coração de Jesus tão amada pelo Pe. Mateo Crawley-Boevey

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi a missão de vida do sacerdote peruano Mateo Crawley-Boevey e, neste propósito, ele foi o autor de numerosas Horas Santas, orações especialmente devotadas à adoração do Santíssimo. Nascido em Arequipa, no Peru, em 1875, filho de pai inglês e mãe espanhola, mudou-se ainda jovem com toda a família para o Chile, onde entrou, em 1891, para o noviciado dos Padres dos Sagrados Corações em Valparaíso.

Ainda no início de sua vida religiosa, viveu um fato singular, certamente uma antecipação profética de sua missão. Ao remexer velhos papéis abandonados, por inspiração sobrenatural, descobriu uma estampa admirável do Sagrado Coração de Jesus, que representava Nosso Senhor como rei, tendo o mundo na mão esquerda e um cetro real na mão direita (semelhante à figura abaixo). Tratava-se de esmerado trabalho de um artista francês, encomendado pelo grande presidente do Equador e fervoroso católico, Dom Gabriel García Moreno, por ocasião da consagração religiosa e civil do seu país ao Sagrado Coração, feito em 1873 (García Moreno foi assassinado apenas dois anos depois, pelas forças revolucionárias). Para evitar profanações pelos revolucionários, a pintura havia sido transladada do Equador para o Chile, em segredo.

Ordenado em 1898, o padre Mateo Crawley iniciou imediatamente um intenso apostolado na sua congregação e outras instituições. Uma doença de natureza desconhecida penalizava enormemente as suas funções. Em 24 de agosto de 1907, ao fazer uma peregrinação ao convento da Visitação em Paray-le-Monial, onde no século XVI ocorreram inúmeras aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, obtém uma cura instantânea e a certeza absoluta de sua vocação apostólica: levar o mundo ao Coração de Jesus. Nesta missão, recebeu não apenas o apoio, mas a intimação pessoal do próprio Papa Pio X.

Começou o seu apostolado pelo Chile e, em seguida, pelo Peru e o Uruguai. Em 1914, à época da primeira Guerra Mundial, retorna à Europa onde inicia sua cruzada apostólica pela Espanha e, em sequência França, Portugal, Itália, Suíça, Holanda, Inglaterra, Irlanda e Escócia, pregando a entronização do Sagrado Coração de Jesus em todos os lares e o reinado de Nosso Senhor no mundo, como resposta à progressiva descristianização da sociedade e ao secularismo reinantes. Suas ideias, expostas em vários documentos e horas santas, foram utilizadas pelo próprio Papa Pio XI na elaboração da sua encíclica Quas Primas que, em 1925, instituiu a festa de Cristo Rei.

Em 1934, por ordem do Papa Pio XI, redireciona o seu apostolado do Sagrado Coração para o Extremo Oriente e, durante anos, faz pregações na China, Japão, Índia, Ceilão, Manchúria, Coreia, Hong Kong, Malásia e Filipinas. Em 1940, vai para o Havaí e, em seguida, para os Estados Unidos e para o Canadá, onde permanece durante os anos da II Guerra Mundial. Em 1946, ficou seriamente doente, enfermidade que o prostrou na cama naquele país por longos 10 anos. Após uma melhora súbita, retornou ao Chile onde, então, uma nova doença custou-lhe a amputação de uma das pernas e a sua morte, em 4 de maio de 1960, aos 85 anos de idade.
Pe. Mateo Crawley-Boevey

Por mais de 50 anos, entre 1907 e 1960, ele havia sido o grande Apóstolo do Sagrado Coração e pregado a milhões de pessoas a excelência dessa devoção, promovendo as suas famosas Horas Santas e incentivando laboriosamente os lares e as famílias consagradas ao Sagrado Coração que não deixassem Nosso Senhor solitário, especialmente nas quintas-feiras que antecedem a primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração.




* * *



ORAÇÃO “DAI-NOS SEMPRE O VOSSO DIVINO CORAÇÃO!
(Uma das orações propostas pelo Pe. Mateo Crawley para a Hora Santa de janeiro)


Senhor Jesus, não nos atrevemos a Vos oferecer os nossos corações espezinhados. Mas tomai-os, porque eles são vossos mas, em troca, dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

(todos em voz alta)

Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor à Virgem Maria, dai-nos, Jesus, nas horas de fervor, quando sentimos os desejos veementes de amar e de sofrer como os santos...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor a São João, dai-nos, Jesus, nas horas tão raras de paz, quando desfrutamos da doce tranquilidade de uma consciência pura ou que nos foi perdoada...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor aos vossos três amigos de Betânia, dai-nos, Jesus, nas horas de pesar e de tristeza, quando recaem sobre as nossas almas as tormentas da dor...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor aos Apóstolos privilegiados do Tabor e do Getsêmani, dai-nos, Jesus, nas horas de alegria ou de provação...
Dai-nos para sempre vosso Divino Coração!

Por amor à arrependida Madalena e às mulheres compassivas de Jerusalém, dai-nos, Jesus, nas horas da fraqueza humana ou quando nos inspira a graça do arrependimento...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor à obra de vossa Igreja, dai-nos, Jesus, nas horas do combate, quando ela nos conclama o tributo do nosso zelo e também do nosso sacrifício...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor aos santos Bernardo, Agostinho e Francisco de Sales, Matilde e Gertrudes, felizes precursores desta admirável devoção, dai-nos, Jesus, nas horas das nossas melhores disposições quando Vós nos exigis maior fervor...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Por amor de vossa esposa e primeira apóstola, Santa Margarida Maria, dai-nos, Jesus, em todos os momentos da nossa vida e sobretudo na agonia final da nossa morte...
Dai-nos para sempre o vosso Divino Coração!

Ó ofertai-nos vosso Coração como uma fonte de vida, como um oásis de descanso, como uma projeção do céu... E, apesar de nossa indignidade, que ele possa ser nosso, ó Jesus, com todos os vossos tesouros de luz, de paz, de fortaleza pois, neste santuário divino, queremos aprender a Vos amar e dar-Vos glória! Jesus, vós já nos destes a Cruz... nos destes a vossa Mãe... nos destes o vosso Sangue...dai-nos agora e por toda a eternidade, Senhor, o paraíso do vosso Coração! Com ele, não desejamos mais nada, nem no céu e nem na terra.






NOTA: Como já concluímos as postagens das Horas Santas propostas por Santo Afonso de Ligório, a partir da próxima quinta-feira, as Horas Santas mensais que publicaremos serão as propostas pelo Pe. Mateo Crawley-Boevey, este grande apóstolo do Coração de Jesus, no século passado.






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FONTE: Sendarium – O título da postagem é nosso.

sexta-feira, 12 de abril de 2019


A CHAGA DO SAGRADO CORAÇÃO, SEGUNDO PADRE MANUEL BERNARDES1


Sagrado Coração de Jesus aberto pela lança
(Foto: Capela São José)

É próprio de quem espera, pôr-se à porta. O mendigo põe-se à porta do rico, esperando esmola; o litigante à do ministro, esperando despacho; o amante à da esposa, esperando a fala. Logo, se neste mundo só vivo das esperanças de algum dia ver a Deus, Expectantes beatam spem, et adventum gloriae magni Dei;2 quero pôr-me também às portas da Divindade, que espero se me há de revelar. Quais são estas, senão as preciosas Chagas de meu Jesus Crucificado? Cinco são as portas deste sagrado Templo: dai-Me, Senhor, licença para me chegar à principal; não porque eu me veja mais digno, senão porque a vejo mais aberta. Chegarei pecador, e poderá ser que entre justo: pecador por misericórdia Vossa: Haec porta Domini, justi intrabunt in eam.3 Aqui farei a minha assistência e morada: como lá Mardoqueu fez a sua à porta do Palácio de Assuero: Mardocheus manebat ad januam Regis.4

Adoro-te ó Chaga preciosíssima do Lado de meu Senhor Jesus Cristo. Tu és verdadeiramente a porta do meio, que disse o Profeta Jeremias: Porta media;5 pois, foste à violência de uma lança rasgada no meio do Corpo do Senhor, e no meio das outras quatro portas. E, contudo, também és verdadeiramente a porta do Ângulo: Porta anguli;6 porque és porta daquele Divino Coração, em cuja caridade se juntam, e concorrem, como em pedra angular, as linhas do edifício místico da Igreja dos Anjos e dos homens, dos Israelitas e das Gentes: Lapis angularis qui facis utraque unum.

Adoro-te, e te dou reverentes ósculos, ó Chaga de meu amorosíssimo Jesus; porque Tu és a porta do juízo que diz a Escritura: Porta judicij;7 pois, em ti e por ti podem os homens fazer juízo do amor que nos teve este Senhor: e este Senhor o fará da ingratidão com que O tratam os homens.

Adoro-te e glorifico, ó Chaga amorosíssima e suavíssima, em ti assento os fundamentos da minha esperança; porque tu verdadeiramente és a porta do fundamento: Porta fundamenti;8 pois, de ti saiu Sangue e Água; Sangue, que é o fundamento de nossa Redenção; e Água, que representa o Batismo, fundamento de toda a Religião Cristã.

Adoro-te e te dedico todos os meus afetos, ó Chaga amorosíssima e suavíssima, porque tu és a porta que leva e guia para o jardim do Rei: Porta quae ducit ad hortum Regis.9 Pois, guias e levas, para o Coração de Cristo, que é o jardim das delícias de Deus; guias e levas para a Divindade, que é o jardim onde o Rei da Glória introduz as almas puras.

Adoro-te, ó Chaga preciosíssima, em ti me banho e refresco, porque tu és mui propriamente a porta da fonte e aqueduto real: Porta fontis et aquaedctus Regis;10 pois, por ti sairão e se nos comunicarão as fontes do Salvador, donde bebem e se refrigeram todos os que tem sede da vida eterna.

Adoro-te, ó Chaga formosíssima, e contigo me abraço confiadamente, em ti me revejo, consolo e glorio: porque tu és certamente a porta de Jerusalém fabricada de safira e esmeralda, como disse Tobias: Porta Jerusalem ex sapphiro et smaragdo;11 pois, em ti temos a esperança de lograrmos o Céu, e no Céu ver ao mesmo Deus, que é visão de paz: Jerusalem, id est visio pacis; e também, porque em ti se mostra a Divindade e a Humanidade de Cristo; aquela figurada na cor celeste da safira, esta na cor terrena da esmeralda.

Adoro-te e te magnífico, ó Chaga santíssima de meu Senhor Jesus Cristo; junto a ti quero assistir e morar, porque tu és a porta da Casa do Deus das Conversões e Sumo Sacerdote: Porta domus Eliasib, Sacerdotis magni.12 Ó quantas conversões admiráveis, tem feito Deus desde a porta desta casa e com a Chaga do seu Lado! Oh, quantas almas chama desta porta, e reconcilia com Deus, este Sumo Sacerdote!

Adoro-te, e de todo meu coração te amo, ó Chaga formosíssima e nobilíssima; tu me arrebatas os olhos e os afetos, porque tu és verdadeiramente a porta especiosa, que estava no Templo de Salomão;13 não só por tua incomparável formosura, senão, porque junto a ti se põem os necessitados a pedir esmola dos favores e graças celestiais.

Adoro-te, ó Chaga seguríssima do Lado de meu Salvador Jesus Cristo: por ti e em ti quero me recolher, porque tu és a porta do rebanho: Porta gregis;14 pois, por ti entram nos pastos da vida eterna todas as ovelhas do rebanho escolhido do Senhor: Per me si quis ingredietur, inveniet pascua.
Padre Manuel Bernardes (1644-1710)
professou em 1674 na Congregação do
 Oratório de S. Filipe de Néri. Escreveu
 diversos tratados de espiritualidade e
 vários guias morais, como Exercícios
Espirituais (1686), Luz e Calor (1696) e
 Pão Partido em Pequeninos (1696);
 dois volumes de Sermões e Práticas (1711)
 e a Nova Floresta ou Silva de
 Vários Apotegmas em cinco volumes
publicados entre 1706 e 1728.
(Foto e breve biografia: blog Pale
Ideas)

Adoro-te, ó Chaga amabilíssima e suavíssima do Lado de meu Senhor Jesus Cristo: em ti quero me recolher, defender e assegurar dos perigos deste mundo, porque tu és a porta dos arraiais em campo: Porta castrorum;15 pois, em ti se recolhem, alojam e fortificam todos os justos da Igreja militante, a quem o mesmo Senhor comparou a arraiais em campo e esquadrões formados: Ut castrorum acies ordinata.

Eu vos adoro, glorifico e exalto, ó Chagas Santíssimas, cinco siclos da Redenção humana,16 cinco pedras de Davi figurado, cinco pórticos da melhor piscina, cinco talentos da negociação das almas. Em meu peito guardo as esperanças de algum dia ver-vos e tocar na Pátria bem-aventurada, porque vós sois as portas eternas: Portae aeternales da Jerusalém viva, que é a Humanidade sacrossanta de meu Salvador Jesus Cristo, as quais não se hão de fechar jamais: Portae ejus non claudentur;17 pois, vos conservará para sempre o Senhor em seu Corpo sacratíssimo, para selos do seu amor e memorial da nossa Redenção.

Agora, Senhor, já que estou aqui a vossa porta como mendigo, mandai-me dar esmola da vossa graça: não despeças este pobre desconsolado. Já que espero a vossa porta, como litigante ou pretendente, sede servido de despachar minhas súplicas, fundadas na vossa justiça que me concedestes por vossa misericórdia. Peço, amorosíssimo Jesus, que me ponhais no número de vossos fiéis servos; peço que me deis coração benigno, manso, fiel, humilde, sofredor e constante; peço que se logre em minha alma o fruto dos Sacramentos que desse Lado saíram. Finalmente, já que estou a vossa porta esperando como amante (ou como quem o deseja ser) abri-me, Senhor, e fazei-me digno de que ouça eu a vossa voz suave e doce, e de que sinta a vossa presença santa e amável; para que me unais convosco por transformação de amor perfeito.




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__________________
1 cf. Luz e Calor – Obra Espiritual para os que Tratam do Exercício de Virtudes e Caminho de Perfeição”, 2ª Parte, Opúsculo IV, Solilóquio XV, Ponto 390, pp. 438-440; escrita pelo Rev. Pe. Manoel Bernardes, Oratoriano, Nova Edição, Lisboa, 1871.

2 Tit. 2, 13.

3 Salm. 17, 20.

4 Judit. 21, 9.

5 Jer. 39, 3.

6 Rs. 14.

7Deut. 21, 19.

8 Paralip. 2, 3, 5.

9 Jer. 52, 7.

10 Esdr. 2, 14

11 Tob. 13, 21.

12 2 Esdr. 3, 20.

13 At. 3, 2.

14 2 Esdr. 3, 1.

15 Êxod. 32.

16 Lev. 27, 6.

17Apoc. 21, 25.




FONTE: blog Cum Petro et sub Petro: Semper (excertos do artigo publicado sob o título: “As Inesgotáveis Riquezas do Sagrado Coração de Jesus (Ensaio em Fase de Conclusão – 6)” - O título é nosso.

sexta-feira, 5 de abril de 2019


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE ABRIL, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

O SAGRADO CORAÇÃO, RESERVATÓRIO DE GRAÇAS


Nós achamos no Coração de Jesus todos os bens e socorros que podemos desejar. Nele, diz S. Paulo, sois ricos em toda sorte de bens; de modo que não vos pode faltar graça alguma, seja qual for. (1 Cor 1, 5) Este Coração é, pois, verdadeiramente o reservatório de todos os favores divinos; deste Coração generoso é que correm esses rios inexauríveis de graças de que fala o profeta Isaías: Vós bebereis com alegria das fontes do Salvador. (Is 13, 3) Ora, podemos considerar quatro fontes no Sagrado Coração de Jesus.

A primeira, é uma fonte de misericórdia, na qual podemos nos purificar de todas as manchas de nossos pecados. Esta fonte foi formada para nós com as lágrimas e o sangue de nosso divino Redentor. Ele nos amou, diz S. João, e lavou nossos pecados com seu sangue. (Ap 1, 5) Eis aí até onde chegou o amor de Jesus para conosco: a fim de podermos nos purificar das manchas do pecado, ele quis nos preparar um lavacro de salvação no seu próprio sangue.

A segunda é uma fonte de paz e consolação nas nossas penas. Se alguém tem sede das verdadeiras consolações, ainda nesta vida, venha ao meu Coração, e receberá o que deseja. (Jo 7, 37) Aquele que prova as águas de meu amor, desprezará para sempre as delícias passageiras do mundo, e será plenamente satisfeito, quando entrar na morada dos eleitos; porque a água de minha graça o fará subir da terra para a céu. (Jo 4, 13-14) A paz que o Senhor dá às almas de que ele é amado, não é a alegria que o mundo promete nos prazeres sensuais, os quais deixam após si mais amargura do que felicidade; a paz que Deus dá, excede todos os prazeres dos sentidos. (Fl 4, 7) Bem-aventurados aqueles que têm sede desta fonte divina! (Mt 5, 6)

A terceira é uma fonte de devoção. Oh! Como se torna piedoso e pronto a obedecer a Deus; oh! como se cresce sem cessar de virtudes em virtudes, quando se medita muitas vezes o que o divino Coração de Jesus fez por amor de nós. Aquele que segue esta pratica, tornar-se-á semelhante a uma árvore plantada junto da corrente das águas. (Sl 1, 3)

A quarta é uma fonte de amor. Quando se meditam os padecimentos e as humilhações do Coração de Jesus por nosso amor, é impossível não nos sentirmos inflamados por este belo fogo, que ele veio acender sobre a terra.

Assim, segundo a palavra do profeta, aquele que vai haurir nestas felizes fontes que temos no Coração de Jesus, terá sempre águas de alegria e de salvação: Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris. (Is 13, 3)

Portanto, se, no passado, não haveis recebido mais graças, diz o Senhor, não o imputeis a mim, mas a vós mesmo, que vos descuidastes de vir tomá-las em meu Coração: Pedi e recebereis. Oh! quanto é rico e generoso o Coração de Jesus para com aqueles que o invocam! (Rm 10, 12) Basta rogar-lhe para ser atendido, porque se o Coração de Jesus é a fonte primeira, donde fluem todos os regatos de graças, o vaso para recebê-las é a oração. Mas, para que a oração surta seu efeito, é preciso que tenha as condições requeridas: humildade, confiança e perseverança.

Deus atende as orações de seus servos, quando são feitas com humildade; (Sl 101, 18) ao contrario, repele-as. Toda a ciência do cristão consiste em saber que ele nada tem e nada pode: assim, convencido de sua impotência, não deixará ele de recorrer a Deus pela oração. A oração da alma humilde penetra os céus, apresenta-se ao trono do Altíssimo, e não se retira senão depois de ter sido olhada favoravelmente (Eclo 35, 21) por ele, ainda que esta alma seja culpada de todos os crimes; porque Deus não pode desprezar um coração que se humilha. Sabei, minha filha, dizia ele um dia a Santa Catarina de Sena, sabei que aquele que continua a pedir humildemente minhas graças, adquirirá todas as virtudes.

Além da humildade, é necessária a confiança. Esta virtude atrai particularmente o Coração de Jesus, porque exalta sua bondade infinita. O Apostolo no-la recomenda instantemente, assegurando-nos do Senhor grandes recompensas. (Hb 10, 35) Nossa confiança será a medida das graças que receberemos do Coração de Jesus: Se a confiança é grande, as graças serão abundantes, diz S. Bernardo. A misericórdia do Coração de Jesus é uma fonte imensa; aquele que vai haurir nela com um vaso maior de confiança, volta com maior abundância de bens. O Profeta Rei suplicava ao Senhor fizesse brilhar sobre ele sua misericórdia à proporção da esperança que tinha em seu socorro. (Sl 32, 22) E é o que o Centurião viu realizado em seu favor: Jesus, depois de ter feito o elogio de sua confiança disse-lhe: Vai, faça-se conforme tua fé. (Mt 8, 13) O Senhor revelou a Santa Gertrudes, que a alma que ora com confiança, faz-lhe, de certo modo, violência, e força seu divino Coração a escutá-la em todos os seus pedidos. S. João Clímaco tinha, pois, razão de dizer: que a oração faz violência a Deus: mas é uma violência que é agradável e cara a seu Coração infinitamente bom e misericordioso. Tudo o que quiserdes, diz ele, pedi e recebereis.(Jo 15, 7)
Jesus a Santa Gertrudes, a Magna

À humildade e à confiança é necessário ainda ajuntar a perseverança na oração. Jesus Cristo nos exorta a isto nos termos seguintes: Pedi, e ser-vos-á dado; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. (Lc 11, 9) Bastava dizer: Pedi, para que ajuntar: Buscai, batei? Estas palavras não são supérfluas? De modo nenhum; Jesus Cristo quis ajuntá-las para nos fazer compreender melhor que, orando, devemos imitar os pobres que vão mendigar; se lhes recusam a esmola que pedem, persistem contudo em solicitá-la; fazem novas instâncias, e quando o dono da casa não aparece, batem na porta a ponto de se tornarem importunos. Jesus Cristo quer que procedamos como eles, que Peçamos, solicitemos fortemente, não cessemos jamais de bater na porta de seu Coração, rogando que nos assista, socorra, dê luzes, forças, e não permita que percamos sua amizade.

Se, pois, queremos receber graças, vamos buscá-las no Coração de Jesus; o vaso que devemos levar, é a oração, a confiança o faça bem largo, a humildade bem profundo. Perseverando em orar desta maneira, alcançaremos tudo o que quisermos: Quodcumque volueritis. (Jo 15, 6)

PRÁTICA

Para forçar o Coração de Jesus a derramar sobre minha alma os dons celestes, serei também generoso para com os pobres e enfermos, para com as igrejas e obras pias. A medida de minha caridade sera a medida da generosidade divina para comigo. Que devo fazer neste ponto?

AFETOS E SÚPLICAS

Meu Jesus, com a Samaritana vos direi: Domine, da mihi hanc aquam: (Jo 4, 15) Dai-me dessas águas que correm de vosso divino Coração, a fim de que não viva mais senão para vós, ó amabilidade infinita! Minha alma é terra árida que só produz abrolhos e espinhos de pecados: ah! dignai-vos regá-la com as águas de vossa graça, a fim de que dê algum fruto que sirva para vossa glória, antes que a morte me faça sair deste mundo. Ó fonte de água viva, ó bem supremo, quantas vezes vos deixei pelas águas lodosas, que me privaram de vosso amor! Antes tivesse eu morrido! No futuro, não quero mais senão a vós, meu Deus; socorrei-me, e fazei que eu seja fiel em recorrer a vosso divino Coração pela oração. Ó Maria, minha advogada e minha Mãe, intercedei por mim.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Coração de Jesus, ensinai-me a bem orar.

EXEMPLO

Minha alma tem sede de vós, ó meu Deus. (Sl 62) Estas palavras do Profeta Rei [Davi] resumem a vida de Isabel Baylay, esta grande alma que foi fundadora das Irmãs de São José nos Estados Unidos. Nascida no protestantismo, pode-se dizer que ela se fez católica por causa da imperiosa necessidade que experimentava da Eucaristia. Em 1794 Isabel esposou William Seton, rico armador de New-York, e teve deste consórcio cinco filhos. Logo a saúde de William, abalada sem dúvida pelos revezes da fortuna, deu-lhe sérias inquietações. Tendo-lhe os médicos aconselhado clima melhor, Seton embarcou para a ltália com sua mulher, mas morreu poucos dias depois de sua chegada a Liorne. Aí é que Deus esperava Isabel Seton. A piedosa família de Filicchi ofereceu à infortunada viúva generosa hospitalidade. O Coração de Jesus começou desde então a lhe inspirar muito respeito para com o sacramento de nossos altares. Ela sentia felicidade inexprimível em assistir com toda a família dos Filicchi à missa, que se dizia na sua capela. «Quão felizes seríamos, escrevia ela a uma cunhada, também protestante, quão felizes seríamos, se crêssemos o que creem estes caros amigos! Eles possuem, por sua fé, seu Deus no sacramento; acham-no nas suas igrejas; às suas casas vai este Deus para se unir a eles quando estão doentes. Oh! Não posso reter minhas lágrimas, quando o Santíssimo Sacramento passa sob as minhas janelas. Ó meu Deus, quão feliz seria eu, se, ainda que separada de tudo o que me é caro, pudesse, como eles, achar-Vos na igreja! Quantas coisas Vos diria de minhas aflições e pecados da minha vida! ... Noutro dia num momento de angústias excessivas, cai de joelhos sem nisto pensar, quando o Santíssimo Sacramento passava. Clamei para Deus, numa especie de agonia, suplicando-lhe me abençoasse, se ali estivesse realmente presente: Minha alma tem sede de vós, ó meu Deus! dizia-lhe eu. Sobre a mesa vi um livrinho de piedade; não pude conter-me se não o abrisse, e a página que caiu sob meus olhos, continha uma oração na qual S. Bernardo suplicava à Virgem Santíssima a graça de ser nossa Mãe. Rezei a oração... Em quanto eu orava, senti que tinha realmente Mãe. O que me comove mais nesta família Filicchi, escrevia ela ainda à sua cunhada, é que vão à missa cada manhã. Aqui, todos aqueles que amam a Deus, podem assentar-se cada dia para o divino banquete. Ah! minha amiga eles devem ser quase tão felizes como os anjos!» Isabel retomou o caminho da América, determinada a abraçar a verdadeira fé. Dizer os sarcasmos e perseguições que ela teve de suportar, saria impossível. Certa de que assim aconteceria, Isabel não cessava de rezar e dizer: Misericórdia, meu Deus! fonte de luz, esclarecei meus olhos.

A 14 de Março de 1805 Isabel abjurou o protestantismo, e sua primeira palavra, depois deste grande ato, foi um surto de amor para com o Coração de Jesus: «Com o coração folgado e a alma tranquila pela primeira vez após muito tempo, eu conjurava Nosso Senhor abismasse o mais possível meu coração no seu lado aberto, ou o encerrasse no seu tabernáculo, morada em que agora repousarei para sempre.» No dia de sua primeira comunhão, Isabel escrevia: «Enfim, meu Deus é para mim, e eu sou para Ele; que e é tudo mais comparado a esta felicidade?» Vida toda cheia de boas obras foi a desta piedosa senhora, que morreu pronunciando os doces nomes de Jesus, Maria e José, e dizendo: «Água saída do Coração de Jesus, lavai-me.» As irmãs de S. José, que ela fundou e de que foi a primeira Madre, possuem hoje mais de cem casas nos Estados Unidos.







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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 308-315 – Texto revisto, e atualizado. Alguns destaques são nossos)