«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 27 de julho de 2018


OS DONS DO CORAÇÃO DE JESUS



O texto que segue abaixo é extraído da Carta Encíclica HAURIETIS AQUAS do Sumo Pontífice Venerável Papa Pio XII1, de 15 de Maio de 1956, sobre o Culto do Sagrado Coração de Jesus, um dos documentos de leitura mais recomendada acerca da devoção e do culto ao Sagrado Coração de Jesus.

No texto que reproduzimos, o Santo Padre identifica os preciosos DONS advindos do Coração de Jesus: o ESPÍRITO SANTO, a EUCARISTIA, MARIA SANTÍSSIMA, o SACERDÓCIO e a IGREJA.

Pois bem. Vejamos2:
Quem poderá descrever dignamente as pulsações do coração divino, índices do seu infinito amor, naqueles momentos em que ele deu aos homens os seus mais apreciados dons, isto é, a si mesmo no Sacramento da Eucaristia, sua Mãe Santíssima, e a participação no oficio Sacerdotal? 
Ainda antes de celebrar a última Ceia com seus discípulos, ao pensar em que ia instituir o sacramento do seu corpo e do seu sangue, com cuja efusão devia confirmar-se a nova aliança, sentiu o seu coração agitado de intensa emoção, que ele manifestou aos seus apóstolos com estas palavras: «Ardentemente desejei comer convosco este cordeiro pascal antes da minha paixão" (Lc 22, 15); emoção que, sem dúvida, foi ainda mais veemente quando ele "tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu-o a eles, dizendo: 'Isto é meu corpo, que se dá por vós; fazei isto em memória de mim'. Do mesmo modo tomou o cálice, depois de haver ceado, dizendo: 'Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que por vós será derramado'»(Lc 22, 19-20). 

Com razão, pois, pode-se afirmar que a divina Eucaristia, como Sacramento que ele dá aos homens e como Sacrifício que ele mesmo continuamente imola «desde o nascente até o poente» (Ml 1, 11), e também o Sacerdócio, são, sem dúvida, dons do Sagrado Coração de Jesus. 


Dom igualmente precioso do mesmo Sagrado Coração é, como indicávamos, a Santíssima Virgem, Mãe excelsa de Deus e Mãe amadíssima de todos nós, era justo que o gênero humano tivesse por Mãe espiritual aquela que foi Mãe natural do nosso Redentor, a ele associada na obra de regeneração dos filhos de Eva para a vida da graça. A propósito disso, escreve a respeito dela Santo Agostinho: "Evidentemente ela é mãe dos membros do Salvador, que somos nós, porque com a sua caridade cooperou para que nascessem na Igreja os fiéis, que são membros daquela cabeça"3. 
Ao dom incruento de si mesmo sob as espécies do pão e do vinho, Jesus Cristo nosso Salvador quis unir, como testemunho da sua caridade íntima e infinita, o sacrifício cruento da Cruz. Fazendo isso, deu exemplo daquela sublime caridade que com as seguintes palavras ele mostrara aos seus discípulos como meta suprema de amor: «Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos» (Jo 15,13). Pelo que o amor de Jesus Cristo, Filho de Deus, revela no sacrifício do Gólgota, de modo o mais eloquente, o amor do próprio Deus: «Nisto conhecemos a caridade de Deus: em haver ele dado sua vida por nós; e assim nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos» (1 Jo 3, 16). Certamente, o divino Redentor foi crucificado mais pela força do amor do que pela violência dos algozes, e o seu holocausto voluntário é dom supremo feito a cada um dos homens, segundo a incisiva expressão do Apóstolo: «Amou-me e entregou-se por mim» (Gl 2, 20).

(Foto: Capela São José)

Não se pode, pois, duvidar de que, participando intimamente da vida do Verbo Encarnado, e pelo mesmo motivo sendo, não menos do que os demais membros da sua natureza humana, como que instrumento conjunto da Divindade na realização das obras da graça e da onipotência divina4. O Sagrado Coração de Jesus é também símbolo legítimo daquela imensa caridade que moveu o nosso Salvador a celebrar, com o derramamento do seu Sangue, o seu místico Matrimônio com a Igreja: "Sofreu a paixão por amor à Igreja que ele devia unir a si como esposa"5. Portanto, do coração ferido do Redentor nasceu a Igreja, verdadeira administradora do sangue da redenção, e do mesmo Coração flui abundantemente a graça dos Sacramentos, na qual os filhos da Igreja bebem a vida sobrenatural, como lemos na sagrada liturgia: "Do coração aberto nasce a Igreja desposada com Cristo... Tu, que do coração fazes manar a graça"6. A respeito desse símbolo, que nem mesmo dos antigos Padres, escritores e eclesiásticos foi desconhecido, o Doutor comum, fazendo-se eco deles, assim escreve: "Do lado de Cristo brotou água para lavar e sangue para redimir. Por isso, o sangue é próprio do sacramento da eucaristia; a água, do sacramento do batismo, o qual, entretanto, tem força para lavar em virtude do sangue de Cristo"7. O que aqui se afirma do lado de Cristo, ferido e aberto pelo soldado, cumpre aplicá-lo ao seu Coração, ao qual, sem dúvida, chegou a lançada desfechada pelo soldado precisamente para que constasse de maneira certa a morte de Jesus Cristo. Por isso, durante o curso dos séculos, a ferida do Coração Sacratíssimo de Jesus, morto já para esta vida mortal, tem sido a imagem viva daquele amor espontâneo com que Deus entregou seu Unigênito pela redenção dos homens, e com o qual Cristo nos amou a todos tão ardentemente que a si mesmo se imolou como hóstia cruenta no Calvário: «Cristo amou-nos e ofereceu-se a Deus em oblação e hóstia de odor suavíssimo» (Ef 5, 2).



A missão do Espírito Santo junto aos discípulos é o primeiro e esplêndido sinal do seu amor munificente, depois da sua subida triunfal à direita do Pai. Aos dez dias, o Espírito Paráclito, dado pelo Pai celestial, baixou sobre eles, reunidos no cenáculo, segundo a promessa que ele lhes fizera na última ceia: «Rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador para estar convosco eternamente» (Jo 14, 16). O qual Espírito Paráclito, sendo, como é, o amor mútuo pessoal com que o Pai ama o Filho e o Filho ama o Pai, por ambos é enviado, e, sob forma de línguas de fogo, infunde na alma dos discípulos a abundância da caridade divina e dos demais carismas celestes. Esta infusão da caridade divina brotou também do Coração de nosso Salvador, «no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Cl 2, 3). Essa caridade é, portanto, dom do Coração de Jesus e do seu Espírito. A esse comum Espírito do Pai e do Filho deve-se o nascimento e a propagação admirável da Igreja no meio de todos os povos pagãos, contaminados pela idolatria, pelo ódio fraterno, pela corrupção de costumes e pela violência. Foi essa divina caridade, dom preciosíssimo do Coração de Cristo e do seu Espírito, que deu aos Apóstolos e aos Mártires aquela fortaleza com que eles lutaram até uma morte heroica, para pregarem a verdade evangélica e testemunhá-la com o seu sangue; foi ela que deu aos Doutores da Igreja aquele zelo intenso por ilustrar e defender a Fé Católica; foi ela que alimentou as virtudes nos confessores e os excitou a levarem a cabo obras admiráveis e úteis, para a própria santificação, para a salvação eterna e temporal do próximo; e, finalmente, foi ela que persuadiu as virgens a espontânea e alegremente renunciarem aos gozos dos sentidos e se consagrarem inteiramente ao amor do esposo celeste. A essa divina caridade, que transborda do Coração do Verbo Encarnado e por obra do Espírito Santo se difunde nas almas de todos os crentes, o Apóstolo das gentes entoou aquele hino de vitória que exalta a um tempo o triunfo de Jesus Cristo cabeça e o triunfo dos membros do seu corpo místico, sobre todos quantos de algum modo obstam ao estabelecimento do reino divino de amor entre os homens: «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação? Ou a angústia? Ou a fome? Ou a nudez? Ou o risco? Ou a perseguição? Ou o cutelo?... Por meio de todas essas coisas triunfamos por virtude daquele que nos amou. Pelo qual estou seguro de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem outra criatura, poderá jamais separar-nos do amor de Deus que se funda em Jesus Cristo nosso Senhor.» (Rm 8,35.37-39).

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.




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1 Foi proclamado “Venerável” pelo Papa Bento XVI, no dia 19 de Setembro de 2009, reconhecendo as virtudes heroicas do Servo de Deus.

3 De sancta virginitate, VI; PL 40, 399.

4 cf. s. Tomás, Summa theol., III, q.19, a. l; ed. Leon., t. XI,1903, p. 329.

5 Summa theol., Suppl., q. 42, a. l até 3; ed. Leon., t. XII,1906, p. 81.

6 Hino das Vésp. da Festa do Sagrado Coração de Jesus.

7 Summa theol, III, q. 66, a. 3, ed. Leon., t. XII,1906, p. 65.

sexta-feira, 20 de julho de 2018


A ATUALIDADE DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. REMÉDIO CONTRA OS MALES DA VIDA PRESENTE




Já tem mais de três séculos de existência entre nós a devoção ao Coração de Jesus, mas nunca foi de tanta atualidade como na hora presente.1

Esta devoção é um remédio e o remédio supõe um mal, o mal estar geral da sociedade moderna.

É lei geral da Providência acomodar às necessidades dos tempos as instituições que inspira e suscita. Pode dizer-se que a história da Igreja não é senão a execução desta lei admirável.

Se a devoção ao Coração de Jesus nos foi dada «como remédio aos males dos últimos tempos», se estamos em plena era do Coração de Jesus, grande correspondência a de existir entre esta devoção e aqueles males.

Na verdade, estudando a índole e caracteres desta devoção e as necessidades modernas, descobre-se logo entre eles a mesma relação existente entre o remédio e a doença, entre o veneno e o antídoto.

Qual é o espirito e o mal dos nossos tempos? Qual é o espirito e o fruto da devoção ao Coração de Jesus?

Vejamos no seguinte esquema de Costa Rosetti.

ÍNDOLE E CRIMES CARACTERÍSTICOS DO NOSSO TEMPO
ESPÍRITO E FRUTOS DO CULTO AO
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
1. Apostasia, renegação de Cristo.
1. Estreita união com Cristo.
2. Infidelidade total e cada dia mais alastrada.
2. Fé viva, fomentada pela caridade do Sagrado Coração.
3. Desesperança e pessimismo: desesperação causada pelas calamidades sociais e pela miséria geral; frequente prática de suicídio.
3. Renovação da esperança, aumentada pela consideração da clemência e infinita misericórdia do Sagrado Coração.
4. Esfriamento da caridade para com Deus e Cristo: indiferentismo.
4. Caridade acesa pelo Coração inflamado de Jesus; afervoramento da vida cristã.
5. Esmorecimento da vida católica com manifesto definhamento; a tibieza e oscilante claudicação própria do liberalismo.
5. Florescência da vida católica, visível, manifesta; frequência aos Sacramentos; vigorosas associações católicas, opostas ao liberalismo.
6. Opressão da Igreja, disfarçada ou descarada; indiferença ou hostilidade para com o Sumo Pontífice.
6. Amor ao Vigário de Jesus Cristo; defesa enérgica dos direitos da santa Igreja, esposa de Cristo.
7. Materialismo teórico ou prático.
7. Desejo aos bens suprassensíveis e sobrenaturais, provocado pelas labaredas de amor do Sagrado Coração.
8. Concupiscência, volúpia, fastio dos bens celestes.
8. Lembrança e mais frequência à Comunhão eucarística.
9. Sórdida cobiça de bens terrenos; ausência de caridade, egoísmo na economia particular e pública; apropriação de bens dos mais opulentos aos menos abastados até a miséria.
9. Abnegação caridosa a bem do próximo, aurida no Coração de Deus atravessado (pela lança), cercado de espinhos e coroado pela cruz.
10. Rivalidades sociais e discórdias violentas: questões operárias, questões agrárias …2
10. Solução pacífica das questões sociais, quando todos vão beber na fonte do Sagrado Coração os sentimentos de abnegação, justiça recíproca e legal, o seu inesgotável amor.
11. O socialismo apaixonado e o comunismo cada vez mais voraz e insaciável.
11. Socialismo e comunismo debelados com reformas sociais, inspiradas pela justiça e caridade do Sagrado Coração.
12. O relaxamento e a decomposição da família e da sociedade promovidas por um liberalismo e relativismo desmedidos, em escolas e outros ambientes sociais.3
12. A ação conservadora da doutrina católica, apropriada ao verdadeiro progresso, que há de sanar todos os males sociais com a virtude regeneradora do divino Coração.

Hoje, como no tempo de S. Agostinho, como sempre, o mundo está dividido em duas grandes cidades ou reinos – a cidade de Deus, o reino da luz, e a cidade do erro, o reino das trevas e de Lúcifer.

As grandes lutas e combates no mundo se travam todos em volta de Jesus.

Os partidos intermediários e as outras lutas são pequenas coisas em comparação à eterna luta, que divide o mundo naqueles dois grandes reinos.

Não queremos que Jesus reine sobre nós! nolumus hunc regnare super nos, exclamam hoje com mais furor do que no tempo de Pilatos os blasfemos filhos do erro.

É necessário que Ele reine, e há de reinar sobre todos! oportet illum regnare, repetem, por sua parte, com S. Paulo, os filhos da verdade.

Reinar ou não reinar Jesus no mundo, eis a eterna luta que divide irreconciliavelmente os homens, eis a vida ou a morte da sociedade.

É o amor em luta aberta com o ódio.

O grande mal dos nossos tempos não é a pobreza – nunca os recursos foram tantos e tão divididos como hoje; não é a ignorância – a ciência barateou-se e está ao alcance de todos –; o grande mal, que a todos resume, é o ódio, é o egoísmo desta sociedade sem fé.

Quando não há fé nem Deus, o amor é impossível, e sem amor a sociedade é um covil de feras, é o pleno reinado do egoísmo, cada um vive para si. Então o amor ao próximo é uma mentira. O egoísta sem fé nunca chega a ter a noção do amor; quando dá mostras de amar, é a si que ele ama, é o seu interesse que procura sempre. E se o próximo o contraria, afasta-o, persegue-o, mata-o. E sai da ordem individual e se apodera da força e faz as leis e as leis são a divinização da matéria, a glorificação das paixões.

Esta é a grande aspiração do reino das trevas, hoje principalmente concretizado na maçonaria (no relativismo, na exploração do homem pelo homem … no secularismo), na igreja internacional do ódio.

É no meio desta sociedade pervertida e desnorteada que se levanta o Coração de Jesus com o seu reino do amor, para fazer recuar o ódio.

O amor é a vida, é o sangue e a seiva da sociedade; é o homem que sai para fora de si mesmo, que esquece os seus interesses, domina os seus maus instintos, vive para os outros, sacrifica-se por eles, dá-lhes o que tem, e até a própria vida.

Esta dedicação e este amor não veio, não podia vir da terra: é a lição que o Coração de Jesus constantemente prega aos homens.

Admiravelmente grandiosa é a ideia que Santa Margarida4 nos dá do Coração de Jesus: «É o Santo dos santos, o Santo do amor, que desejava ser conhecido, para ser o Mediador entre Deus e os homens; porque é onipotente para fazer as pazes, afastando os castigos que os nossos pecados provocam, e para nos alcançar misericórdia.»

Esta ideia de mediações, ou melhor, de nova ou segunda mediação entre Deus e os homens aparece com, frequência nos escritos de Santa Margarida: «É o último esforço» do seu amor, «uma redenção amorosa», «uma nova efusão do amor de Deus de todos os tesouros de amor, de graça, santificação e salvação que possui».

É verdade que Deus já tinha dado tudo, quando deu seu Filho e o Filho consumou a doação de si na Encarnação, na Redenção e na Eucaristia: – parece que não podia dar mais; mas deu: a nova declaração de amor que fez aos homens nas revelações de Paray com tais extremos de bondade e misericórdia são um chamamento paternal, um apelo divinamente apaixonado às infinitas ternuras do seu amor.

Como a Eucaristia é um resumo de todas as obras de Deus e encerrando todas as manifestações de seu amor, constitui a mais excelente e admirável de todas, assim o Coração de Jesus, dando-nos no amor que simboliza e encerra a razão da Eucaristia e de todas as obras de Deus, constitui um novo dom, uma declaração nova do seu amor, um chamamento mais íntimo, um novo descer e caminhar para os homens, oferecendo-lhes o perdão, a vida, o amor e a glória.

Oh! Como é belo este descer de Jesus, este aparecer aos homens com o Coração nas mãos a escorrer sangue e a lhes pedir o retorno do seu amor infinito! As revelações de Paray abriram uma nova era na história do amor de Deus e hoje estamos em pleno esplendor desta era bendita.




NOTA DO BLOG: Fizemos pouquíssimas alterações no texto original, mantendo-o quase íntegro, apenas adaptando-o para o tempo presente, que parece renovar os mesmos vícios e males da época que foi escrita esta magnífica obra.




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FONTE: livro, em formato PDF, “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Introdução III - excertos do texto do Pe. Joaquim dos Santos Abranches, Lisboa 15.08.1907 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil. O título é nosso.



1 No original: “Já tem quase dois séculos de existência entre nós a devoção ao Coração de Jesus, mas nunca foi de tanta actualidade como na hora presente.”

2 No original: “Rivalidades sociaes e discordias acerbissimas: a questão operaria, a questão agraria, libertação civil e franquias populares.”

3 No original: “A relaxação, a lenta decomposição da família e da sociedade, operada pelo liberalismo por meio das escolas emancipadas da religião e dos inumeráveis ardis dos pedreiros livres.”

4 No original: “Beata Margarida”, pois, à época que foi escrito, ainda não tinha sido canonizada, o que só ocorreu em 1920, pelo Papa Bento XV.

quarta-feira, 18 de julho de 2018


ATO DE CONFIANÇA DE SÃO CLÁUDIO DE LA COLOMBIÈRE, SJ


São Cláudio de la Colombière,SJ (1641-1682),
Apóstolo do Sagrado Coração de Jesus

Meu Deus, estou tão convencido que velais sobre aqueles que em Vós confiam, e que nada pode faltar a quem de Vós tudo espera, que resolvi viver para o futuro sem preocupação alguma, e descarregar sobre Vós todas as minhas preocupações. “Em paz me deito e descanso, porque Vós, Senhor, me firmastes na esperança” (Sl 4, 9).

Podem os homens despojar-me dos bens e da honra, pode a doença roubar-me as forças e os meios para Vos servir, posso até perder a graça pelo pecado; mas o que nunca perderei é a esperança; conservá-la-ei até ao último alento da minha vida, embora todas as potências infernais se esforcem em vão por me roubar. “Em paz me deito e descanso”.

Esperem outros a felicidade das suas riquezas e talentos; confiem na inocência da sua vida, no rigor da sua penitência, no número das suas boas obras ou no fervor das suas orações. Vós, Senhor, a mim me constituístes na esperança. Quanto a mim, toda a minha confiança se funda nesta mesma confiança. Ela nunca enganou ninguém. “Nunca ninguém esperou em Deus e ficou confundido” (Sir 2, 11). E assim, estou seguro de que serei eternamente bem-aventurado, porque espero firmemente sê-lo, e é de Vós, ó meu Deus, que o espero. “Confiei em Vós, Senhor, jamais serei iludido” (Sl 30, 2).

Conheço e sei como sou demasiado frágil e volúvel. Não ignoro quanto podem as tentações contra as mais robustas virtudes. Vi cair as estrelas e derrubar as colunas do firmamento; mas nada disso me mete medo. Enquanto esperar, ficarei a coberto de todas as desgraças; e estou seguro de esperar sempre, porque espero até esta invariável esperança.

Finalmente, estou certo que nunca será demasiado tudo o que em Vós espero, e que nunca poderei ter menos do que de Vós souber esperar. Espero, portanto, que tereis mão nas minhas mais violentas inclinações, e me defendereis dos assaltos mais furiosos, e fareis triunfar a minha fraqueza dos meus mais temíveis inimigos.

Espero que me amareis sempre, e que também eu Vos hei de amar incessantemente. E para levar a minha esperança tão alto quanto ela pode subir, de Vós mesmo Vos espero, ó meu Criador, para o tempo e para a eternidade.



_____________São Cláudio La Colombière, SJ – Apóstolo do Sagrado Coração de Jesus





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FONTE: http://www.ordem-do-carmo.pt/index.php/vocacoes/1134-acto-de-confianca.html – Texto adaptado para o português do Brasil. Os destaques são nossos.

sexta-feira, 13 de julho de 2018


SANTA MARGARIDA MARIA: O CORAÇÃO DE JESUS É UM LIVRO ABERTO A NOS ENSINAR O CAMINHO DO SEU PURO AMOR


O Coração de Jesus: "livro da vida" e escola de amor
(Foto: O Fiel Católico)

'Aprendei de mim … ponde-vos em minha escola …' (MT 11,29) Jesus nos convida a nos deixarmos instruir, a nos tornar atentos porque ele têm palavras de vida, porque sua Mensagem não vem dos homens, mas Deus, porque não é um fardo pesado, mas um apelo a amar.

Quem diz 'escola' diz também 'livros'. Margarida Maria lia a Bíblia, pelo menos o Novo Testamento. Dispunha também de autores espirituais. E Jesus lhe fornecia outro 'manual', seu próprio Coração, que é 'livro da vida'.

Fazendo minha leitura para preparar a fala depois das Vésperas, meu Bem-Amado apresentou-se diante de mim: Quero te fazer ler no livro da vida onde está contida a ciência do amor. E, descobrindo-me seu Sagrado Coração, deixou-me ler estas palavras: Meu amor reina no sofrimento, triunfa na humildade e se alegra na união. Isto se imprimiu tão forte em meu Espírito que jamais esqueci. (S. 35)

No fim de sua vida, quando a doença a tornou incapaz de fixar a atenção na leitura espiritual, Margarida Maria se voltava livremente a este 'livro' inesgotável:

O amável Coração de Jesus se abriu a mim como um grande livro, em que me fazia ler lições admiráveis de seu puro amor, o qual não se deixa vencer por minhas resistências, porque frequentemente combato com ele, mas ele permanece sempre vitorioso e eu confusa; nunca houve tão bom diretor, pois ensinando dá o meio de fazê-lo, ou melhor, ele mesmo o faz. (C. 135)

Nos primeiros anos de sua vida religiosa, Margarida Maria recebera o Coração de Jesus como um 'Mestre' em que ela encontraria repouso, abrigo e força nas fraquezas.

Meu Senhor apresentou-se a mim e me descobriu seu Coração amoroso: Eis o mestre que eu te dou, que te ensinará tudo o que deves fazer pelo meu amor. Por isso tu serás a discípula bem-amada. Experimentei grande alegria e não sabia que ação de graças dar ao meu libertador. Eu me encontro tão abandonada a este divino mestre de amor que não mais posso recorrer a outrem em minhas necessidades ou dificuldades, por maiores que sejam. (S. 27)

Mesmo se isto nos afasta da via comum, não é possível silenciar que desde sua juventude e ao longo de toda a sua vida Margarida Maria teve um só 'diretor'. E Jesus não cedia neste ponto. Não, disse ele: 'Só tens um único mestre, o Cristo'? [Mt 23,10] Antes de entrar no mosteiro, num cuidado pela renúncia de sua vontade própria para aceitar a obediência, Margarida Maria dirigi-se ao Senhor:

Dai-me alguém que me conduza até Vós.

Precisas de alguém além de mim? O que temes? Uma criança tão amada como eu te amo poderá perecer nos braços de um Pai onipotente?

O tempo passa. Jesus confia uma missão a Margarida Maria e lhe indica Pe. La Colombière para ajudá-la nessa tarefa. Mas o padre deve deixar Paray pela Inglaterra. Margarida Maria submete-se à vontade de Deus, mas propondo algumas questões. Jesus a convida para o perfeito abandono.

Quando quis refletir nisto, o Senhor respondeu-me: Como? Eu não te basto, eu que sou teu princípio e teu fim? Não importava ter de abandonar tudo, porque eu tinha a certeza de que ele me proveria todo o necessário. (Aut. 93)

Mestre único, Jesus também seria Mestre exigente. Em sua juventude, Margarida Maria se dizia inclinada ao amor do prazer e do divertimento. Mas a dolorosa figura do Salvador flagelado apresentava-se a ela para lhe dirigir estas queixas:

Tu gostarias deste prazer? E eu que nunca pude ter prazer algum e me entreguei a toda espécie de amarguras, por amor a ti e para conquistar teu coração? Mesmo assim ainda queres tirá-lo de mim! Tudo isso impressionava muito a minha alma, mas declaro sinceramente que não entendia nada disso, tanto eu tinha um espírito grosseiro e pouco espiritual, e eu não fazia nenhum bem porque ele pressionava tão fortemente que não podia resistir, e isso era para mim objeto de confusão (Aut. 21).

Certo dia Margarida Maria se queixa que o Senhor a prende na doçura de seu amor …

Ele me respondeu que cabia a mim submeter-me indiferentemente a todas as suas disposições, e não lhe dar leis, e eu te farei compreender em seguida que sou um sábio e prudente diretor, que sei conduzir as almas sem perigo, quando elas se abandonam a mim, esquecendo-se delas mesmas (Aut. 52).

Esquecimento de si, abandono, silêncio: três atitudes essenciais da vida espiritual que Jesus ensinará a Margarida Maria:

Eu me abandonei inteiramente ao Sagrado Coração de Jesus Cristo e o escolhi para meu diretor, fazendo-me ele essa caridade. Eu vos declaro que ele nada poupou; corrigindo-me, ele me impôs e me fez sofrer o castigo por minhas faltas. Ele não quer que eu pense que me fazem algum mal quando me dão sofrimento, impondo-me rigoroso silêncio sobre isso (C. 86).

'Meu amor não será ocioso em ti': tais palavras de Jesus a Margarida Maria lhe foram dirigidas por ocasião do retiro de 1678. Desde sua juventude, contemplando o Crucifixo, tivera a intuição de sua vocação particular: Jesus a queria conformar à sua vida de sofrimento.

Passava noites … a derramar lágrimas junto ao meu Crucifixo, que me fazia ver, sem que nada compreendesse, que ele queria se tornar o Senhor absoluto de meu coração e me queria em tudo conforme à sua vida sofredora. Por isso queria ser meu senhor, fazendo-se presente à minha alma para que eu agisse como ele agiu em meio a seus cruéis sofrimentos. E ele me fazia ver que tudo sofrera por meu amor (Aut. 8).
Santa Margarida Maria Alacoque

Na oração, habitualmente, Margarida Maria recomenda a disponibilidade para que o Senhor nos ensine a conformar nossa vontade à sua:

Permanecei sempre, na vossa oração e em outras situações, diante de Nosso Senhor, como discípulo diante de seu mestre que lhe quer ensinar a cumprir sua vontade, pela renúncia à sua vontade própria (Av. 43).

No final de sua vida, Margarida Maria evoca uma palavra de Jesus que ilumina o cuidado particular que ele teve em formá-la:

Eu me fiz a mim mesmo teu mestre e teu diretor para te dispor ao cumprimento deste grande projeto e para te confiar este grande tesouro que te mostro aqui a descoberto (C. 133).

Não é de admirar quando se encontra na 'pequena consagração' esta oração confiante:

Ó Coração de amor! Coloco toda a minha confiança em vós, porque tudo temo de minha fraqueza, mas tudo espero de vossas bondades (O. 25).”





 LEGENDAS DAS FONTES (citadas):

S.: Escritos compostos a pedido da madre de Saumaise;

Aut.: Autobiografia (vida escrita pela santa)

C.: Cartas

Av.: Avisos (para as noviças)

O.: Orações




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FONTE: livro “Na Escola do Coração de Jesus com Margarida Maria [itinerário espiritual]”, Pe. Gérard Dufour, Edições Loyola, São Paulo/2000, excertos do Cap. 1 - “Um Mestre Atento a Seus Discípulos”, pp. 19 a 23 - O título da postagem é nosso, assim como alguns destaques e as citações bíblicas.