«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

AS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – PARTE VIII

 AS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – PARTE VIII
(Em forma de catecismo, com perguntas e repostas)

O Sagrado Coração de Jesus e a Família

EXPOSIÇÃO DAS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO

PROMESSAS FEITAS AS PESSOAS SECULARES E ÀS SUAS FAMÍLIAS.

O Sagrado Coração prometeu graças especiais às famílias que lhe prestassem culto doméstico1.

Ainda que esta promessas sejam feitas também às famílias religiosas, é certo que dizem particular respeito às famílias seculares e aos cristãos que vivem no século. Quem não admirará a compadecida bondade e a condescendência misericordiosa do nosso divino Salvador? Sabendo que as pessoas do século são muitas vezes perturbadas pelos cuidados e inquietações dos negócios temporais, e que as preocupações terrestres as expõem frequentemente a descuidar a salvação eterna, não se contentando com lhes ter aberto o seu Coração divino como fonte de graças sobrenaturais, apresenta-lhes, ainda, como o principio dos próprios bens temporais.

«O Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, escreve a Santa, confirmou-me que o prazer que sente de ser amado, conhecido e honrado das suas criaturas é tão grande que me prometeu:

  1. Que as pessoas seculares achariam, por meio desta amável devoção, todos os socorros necessários ao seu estado, quer dizer:

  1. A paz nas famílias. Prometeu-me que por este meio uniria as famílias desunidas. Nosso Senhor quer grande caridade para com o próximo; quer que lhe peçamos pelo próximo como por nós mesmos; porque um dos efeitos particulares desta devoção, é unir os corações desunidos e pacificar as almas;

  1. A consolação nas misérias;

  1. O alívio nos trabalhos. Prometeu proteger e socorrer as famílias que estiverem em qualquer necessidade e que se dirigirem a ele confiadamente:

  1. As bênçãos do Céu em todas as empresas;»

«É verdadeiramente neste Sagrado Coração que elas acharão o seu refúgio durante a vida e principalmente na hora da morte.»

1) Quais são as condições que as famílias devem cumprir para ter parte nestas Promessas, especialmente a respeito das empresas?

É preciso fazer algumas observações muito importantes sobre estas promessas:

  1. Por esta expressão geral: todas as empresas, Nosso Senhor indica que se não trata unicamente de obras espirituais, mas também de empresas temporais, comerciais, industriais, etc.

  1. Nosso Senhor não promete o bom êxito das empresas, mas «as suas bençãos nas empresas.»

Daí resulta que, se o bom êxito das empresas há de ser de obstáculo a outros interesses superiores, sobretudo ao estabelecimento do seu amor nas almas e nas famílias, o divino Salvador concederá, não as bênçãos que fariam as empresas bem sucedidas, mas aquelas que maior bem espiritual e mesmo temporal dariam aos seus servos.

  1. Ademais, esta promessa supõe que as empresas terão as condições pedidas pela razão e pela fé, quer dizer, que serão justas, úteis, feitas com sabedoria, prudência e sobretudo com desinteresse, sem espírito de ambição e de cobiça, mas com intenção pura e sobrenatural.

  2. Finalmente, para participar das bênçãos divinas prometidas, é preciso que aquele que se meter nas empresas, tenha devoção sincera ao Coração de Jesus, e que implore o auxilio deste divino Coração por meio de oração confiada, humilde e perseverante.

Estas observações bem entendidas serão suficientes para tirar o espanto de certas pessoas, vendo mal sucedidas as empresas confiadas ao Coração de Jesus. Este divino Coração permite estes revezes, por efeito particular da sua grande misericórdia e para maior bem das famílias e dos individuais. Muitas vezes estes infortúnios são causados por vícios ocultos, que tornam as empresas desagradáveis ao Coração de Jesus, e daí prejudiciais aos seus autores.

Os irmãos de Santa Margarida Maria, muito dedicados ao Coração de Jesus, foram os primeiros que sentiram os salutares efeitos destas promessas, quer no espiritual quer no temporal a bendizei o Sagrado Coração, que inspirou a meus irmãos, que se dedicassem a amá-lo e a honrá-lo, escrevia a Santa à Madre Saumaise, no mês de agosto de 1689. Mal posso dizer a mudança que este divino Coração operou naquela família; eles me afirmaram que estariam prontos a dar a ultima gota de sangue, para sustentar e aumentar esta santa devoção.

Felizes das famílias que se dedicarem sinceramente ao Coração de Jesus! Estas casas serão os santuários da paz, os vestíbulos onde os seus membros se prepararão pela fidelidade aos seus deveres para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmos, para entrar na casa do Céu.

O Sagrado Coração de Jesus, Santa Margarida Maria, S. João Evangelista,
Santa Maria Madalena, São Francisco, São Domingos e Santa Teresa.

PROMESSAS PARTICULARES FEITAS ÀS COMUNIDADES, AOS SEMINÁRIOS E ÀS ESCOLAS CRISTÃS.

Posto que o Sagrado Coração deseje ser honrado de todos os fiéis, é contudo especialmente nos seminários, nas escolas cristãs e particularmente nas casas religiosas, que ele quer ver estabelecido o reinado do seu amor. As promessas tão animadoras que este divino Coração faz às comunidades que lhe são sinceramente dedicadas, serão para todos os seus membros, sobretudo para os superiores, razão assaz forte que os determine a trabalhar com verdadeiro ardor, para que nas suas casas seja honrado o Sagrado Coração.

É especialmente a estas comunidades, consagradas ao Coração de Jesus, que se aplica esta palavra de Nosso Senhor2. «Quando duas ou três pessoas estiverem reunidas em meu nome, eu estarei no meio delas.»

2) Quais são as promessas feitas às comunidades dedicadas no Sagrado Coração?

«Creio (e não posso deixar de o dizer) que dispensará especial proteção de amor e união às comunidades que lhe prestarem particulares homenagens.

«O Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu-me que Ele, como fonte de todas as bênçãos, derramará a suave unção da sua ardente caridade em todas as comunidades, que o honrarem e se colocarem sob a sua especial proteção.

«Prometeu que conservaria nelas a união de todos os corações, para deles e do seu fazer um só coração.

«Prometeu que desviaria delas todos os golpes e castigos da justiça divina, para lhes dar novamente a graça, quando tenham a infelicidade de a perder.»

Nosso Senhor Jesus Cristo mostrou-me além disso um tesouro de graças e de salvação que lhes destina, pela grande consolação que lhe dá a honra que prestam ao seu Sagrado Coração.

«Mas falando sinceramente, não creio que estas graças e bênçãos, que ele promete, consistam na abundância das coisas temporais; porque como Ele diz, essas coisas tornam-nos pobres da sua graça e do seu amor, com que quer enriquecer as nossas almas.

«As pessoas religiosas devem muito especialmente abraçar esta amável devoção ao Sagrado Coração de Jesus, porque nela encontrarão tais auxílios que não precisarão dos outros para restituir o antigo fervor e a mais exata observância às comunidades menos regulares, nem para elevar à mais alta perfeição as que vivem na mais estreita observância.»

Em muitas das suas cartas, a Santa narra como ela mesma conheceu o efeito destas promessas em alguns mosteiros. Falando da Visitação de Semur, dizia à Madre Greyfi é: «O Sagrado Coração do meu Jesus quer que vos diga, que a vossa comunidade ganhou de tal forma a sua amizade, por meio destes primeiros obséquios, que se tornou o objeto das suas complacências; e quer que eu lhe dê o nome de Comunidade muito amada do seu coração quando oro por ela. É tal a consolação que lhe dão as honras que nela recebe «que lhe esquecem todas as amarguras que de outras partes lhe veem. Promete-vos um tesouro de graças e de bênçãos, pela honra que se lhe presta no vosso mosteiro.»

À superiora d a Visitação de Moulins, escrevia a Santa. «não tenho deixado de vos recomendar a vós e a vossa comunidade, ao adorável Coração de Jesus. Não posso exprimir-vos a alegria que sinto quando penso na consolação que dão ao amável Coração do nosso divino Mestre, as honras que lhe são tributadas na vossa casa: Ele dispensará sempre proteção especial à vossa querida comunidade, que eu considero o objecto das complacências deste amável Coração e de que ele terá especial cuidado, como espero da sua amorosa bondade. Continuai, pois, minha boa Mãe, a amar este divino Coração e a fazê-lo amar, e não temais que ele esqueça os vossos trabalhos.

3) Quais são as bênçãos especiais destinadas aos superiores dedicados ao Sagrado Coração?

Os superiores que amam ardentemente o Sagrado Coração, e que se esforçam por fazê-lo reinar nas suas comunidades, podem esperar todas as promessas feitas aos apóstolos deste divino Coração.

Duas recompensas especiais lhes são prometidas: este Coração sagrado será a sua força e o seu consolador no meio das dificuldades do seu cargo e alcançarão deste divino Coração as bênçãos mais abundantes para si e para os seus trabalhos.

Respondendo à Madre de Sondeilles e á Madre Dubuysson, que lhe tinham comunicado as inquietações dos cargos que ocupavam, e solicitado as suas orações, dizia Santa Margarida Maria3. «A paz do adorável Coração de Jesus Cristo seja para sempre a plenitude dos nossos corações, a fim de que não haja coisa alguma que lhes perturbe a tranquilidade. Peço-vos, em nome de Nosso Senhor, que vos conserveis em paz, e não exijais de mim outros esclarecimentos; basta que eu vos diga que o Senhor se contenta com a vossa boa vontade.

«O Sagrado Coração do nosso bom Mestre não vos negará as graças necessárias para cumprirdes perfeitamente quanto vos impuser. É o que lhe peço para vossa caridade. Não deixo também de apresentar a este divino Coração os vossos desejos e intenções, pedindo-lhe que seja a vossa força e o vosso auxílio no cargo em que ele vos pôs ainda antes das criaturas. Espero que vos não faltará com os socorros necessários para o desempenhardes bem, e para se cumprirem os seus desígnios acerca de vós, uma vez que vos confieis ao cuidado da sua amorável Providência, e que todo o vosso desejo seja amar, honrar e glorificar este divino e amável Coração.

«Não vos poupeis a cuidados e trabalhos; este é o meio essencial para granjear a sua amizade e atrair para vós e para as vossas santas comunidades a abundância das graças santificantes e o reino da sua ardente caridade, cuja ação derramará nos vossos corações pelo seu santo amor.»

«Oxalá que o s superiores de todas as casas religiosas, de todos os seminários e de todas as escolas cristãs mereçam para as suas casas o nome tão consolador de Comunidade muito amada do Sagrado Coração, onde este divino Coração se delicia em habitar!»

É a mais bela recompensa que podem ambicionar neste mundo para as suas famílias espirituais.


_______Continua…




NOTA: Substituímos a designação da vidente de “Bem-aventurada” por “Santa” Margarida Maria.


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1 Cartas 33, 100, 103, 132.

2 S. Mateus, XVIII, 20.

3 Cartas 18, 88.


FONTE: livro, em formato PDF: “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Sexta Parte – As Promessas do Sagrado Coração, pp. 280-287 – Texto revisto e atualizado, sendo alguns destaques por nós acrescentados.


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

19 DE AGOSTO – DIA DE SÃO JOÃO EUDES, CONFESSOR, “APÓSTOLO E AUTOR DO CULTO LITÚRGICO AO CORAÇÃO DE JESUS” + 1

 19 DE AGOSTO – DIA DE SÃO JOÃO EUDES, CONFESSOR, “APÓSTOLO E AUTOR DO CULTO LITÚRGICO AO CORAÇÃO DE JESUS” + 1

O Santo Padre Pio X chama-o Pai, Doutor e Apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Aceso ele mesmo de um ardente fogo de amor para com os Sagrados Corações de Jesus e Maria.


Autor do culto litúrgico

Entre os apóstolos, que com obra providencial prepararam as almas para o grande acontecimento que foi a revelação solene do Sagrado Coração de Jesus, merece um dos primeiros lugares São João Eudes*. A eficácia de seu apostolado foi reconhecida por dois Pontífices: por Leão XIII no decreto sobre a heroicidade de suas virtudes, e por Pio X, quando decretou sua beatificação. Leão XIII chamou-o o autor do culto litúrgico dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria: «Auctor cultus liturgici Sacrorum Cordium Jesu et Mariae». E Pio X chamou-o Pai, Doutor e Apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Aceso ele mesmo de um ardente fogo de amor aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, teve por primeiro e não sem uma inspiração divina, a ideia de um culto público para honrá-los, assim diz o decreto.

* Substituímos a expressão “Beato” por “São” João Eudes, pois foi canonizado em 25 de abril de 1925, por sua Santidade o Papa Pio XII, isto é, depois da publicação da obra fonte desta postagem.

Deve ser considerado como pai deste culto tão doce, tendo ele, pela fundação de sua congregação, feito que seus filhos celebrassem a solenidade destes Corações; como doutor, porque compôs o ofício e missa em sua honra; e como apóstolo, tendo trabalhado sempre com zelo infatigável em propagar a devoção destes Corações1.

João Eudes nasceu em Ri, num arrabalde de Argentan na diocese de Seez no dia 14 de Novembro de 1601. Quando menino frequentou o Colégio dos Jesuítas de Caen, e mais tarde entrou na Congregação do Oratório, e foi ordenado sacerdote no fim do ano de 1625. Discípulo dos santos sacerdotes Padres Berulle e Condren, aumentou sua devoção por Jesus e Maria, que tinha nutrido desde menino. E na aplicação ao estudo e na meditação das obras de Santa Gertrudes e Santa Mathilde, de Lansperge e de Blosio, descobriu um novo objeto da sua devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Nestes Corações encontrou tesouros de bondade e de amor, e arrebatado pela grandeza e suave beleza destes Corações, sentiu a necessidade de comunicar aos outros sua preciosa descoberta.

Para realizar seu intento, desligou-se da Congregação do Oratório e fundou o Instituto de Jesus e Maria e o das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade. O emblema destas congregações será um coração, encimado pela cruz e pelas imagens de Jesus e Maria; e devem ter exercícios e práticas especiais para honrar e fazer que sejam honrados os dois Corações de Jesus e de Maria. O Santo, na primeira parte de seu apostolado, ocupou-se especialmente do Imaculado Coração de Maria; celebrou e fez celebrar com pompa a sua festa pelos fiéis. Em seguida, o seu apostolado abrangeu o Sagrado Coração de Jesus. Fazia sua festa sempre com a maior solenidade possível, e quis que ela fosse a festa principal nas suas congregações.

São João Eudes, fundador das Congregações Instituto de Jesus e
Maria e das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade.

Em 1670, o Santo publicou um opúsculo intitulado: «A devoção ao Adorável Coração de Jesus» com acréscimo do Ofício e da Missa, como também muito tempo antes de 1637 tinha publicado um volume com o título: «O Reino de Jesus», no qual, em união ao seu amor ao Coração de Jesus, encontramos os pensamentos e algumas vezes as expressões que ele usava para cantar os louvores do Sagrado Coração de Jesus. A liturgia composta por ele em honra do Sagrado Coração de Jesus, em pouco tempo alcançou a aprovação de cinco Bispos, que permitiram também que se estabelece com oitava nos seminários da Congregação.

Festa do Sagrado Coração

No intuito de aumentar o fervor de seus religiosos a fim de celebrarem a festa solene do S. Coração, expediu-lhes, em 29 de Julho de 1672, uma circular, vibrante de amor pelo Coração Adorável de Jesus.

Dizia-lhes: «Nosso Senhor fez-nos uma graça inefável, dando à nossa Congregação o Coração admirável de sua Mãe Santíssima. Mas sua bondade não se contentou só com isto: ela foi ilimitada conosco, dando-nos além disso o seu Coração. Que este, com o Coração de sua gloriosa Mãe, seja o fundador e o superior, o princípio e o fim, o coração e a vida desta mesma congregação ...

A DIVINA PROVIDÊNCIA, que tudo governa com maravilhosa sabedoria, quis que a festa do Coração de Maria se fizesse antes da do Coração do Filho, a fim de preparar o caminho nos corações dos fiéis para veneração daquele adorável Coração, e para dispô-los a receber do céu a graça desta nova festa por meio por meio da grande devoção com que celebraram a outra ... Esta fervorosa devoção fez sim, que a Mãe alcançasse de seu Filho o favor assinalado de dar também Ele à Igreja a festa do seu Coração real, que será nova fonte de bênçãos para todos que se dispuserem a celebrá-la santamente, mas quem não fará a festa deste modo? ... E que Coração mais adorável e amável do que este, do Homem-Deus, que se chama Jesus? Que amor não merece este Coração Divino, que sempre deu e dará sempre a Deus maior glória e amor a todo instante do que todos os corações dos Anjos e dos homens poderão ter-Lhe dado em toda eternidade? Que zelo não devemos ter para honrar este Coração augusto, fonte de nossa salvação, origem de toda felicidade no céu e na terra, fornalha de amor por nós, que pensa dia e noite em fazer-nos benefícios infinitos e que se despedaçou na cruz por nosso amor? ...»

«Eis aí o oficio e a Missa que vos mando, aprovados por nossos Bispos. Empreguemos todo cuidado e diligência e todo fervor em bem celebrá-la. Convidai todos os amigos e pessoas piedosas a particparem da festa; e se receberdes em tempo esta minha carta, publicai-a; e se der tempo, pregai sobre ela; jejuai na vigília: na véspera ou no dia anterior, dai um jantar a doze pobres no refeitório. Comunicai-me como passou a festa». Neste ano de 1672 escrevia o Padre Du-Faur, secretário do Santo: «começamos a festa do Divino Coração de Jesus no dia 20 de Outubro, com as indulgências das Quarenta Horas»2. Cumpriu-se escrupulosamente tudo quanto o Santo tinha prescrito. As solenidades foram pomposas e houve um sermão sobre a grandeza e a bondade do Coração de Jesus para instrução dos fiéis.


A festa prescrita pelo Santo foi adotada por alguma Congregações religiosas. A Abadessa das Beneditinas de Montmartre, de quem o Santo Apóstolo era o diretor, apressou-se a adotá-la na sua comunidade; e fizeram o mesmo as Beneditinas do SS. Sacramento e algumas outras comunidades de Carmelitas, Visitandinas e Ursulinas.

Além da festa, o zelo do Santo, se exercitava, e também seus missionários, na direção das devotas confrarias do Sagrado Coração. Aproveitavam todas as ocasiões e todas as circunstâncias para inculcá-las e fundá-las por toda parte. E os fiéis correspondiam com entusiasmo ao apelo dos missionários.

O primeito Teológo e seu Testamento

Entretanto o homem de Deus continuava a trabalhar no conclusão de seu livro, que seria um resumo de toda a sua vida. Poucas semanas antes de sua morte, pôde escrever: «Hoje Nosso Senhor me deu a graça de acabar meu livro: Do Coração Admirável da SS. Mãe de Deus». Em 19 de Agosto de 1680 morria na idade de setenta e nove anos.

O livro do Santo foi publicado dois anos depois, em 1682. A obra era dividida em doze livros, dos quais onze tratavam do Coração Imaculado de Maria, e o duodécimo é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus. «Não é justo, disse o Santo, separar duas coisas unidas por Deus tão estreitamente com mais forte vínculo, e com o mais estreito nó pela natureza, pela graça e pela glória: quero dizer, o Coração de Jesus, filho único de Maria, e o Coração virginal de Maria Mãe de Jesus, isto é, o Coração do melhor do Pai que possa haver e da melhor Filha que existe e que possa existir ... Estes dois Corações são tão intimamente unidos, que o Coração de Jesus é o princípio do Coração de Maria, como o Criador é o princípio da criatura, e o Coração de Maria é a origem do Coração de Jesus, seu Filho.»

Nas obras do Santo pode-se estudar o primeiro tratado teológico da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.


Como se não fosse o bastante ao Santo ter inculcado tão eficazmente com exemplo e com a palavra a cara devoção aos seus filhos, deixou-a em seu testamento como um legado que lhes fazia.

Não têm riquezas para deixar-lhes, todavia, possui um tesouro inteiramente seu, e este deixa-lhes como preciosa herança.

«Com toda energia da minha vontade, diz o Santo em seu testamento, me dou ao amor incomparável, com o que meu Jesus e a minha Mãe Santíssima, me têm dado de modo especial o seu amantíssimo Coração, e em união deste amor, dou este Coração como coisa minha, e de que posso dispor para a glória de meu Deus: eu lego-a à pequena Congregação de Jesus e Maria, para que seja a herança, o tesouro, a principal porção, o coração, a vida, e a regra dos vários filhos desta Congregação.»

«E do mesmo modo dou e dedico esta mesma Congregação a este Divino Coração, para ser consagrada ao seu amor e ao seu louvor no tempo e na eternidade; esconjurando-os e suplicando aos meus amados Irmãos a esforçarem-se por tributar-Lhe e fazerem que seja amado com todo amor que puderem e fazer-Lhe a festa, rezar o seu ofício nos dias destinados no nosso Próprio, com toda devoção de que forem capazes, que façam em todas as missões alguma prática sobre este assunto, de esforçarem-se por imprimir nos seus corações uma pequena imagem das virtudes deste Coração Santíssimo, e considerá-lo e imitá-lo como a primeira regra de sua vida e do seu comportamento, e que se deem a Jesus e a Maria em todas as suas ações para praticá-las no amor na humildade e em todas as disposições do coração3, para alcançarem por este meio de graça de amar e glorificar a Deus com um coração digno d'Ele 'corde magno et anima volente', tornando-se, assim, segundo o Coração de Deus e verdadeiros filhos do Coração de Jesus e de Maria.»

«De igual modo, dou este preciosíssimo Coração a todas as minhas filhas, as Irmãs de Nossa Senhora da Caridade, e às Carmelitas de Caen e a todos os outros meus filhos espirituais ... A todos, pois, e a cada um, dou este Coração suavíssimo com as intenções que acima tinha dito.»4

Um digno Precursor

Depois de tanto haver feito São Eudes para propagar a devoção ao S. Coração de Jesus, com exortações particulares, sermões, festas públicas, com a Missa e o ofício compostos por ele, com a fundação de confrarias e todo esse trabalho com a aprovação de sete Bispos e o concurso de Roma, não lhe caberá o título de apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, com tanto direito como a Santa Margarida Maria Alacoque?

A devoção solenemente aprovada pela Igreja e praticada pelos fiéis, nasceu em Paray, revelada por Nosso Senhor à humilde Visitandina e por uma missão particular que lhe foi confiada, ela espalhou às almas. Nosso Senhor, na sua economia, deixou de parte o teológo profundo e ardente missionário e escolheu para realizar o grande acontecimento à pobre religiosa da Visitação e a ela confiou a grande missão de espalhar a nova devoção, e a ela pediu a instituição da festa do Sagrado Coração de Jesus, e, por meio dela, dignou-se publicar as grandes promessas, que fez em vantagem dos devotos do seu Divino Coração.

Sem dúvida, entre os predecessores da Santa de Paray, foi São João Eudes quem mais se esforçou em dilatar a devoção ao Sagrado Coração e quem mais alcançou a piedade dos fiéis: mas fica sempre precursor. Seu mérito foi dispor os ânimos, preparando o terreno para que a nova devoção fosse recebida com fervor. A sua principal obra foi ocupar-se primeiramente de alcançar a aprovação da festa em honra do Sagrado Coração de Maria, e depois de vencer muitas dificuldades, conseguiu esta festa; de modo que a devoção e o amor das almas ao Coração admirável da Mãe de Deus se propagou especialmente na Borgonha e na Normandia.


Uma vez estabelecida a festa em honra do Coração da Mãe, era natural e lógico que se tratasse da festa do S. Coração de Jesus. A solenidade celebrou-se primeira nas cidades, onde havia religiosos de sua congregação, e só mais tarde, estendeu-se para outros lugares.

A devoção de São João Eudes cedeu campo à devoção de Paray. Mesmo a liturgia do Santo não sobreviveu senão nas casas dos seus religiosos, e mesmo aquelas Congregações que a tinham adotado, deixaram-na para abraçar a nova liturgia. Nos dois apóstolos é comum a santidade de vida e o ardor do apostolado. A missão da religiosa Visitandina difere da missão do Padre Eudes, no seguinte: ela se apresenta com fatos tão extraordinários de modo a impor-se à Igreja e determinar aquele movimento feliz das almas para o Sagrado Coração de Jesus, que aumentou cada dia mais e se estendeu por toda parte.



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1 Lebrun. Le Bienh etc., pg. 260.

2 Boulay vida, pg. 452.

3 O Santo usa de preferência esta expressão hoje em desuso: “Sagrado Coração”, para indicar o Coração de Jesus e de Maria.

4 Vida, pg. 545.


FONTE: in Eu Reinarei A devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu Desenvolvimento Histórico, Pe. Fernando Piazza, OSC, tradução do Dr. Saladino de Aguiar, Edição da Escolas Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, São Paulo/1932, excertos do Cap. XI, pp. 143-153 – Texto revisto e atualizado, com destaques acrescidos, título e subtítulos são nossos.

☆ ☆ ☆ ☆ ☆

ORAÇÃO AO DIVINO CORAÇÃO DE JESUS DE S. JOÃO EUDES

(OC 11, 468, itens 159, 162 e 163)


Deus Pai das misericórdias,

E fonte de todo consolo,

Que pelo imenso amor com que nos amaste

Nos deste o Coração amantíssimo

De Teu Filho unigênito

Para que fazendo com ele um só coração

Amemos-te com amor perfeito,

Concede-nos viver em intensa caridade entre nós

E em união perfeita com este divino Coração,

Para que vivendo em seu amor e sua humildade

Se realizem os justos desejos de nosso coração.

Amém.



Coração de Jesus,

O Pai das misericórdias

E Deus de todo consolo

Ao dar-me a Jesus me deu teu Coração

Para que seja meu coração:

Ama por mim tudo o que eu devo amar

E da maneira como Deus quer que eu ame.

Escuta-me, Coração, fogueira de amor.

É uma humilde folha de grama quem o pede,

Com humildade e encarecimento,

Ver-se abismada, absolvida, perdida,

Devorada e consumida em tuas sagradas chamas para sempre.



Jesus, tu me deste teu próprio Coração

Para que seja o princípio da minha vida.

Rogo-te que seja também a única fonte

De meus sentimentos e afeto,

De tudo que faz meu espírito,

De meus sentimentos interiores e exteriores.

Faz com ele seja a alma de minha alma,

O Espírito de meu espírito

O Coração de meu coração.



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FONTE: opúsculo Oremos com São João Eudes, Edições Shalom, 2017, pp. 125-126 e 151 a 153.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

ATO DE CONSAGRAÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

ATO DE CONSAGRAÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


(Ato de consagração ao Sagrado Coração do Jesus, aprovado pelo decreto da Sagrada Congregação dos Ritos de 22 de abril de 1875. In “Revista das Sciencias Ecclesiasticas”. António Xavier de Sousa Monteiro, Imprensa da Universidade, Coimbra, 1875, tomo 5, pp. 359-361)


Ó Jesus, meu Redentor e meu Deus!, apesar do grande amor que tendes aos homens, para a redenção dos quais derramastes todo o vosso Sangue precioso, quão pouco correspondem eles a esse amor, e como sois ofendido e ultrajado, principalmente por blasfêmias e profanação dos dias de guarda! Ah! Se eu pudesse dar ao vosso Coração divino uma satisfação qualquer, se eu pudesse reparar tanta ingratidão e desprezo que suportais da maior parte dos homens!

Eu quereria, perante o universo inteiro, poder mostrar-Vos quanto desejo amar e louvar este Coração adorável e cheio de ternura, aumentando assim a vossa glória! Eu queria poder conseguir a conversão dos pecadores, dissipar a indiferença de tantos outros que, posto que tenham a felicidade de pertencer à vossa Igreja, não tem, todavia, no coração os interesses da vossa glória e da Igreja, vossa Esposa.

Eu quereria ainda poder conseguir que esses católicos que só se mostram como tais por muitas obras exteriores de caridade, mas que, muito aferrados às suas opiniões, recusam submeter-se as decisões da Santa Sé e nutrem sentimentos que estão em desarmonia com o seu Magistério, mudassem de opinião, persuadindo-se de que aquele que não ouve a Igreja não ouve a Deus, que está com Ela.

Para alcançar estes fins tão santos, para alcançar além disso о triunfo e a paz estável desta Igreja, vossa Esposa imaculada, о bem-estar e a prosperidade do vosso Vigário sobre a Terra, para conseguir que ele veja cumprirem-se as suas santas intenções, e também para que toda a clerezia cada vez mais se santifique e Vos seja agradável, e para tantos outros fins que vos sabeis, ó meu Jesus, serem conformes à vossa divina vontade, e que contribuem de algum modo para a conversão dos pecadores e santificação dos justos, a fim de que obtenhamos um dia a salvação eterna de nossas almas, e finalmente porque eu sei, ó meu Jesus, fazer assim uma cousa agradável ao vosso dulcíssimo Coração; prostrado aos vossos pés, em presença da Santíssima Virgem Maria e de toda a Corte Celeste, eu reconheço solenemente que, por todos os títulos de justiça e gratidão, pertenço total e unicamente a Vós, ó Jesus Cristo, meu Redentor, fonte única de todo o bem do meu espirito e do meu corpo, e unindo-me às intenções do soberano Pontífice, eu e tudo o que me pertence me consagro a esse Coração Sacratíssimo, o qual pretendo unicamente amar e servir de toda a minha alma, de todo o meu coração, com todas as minhas forças, cumprindo melhor a vossa vontade, e unindo todos os meus desejos aos vossos.

Como testemunho público da minha consagração Vos declaro solenemente, ó meu Deus, que quero de futuro, em honra deste mesmo Sagrado Coração, observar, segundo as regras da Santa Igreja, as festas de obrigação, e fazê-las observar por todas as pessoas sobre quem tiver autoridade e influencia.

Depositando, pois, no vosso bom Coração todos estes santos desejos e resoluções, tais como a vossa graça nos inspira, eu tenho a confiança de poder compensá-lO de tantas injurias recebidas dos filhos ingratos dos homens, e obter, para a minha alma e para a de todos os meus próximos, a minha e a sua felicidade nesta vida e na outra. Assim seja. 


Este exemplar é conforme com o original que está na secretaria da Congregação dos Ritos. 

Em fé do que, etc.

Na dita secretaria, 26 de abril de 1875.

Pelo R. P. D. Plácido Ralli, secretário.

José Cicollini, substituto.



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FONTE: blog Thesaurus Precum - Tesouro de Orações Católicas Tradicionais)

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE AGOSTO

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE AGOSTO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

O AMOR, PRINCÍPIO DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO

O princípio da devoção ao Sagrado Coração é o amor, isto é, que o Coração de Jesus quer nos dar esta devoção como o derradeiro esforço do seu amor e o dom mais perfeito que ele nos possa conceder.

É o amor que se quer dar até o extremo, até o fim dos tempos, até as extremidades da terra, até os últimos limites. do amor. É o amor que quer reaquecer o mundo, agora que a caridade tanto se arrefeceu nele: é o amor que veio trazer o fogo à terra e que quer no fim dos tempos abrasá-la toda com as suas chamas. É o amor que quer amar ainda mais do que ser amado, pois tal é a lei do amor. Quer dizer uma última vez a esses ingratos quanto os ama; quer estreitá-los ao seu Coração, recordar-lhes tudo quanto fez por eles, tentar ainda enternecê-los1, e salvá-los. Sem dúvida, ele pede que o amemos em troca, e a queixa do amor desconhecido é bem amarga; mas ao menos terá ele feito tudo quanto está em si, e, se não for amado por todos, ao menos nos terá amado a todos. Eis porque o meigo Salvador quer fazer penetrar agora em toda parte a devoção ao seu Sagrado Coração. Vemo-la já por toda parte no exterior; em toda parte encontramos as imagens do Sagrado Coração; em toda parte é ele celebrado por festas solenes, em toda parte é honrado por práticas santas; mas isto não basta; é preciso que o amor penetre no interior, que o fogo ganhe o íntimo dos nossos corações: Ignem veni mittere in terram (Lucas 12, 49); é mister que o amor de Jesus nos transforme em si mesmo como o fogo transforma o ferro na sua própria natureza, a fim de que assim ele possa oferecer em holocausto a seu Pai celeste essas almas que devem ser uma só vítima com ele. Antigamente as vítimas deviam ser consumidas pelo fogo para que se elevassem para o céu em odor de suavidade; agora também, a Igreja deve ser consumida pelo fogo do amor para que, vítima santa consumada com Jesus, possa subir ao céu no fim do seu sacrifício. Sim, o Salvador quer fazer das nossas almas outras tantas vítimas de amor consumidas com ele por essas chamas de amor que escapam do seu divino Coração; para que o amor alcance o perdão para o nosso século que já não ama, para que o amor dos nossos corações ganhe aos poucos as almas de nossos irmãos e os faça amarem conosco, para que o amor consuma o nosso sacrifício e nos torne dignos no céu desse Bem supremo que é o centro para o qual ascendem sempre necessariamente as chamas do amor.

ORAÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

(Santa Madalena Sofia Barat)

Meu Sagrado Coração de Jesus, corro e venho a Vós, porque sois o meu único refúgio, o meu único consolo, a minha única certeza, a minha única e firme esperança.

Vós sois o remédio infalível e seguro para todos os meus males, a esperança para as minhas misérias, o reparo das minhas faltas, a luz nas minhas dúvidas e agonias, o consolo do meu desamparo.

Vós preencheis as minhas lacunas e sois a certeza nos meus pedidos. Vós sois a infalível e infinita Fonte de luz e força, de benção e de paz.

Estou seguro de que nunca, nunca vos cansareis de mim, de que nunca me abandonareis, de que nunca deixareis de me amar, ajudando-me e protegendo-me sempre, porque o amor de Vosso Coração por mim é infinito e absoluto.

Tende piedade de mim, Senhor, pela vossa grande misericórdia, e fazei comigo, de mim e para mim, tudo o quanto quiserdes, mantendo-me sempre e para sempre dentro de Vosso Coração de Amor.

Abandono-me em Vós, Coração do meu Amor, com toda e a inteira confiança de que nunca me abandonareis, de que nunca estarei só. Amém.




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1 Pode-se ler este pensamento expresso do modo mais enternecedor nas revelações da bem-aventurada Varani, no ponto em que ela vê Jesus estreitando Judas; ao seu Coração



FONTES: 1. texto: in Amor Paz e Alegria Mez do Sagrado Coração de Jesus segundo Santa Gertrudes, Pe. André Prévot, SCJ, Publicações SCJ, 1937, Segundo Dia: O Amor do Coração de Jesus, Reflexões, pp. 28-30 – Texto revisto e atualizado; 2. oração: Campanha Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis!