«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 29 de março de 2019


SÃO CLÁUDIO DE LA COLOMBIÈRE, INSIGNE PROPAGADOR DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO

(Padre Jean Croiset, foi diretor espiritual de Santa Margarida Maria de Alacoque)

São Cláudio de la Colombière


Um dos primeiros meios dos quais se serviu Deus para inspirar esta devoção, foi São Cláudio de la Colombière1, da Companhia de Jesus, ilustre pela defesa da fé na Inglaterra e por ser o capelão da Duquesa de York, que chegou a ser rainha de Grã Bretanha. Suas obras, nas quais se junta a solidez da doutrina com a cultura do estilo, outorgaram-lhe um grande reconhecimento em sua época, embora fosse mais conhecido por sua sublime virtude. A Providencia o enviou até Santa Margarida Maria, para assisti-la em sua missão de estabelecer a devoção pública ao Sagrado Coração.

Depois de examinar cuidadosamente as revelações privadas recebidas por Santa Margarida Maria, chegou à conclusão de que eram genuínas e, guiado pela ajuda divina, consagrou-se ao Sagrado Coração. Esta devoção foi para ele o caminho pelo qual chegou a uma grande perfeição. Recebeu tão grandes favores de Deus por meio da prática desta devoção, que se viu obrigado a dar ao público o tesouro que também lhes pertencia e que muitos o tinham por desconhecido. No Diário de meus exercícios espirituais, vê-se o que escreveu sobre o que havia feito em Londres para fomentar a devoção ao Sagrado Coração2.

Havendo acabado este dia de exercícios, cheio de confiança e da misericórdia de Deus, me impus uma lei: procurar, por todos os meios possíveis, a execução do que me foi prescrito da parte de meu adorável Mestre no tocante ao seu precioso Coração no Santíssimo Sacramento do Altar, onde eu o creio real e verdadeiramente presente, cumulado de doçuras, as quais pude degustar e receber da misericórdia de meu Deus; mas não as posso explicar.

Lá reconheci que Deus queria que eu lhe servisse, procurando dar cumprimento aos seus desejos em relação à devoção que inspirou a uma pessoa3, com quem sua Majestade se comunica muito confiadamente, e para isso quis servir-se de minha fraqueza. Eu tenho aconselhado muitas pessoas na Inglaterra e escrito a outras na França, inclusive rogado a alguns amigos para que estabeleçam, no lugar onde se acham, a devoção ao Sagrado Coração, porque lhes será muito útil, haja vista o grande número de almas escolhidas que existem nessas comunidades, creio que sua prática, nessa santa casa, será muito agradável a Deus. Já que não posso, Deus meu, andar por todo o mundo para publicar o que pretendes de teus servos e amigos!

Havendo-se, pois, Deus se manifestado a esta pessoa, que me relatou as grandes graças que havia recebido, e que com razão creio, de acordo com seu Coração, eu a obriguei para que pusesse por escrito o que me havia dito. Escrevi com gosto no Diário de meus exercícios espirituais, pois Deus quer, na execução deste desígnio, servir-se de minha inaptidão. «Estando», disse esta alma santa, «diante do Santíssimo Sacramento um dia de sua oitava, recebi de meu Deus grandes graças de seu amor. Movida na alma pelo desejo de responder ao amor que Deus me deu, disse-me: Não podes devolver-me nada maior que fazendo o que tenho te pedido tantas vezes; e descobrindo-me seu Sagrado Coração, eis aqui o Coração que tanto tem amado aos homens e que nada poupou até esgotar-se e consumir-se para testemunhar-lhes seu amor. E, em compensação, só recebe, da maior parte dos homens, ingratidões e desprezos. Porém, o que mais me dói é que se portem assim os que me são consagrados. Por isso te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava de Corpus [Christi] se celebre uma festa especial para honrar meu Coração, reparando, de algum modo, tantos ultrajes; que se comungue no dito dia para reparar o tratamento indigno que tenho recebido, enquanto me encontro exposto no altar. E eu te prometo que meu Coração se dilatará para espargir com abundância seu Divino amor aos que lhe honrarem assim».
São Cláudio de la Colombière e Santa Margarida Maria

«Mas, Senhor meu, de quem te valerás?», disse-lhe essa pessoa, «de uma criatura vil e de uma pobre pecadora, que, quiçá, minha própria indignidade será capaz [até] de impedir o cumprimento de tua Vontade, tendo tantas almas generosas para executar teus desígnios? Não sabes, respondeu o Senhor, que eu me sirvo dos instrumentos mais débeis para confundir aos fortes? Isso é o que ordinariamente faço com os pequeninos e pobres de espírito, nos quais manifesto meu poder mais claramente, com o fim de que nada atribuam a si mesmos».

«Dá-me, pois», disse-lhe, «o meio de fazer o que me ordenas. Então respondeu [o Senhor]: Dirige-te ao meu servo Cláudio e, da minha parte, diz-lhe que faça todo o possível para estabelecer esta devoção e dar este gosto ao meu Sagrado Coração. Que não desanime diante das dificuldades que encontrar, não lhe faltarão; pois deve saber que Àquele é Todo-poderoso e que não confie em si, mas ponha toda sua confiança em Mim».

O padre De la Colombière não era homem que acreditava em qualquer coisa sem examiná-las, porém, com tão manifestas provas, não pôde ter nenhum receio. Por isso, aplicou-se, sem perder tempo, ao ministério que Deus lhe confiava, e para assegurar-se, sólida e perfeitamente, quis começar por si mesmo, consagrando-se por inteiro ao Sagrado Coração de Jesus, oferecendo-lhe tudo o que pensava ser agradável [ao Senhor].

As graças extraordinárias que recebeu por isso lhe confirmaram o quanto era importante esta devoção. Apenas começou a considerar quais eram os sentimentos, cheios de ternura, que Jesus Cristo têm pelos homens no Santíssimo Sacramento, onde seu Sagrado Coração está sempre ardendo de amor por eles, sempre aberto para franquear-lhes todo tipo de graças e bênçãos, não pôde deixar de chorar os ultrajes horríveis que Jesus Cristo sofre há tempo em razão da malícia de uns e do desprezo de outros, inclusive dos sacerdotes. O esquecimento, o desprezo e os ultrajes os sentiu vivamente, obrigando-o a consagrar-se de novo a este Sagrado Coração com uma admirável oração que chamou de Oferenda ao Sagrado Coração de Jesus ….

A viagem que este Santo fez pela Inglaterra, sua prisão e o pouco tempo que viveu depois de ir à França, não lhe permitiram estender mais esta devoção. Porém, Deus não deixou que sua obra queda-se imperfeita. Ele mesmo havia inspirado esta devoção a Santa Gertrudes para estendê-la e assim erradicar a tibieza e a indolência dos fiéis. E também o fez mediante um livreto, composto como por casualidade, sem estudo e sem arte, que chegou a inflamar a devoção em pessoas que jamais lhe havia gostado e que, em outra época, sem saber no que consistia, haviam desacreditado4.
(Foto: revista "Catolicismo")

Deus se serviu desses santos para inspirar e estender, por quase todas partes, a devoção ao seu Sagrado Coração. E, em menos de um ano, chegou, felizmente, a estabelecer-se em muitos lugares. Muitos sábios, doutores e prelados a haviam elogiado, e muitos pregadores a difundiram com acerto. Foram erigidas capelas em honra do Sagrado Coração de Jesus Cristo; gravaram-se e pintaram-se sua imagem, pondo-as nos altares. As religiosas da Visitação, animadas pelo espírito de seu Santo Fundador5, foram as que atuaram com maior zelo ou, ao menos, as primeiras que tiveram o consolo de ouvir cantar solenemente em Dijon, na capela que elas mesmas erigiram ao Sagrado Coração de Jesus, uma Missa composta em sua honra, e este exemplo serviu a muitos outros religiosos.

A devoção se estendeu e se estabeleceu com muito êxito por quase toda França. Também chegou a outros países, passando até pela Polônia e ainda mais além. Se estabeleceu em Quebec e Malta, e há fundamentos para crer-se que, por meio de missionários, chegou até a Síria, América e China. Enfim, a aprovação universal que encontrou esta devoção, e a grande estima que a têm pessoas tão importantes e doutas, fazem esperar que Jesus Cristo será, daí em diante, menos esquecido, melhor servido e muito mais amado.


NOTA: Para rezar o Oferecimento ao Sagrado Coração de Jesus, composto por São Cláudio de la Colombière, ACESSE AQUI.


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FONTE: Croiset, Jean. La devoción al Sagrado Corazón de Jesús: P. Jean Croiset. Director espiritual de Sta. Margarita María de Alacoque. Spanish Edition, Capítulo II. Medios usados por Dios para inspirar esta devoción, pp. 27-32. Didacbook. Edição do Kindle. O título, a tradução e a adaptação para o português do Brasil, são nossos.





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1 O padre Cláudio de la Colombière (1641-168), foi beatificado em 1929, e canonizado em 1992, pelo Papa João Paulo II. Sua festa é celebrada a 15 de fevereiro . Em 1674 foi eleito superior da casa dos Jesuítas de Paray-le-Monial, daí porque se tornou diretor de Santa Margarida Maria Alacoque, tornando-o, por conseguinte, um ardente apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Seus restos descansam em Paray-le Monial, na Capela de la Colombière, próxima ao Convento das religiosas da Visitação.

2 Este Diário é de grande valor histórico, porque foi a primeira explicação da devoção ao Sagrado Coração dirigida aos fieis.

3 A pessoa a que se refere, é Santa Margarida Maria Alacoque.

4 Segundo Monsenhor Joseph Stadler, arcebispo de Sarajevo, esse livreto era um opúsculo de Souer Joly, publicado em Dijon no ano de 1689, que o Pe. Jean Croiset usou como base para seu próprio trabalho.

5 A Ordem da Visitação foi fundada por São Francisco de Sales, no início do século XVII.

sexta-feira, 22 de março de 2019


EM QUE CONSISTE A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

(Padre Jean Croiset, diretor espiritual de Santa Margarida Maria de Alacoque)


O objetivo particular desta devoção é chegar a participar do amor imenso do Filho de Deus que o levou a se entregar por nós até a morte e a dar-se a si mesmo no Santíssimo Sacramento do Altar. E, apesar da ingratidão e desprezo, que sabia que iria receber neste estado de vítima imolada até o fim dos séculos, nada disso foi obstáculo para realizar este prodígio de amor. Preferiu quedar-se exposto todos os dias aos insultos e opróbrios dos homens, antes que deixar de manifestar, até o extremo, o quanto nos ama.

O fim que propomos consiste, em primeiro lugar, honrar a Cristo presente na Sagrada Eucaristia tanto quanto nos seja possível, indo adorar-lhe com frequência, oferecendo-lhe nosso amor, nosso agradecimento e tudo o que nos ocorra. Em segundo lugar, consiste em reparar o quanto for o possível o tratamento indigno e os ultrajes que sofreu por amor durante sua vida mortal, e os que sofre agora todos os dias por amor (a nós) no Santíssimo Sacramento do Altar.

Assim, propriamente falando, esta devoção consiste em amar ardentemente a Jesus Cristo, a quem temos sempre conosco na adorável Eucaristia, manifestando-lhe nosso amor com nosso pesar por ver-lhe tão pouco amado e tão pouco honrado pelos homens, com o objetivo de reparar esses menosprezos e essas faltas de amor.

Porém, como ocorre inclusive no caso de outras devoções espirituais, sempre necessitamos objetos materiais e sensíveis que apelem à nossa natureza humana, que nos avivem a imaginação e a memória, e que nos facilitem sua prática; assim, no caso desta devoção, foi escolhido o Sagrado Coração de Jesus como o objeto mais digno de nosso respeito, e a forma mais apropriada para o fim desta devoção.

Disse Santo Tomás que o coração do homem é, de alguma maneira, o manancial e o assento do amor; os movimentos naturais do coração imitam continuamente os afetos da alma, e servem, não menos, por sua força ou fraqueza, para fazer crescer ou diminuir suas paixões. Esta é a razão pela qual normalmente se atribui ao coração os sentimentos mais afetuosos da alma e pela qual se faz tão venerável e tão precioso o coração dos santos.
O Sagrado Coração de Jesus prisioneiro em
nossos Sacrários

De tudo o foi dito até agora, é fácil entender-se a devoção ao Sagrado Coração de Jesus: o amor ardente por Jesus Cristo que se forma em nós ao fazer memória de todas as maravilhas que realizou, mostrando-nos sua ternura, especialmente no Sacramento da Eucaristia, que é o milagre do amor. Também se entende como o pesar que sentimos à vista dos ultrajes que nós homens fazemos a Jesus Cristo neste adorável Mistério. Assim também o desejo ardente de fazer tudo o que está ao nosso alcance para reparar esses ultrajes. Isto é, pois, o que se entende pela devoção ao Sagrado Coração de nosso Senhor Jesus Cristo.

Não se reduz somente — como alguns até poderiam imaginar ao ver o título — a amar e honrar com um culto especial este Coração de carne, semelhante ao nosso, que constitui uma parte do Corpo adorável de Jesus Cristo. E não é porque seu Sagrado Coração não mereça nossa adoração… Seria suficiente, como se diz, tratar-se do Coração de Jesus Cristo. Por que, se seu Corpo e seu Sangue precioso merecem todo nosso respeito, quem não vê que seu Sagrado Coração pede, ainda mais particularmente, que lhe respeitemos e veneremos? E se nos sentimos tão fortemente atraídos por suas sagradas Chagas, quanto mais devemos sentir penetrados da devoção ao seu Sagrado Coração?

O que queremos deixar claro é que a palavra coração se usa apenas no sentido figurado, e que este Divino Coração, considerado como uma parte do Corpo adorável de Jesus Cristo, não é propriamente outra coisa senão o objeto sensível desta devoção, e que o imenso amor que Cristo nos tem é seu principal motivo. Como o amor, por ser algo espiritual (abstrato), não pode fazer-se perceptível aos sentidos, é conveniente buscar-se um símbolo. E que outro símbolo pode ser mais próprio e natural do amor do que o coração?

Por isso mesmo a Igreja nos tem dado um objeto sensível dos sofrimentos do Filho de Deus, e que não é menos espiritual que seu amor. A Igreja apresenta-nos as sagradas Chagas de Jesus Cristo como uma devoção particular de sua Paixão. Assim também a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, por ser mais afetuosa e ardente com Cristo no Santíssimo Sacramento, ao considerar-se o amor tão grande que nos mostra na Eucaristia, inflamando e motivando-nos a reparar o desprezo que os homens fazem a Jesus1.

E, certamente, o Sagrado Coração de Jesus é o amor para o qual se quer inspirar, mediante esta devoção, sentimentos de gratidão, igual às suas sagradas Chagas inspiram outros sentimentos, como objetos sensíveis que são dos sofrimentos de Jesus.
Santa Gertrudes Magna (Monja beneditina),
 no século XIII já recebia revelações do
Coração de Jesus
(Foto: Gaudium Press)

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus não é uma novidade, pois muitos santos já a vivenciaram (no passado). Entretanto, a Santa Sé a autorizou sob o título de Sagrado Coração de Jesus. Clemente X2, em uma bula de 4 de outubro de 1674, concedeu indulgências a uma congregação dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Também, o Papa Inocêncio XII3 concedeu, por um breve expresso, indulgência plenária a quem praticar a devoção ao Sagrado Coração.

Entretanto, não é necessário expor-se cem razões que demonstrem a solidez desta devoção; basta dizer-se que o motivo principal é o amor que Jesus Cristo nos tem, cuja prova a encontramos na adorável Eucaristia. Outro motivo é reparar o desprezo que se faz ao Senhor; e, também, que o Sagrado Coração de Jesus, abrasado de amor, é o objeto sensível. Por último, deve-se mencionar que o fruto da devoção ao Sagrado Coração deve ser um amor terno e ardente a nosso Senhor.




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1 A devoção à Eucaristia e a devoção ao Sagrado Coração não só são irmãs, mas uma mesma e única devoção. Uma completa a outra e ambas juntas no seu desenvolvimento; estão unidas, que uma não existe sem a outra, e a união entre elas é absoluta. Não só não podem ser prejudiciais entre si, como, ao completarem-se e aperfeiçoarem-se, também se promovem seu crescimento recíproco.

2 Papa de 1670 a 1676.

3 Papa de 1691 a 1700.




Fonte: Croiset, Jean. La devoción al Sagrado Corazón de Jesús: P. Jean Croiset. Director espiritual de Sta. Margarita María de Alacoque, Spanish Edition, pp. 24-27. Didacbook/2016, Edição do Kindle. - Tradução e adaptação para o português do Brasil é nossa.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Sagrado Coração de Jesus, século XIX
(Bérgamo-Itália)
SANTA MATILDE DE HACKEBORN: 

A ASSISTÊNCIA DE MARIA À NOSSA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO


(Fragmentos do Amor do Sagrado Coração – Revelações místicas de uma amante do Sagrado Coração de um século muito antigo, a monja Beneditina Santa Matilde de Hackeborn [1241-1298])

Nossa bendita Senhora é a Mãe dos cristãos batizados; está encarregada de desenvolver neles a vida de seu Filho divino, o qual receberam em seu batismo. O Libro de la Gracia Especial (livro Da Graça Especial) nos mostra a solicitude desta devota Mãe, seja no desenrolar de sua vida em nós ou em sua renovação; é no Coração de seu Filho de onde ela sempre nos guia. Foi quem melhor entendeu, melhor que os Apóstolos, as palavras que foram ditas durante a Última Ceia: «Eu sou a videira, e vós os ramos; aquele que permanecer em Mim renderá muitos frutos» (São João 15, 5).

Santa Matilde ou Melchtilde de  Hackeborn, Monja Bene-
ditina
Durante um sábado, enquanto estavam cantando a Missa, Salve Sancta Parens, Matilde saudou a Bendita Senhora, implorando-lhe para obter a verdadeira santidade. A gloriosa Virgem lhe respondeu: «Se tu desejas a verdadeira santidade, mantém-te próxima ao meu Filho, que é a pura Santidade e quem santifica todas as coisas.» Matilde então lhe perguntou como poderia levar a cabo este conselho, e Nossa Senhora lhe respondeu com grande bondade:

Tem presente Sua santa infância, já que Sua inocência compensará todas as ações e omissões de tua infância.

Tem presente Sua fervorosa juventude, tão plena de amor, já que será o suficiente para acender o fogo do amor divino; com ela a tibieza e a indolência de tua juventude serão reparadas.

Tem presente Suas virtudes divinas, as quais enobrecem e elevam teus atos.

Tem presente também a Meu Filho ante teus olhos, dirigi-lhe todos os teus pensamentos, palavras e ações. É quem fez tudo perfeitamente e há de restaurar tudo o que é imperfeito em ti.

Depende também d'Ele, tal como uma esposa depende de seu esposo; ela é alimentada e vestida a custa dele, e por seu amor a ele, a esposa honra e aprecia sua família e seus amigos.

A alma deve ser nutrida pela Palavra de Deus, como se fosse a comida mais desejada; deve ser revestida e adornada cuidadosamente com o que lhe compraz.

Com o exemplo de Suas virtudes, devemos esmerarmos em imitá-las. Devemos fazer de Sua família a nossa, ou seja, amar a seus Santos, bendizendo a Deus junto a eles e encorajá-los a louvar a Seu amado, como nós.

Desta forma a alma também será santa de acordo com o que está escrito: «Sede santos, porque eu sou santo» (1 Pd 1, 15-16)*, da mesma maneira que uma rainha é rainha porque participa na dignidade do rei.

O estar e permanecer com Jesus: esse é o segredo de toda santidade; manter-se com Jesus em todas as vicissitudes de nossa vida, com Ele nos mistérios de Sua infância, Sua juventude, Sua vida e morte, Sua Ressurreição e Sua Glória. Feliz é aquele que entende este segredo! Ele, de pronto, obterá – e sem grande esforço – a vida cristã, até a sua expressão de máxima perfeição.

Com absoluta certeza, em um dia talvez, apresentando-se outros grandes obstáculos no estreito caminho que nos conduz ao Céu, o Sagrado Coração, porém, estará conosco para que possamos vencê-los.

De todos os obstáculos, entretanto, há um que poderemos vencer facilmente, se nos mantivermos constantemente unidos a Ele (ao Sagrado Coração), de acordo com a recomendação de Nossa Senhora: o orgulho próprio. O Coração de Jesus brilha com tanta luz sobre nossa alma e sobre nossas imperfeições que podemos facilmente escapar dessa satisfação e orgulho natural e da indolência que resulta deles.

AS ÁGUAS DA VIDA ETERNA

A serva de Deus um dia se viu forçada a queixar-se a nossa Bendita Senhora de um obstáculo que pensou impedir seu progresso no serviço de Deus. A Mãe Bendita então lhe disse: «Vê e apresenta-te diante de meu Filho, respeitosamente.»

A Santa prostrou-se diante dos pés de nosso Salvador e, ao levantar-se, viu como aparecer sobre Seu peito um brilhante espelho, do qual parecia saírem outros tantos espelhos que cobriam inteiramente Sua sagrada Pessoa. Entendeu tudo isso como se quisesse dizer que todos os membros de Cristo, em suas várias operações, brilham diante de nós como espelhos e, por sua vez, todas estas operações procedem do amor de Seu Coração.

Ilustração da aparição de Nossa Senhora a Santa
Matilde  Hackeborn

Seus pés, são como Seus ardentes desejos por nós. Ele pode ver a frieza de nossos desejos pelas coisas espirituais, e o quanto estamos desamparados por causa das coisas humanas.

Os joelhos de Cristo são espelhos de sua humildade para conosco. Estavam calejados de tanto rezar por nós, como também quando Ele lavou os pés de seus Apóstolos. Nisto podemos reconhecer nosso orgulho, que nos impede de humilharmo-nos, embora, no fundo, sejamos nada mais que poeira e cinzas.

O Coração de Cristo é para nós um espelho do mais ardente amor, de onde podemos ver claramente a frieza de nossos próprios corações a Deus e ao nosso próximo.

A boca de Cristo é para nós um espelho de doces palavras, plenas de louvor e agradecimento. Podemos reconhecê-la com a insignificância de nossas próprias palavras e nossas omissões no divino louvor e na oração que fazemos a Ele.

Os olhos de Nosso Senhor são para nós os espelhos da verdade divina; neles podemos ver a obscuridade causada por nossa falta de fé, pela qual temos dificuldade de conhecer a verdade.

Os ouvidos de Nosso Senhor são para nós os espelhos da obediência, que Ele sempre esteve disposto a obedecer a Deus Pai, e a escutar nossas orações.

A alma batizada, portanto, deve amar o Sagrado Coração de Jesus, se deseja viver a vida divina, da qual recebeu a semente nas águas de seu batismo.

DESTE SAGRADO CORAÇÃO FLUEM AS ÁGUAS DA VIDA ETERNA.

Matilde viu estas águas preciosas correndo e desaguando-se sobre as almas. Ela logo as chamou de um rio, depois um riacho, e noutra vez uma fonte; o rio, o riacho e a fonte foram todas capazes de purificar todas as almas.

O rio, nos diz, flui do Coração de Jesus, inundando as almas, penetrando-lhes completamente, afastando a tristeza e despejando ao redor a alegria da Cidade de Deus.


O pequeno riacho que nasce do Coração de Jesus se oculta nas águas batismais para poder derramar-se sobre todos os que recebem a regeneração espiritual.

A fonte humilde viva e cristalina de águas flui suavemente do Sagrado Coração nas almas cheias de amor por Ele.





☞ NOTA: Santa Matilde é considerada uma das precursoras da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, juntamente com Santa Lutgarda e Santa Gertrudes de Helfta (a Grande), esta última do mesmo Convento.




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FONTE: site VerdadCatólica.net (texto por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil – Alguns destaques são nossos)

* No original: “Com os santos tu serás santo» (Salmo 18:26)”, porém, não encontramos a passagem citada ou correspondente, daí fizemos a substittuição pela passagem da Primeira Epístola de São Pedro.

sexta-feira, 1 de março de 2019


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE MARÇO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


Amado seja por toda parte o Coração de Jesus!


MEIO DE NOS UNIRMOS AO SAGRADO CORAÇÃO: A BOA INTENÇÃO


A boa intenção é tão agradável a Jesus Cristo, que tem o poder de nos introduzir no seu Coração. Feliz aquele que se serve dela para ir habitar esta morada de amor!

Quando Deus criou nossos primeiros pais, Adão e Eva, não pôs os olhos sobre suas mãos, mas sobre seus corações, diz o Eclesiástico (Eclo 17, 7). Porque todas as obras exteriores, que não procedem do coração e não são acompanhadas de boa intenção, não têm valor algum diante de Deus. Toda a gloria de uma alma consiste em ser inteiramente unida pelo coração ao Coração de Jesus. (Sl 44, 14)

Nossa intenção nos atos de virtude que praticamos, pode ser boa de três maneiras: a primeira, quando as fazemos para obter de Deus os bens temporais, como quando damos esmolas, mandamos dizer missas ou jejuamos, para sararmos de alguma doença; esta intenção é boa, contanto que seja acompanhada de resignação à vontade de Deus; mas é pouco perfeita, porque seu objeto não passa a terra. A segunda, quando as fazemos para satisfazer à justiça divina, e diminuir as penas que merecem nossas faltas, ou para obtermos de Deus os bens espirituais, como as virtudes, os merecimentos, a maior glória no paraíso. Esta intenção é muito melhor do que a primeira. A terceira é a mais perfeita: é quando em nossas ações só temos em vista o beneplácito de Deus e o cumprimento de sua santa vontade. Esta intenção é também a mais meritória, porque, quanto mais nos esquecemos no bem que fazemos, mais o Senhor se lembrará de nós e nos encherá de graças, como disse um dia a Santa Catarina de Sena: Minha filha, pensa em mim e eu pensarei em ti. Estas palavras significam: pensa unicamente em me agradar, e eu cuidarei de teus progressos nas virtudes, de tuas vitórias contra teus inimigos, de tua perfeição e de tua glória no céu. Eis aqui justamente o que dizia a esposa sagrada: Eu sou para meu Amado, e seu Coração se volta para mim. (Ct 7, 10) Isto é imitar o amor dos bem-aventurados, cuja felicidade consiste toda em agradar a Deus, porque eles se regozijam mais da felicidade de Deus que da deles, como ensina S. Tomás, e assim entram na alegria do seu Senhor, conforme se lê na Escritura. (Mt 25, 21) Nossa intenção nos introduza, pois, no Coração de Jesus; aí é que iremos achar a alegria mais verdadeira que se pode gozar neste mundo. O olhar que fere o Coração do Esposo divino (Ct 4, 9), e o inflama de amor, não é senão a intenção de agradar a Deus em tudo o que se faz.

Eis aqui a maneira prática de tornar agradáveis ao Coração de Jesus todas as ações do dia. De manhã, apenas acordados, nosso primeiro pensamento seja oferecer-lhe tudo o que fizermos e padecermos durante o dia, rogando-lhe que nos ajude com sua graça. Façamos em seguida os outros atos marcados para a manhã, atos de agradecimento, amor, reparação, bons propósitos, tomando a resolução de passar o dia, como se fosse o último de nossa vida. O padre Saint-Jure aconselha a fazer com o Senhor esta convenção, que cada vez que se fizer um certo sinal, como levar a mão ao coração, ou levantar os olhos para o céu, etc., ter-se-á a intenção de lhe exprimir o amor, o desejo de vê-lo amado de todos os homens, etc. Depois dos atos supraditos, coloquemo-nos no Sagrado Coração de Jesus, e sob o manto de Maria, pedindo ao Padre eterno, por amor de Jesus e Maria, que nos guarde durante o dia. Procuremos fazer, quanto antes e primeiro que outra qualquer ação, nossa oração ou meditação, seja sobre as verdades eternas, seja sobre a Paixão, quer sobre o Santíssimo Sacramento, quer sobre a Santa Virgem, e façamos nesse precioso momento muitos atos de amor e oferenda de nós mesmos ao Coração de Jesus. Um ato de amor feito com grande fervor pela manhã, basta para conservar a alma no fervor durante todo o dia, dizia o venerável padre Vicente Caraffa. Durante o dia, não esqueçamos o Santo Sacrifício da Missa, nem o terço, nem a leitura espiritual, nem a Visita ao Santíssimo Sacramento, à Santíssima Virgem e a S. José. De tarde, façamos o exame de consciência. Ao deitarmo-nos pensemos que deveríamos estar no fogo do inferno; adormeçamos dizendo: Sob a proteção e no Coração de meu Jesus, dormirei e repousarei em paz. (Sl 4, 9)

PRÁTICA

Quero habituar-me a renovar, cada vez que ouvir dar as horas, a intenção de agradar ao Coração de Jesus.

AFETOS E SÚPLICAS

Meu Deus, eu sou a árvore estéril de que fala o Evangelho; desde muito que mereço ouvir a sentença pronunciada contra ela: Cortai esta planta, que não dá fruto, lançai-a no fogo; para que deixá-la ocupar inutilmente o lugar? (Lc 13, 6). Desgraçado de mim, há tantos anos que me favoreceis com graças imensas para me santificar, e até ao presente, Senhor, que frutos recebestes de mim? Mas vós não quereis que eu desespere, que eu cesse de ter confiança em vosso Coração infinitamente misericordioso. Não dissestes: Pedi e recebereis? Pois sim! Como quereis que vos peça graças, a primeira que solicito, é o perdão de todas as minhas faltas; delas me arrependo do fundo da alma, vendo que feri vosso Coração tão amante e benfazejo, por tantas ofensas e ingratidões. A segunda graça que peço, e o dom de vosso amor; possa eu vos amar de ora em diante, não com a frieza que vos testemunhei no passado, mas de todo o meu coração evitando dar-vos o menor desgosto e fazendo tudo o que vos for agradável.

A terceira graça que vos peço, é a santa perseverança na vossa amizade: prefiro vosso amor a todos os reinos do mundo. Vós me quereis todo para vós para poderdes me estreitar mais ternamente sobre vosso Coração: eis-me aqui pronto para vos pertencer. A mim vos destes todo na cruz e no Sacramento do altar; eu me dou todo a Vós sem reserva alguma. Agradeço-vos me terdes dado o pensamento de vos fazer esta oferenda; pois, se me inspirais, é sinal que a aceitais. Ó Coração de meu Jesus, tão cheio de generosidade e ternura, eu sou vosso e espero que sereis minha recompensa durante toda a eternidade. Ó Maria, minha Mãe, uni-me ao Coração de vosso divino Filho e obtende-me a graça de o amar sempre.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Amado seja por toda parte o Coração de Jesus! (100 dias de indulg., 20 de Setembro 1860)

EXEMPLO

Em 1866 morreu em Orvieto (Estado da Igreja) uma pobre senhora, chamada Marietta. Os quarenta anos de sua existência, foram um longo martírio e longa série de atos de virtudes. Ela tinha a mais terna devoção para com Jesus e Maria. «Ó meu Jesus, exclamava Marieta um dia na sua linguagem simples e singela, ó Jesus, não me peçais mais meu coração; há muito tempo que já vo-lo dei; mas agora quero o vosso, sim, quero vosso Coração divino, ó meu Jesus, ao contrário morro de dor aqui a vossos pés. Dignai-vos cumprir vossas promessas, vós dissestes: Minha filha, dá-me teu coração, e eu te darei o meu. Pois bem! Eu cumpri a condição: eu vos dei meu coração; ele é impuro, bem sei, mas vós o purificareis no fogo sagrado de vosso amor. O' Maria, minha Mãe, dize a Jesus que me dê seu Coração o quanto antes; sim, sim, quero seu Coração, ele me deve seu Coração, porque eu lhe dei o meu desde a minha mais tenra infância.» Marietta punha todo o cuidado em proceder com a pura intenção de agradar a Jesus Cristo: «Se recebi a existência, dizia ela, devo-a a meu Jesus; por conseguinte, todo o tempo que eu viver, não quero viver senão para meu Jesus. Jesus me resgatou por seu sangue; eu não sou, pois, mais para mim, mas para Jesus; tudo o que eu amar, amarei para Jesus; tudo o que eu fizer, farei para Jesus.» Em meio de suas dores, ela imaginava Jesus na cruz, e Maria com o Coração traspassado por uma espada. Durante a noite, como não podia dormir, Marietta assistia em espírito às missas que se celebram em todas as igrejas do mundo, e unindo-se então ao divino Cordeiro imolado sobre os altares, oferecia-se como vítima à justiça de Deus, ora para a expiação de nossas faltas, ora para o livramento das almas do purgatório ou para a salvação dos pecadores.

Nas crises terríveis que a torturavam, ela dizia: «Eu não trocaria minha sorte pela da mais feliz princesa.» Já quase a expirar, exclamou, cheia de alegria: «Oh! quanto é doce morrer! … Eu venho, meu Jesus, eu venho!» (Mensageiro do Coração de Jesus.)





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 302-307 – Texto revisto, e atualizado. Alguns destaques são nossos)