«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 23 de abril de 2021

JESUS O BOM PASTOR

JESUS O BOM PASTOR


Ego sum pastor bonus: bonus pastor animam suam dat pro ovibus suis

Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá a própria vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 11)

Sim, sim, exclama Santo Agostinho, verdadeiramente Jesus é bom pastor: porque ama as suas ovelhas mais que a si mesmo, mais que seu repouso, mais que sua vida. Por elas desceu dos esplendores da sua glória; por elas revestiu-se dos andrajos da nossa humanidade, e condenou-se a uma vida dura, laboriosa e cheia de sofrimentos; por elas esgotou todos os tesouros da sua ternura; por elas finalmente morreu sobre a cruz.

Jesus é o bom pastor; todos os seus instantes, todos os seus suspiros, todos os seus trabalhos, toda a sua vida, todo ele mesmo, tudo isto foi consagrado ao bem das suas ovelhas. Era Deus; e, apesar do seu poder infinito, não pôde fazer mais para lhes testemunhar o seu amor.

Jesus é o bom pastor: vede como suas entranhas se comovem de compaixão por todas essas pobres ovelhas da casa de Israel, errantes e desgarradas.

Por amor delas ele não se dá descanso nem de dia nem de noite; percorre lugares, aldeias, cidades, desertos, à procura de algumas de suas ovelhas; ora, geme, pede a grandes brados tua salvação, e afinal dá a vida para lha obter. Vede-o sobre a cruz: está no momento de expirar no meio das mais atrocíssimas dores, e ainda então o seu amor arrebata ao demônio uma ovelha que este lobo infernal ia devorar: era o bom ladrão. Vede-o, descer uma outra vez do Céu para conduzir ao aprisco outra ovelha desgarrada: Era São Paulo. Que digo? Vede-o, vede este bom pastor ao lado de cada um de nós dizendo-nos incessantemente:

Filho, não fujas: vem, eu te estendo os braços; vem, eu te reconduzirei a pastos muito abundantes; vem, que eu te encherei de minha graça e amor”

Jesus é o bom pastor:

Ele conhece as suas ovelhas, e suas ovelhas conhecem-no a ele”

Oh! Que bom é viver ao pé deste bom pastor tão cheio de ternura por suas ovelhas! Oh! feliz da alma que o não deixa nem um instante: ela recebe da sua própria mão as mais doces carícias e as graças mais preciosas. Ora uma alma permanece constantemente junto a Jesus, pastor divino, quando se esforça por viver no mais profundo recolhimento, humildade e compunção. O recolhimento obtém-se pela oração e pela mais exata e escrupulosa fidelidade a todos os deveres; a humildade adquire-se pela recordação das nossas misérias e impotência para o bem, e sobretudo por humilhações voluntárias; enfim mantém-se em nossa alma a compunção pelo pensamento do amor de Deus para conosco e dos pecados cometidos contra ele.

Jesus é o bom pastor: tem sempre os olhos sobre as ovelhas. Se alguma se desgarra, busca-a por todos os lugares, corre atrás dela com a mais viva solicitude, e não descansa enquanto a não acha e a torna a reconduzir ao aprisco. Ó bom Jesus! Posso eu clamar a todas as criaturas que vós sois o bom pastor, eu que de maneira tão inefável experimentei vossa misericordiosa ternura! Ai! “errei como uma pobre ovelha que corre à sua perdição”; caí de desvario em desvario, deixei-me ir após todos os desregrados desejos do meu coração; deixei o caminho da inocência pelo vicio; “cansei-me nas veredas da perdição”. E, no entanto vós, ó Jesus meu! Vós não me abandonáveis; eu me afastava de vós mais e mais, e vós nunca me perdíeis de vista; todos os meus passos e todos os meus movimentos eram novos princípios; eu entregava-me sem medida ás minhas paixões, e vós guardáveis profundo silencio. “Ó tortuosas vias”! Infeliz de mim que pude capacitar-me que, apartando-me do meu Deus, encontraria outra coisa melhor que ele! Ai! por infelicidade já tenho demasiada experiência das penas e angústias que atormentam o coração ingrato que busca repouso fora de vós, ó doce Jesus! Ah! Que anos passei sem vos amar! Que anos perdi no serviço do demônio, do mundo e dais paixões! Que anos tomei a peito calcar aos pés os sinais do vosso amor e ser rebelde às vossas inspirações! E vós, ó Deus meu! Vós usáveis de paciência para comigo; as minhas misérias aumentavam e vós vos aproximáveis insensivelmente de mim; a vossa doce mão ia se chegando, chegando, sem eu dar por ela, para tirar-me do lodo e purificar-me. Ó Jesus! Bom pastor! Que ações de graças vos darei por tanto amor?

Jesus é o bom pastor, ele ama as suas ovelhas a ponto de as nutrir do seu próprio corpo e do seu próprio sangue. Ah! Que pastor se sacrificou jamais assim por seu rebanho? Só Jesus era capaz de tal excesso de amor. Muitas mães recusam nutrir seus filhos e os dão a amamentar a estranhos; não assim o nosso bom Salvador; não contente com dar-nos sua vida e merecimentos, quer ser ainda nosso sustento.

Senhor Jesus, como é possível que eu pudesse abandonar um Senhor tão terno e tão cheio de amor? Ah! Que felicidade a minha se, ovelha fiel, sempre me conservara junto a vós!… Mas, ai! O mal está feito, fui ingrato e me apartei do meu melhor amigo. Bom Jesus, tende de mim piedade; eis que eu volto a vós todo coberto ainda das chagas que recebi e todo confuso da minha fugida; eu vos suplico, não me rejeiteis. Recordai-vos, ó meu querido Salvador! Que sou uma dessas pobres ovelhas pelas quais destes a vida. Lançai ainda sobre mim um desses olhares de misericórdia que outrora lá do alto da Cruz deixastes cair sobre os pecadores, quando por minha salvação exalastes o último suspiro. Sim, Jesus meu, concedei-me ainda um desses doces olhares; mudai-me, fazendo-me melhor e salvai-me. Pois que! Não sois vós aquele pastor cheio de amor, “que, tendo perdido uma de suas ovelhas, deixa as outras noventa e nove no deserto, para se ir após a que se perdeu, até que a ache; não sois vós que, depois de a achar, a pondes sobre os vossos ombros cheio de alegria, e chamais depois vossos amigos e vizinhos”, isto é, os anjos santos, e lhes dizeis:

Regozijai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido?”

Sim, meu Jesus, sois vós mesmo, e eu sou essa pobre ovelha desgarrada. Eis-me a vossos pés, e espero que me tomeis em vossos braços, para me reconduzir ao aprisco. Oh! Jesus! Bom Jesus! Não priveis o Céu da alegria que ele sentirá vendo-vos voltar com um pobre pecador de que tereis feito um santo! Recebei-me ainda no numero de vossas ovelhas queridas.

Ah! Se por minha falta ainda não me pudestes encontrar desde que com tanto amor andais em minha procura, recolhei-me agora que venho me lançar a vossos pés, e prendei-me estreitamente a vós, para que não mais volte à minha perda. É preciso que o vosso amor seja o laço que a vós me tenha vinculado; porque se vós me não retendes por esta doce cadeia, escapar-vos-ei de novo. Ah! Senhor, não sois vós que tivestes a culpa de eu não ter estado sempre unido a vós pelo laço do vosso amor; eu, eu ingrato como era, é que me conservei sempre afastada de vós por minha fugida. Mas agora eu vos conjuro por esta infinita misericórdia, que vos fez descer sobre a terra a fim de me procurar, prender-me a vós, mas prender-me com um laço dúplice de amor, a fim de que nem vós me percais mais a mim, nem eu a vós. Meu querido Redentor! Não quero mais separar-me de vós; renuncio a todos os bens e prazeres do mundo, e ofereço-me a sofrer toda a sorte de penas e todo o gênero de morte, contanto que viva e morra unido sempre a vós. Eu vos amo, amabilíssimo Jesus; amo-vos, ó meu bom pastor, que morrestes por vossa ovelha transviada! Oh! Ficai-o sabendo bem, esta ovelha agora ama-vos mais do que a si mesma e outra coisa não quer mais que amar-vos e consumir-se por vosso amor. Tende piedade dela, ó Jesus! Amai-a, e não permitais que doravante se afaste jamais de vós. Assim seja.


RESOLUÇÕES PRÁTICAS

Da Comunhão Espiritual

Bom é que saibas, meu caro Teótimo, que segundo a doutrina do concilio de Trento, pode-se comungar de três modos: o primeiro, comunhão só sacramental; o segundo, só espiritual, e o terceiro, sacramental e espiritual. Não trato aqui da primeira, que é a que só fazem os que comungam em estado de pecado mortal, nem da terceira que é comum a todos os que recebem Jesus Cristo em estado de graça; mas unicamente da segunda que, segundo as formais palavras do mesmo concilio, “consiste num desejo ardente de se nutrir deste pão celeste, com uma fé viva que opera pela caridade e que nos torna participantes dos frutos e graças deste sacramento“. Portanto, segundo esta doutrina, os que não receberem realmente a Eucaristia, recebem-na espiritualmente, formando ato de fé viva, caridade ardente, e desejo vivo de se unirem ao sumo bem: é assim que se põem no estado de participar dos frutos deste divino sacramento.

Para te facilitares nesta prática tão vantajosa, pensa bem, meu caro Teótimo, no que vou dizer-te. Quando assistires à santa missa e o padre estiver para comungar, (estando tu mesmo na mais modesta postura e no mais recolhimento), faze de todo o coração um ato de verdadeira contrição, e ferindo humildemente o peito, para mostrares que te confessas indigno de graça tão grande, faze todos os atos de amor, oferecimento, humildade e outros que costumas fazer quando te aproximas da sagrada mesa. Junta-lhes o mais vivo desejo de receber a Jesus Cristo que por nós quis velar-se sob as espécies sacramentais; e, para reanimar a devoção, imagina que a Santa Virgem ou qualquer de teus santos patronos, vem trazer-te a santa hóstia; afigura-te que a recebes realmente; e tendo Jesus estreitamente unido ao coração, repete por muitas vezes e por diferentes intervalos, em termos ditados pelo amor:

Vinde, Jesus meu, amor e vida da minha alma; vinde a este pobre coração, vinde e saciai os meus desejos; vinde e santificai a minha alma; vinde, ó dulcíssimo Jesus, vinde”

Conserva-te depois em silêncio, e contempla o teu Deus dentro de ti mesmo; e, como se realmente comungarás, adora-o, agradece-lhe e faze todos os atos ordinários depois da comunhão.

Ora, meu caro Teótimo, persuade-te bem que esta comunhão, tão negligenciada pelos cristãos dos nossos dias, é, não obstante, um verdadeiro tesouro, que enche a alma de uma infinidade de bens; e, segundo muitos autores, entre outros o Padre Rodrigues na “Prática da perfeição Cristã” (Tratado VII, Cap. XV) ela é tão útil, que pode produzir as mesmas graças que a comunhão sacramental, e mesmo maiores ainda; porque, bem que a comunhão sacramental seja de sua natureza de um grande fruto, pois sendo um sacramento, opera por virtude própria, pode contudo muito bem uma alma desejosa da sua perfeição fazer uma comunhão espiritual com tanta humildade, amor e devoção, que mereça graça maior do que a alcançada por uma alma que comunga sacramentalmente, mas com menos fervor e preparação… Seria possível que tão grandes bens não fizessem impressão alguma sobre ti? Que escusa daqui por diante podes tu dar se também desprezas uma prática tão santa e tão útil? Toma a resolução de a fazer frequentemente, e nota que a comunhão espiritual tem a vantagem sobre a sacramental em que esta se pode fazer só uma vez ao dia, ao passo que aquela pode-se fazer não só a todas as missas que ouças, mas em todo o tempo do dia; de manhã, à tarde, de dia, de noite, na Igreja, em teu quarto, sem mesmo teres necessidade da licença do confessor. Numa palavra, quantas vezes fizeres o que acabo de indicar-te, tantas farás a comunhão espiritual, e enriquecerás a tua alma de graças, de méritos e de toda a sorte de bens. Quantas almas por esta prática voluntária, reiterada muitas vezes durante o dia, chegaram a uma grande santidade! (Extraído do “Manual de piedade para uso dos seminários”)


Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.



FONTE: in As Chamas do Amor de Jesus, Abade D. Pinnard, traduzido pelo Rev. Padre Silva, 5ª edição popular, 1923 Cap. XLIII, obtida do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e com algumas adaptações.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

GARCÍA MORENO, UM PRESIDENTE MORTO POR CONSAGRAR O PAÍS AO SAGRADO CORAÇÃO

GARCÍA MORENO, UM PRESIDENTE MORTO POR CONSAGRAR O PAÍS AO SAGRADO CORAÇÃO



No dia seis de agosto de 1875, na principal praça de Quito, Equador, morria um homem. Era a primeira sexta-feira do mês. Um pouco antes, depois de passar um tempo em adoração ao Santíssimo Sacramento na Catedral, o homem dirigiu-se ao Palácio Presidencial para reunir-se com seus ministros. Quando aproximava-se do Palácio, uma emboscada o esperava e ele foi abatido por golpes de facão, com gritos de seus algozes: “Morra, assassino da liberdade!” ao que respondia o homem: “Deus não morre”. Ele viveria tempo suficiente para receber a Extrema Unção e fazer as pazes com seus carrascos, perdoando-os sinceramente. Assim foram as últimas horas de Gabriel García Moreno.

García Moreno havia acabado de ser reeleito Presidente da República do Equador para um terceiro mandato. Seus amigos alertaram-no insistentemente sobre as conspirações maçônicas para assassiná-lo e pediram que o homem arrumasse um guarda-costas. A este último pedido, terminantemente ele negou. Descartando tais admoestações, dizia ele:

Não posso consentir em ter uma guarda. Meu destino está nas mãos de Deus, Aquele que irá me levar deste mundo na hora e da forma que mais agradá-lO.”

Gabriel García Moreno é conhecido como o maior estadista católico da era moderna. Diferente de muitos políticos modernos que avaliam a grandeza de uma civilização pelo seu progresso material, García Moreno entendeu que o critério decisivo para uma civilização de verdade estava na perfeição moral e religiosa de seu povo.

Os primeiros anos

Em meio às guerras sul-americanas pela independência, nascia o jovem García Moreno em Guayaquil, no quarto dia de dezembro de 1821. Seu pai era emigrado da região de Castela e sua mãe era de família cujos membros ocupavam importantes cargos civis e eclesiásticos tanto na Espanha quanto no Novo Mundo. Ambos foram fervorosos na Fé católica e criaram oito filhos, sendo Gabriel o mais novo.

Por ter perdido o pai enquanto ainda era menino, García Moreno não teve a mesma educação que seus irmãos mais velhos. Foi então que um monge de um mosteiro local tomou o jovem sob sua tutoria e educou-o nos assuntos elementares. O garoto, assim, daria grandes passos. Ao mudar-se para Quito para cursar o ensino médio, ele estudou matemática, filosofia e ciências naturais no Colégio de San Fernando, dentro da Universidade de Quito, além de adquirir fluência em francês e inglês nesta mesma época.

Naqueles anos, a piedade de García Moreno já era notável entre seus amigos. Ele estava presente em todos os exercícios religiosos e recebia a Sagrada Comunhão semanalmente. Ele chegou a pensar que teria uma outra vocação e, brevemente, fez uma experiência clerical. No entanto, ele depois descobriria que seu chamado era de o de estar no mundo.

Por amar a justiça e ver nesta disciplina um meio para entrar na vida pública, García Moreno iniciou os estudos do Direito. Ele chegou ao grau de Doutor em Direito aos 23 anos. Como advogado, ele recusava em absoluto qualquer caso que a justiça não estivesse ao seu lado. Uma vez solicitado por um juiz para defender um famoso assassino, ele rejeitou e disse: Seria mais fácil tornar-me eu mesmo um assassino do que defender um.

Ele não exerceu a advocacia por muito tempo e logo mudou para o jornalismo. Pouco tempo depois da volta dos Jesuítas ao Equador, uma polêmica emergiu quando a maçonaria publicou um panfleto desonesto onde caluniava a ordem religiosa. García Moreno, então, escreveu uma brilhante resposta, intitulada “Defensa de los Jesuitas”, onde ele, indignado, declarava:

Presidente Gabriel García
Moreno

Vocês fingem querer exterminar os Jesuítas alegando ser por amor e para a maior glória da Igreja Católica. Mentiras e falsidade! Vocês apenas atacam os Jesuítas, porque querem atacar o Catolicismo. É um fato histórico este o de todos os inimigos da Igreja Católica abominarem a Companhia de Jesus.

À medida em que o mal começava a querer triunfar no Equador, García Moreno continuava com o jornalismo de maneira admirável. Dentro do governo corrupto de Vicente Ramón Roca, vociferava ele: “Próximos desses traidores, há uma porção de homens nobres e corajosos, dispostos a sacrificar até a última gota de sangue para não abandonar Deus e seu país”. Munido de um talento considerável, ele empunhava sua caneta para desmascarar os vícios dos líderes do país. Ao protestar contra o tirano José María Urbina, ele disse: Nenhum vício ou crime é desconhecido dele. Traição, falso testemunho, fraude, roubo, crueldade, deslealdade, nada falta. Sua vida ignóbil é escrita aos poucos no código penal.

Depois de ter sido eleito senador em 1853, ele foi forçosa e ilegalmente retirado do posto pelo general Francisco Robles, um dos militares próximos ao presidente Urbina. García Moreno seria enviado para o exílio, passado na França.

Enquanto morava em Paris, ele viveu um tempo de conversão ainda mais profundo. Ele, agora, passaria mais tempo dedicado ao estudo e a oração. A frequência diária na Missa, a oração diária de uma dezena do Rosário, ele evitava todas as distrações. Em Paris, ele morava como um eremita em um pequeno apartamento, onde estudava noite adentro. Nesta época, ele dizia: Eu estudava dezesseis horas por dia e, se um dia tivesse quarenta e oito horas e não vinte e quatro, eu ficaria feliz em dedicar quarenta horas para o meu trabalho. Em que consistiam estes estudos? Dentre outras coisas, ele estudou cuidadosamente a legislação social em vários países europeus. Ele também leu a obra de Abbé Rohrbacher, L’Histoire universelle de l’Église Catholique, de onde aprendeu como a Igreja e o Estado podem trabalhar juntos de forma harmoniosa.

Foi então que os amigos de García Moreno solicitaram ao General Robles que providenciasse um salvo-conduto do exílio para sua pátria. Ao retornar, ele foi escolhido como reitor da Universidade de Quito. Nesta academia, ele ministrou aulas brilhantes de química, doando seu laboratório pessoal para a universidade.

Durante os governos anteriores de Vicente Roca, José María Urbina e Francisco Robles o país havia sido submetido a ditaduras tirânicas e assolado pela guerra civil. De tempos em tempos, a eleição de bons homens para a Câmara era invalidada por estes tiranos. Enquanto que, ao mesmo tempo, o tesouro era saqueado por tais líderes e seus comparsas. Não havia orçamento estatal, muito menos responsabilização por tudo isso. Além disso, o ensino superior foi depreciado e destruído. Durante a intervenção do presidente Urbina, os estudantes foram admitidos a colar grau sem nenhum estudo ou exame. Por último, mas não menos importante: a Igreja foi duramente perseguida. O bispo de Guayaquil foi expulso e substituído por um “fantoche” clerical de Urbina. Aqueles “suspeitos de costume”, os Jesuítas, foram ajuntados e todos expulsos de uma vez do país. Conventos tornaram-se quartéis e instituições eclesiásticas foram secularizadas. As escolas primárias foram abolidas. O que dizer dos louvados mantras do “Iluminismo” e do “Progresso”? Se a Revolução encontrasse continuidade, o Equador, certamente, seria impelido como sendo a “Idade das Trevas” moderna.

Enquanto isso, García Moreno foi novamente eleito para o Senado. Por sua eloquência como senador em 1857, ele encabeçou a aprovação de uma lei que determinava a dissolução de todas as lojas maçônicas no Equador. Sua razão era simples: o caráter antirreligioso. De forma dissimulada, o governo declarou que as lojas não tinham caráter irreligioso e recusou aplicar a lei. Este era o estado daquela nação pouco antes de García Moreno ser eleito presidente.

Sua vida espiritual

O segredo por trás do sucesso de García Moreno como líder e estadista estava em sua vida interior. Um homem de profunda piedade, ele percebeu que, para recompor o povo equatoriano, ele precisaria primeiro formar um relacionamento com Cristo através da oração e, também, santificar sua alma. Sua vida interior bem determinada estava claramente revelada em sua Regra de Vida escrita na última página de seu exemplar de A Imitação de Cristo, encontrado junto de si depois de ter sido assassinado. Entre as diretrizes de sua Regra, via-se as seguintes:

Toda manhã ao fazer minhas orações, vou pedir, em especial, por humildade.

Todos os dias vou ouvir a Missa, rezar o Rosário e ler, além de um capítulo d’A Imitação, esta regra e as instruções anexas.

Terei o cuidado de me manter, ao máximo, na presença de Deus, especialmente em conversas, assim evito falar palavras inúteis. Vou constantemente oferecer meu coração a Deus, principalmente antes de iniciar qualquer ação.

Farei um exame de consciência específico, duas vezes por dia, quanto a prática de virtudes e um exame geral todas as noites. Vou me confessar toda semana.

Sua Regra de Vida também demonstra a disciplina empregada em sua rotina. Seu dia era ordenado e regrado. Levantava às cinco da manhã, ia à igreja às seis para Missa e meditação. Sete horas da manhã ele visitava os doentes no hospital e, depois, trabalhava em seu quarto até dez horas da manhã. Após um simples café, ele trabalhava com seus ministros até três horas da tarde. Depois do jantar, às quatro da tarde, ele fazia as visitas necessárias e resolvia problemas. Entre seis e nove da noite, ele já estava em casa para passar um tempo com a família. Quando todos descansavam ou buscavam os divertimentos noturnos, ele retornava ao seu escritório para trabalhar até onze horas da noite, às vezes até a meia noite.

García Moreno certamente não era perfeito. Ele poderia ser impaciente e imperioso. No entanto, ele realmente tinha a humildade de admitir quando estava errado. Certa vez, quando estava submerso em questões do trabalho, um sacerdote o abordou sobre um assunto insignificante. Ao que, de maneira brusca, respondeu ele: Não valeu a pena incomodar-me com assunto tão pequeno. O sacerdote, humilhado, saiu depressa. Na manhã seguinte, porém, García Moreno visitou o sacerdote e pediu perdão por sua “conduta apressada e desrespeitosa”. Ele não era conhecido por gabar-se de qualquer conquista própria. Além disso, por correspondências, ele solicitava correção fraterna de prelados ou até de almas com odor de santidade.

Sagrado Coração de Jesus.Equador
(Quadro do Sagrado Coração, com o qual
Dom José Inácio C. y Barba  e Gabriel
García Moreno fizeram a consagração
 do Equador)

Conquistas como presidente

Durante o primeiro mandato como presidente (1861-1865), García Moreno tentou limpar a bagunça política, financeira, educacional e eclesiástica que os liberais e radicais egocêntricos haviam legado ao país.

Um dos primeiros objetivos de García Moreno era justamente a negociação de uma concordata junto da Igreja Católica. Do ponto de vista da Igreja, esta concordata (1862) foi um dos acordos mais favoráveis já feitos com qualquer Estado.

Quando ele chegou ao ofício, ele tinha três tarefas importantes. Era preciso reformar a governança, o estado financeiro do país e o exército. O governo estava repleto de oportunistas que devoravam, de forma voraz, a riqueza do Estado às custas do povo. García Moreno dispensou estes e substituiu-os por homens honestos que ele esperava trabalhar regular e diligentemente.

Ele também concentrou sua atenção no desastre financeiro do país. O governo tomou empréstimos sem limites, taxou o povo impiedosamente, não conseguiu controlar os gastos e não manteve um orçamento. Depois de trabalhar incansavelmente para zerar a dívida, García Moreno introduziu um método melhor para registro contábil, criou um Conselho de Controle para atuar na fiscalização de fraudes no órgão executivo e removeu todos os oficiais envolvidos em desvio de verba pública. Ele mesmo recusou receber o salário presidencial: ele devolveu uma parte para o tesouro nacional e outra doou para obras de caridade.

Depois de restaurar a ordem e a paz no Equador, García Moreno iniciou a implementação de seus planos para a restauração social de uma civilização cristã. Dessa forma, ele debruçou-se na educação. Ao passo que os revolucionários e a maçonaria desejavam laicizar a educação ao erradicar qualquer influência de moralidade ou religião nos jovens, ele decidiu fazer exatamente o oposto. Ele convidou congregações religiosas francesas para formar o intelecto e os corações dos jovens, para cuidar dos doentes nos hospitais e dos criminosos nos presídios. Os Jesuítas, outrora dispensados, também foram recebidos de volta.

García Moreno acreditava ser muito difícil continuar a reformar o país e manter a estabilidade com aquela velha constituição; assim, ele fez pressão para a composição de uma nova. Em 1869, a nova constituição foi estabelecida no Congresso. Entre as principais mudanças: maior poder do governo sobre as forças armadas; poder de veto do governo sobre o Congresso; e a permissão para o governo estabelecer uma lei marcial durante revoltas. “A Fé Católica Apostólica Romana era a religião do Estado e dispensava-se todas as outras”. O Estado daria suporte à Igreja em todos os seus direitos e privilégios. Para garantir esta medida, somente católicos seriam admitidos para ocupar cargos públicos. Surpreendentemente, o Congresso aprovou esta última cláusula quase de maneira unânime, com apenas dois votos contrários. Por último, membros de sociedades secretas foram privados dos direitos civis.

O governo de García Moreno no Equador alcançou um sem número de reformas, porque incluíram mudanças significativas nas forças armadas, na educação e no atendimento aos pobres e doentes. Ele tratou com singular atenção o bem-estar dos índios e dos pobres de zona rural, no interior do Equador, patrocinando missões de Jesuítas e Redentoristas para proteger este povo simples da exploração. Ele também dedicou esforço considerável para melhorar a infraestrutura do país por meio da construção de estradas e torres de farol, pavimentação de ruas e a restauração da beleza da capital do país.

Ilustração do assassinato do Presidente Gabriel García Moreno

Últimas considerações

Após o assassinato de García Moreno, toda a cidade de Quito entrou em luto e os sinos tocavam ininterruptamente. Os conspiradores pensaram que o assassinato desencadearia uma revolução. Tamanha seria a frustração destes. Por três dias, enquanto seu corpo era velado na Catedral, milhares de pessoas, aos prantos, foram prestar condolências ao homem que tanto havia feito pelo país. Na sessão de 16 de setembro de 1875, o Congresso equatoriano emitiu um decreto onde prestava homenagem a García Moreno, “O Restaurador de seu país e Mártir da civilização católica”.

Passados apenas dois anos do assassinato de García Moreno, outro assassinato escandalizava o país: o do Arcebispo de Quito. No dia 30 de março de 1877 – uma Sexta-Feira Santa –, o Arcebispo José Ignacio Checa y Barba purificava o cálice com vinho após consumir a Hóstia durante a Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor e notou que o vinho tinha um sabor amargo. Pouco depois do culto, ele morreria com dolorosas convulsões. Uma autópsia revelou que o vinho havia sido envenenado com estricnina. Apenas algumas semanas antes do assassinato, o governo de Ignacio de Veintemilla começou a perseguir a Igreja. Em particular, os sermões sofreram censuras por parte do governo. Tal medida levou o gentil bispo a protestar vigorosamente contra estas injustiças do governo. Nunca ninguém foi acusado do assassinato, entretanto, a suspeita recaiu sobre o governo. Junto de García Moreno, o Arcebispo Checa y Barba foi quem consagrou o Equador ao Sagrado Coração.

Como García Moreno ajudou avidamente a Igreja a influenciar a sociedade, ele foi chamado de “teocrata”. Entretanto, o estadista não fazia nada além de propagar o Reinado Social de Cristo – este seria, precisamente, o assunto que Pio XI trataria em sua carta encíclica Quas Primas, cinquenta anos mais tarde. Tal qual seu contemporâneo, o Cardeal Louis Pie de Poitiers, García Moreno também reconheceu que, se “a época não é favorável para o reinado de Cristo, ela também não é favorável para que governos perdurem”. Ao consagrar seu país ao Sagrado Coração de Jesus em 1873, o presidente construía a base sólida para a futura prosperidade e sucesso do Equador.



☞ Nota da Fonte: A maioria das citações foram retiradas de García Moreno, President of Ecuador, do Pe. Augustin Berthe.



Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.




FONTE: Centro Dom Bosco. Alguns destaques foram acrescidos.


sexta-feira, 2 de abril de 2021

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE ABRIL DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEXTA-FEIRA SANTA

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE ABRIL DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEXTA-FEIRA SANTA

O CORAÇÃO DE JESUS ABERTO NO GÓLGOTA – SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Vamos ao Calvário: aí acharemos o Coração de Jesus aberto para todos. Quando os soldados foram quebrar as pernas aos dois ladrões, vendo que Jesus já estava morto, não lhe aplicaram o mesmo tormento. Mas um deles abriu-lhe o lado com a lança, e no mesmo instante correu sangue e água. (Jo. 19, 34) Conforme S. Cipriano, a lança foi diretamente ferir o Coração de Jesus Cristo de tal modo que foi dividido em duas partes, segundo a revelação feita a Santa Brígida. Crê-se por conseguinte, que a água saiu do lado de Nosso Senhor com o sangue, visto que a lança, para atingiu o Coração, teve de ferir primeiro o pericárdio, isto é, a membrana que o cerca.

Santo Agostinho nota que o evangelista se serviu da palavra abrir: Aperuit, porque então se abriu no Coração do Salvador a porta da vida, por onde saíram os sacramentos, sem os quais não se pode chegar à vida eterna. Diz-se que o sangue e a água que correram do lado de Jesus Cristo, foram a figura dos sacramentos, porque a água é o simbolo do batismo, que é o primeiro dos sacramentos, e o sangue do divino Salvador é contido na eucaristia, que é o maior dos sacramentos.

S. Bernardo ajunta que Jesus Cristo quis receber a lançada que lhe fez uma chaga visível para nos dar a entender que seu Coração trazia uma chaga invisível de amor para com os homens. Quem, então, conclui este grande santo, não amaria este Coração ferido de amor?

Ó meu Redentor, de tal maneira tendes amado os homens, que não é possível que deixe de amar-vos quem pensa nisto, porque vosso amor faz violência a nossos corações, como diz o Apostolo. (2 Cor. 5, 14) Este amor do Coração de Jesus aos homens vem do amor que ele tem a seu Pai; por isso é que ele dizia depois da ceia: A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai, levantai-vos; vamos. (Jo. 14, 31) E aonde queria ir ? Morrer pelos homens sobre a cruz.

Nenhuma inteligência pode compreender o ardor deste fogo divino no Coração de Jesus Cristo. Se, em vez de uma só morte, necessário lhe fosse padecer mil, Jesus tinha amor bastante para sofrê-las. Se lhe fosse preciso sofrer para salvação de um só homem o que ele sofreu por todos, nosso Salvador não se teria negado a uma só de suas imensas dores. Se, enfim, em lugar de ficar três horas na cruz, necessária lhe fosse ficar até o dia do juízo, Jesus amorosamente padeceria ainda este longo suplício. De sorte que o Coração de Jesus amou muito mais do que padeceu. Ó Coração de Jesus, vossa ternura e muito maior do que todos os sinais que me tendes dado dela. Estes sinais são grandes, porque tantas chagas, tantas machucaduras, anunciam ardente amor; entretanto, só descobrem uma fraca parte da realidade nós temos visto sair apenas uma centelha deste imenso fogo de amor. A maior prova de amor é dar a via a pelos amigos; isto não bastou a Jesus para exprimir toda a ternura do seu Coração: ele foi morto pelos seus mais cruéis inimigos. Este prodígio de amor assombra as almas santas, e as arrebata fora de si mesmas; faz nascer nelas os abrasados afetos, o desejo do martírio, a alegria nos padecimentos; ele é que faz triunfar nas grelhas ardentes, caminhar sobre os carvões acesos como sobre rosas, suspirar pelos tormentos, amar o que o mundo teme, abraçar com alegria o que o mundo aborrece. Por quanto Santo Ambrósio diz que uma alma unida a Jesus na cruz, não acha nada mais glorioso que trazer sobre si as insígnias de seu Esposo crucificado. Como, ó terno Coração de meu Salvador, como poderei vos pagar este amor incomparável que me haveis testemunhado? Justo é que o sangue compense o sangue. Ah! não me ver eu coberto deste sangue divino e cravado nesta cruz que abraço! Ó Cruz santa, recebe-me com Aquele que em ti está cravado para minha salvação. Ó coroa, alarga-te, para que eu possa unir minha cabeça a do meu terno Senhor. Ó cravos crudelíssimos, saí das mãos inocentes de meu Deus, vinde penetrar meu coração de compaixão e amor.

S. Paulo nos afirma, ó meu Jesus, que vós morrestes para reinar sobre os vivos e sobre os mortos, não pelos castigos, mas pela doçura de vosso amor. Ó conquistador dos corações, a força de vosso amor soube quebrar a dureza dos nossos. Vós abrasastes o mundo inteiro com vosso amor. (Lc. 6, 37) Ó Jesus, vossa Cruz e um arco armado para ferir os corações. Saiba o mundo todo que eu tenho o coração ferido … Ó Coração amantíssimo, que fizestes? Viestes para me curar, e me feristes!... Viestes para me ensinar a bem viver, e me tornastes como insensato!... Ó loucura cheia de sabedoria, não viva eu jamais sem vós! Senhor, tudo o que meu olhar descobre na Cruz, convida-me a vos amar; os cravos, os espinhos, o sangue, as chagas, principalmente vosso Coração traspassado, tudo me convida a vos amar e a não vos esquecer jamais.

Prática

Por amor do Sagrado Coração, perdoo desde já a todos os meus inimigos. Minha reconciliação com eles se fará quanto antes possível; procurarei até esquecer as ofensas que eles me fizeram. Perdoai, e sereis perdoados, diz Jesus. (Lc. 6, 37)

Afetos e súplicas

Eu meu compadeço, ó Mãe aflitíssima, da dor pungente que sentistes, quando vistes traspassar o doce Coração de vosso Filho morto, e morto por esses ingratos que, depois de lhe terem tirado a vida, procuravam ainda atormentá-lo. Por este cruel tormento, cuja pena sentistes, ó Mãe das dores, eu vos suplico me obtenhais a graça de habitar no Coração de Jesus ferido e aberto para mim, nesse Coração, que é o belo asilo, o retiro de amor, onde vão repousar todas as almas que tem verdadeiro amor a Deus, e onde Deus só, enquanto eu aí ficar, será o objeto de meus pensamentos e afetos. Virgem Santíssima, vós podeis alcançar-me esta felicidade, de vós a espero.

Oração Jaculatória

Ó Coração aberto para ser o refúgio das almas, recebei-me.

Exemplo

S. Atanásio referiu a historia seguinte aos Padres do Concilio de Nicéa. Um cristão de Beryto, devendo mudar de habitação, esqueceu levar consigo, por descuido, uma bela imagem de Nosso Senhor em tamanho natural. A Providência quis que, depois de sua partida, um judeu fosse habitar na mesma casa, sem dar atenção a imagem que aí ficara. Tendo outro judeu visto a imagem, correu a avisar os rabinos do fato que presenciara. Estes, indignados, foram à casa indicada, e, vendo a imagem de que lhes tinham falado, exclamaram referindo-se a Cristo: «Como outrora ele serviu de joguete a nossos pais, a nós também sirva agora.» E começaram a lhe escarrar no rosto, a lhe dar bofetadas, a ferir a santa imagem, dizendo: «Tudo o que nossos pais fizeram ao Nazareno, façamos à sua imagem.» E então meteram cravos nas mãos e pés do Salvador. Continuando na sua impiedade, disseram: «Consta-nos que lhe darão a beber fel e vinagre; façamos nós também a mesma coisa.» Depois disseram: «Sabemos que nossos pais feriram sua cabeça com uma cana, firamo-la da mesma sorte.» E, tomando uma cana, feriram a cabeça do Salvador. Enfim, acrescentaram; «Afirmam que nossos pais traspassaram seu lado e seu Coração com uma lança. Façamo-lo também, e ajuntemos este ultraje aos outros.» E um deles feriu com uma lança o lado do Senhor. Mas, ó prodígio! eis que grande quantidade de sangue e água corre por esta abertura... Vendo isto, disseram entre si: «Aqueles que adoram o Crucificado faliam muitas vezes de curas por ele operadas. Tomemos deste sangue e desta água, levemos à sinagoga, reunamos todos os doentes, unjamo-los, e veremos si é verdade o que dizem.» Eles aproximaram então um vaso do lado aberto pela lança, encheram-no de sangue e água que corriam dele, e o levaram. Proferindo blasfêmias. E tendo reunido todos os enfermos, ungiram primeiramente em presença de todos os outros, um paralítico de nascimento, e de repente este se ergue e salta diante dos assistentes: estava perfeitamente curado. A esta notícia comoveu-se toda a cidade, os habitantes se deram pressa em levar para o lugar toda sorte de enfermos: paralíticos; coxos, cegos, leprosos, e, à medida que os enfermos eram ungidos, cobravam saúde. À esta vista todos os Judeus exclamaram: «Glória ao Cristo, que nossos pais crucificaram, e nós crucificamos na sua imagem! Glória ao Filho de Deus, autor de tão grandes milagres! Nele cremos.» Eles então pediram o batismo, e o bispo aquiescendo ao seu desejo, passou muitos dias batizando-os. Santo Atanásio, por esta narração, comoveu todos os Padres do Concílio e fez correr as lágrimas. Desta sorte é que ele mostrou que se deve honrar as santas imagens, e que elas eram a fonte das maiores graças. (Labbe. Conc. t. 7) Imitemos nosso divino Mestre, cujo coração foi tão benfazejo para com seus mais cruéis inimigos, e demos, como ele, o bem pelo mal.



Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.



FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 130-136 – Texto revisto e atualizado, e o título desta postagem é nosso)

quinta-feira, 1 de abril de 2021

HORA SANTA DO MÊS DE ABRIL – QUINTA-FEIRA SANTA

HORA SANTA DO MÊS DE ABRIL – QUINTA-FEIRA SANTA


ORAÇÃO DE PADRE PIO PARA MEDITAÇÃO DA PAIXÃO

(Uma sugestão nossa para Hora Santa desta Quinta-Feira da Paixão)


. Espírito Divino iluminai a minha inteligência, inflamai o meu coração, enquanto medito na Paixão de Jesus.

. Ajudai-me a penetrar nesse mistério de amor e sofrimento do meu Deus, que, feito homem sofre, agoniza, morre por mim.

Ó Eterno, ó Imortal, descei até nós para sofrer um martírio inaudito, a morte infame sobre a cruz no meio dos insultos, de impropérios e ignomínias, a fim de salvar a criatura que O ultrajou e continua a atolar-se na lama do pecado.

O homem saboreia o pecado e, por causa do pecado, Deus está mortalmente triste; os tormentos duma agonia cruel fazem-No suar sangue!

Não, não posso penetrar neste oceano de amor e de dor sem a ajuda da Vossa graça, ó meu Deus.

Abri-me o acesso à mais íntima profundidade do Coração de Jesus, para que eu possa participar da amargura que O conduziu ao Jardim das Oliveiras, até às portas da morte — para que me seja dado consolá-Lo no seu extremo abandono.

Ah! Pudesse eu unir-me a Cristo, abandonado pelo Pai e por Si próprio, a fim de expirar com Ele!

Maria, Mãe das Dores, permiti que eu siga Jesus e participe intimamente da Sua Paixão e do Seu sofrimento!

Meu Anjo da guarda velai para que as minhas faculdades se concentrem todas na agonia de Jesus e nunca mais se desprendam. Amém.

MEDITAÇÃO DA AGONIA

PARTE I

(Primeira Metade da Hora)

No termo da Sua vida terrestre, depois de nos ter inteiramente entregue no Sacramento do Seu amor, o Senhor dirige-se ao Jardim das Oliveiras, conhecido dos discípulos, mas de Judas também.

Pelo caminho ensina-os e prepara-os para a Sua Paixão iminente. Convida-os, por Seu amor, a sofrer calúnias, perseguições até à morte, para os transfigurar à semelhança d’Ele, modelo divino.

No momento de começar a Sua dolorosa Paixão, não é n’Ele que pensa; mas pensa em ti.

Que abismos de amor não contém o Seu Coração!

A Sua Santa Face é toda tristeza, toda ternura.

As Suas palavras jorram da profundidade mais íntima do Seu coração, e são todas palpitação de amor.

Ó Jesus, o meu coração perturba-se quando penso no amor que Vos obriga a correr ao encontro da Vossa Paixão.

Ensinastes-nos que não há amor maior que dar a vida por aqueles a quem se ama.

Eis que estais prestes a selar estas palavras com o Vosso exemplo.

No Jardim da Oliveiras, o Mestre afasta-se dos discípulos e só leva três testemunhas da Sua Agonia: Pedro, Tiago e João.

Eles, que O viram transfigurado sobre o Tabor, terão força para reconhecer o Homem-Deus neste ser, esmagado pela angústia da morte?

Ao entrar no Jardim disse-lhes:

Ficai aqui! Velai e rezai para não cairdes em tentação. Acautelai-vos, porque o inimigo não dorme. Armai-vos antecipadamente com as armas da oração para não serdes surpreendidos e arrastados para o pecado. É a hora das trevas”.

Tendo-os exortado, afastou-se à distância de uma pedrada e prostrou-Se com a face em terra.

A Sua alma está mergulhada num mar de amargura e extrema aflição.

É tarde. Na lividez da noite agitam-se sombras sinistras. A Lua parece injetada de sangue.

O vento agita as árvores e penetra até aos ossos. Toda a natureza como que estremece de secreto pavor!

Ó noite, como nunca houve outra semelhante. Eis o lugar onde Jesus vem orar.

Ele despoja a Sua Santa Humanidade da força à qual tem direito pela Sua união com a Divina Pessoa, e mergulha-a num abismo de tristeza, de angústia, de abjeção.

Seu espírito parece submergir-se.

Via antecipadamente toda a Sua Paixão. Vê Judas, Seu apóstolo tão amado, que O vende por alguns dinheiros. Ei-lo a caminho do Getsêmani, para O trair e entregar! Todavia, ainda há pouco não o alimentou com a Sua Carne, não lhe deu a beber o Seu Sangue? Prostrado diante dele, lavou-lhe os pés, apertou-os contra o Coração, beijou-os com os Seus lábios. Que não fez Ele para o reter à beira do sacrilégio, ou pelo menos para o levar a arrepender-se! Não! Ei-lo que corre para a perdição.

Jesus chora.

Minuto para meditação…

Jesus se vê arrastado pelas ruas de Jerusalém onde ainda há alguns dias O aclamavam como Messias. Vê-se esbofeteado diante do sumo-sacerdote. Ouve os gritos: À morte! Ele, o autor da vida, é arrastado como um farrapo de um para outro tribunal. O povo, o Seu povo tão amado, tão cumulado de bênçãos, vocifera contra Ele, insulta-O, reclama aos gritos a Sua morte, e que morte, a morte sobre a cruz. Ouve as suas falsas acusações.

Jesus se vê flagelado, coroado de espinhos, escarnecido, apupado como falso rei. Vê-se condenado à cruz, subindo ao Calvário, sucumbindo ao peso do madeiro, trêmulo, exausto. Ei-Lo chegado ao Calvário, despojado das roupas, estendido sobre a cruz, impiedosamente trespassado pelos pregos, ofegante entre indizíveis torturas.

Meu Deus! Que longa agonia de três horas, até sucumbir no meio dos apupos da gentalha, ébria de cólera!

Ei-Lo com a garganta e as entranhas, devoradas por sede ardente. Para estancar essa sede, dão-Lhe vinagre e fel.

Vê o Pai que O abandona, e a Mãe, aniquilada pela dor.

Para acabar, a morte ignominiosa no meio de dois ladrões.

Um reconhece-O, e pôde salvar-se; o outro blasfema e morre réprobo.

Vê Longuinhos, que se aproxima para Lhe trespassar o Coração. Ei-la, consumada, a extrema humilhação do corpo e da alma, que separam.

Tudo isto, cena após cena, passa diante dos Seus olhos, apavora-O, acabrunha-O.

Desde o primeiro instante tudo avaliou, tudo aceitou.

Porque, pois, este terror extremo? É que expôs a Sua Santa Humanidade como escudo, captando os ataques da Justiça, ultrajada pelo pecado.

Sente vivamente no espírito, mergulhado na maior solidão, tudo o que vai sofrer.

Para tal pecado, tal pena. Está aniquilado, porque Se entregou, Ele próprio, ao pavor, à fraqueza, à angústia.

Parece ter chegado ao auge da dor.

O Senhor está prostrado, com a face em terra, diante da Majestade do Pai. Jaz no pó, irreconhecível, a Santa Face do Homem-Deus, que goza da visão beatífica. Meu Jesus! Não sois Deus? Não sois o Senhor do Céu e da Terra, igual ao Pai? Para que haveis de abaixar-Vos até perder todo o aspecto humano?

Ah, sim… Compreendo! Quereis ensinar-me, a mim, orgulhoso, que para entender o Céu devo abismar-me até ao fundo da Terra. É para expiar a minha arrogância que Vos deixais afundar no mar da agonia. É para reconciliar o Céu com a Terra que Vos abaixais até à terra como se quisésseis dar-lhe o beijo da paz…

Minuto para meditação…

Jesus ergue-se, volve para o céu um olhar suplicante, ergue os braços, reza. Cobre-Lhe o rosto mortal palidez! Implora o Pai que Se desviou d’Ele. Reza com confiança filial, mas sabe bem qual o lugar que Lhe foi marcado. Sabe-se vítima a favor de toda a raça humana, exposta à cólera de Deus ultrajado. Sabe que só Ele pode satisfazer a Justiça infinita e conciliar o Criador com a criatura. Quer, reclama que seja assim. A Sua natureza, porém, está literalmente esmagada. Insurge-Se contra tal sacrifício. Todavia, o Seu espírito está pronto à imolação e o duro combate continua. Jesus, como podemos pedir-Vos para sermos fortes, quando Vos vemos tão fraco e acabrunhado?

Sim, compreendo! Tomastes sobre Vós a nossa fraqueza. Para nos dardes a Vossa força, Vos tornastes a vítima expiatória. Quereis ensinar-nos como só em Vós devemos depositar confiança, até quando o céu nos parece de bronze.

Na Sua Agonia, Jesus clama ao Pai:

Se é possível, afasta de Mim este cálice”.

É o grito da natureza que, prostrada, recorre cheia de confiança ao Céu. Embora saiba que não será atendido, porque não deseja sê-lo, contudo ora.

Meu Jesus, por que pedis o que não podeis obter? Que mistério vertiginoso! A mágoa que Vos dilacera Vos faz mendigar a ajuda e conforto, mas o Vosso amor por nós e o desejo de nos levar a Deus Vos faz dizer:

Não se faça a Minha vontade, mas a Tua”.

O Seu coração desolado tem sede de ser confortado, tem sede de consolação. Docemente, Ele levanta-se, dá alguns passos vacilantes; aproxima-se dos discípulos; eles, pelo menos, os amigos de confiança, hão de compreender e partilhar da Sua mágoa.

Encontra-os mergulhados no sono. De súbito sente-Se só, abandonado!

Simão dormes?” pergunta docemente a Pedro.

Tu, que há pouco Me dizias que querias seguir-Me até à morte!

Vira-Se para os outros “Não podeis velar uma hora Comigo?”.

Uma vez mais, esquece os sofrimentos, não pensa senão nos discípulos:

Velai e orai para não cairdes em tentação!”.

Parece dizer: “Se Me esquecestes tão depressa, a Mim, que luto e sofro, pelo menos no vosso próprio interesse, velai e orai!”. Mas eles, tontos de sono, mal O ouvem.

Ó meu Jesus, quantas almas generosas, tocadas pelos Vossos lamentos, Vos fazem companhia no Jardim das Oliveiras, compartilhando da Vossa amargura e da Vossa angústia mortal.

Quantos corações têm respondido generosamente ao Vosso apelo através dos séculos! Possam eles Vos consolar e, comparticipando do Vosso sofrimento, possam eles cooperar na obra da salvação!

Possa eu próprio ser desse número e Vos consolar um pouco, ó meu Jesus!

Minuto para meditação…

MEDITAÇÃO DA AGONIA

PARTE II

(Segunda Metade da Hora)

Jesus volta ao local da oração e se apresenta diante dos olhos um outro quadro bem mais terrível. Desfilam diante d’Ele todos os nossos pecados, nos seus mais ínfimos pormenores. Vê a extrema vulgaridade dos que os cometem. Sabe a que ponto ultrajam a divina Majestade. Vê todas as infâmias, todas as obscenidades, todas as blasfêmias que mancham os corações e os lábios, criados para cantar a glória de Deus. Vê os sacrilégios que desonram padres e fiéis. Vê o abuso monstruoso dos sacramentos, instituídos por Ele para nossa salvação, e que facilmente podem ser causa de nos perdermos.

Tem de cobrir-Se com toda a lama fétida da corrupção humana. Tem de expiar cada pecado à parte, e restituir ao Pai toda a glória roubada. Para salvar o pecador, tem de descer a esta imundice. Mas, isto não O detém. Essa lama rodeia-O, submerge-O, oprime-O.

Ei-Lo em frente do Pai, Deus da Justiça, Ele, Santo dos Santos, vergado ao peso dos nossos pecados, tornando-Se igual aos pecadores. Quem poderá sondar o Seu horror e a Sua extrema repugnância? Quem compreenderá a extensão da horrível náusea, do soluço de desgosto? Tendo tomado todo o peso sobre Ele sem exceção, sente-Se esmagado por monstruoso fardo, e geme sob o peso da Justiça divina, em face do Pai que permitiu ao Seu Filho Se oferecesse como vítima pelos pecados do mundo, e se transformasse numa espécie de maldito.

A Sua pureza estremece diante desta massa infame mas ao mesmo tempo vê a Justiça ultrajada, o pecador condenado… No Seu Coração defrontam-se duas forças, dois amores. Vence a Justiça ultrajada. Mas, que espetáculo infinitamente lamentável! Este homem, carregado com todos os nossos crimes. Ele, essencialmente Santidade, confundido, embora exteriormente, com os criminosos… Treme como uma folha.

Para poder afrontar esta terrível agonia abisma-Se na oração. Prostrado diante da Majestade do Pai, diz:

Pai, afasta de mim este cálice”.

É como se dissesse: “Pai, quero a Tua glória! Quero o cumprimento da Tua justiça. Quero a reconciliação do gênero humano. Mas não por este preço! Que Eu, santidade essencial, seja assim salpicado pelo pecado, ah! não… isso não! Ó Pai, a Quem tudo é possível, afasta de Mim este cálice e encontra outro meio de salvação nos tesouros insondáveis da Tua sabedoria. Porém, se não quiseres, que a Tua vontade, e não a Minha, se faça!”

Desta vez ainda, fica sem efeito a prece do Salvador. Sente a angústia mortal, ergue-Se a custo em busca de consolação. Sente como as forças O abandonam. Arrasta-Se penosamente até junto dos discípulos. Uma vez mais, encontra-os a dormir. A Sua tristeza torna-se mais profunda. E contenta-Se simplesmente em os acordar. Sentiram-se confusos? Sobre isto nada sabemos. Só vemos Jesus indizivelmente triste. Guarda para Ele toda a amargura deste abandono.

Mas Jesus, como é grande a dor que leio no Teu Coração, transbordante de tristeza. Vos vejo afastando-Vos dos Vossos discípulos, ferido, todo magoado! Pudesse eu dar-Vos algum reconforto, consolar-Vos um pouco… mas, incapaz de mais nada, choro aos Vossos pés. Unem-se às Vossas as lágrimas do meu amor e da minha compunção. E elevam-se até ao trono do Pai, suplicando que tenha piedade de nós, que tenha piedade de tantas almas, mergulhadas no sono do pecado e da morte.

Minuto para meditação…

Jesus volta ao lugar onde rezara, extenuado e em extrema aflição. Cai, sim, mas não se prostra. Cai sobre a terra. Sente-Se despedaçado por angústia mortal e a Sua prece torna-se mais intensa.

O Pai desvia o olhar, como se Ele fosse o mais abjeto dos homens.

Parece-me ouvir os lamentos do Salvador:

Se, ao menos as criaturas por causa de quem Eu tanto sofro quisessem aproveitar-se das graças obtidas através de tantas dores! Se, ao menos reconhecessem pelo seu justo valor, o preço pago por Mim para resgatar e dar-lhes a vida de filhos de Deus! Ah! este amor despedaça-Me o Coração, bem mais cruelmente do que os carrascos que irão, em breve, despedaçar-Me a carne…”

Vê o homem que não sabe, porque não quer saber; e blasfema do Sangue Divino e, o que é bem mais irreparável, serve-se desse Sangue para sua condenação.

Quão poucos o hão de aproveitar, quantos outros correrão ao encontro do próprio extermínio!

Na grande amargura do Seu Coração, continua a repetir:

Quão poucos aproveitaram o meu Sangue!”

O pensamento, porém, deste pequeno número basta para afrontar a Paixão e morte.

Nada existe, não há ninguém que possa dar-Lhe sombra de consolação. O Céu fechou-se para Ele. O homem, embora esmagado ao peso dos pecados, é ingrato e ignora o seu Amor.

Sente-se submerso num mar de dor e grita no estertor da agonia:

A Minha Alma está triste até a morte”.

Sangue Divino, que jorras, irresistivelmente do Coração de Jesus, corres por todos os Seus poros para lavar a pobre Terra ingrata. Permite-me que eu Te recolha, Sangue tão precioso, sobretudo estas primeiras gotas. Quero guardar-Te no cálice do meu coração.

És prova irrefutável deste Amor, única causa de teres sido vertido. Quero purificar-me através de Ti, Sangue preciosíssimo! Quero com Ele purificar todas as almas, manchadas pelo pecado. Quero oferecer-Te ao Pai.

É o sangue do Seu Filho Bem-Amado que caiu sobre a Terra para a purificar. É o Sangue do Seu Filho que ascende ao Seu Trono para reconciliar a Justiça ultrajada. A alegria é na verdade muito mais veemente do que a dor.

Minuto para meditação…

Jesus chegou então ao fim do caminho doloroso?

Não. Ele não quer limitar a torrente do Seu amor! É preciso que o homem saiba quanto ama o Homem Deus. É preciso que o homem saiba até que abismos de abjeção pode levar amor tão completo. Embora a Justiça do Pai esteja satisfeita com o suor do Sangue Preciosíssimo, o homem carece de provas palpáveis deste amor.

Jesus seguirá pois até ao fim: até à morte ignominiosa sobre a cruz. O contemplativo conseguirá talvez intuir um reflexo desse amor que o reduz aos tormentos da Santa Agonia no Jardim das Oliveiras. Aquele, porém, que vive, entorpecido pelos negócios materiais, procurando muito mais o mundo do que o Céu, deve vê-Lo também pelo aspecto externo, pregado à cruz, para que, ao menos, o comova a visão do Seu Sangue e a Sua cruel agonia.

Não. O Seu Coração, transbordante de amor, não está ainda contente! Domina-O a aflição, e ora de novo:

Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que Eu o beba, faça-se a Tua Vontade”.

A partir deste instante, Jesus responde do fundo do Seu Coração abrasado de amor, ao grito da humanidade que reclama a Sua morte como preço da Redenção. À sentença de morte que Seu Pai pronuncia no Céu, responde a Terra reclamando a Sua morte. Jesus inclina a sua adorável cabeça:

Pai, se este cálice não pode ser afastado, sem que eu o beba, faça-se a Tua Vontade”.

E eis que o Pai Lhe envia um Anjo de consolação. Que alívio pode um Anjo oferecer ao Deus da força, ao Deus invencível, ao Deus Todo-Poderoso? Mas este Deus quis tornar-Se indefeso e fraco. Tomou sobre os ombros toda a nossa fraqueza. É o Homem das Dores, em luta com a agonia.

Ora ao Pai por Si e por nós. O Pai recusa atendê-Lo, pois deve morrer por nós. Penso que o Anjo se prostra profundamente diante da Beleza eterna, manchada de pó e Sangue, e com indizível respeito suplica a Jesus que beba o cálice, pela glória do Pai e pelo resgate dos pecadores.

Rezou assim, para nos ensinar a recorrer ao Céu, unicamente quando as nossas almas estão desoladas como a Sua.

Ele, a nossa força, virá ajudar-nos, pois que consentiu em tomar sobre os ombros todas as nossas angústias.

Sim, meu Jesus, é preciso que bebais o cálice até ao fundo! Estais votado à morte mais cruel.

Jesus, que nada possa separar-me de Vós, nem a vida nem a morte! Se, ao longo da vida, só desejo unir-me ao Vosso sofrimento, com infinito amor, ser-me-á dado morrer Convosco no Calvário e Convosco subir à Glória. Se Vos sigo nos tormentos e nas perseguições tornar-me-eis digno de Vos amar um dia, no Céu, face a face, Convosco, cantando eternamente o Vosso louvor em ação de graças pela cruel Paixão.

Minuto para meditação…

Vede! Forte, invencível, Jesus ergue-Se do pó! Não desejou Ele o banquete de sangue com o mais forte desejo? Sacode a perturbação que O invadira, enxuga o suor sangrento da face, e, em passo firme dirige-Se para a entrada do Jardim.

Onde ides, Jesus? Ainda há instantes, não estavas empolgado pela angústia e pela dor? Não Vos vi eu, trêmulo, e como que esmagado sob o peso cruel das provações que vão tombar sobre Vós? Aonde ides nesse passo intrépido e ousado? A quem vais entregar-Vos?

“— Escuta, Meu filho. As armas da oração ajudaram-Me a vencer; o espírito dominou a fraqueza da carne. A força foi-Me transmitida, enquanto orava, e agora eis-Me pronto a tudo desafiar. Segue o Meu exemplo e arranja-te com o Céu, como Eu fiz. “

Jesus aproxima-Se dos apóstolos. Continuam a dormir! A emoção, a hora tardia, o pressentimento de alguma coisa horrível e irreparável, a fadiga — e ei-los mergulhados em sono de chumbo.

Jesus tem piedade de tanta fraqueza.

O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

Jesus exclama:

Dormi agora e repousai”.

Detém-se por instante. Ouvem que Jesus se vai aproximando, e entreabrem os olhos…

Jesus continua a falar:

Basta. É chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que Me há de entregar”.

Jesus vê todas as coisas com os Seus olhos divinos. Parece dizer:

Meus amigos e discípulos, vós dormis, enquanto que os Meus inimigos velam e se aproximam para virem prender-Me! Tu, Pedro, que há pouco te julgavas bastante forte para Me seguir até na morte, também tu dormes agora! Desde o princípio tens-Me dado provas da tua fraqueza! Está, porém, tranqüilo. Aceitei sobre Mim a tua fraqueza e rezei por ti. Depois de confessares a tua falta, serei a tua força e apascentará os Meus rebanhos…

E tu, João, também tu dormes? Tu, que acabavas de sentir as pulsações do Meu Coração, não pudeste velar uma hora Comigo!

Levantai-vos, vamos partir, já não há tempo para dormir. O Inimigo está à porta! É a hora do poder das trevas! Partamos. De livre vontade, vou ao encontro da morte. Judas acorre para trair-Me, e Eu vou ao seu encontro. Não impedirei que se cumpram à risca as profecias. Chegou a Minha hora: a hora da Misericórdia Infinita.”

Ressoam os passos; archotes acesos enchem o jardim de sombras e púrpura. Intrépido e calmo, Jesus avança seguido pelos discípulos.

Ó meu Jesus, dai-me a Vossa força quando a minha pobre natureza se revolta diante dos males que a ameaçam, para que possa aceitar com amor as penas e aflições desta vida de exílio. Uno-me com toda a veemência aos Vossos méritos, às Vossas dores, à Vossa expiação, às Vossas lágrimas, para poder trabalhar Convosco na obra da salvação. Possa eu ter a força de fugir ao pecado, causa única da Vossa agonia, do Vosso suor de Sangue, e da Vossa morte.

Afasteis de mim o que Vos desagrada, e imprimi no meu coração com o Fogo do Vosso santo Amor todos os Vossos sofrimentos. Abraçai-me tão intimamente, em abraço tão forte e tão doce, que nunca eu possa deixar-Vos sozinho no meio dos vossos cruéis sofrimentos.

Só desejo um único alívio: repousar sobre o Vosso Coração. Só desejo uma única coisa: partilhar da Vossa Santa Agonia. Possa a minha alma inebriar-se com o Vosso Sangue e alimentar-se com o pão da Vossa dor! Amém.

Minuto para meditação…


(Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória)



Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.



FONTE: Apostoli Christ.