«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 31 de julho de 2020

A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ENTRE OS JESUÍTAS

A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ENTRE OS JESUÍTAS


O Sagrado Coração adorado por Santo Inácio de Loyola e São Luís Gonzaga

Neste dia 31 de Julho que a Igreja celebra a festa do fundador da Companhia de Jesus, os Jesuítas, oferecemos um brevíssimo histórico da devoção ao Sagrado Coração de Jesus entre os filhos de Santo Inácio de Loyola, os Jesuítas.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus será o fogo Sagrado, que há de purificar e inflamar o mundo resfriado na caridade, como disse o apóstolo amado a Santa Gertrudes. É obra de Deus; encontrará dificuldades, oposições, e perseguições de toda parte, mas triunfará porque Nosso Senhor deu sua palavra. «Eu reinarei apesar da raiva dos meus inimigos». Mas é lícita essa pergunta: - de onde há de vir o auxílio? Já almas cheias de zelo apostólico de muito terno amor ao Sagrado Coração de Jesus, têm se consagrado à missão de propagar a sua devoção: estas hão de continuar, e o movimento se observa, é consolador. Primeiramente nas casas religiosas, daí espalhar-se pelo mundo afora e a atrair tantos corações para este Coração Divino, centro de caridade.

Nosso Senhor, porém, não limita a missão dessas almas apostólicas, não dá a missão de propagar a devoção de seu Sagrado Coração exclusivamente a uma ordem religiosa. Contudo, a Santa Margarida Maria, que precisava de auxílio e conforto, manda o Padre de la Columbière da Companhia de Jesus e dá-lhe a entender que a devoção ao seu Divino Coração acharia apoio e defesa nos padres dessa Companhia. Disse-lhe ainda mais, que os filhos de Santo Inácio os tinha destinado para colaboradores especiais das Irmãs Visitandinas nesta propaganda. É célebre a visão que teve Santa Margarida e que ela conta em uma carta à sua antiga madre superiora, a Madre Saumaise.

Era 2 de Julho de 1688, festa da Visitação. Santa Margarida estava em adoração diante do SS. Sacramento exposto, e sentia alegrias inexprimíveis. Refere então o seguinte: «De repente me achei presente em um lugar espaçoso, elevado e encantador por sua beleza, no meio do qual se levantava um trono de chamas. Sobre este trono estava o amável Coração de Jesus, ferido, e da ferida saiam raios tão inflamados e resplandecentes, que aqueciam e iluminavam aquele lugar. De um lado estava a Santíssima Virgem, do outro S. Francisco de Sales com o Santo Padre de la Columbière; aí estavam também as Religiosas da Ordem da Visitação acompanhadas de seus Anjos da Guarda, e cada uma delas tinha um coração na mão.

A Santíssima Virgem convidava-nos, com estas palavras, a nos aproximarmos d'Ela: «Vinde, minhas Filhas bem-amadas; chegai-vos, quero fazer-vos depositárias deste tesouro, que o sol de justiça formou na terra virginal do meu Coração… E mostrando-lhes aquele Coração Divino, dizia: Eis o tesouro precioso, que foi descoberto especialmente para vós… «Voltando-se depois para o bom Padre de la Colombière, disse-lhe a Santíssima Virgem: Vós também, servo fiel do meu Divino Filho, tendes grande parte neste tesouro preciosos, porque se às Filhas da Visitação foi dado conhecê-lo e distribuir aos outros, aos Padres da Companhia é reservada a missão de mostrar e fazer ver sua utilidade a e valor e dispor os homens aproveitarem dele, recebendo-o com grande respeito e gratidão, que merece um tão grande benefício.

«Este Coração Divino, fonte de bênçãos e de graças, na mesma medida em que se esforçarem para dar-lhe este prazer, há de derramá-las tão abundantes sobre seu ministério, a ponto de torná-los mais frutíferos do que se podia esperar: e ao mesmo tempo, eficazes para a salvação e perfeição de cada um deles em particular».

A Companhia de Jesus escolhida para a missão, já se achava preparada.

SANTO INÁCIO DE LOYOLA, o santo fundador da Companhia (1491-1556) soube pôr as almas no caminho seguro de chegar ao Sagrado Coração de Jesus. No livro dos Exercícios, termina o estudo sobre os mistérios da vida do Redentor com a meditação sobre o amor divino. Recitava muito frequentemente, e recomendou vivamente a oração «Anima Christi»*, na qual pede que sejam lavadas as manchas de sua alma com a água puríssima saída da chaga do Costado de Jesus e, ainda mais, pede com todo fervor para entrar nas chagas do Salvador, para viver nelas oculto de todos. Escondido na chaga do costado, tão vizinha do Coração de Jesus, não terá ele sentido as ardentes chamas que saíam da fornalha ardente desse Sagrado Coração?

* Alma de Cristo, santifica-me. Corpo de Cristo, salva-me. Sangue de Cristo, inebriai-me. Água do lado de Cristo, lavai-me. Paixão de Cristo, confortai-me. Ó bom Jesus, escutai-me. Dentro das vossas chagas, escondei-me. Não permitais que de vós me aparte. Do espírito maligno, defende-me. Na hora da morte, chamai-me e mandai-me ir para vós, para que, com os vossos santos, vos louve para todo o sempre. Amém.

S. FRANCISCO DE BÓRGIA (1510-1572), compôs uma oração belíssima à chaga do costado**; nessa oração só fala a palavra – coração: Te saúdo ó chaga santíssima do costado do meu Senhor… fonte limpidíssima de eterna felicidade… a lança do soldado te abriu, mas a Onipotência divina te conserva. Eu fixo em ti minha morada… coloco em ti tudo quanto eu sou… e humildemente imploro a bondade do meu Senhor, que por tua virtude me curou e por ti me sustenta a cada momento.

** Entenda-se por “chaga do costado”, a “Chaga do Lado de Cristo”, aberta pela lança do soldado Longino (Jo. 19, 34)

O BEATO CANÍSIO (1521-1527), o apóstolo da Alemanha, o martelo dos hereges, alcançou o fervor do apostolado na fonte da água viva, que é o Coração de Jesus. Ele conta o seguinte fato: «No dia da minha profissão, dirigia-me para o altar, quando apareceu-me um anjo e descobriu-me a miséria e o abismo de minha indignidade. Então vós, ó meu divino Redentor, abriste-me o vosso Coração, convidaste-me a chegar-me a ele, junto às águas da salvação, e me ordenaste que bebesse nesta fonte santa. Que desejo ardente tinha eu de ser inundado pelas águas do amor, de esperança e de fé, que eu via correr dela! Que sede de castidade, de obediência e de pobreza! Pedi-vos que me purificásseis, que me vestísseis de inocência, como no dia de meu batismo; finalmente, chegando os lábios sequiosos ao vosso dulcíssimo Coração, ousei matar minha sede nesta divina fonte.

E vós me prometestes, ó meu Deus, de vestir minha miséria com uma veste celeste de pano de três qualidades, que são os santos votos, e me garantiste ainda a paz, a caridade e a constância. Adornado com esta veste de salvação, fiquei profundamente convencido de que mais nada me faltaria, e que em tudo havia ser bem sucedido para vossa maior glória.»

Esta visão deixou na alma do Beato Canísio uma lembrança indelével e desde aquele momento ele começou a invocar o Sagrado Coração de Jesus com toda familiaridade; como um amigo que fala com outro amigo. Todos os dias recitava esta devota oração: «Vos louvo, bendigo, glorifico e saúdo, ó Coração amabilíssimo e dulcíssimo de Jesus, meu fidelíssimo amigo; vos agradeço a fidelidade com que me protegestes e guardastes esta noite e prestastes a Deus Pai a homenagem do louvor e de agradecimento que eu lhe devia. E agora, meu único amigo, ofereço-vos os meu coração, esconjurando-vos que neste dia me concedais que minhas palavras, meus pensamentos e a minha vontade sejam conformes à vossa amabilíssima vontade.»

S. LUÍS GONZAGA (1568-1591), segundo a revelação de Santa Magdalena de Pazzi, vivia estreitamente unido ao Divino Coração de Jesus. «Exclama ela: 'quão grande é a glória de S. Luís! Eu não acreditaria se o mesmo Deus não tivesse revelado. Luís, aqui na terra, amou muito: eis o motivo do seu grande gozo de Deus na plenitude do amor. Quando estava no mundo, Luís despedia flechas de amor para com o Coração do Verbo: agora que está no céu, goza da união com Deus, que mereceu por sua vida de ardente caridade na terra.'»

S. Luís morreu em 21 de Junho, que era justamente a sexta-feira depois da oitava da festa de Corpus Christi, dia que mais tarde foi escolhido para festa em honra do Sagrado Coração de Jesus. Em 1675, S. Luís apareceu ao seu irmão de religião, noviço da Companhia de Jesus, Nicolau Celestini, e curou-o com a condição de empregar a saúde que lhe era concedida em propagar a devoção ao Divino Coração de Jesus, devoção gratíssima ao céu.

S. AFONSO RODRIGUES (1543-1617). Como S. Luís Gonzaga foi cheio de ternura e ardente devoto do Sagrado Coração de Jesus. Tratando dos vários modos de união e transformação da alma em Cristo, habitando Cristo no alma e a alma no Sagrado Coração de Jesus, dizia: «Quando meditares na paixão do teu Deus, entre dentro de seu aflito e angustiado Coração, e tendo tomado lugar nesta morada celestial do seu Coração, chora os teus pecados lá dentro; chora o grande o mau que eles fizeram.» E continua: «A alma tendo entrado no Coração de Jesus, entre outras coisas ele lhe comunicará estas, que tanto ama nas almas, grande pureza e limpeza da alma e ardente amor para o mesmo Cristo, fazendo contigo o que tantas vezes vemos acontecer com o ferro, que está no fogo, que se torna fogo.

Como o Coração de Jesus é fogo de amor, estando n'Ele, que inflama as almas, Ele fará de maneira que tu te transformes em fogo de amor. Dentro do seu Coração bendito, Ele te concederá a graça de imitá-lO… para que vivas e sofras com Ele com amor e por amor.»

Prossegue o Santo: «A primeira união e transformação da alma em Cristo, é quando a alma encerra-se em Deus. Para dizer melhor, é quando Jesus Cristo a põe dentro do seu Coração e a faz habitar n'Ele. E lá dentro, comunica-lhe um grande conhecimento de sua paixão… de si mesmo e de seu grande amor, e um grande conhecimento de si mesma; e dá-lhe um grande amor e uma verdadeira união co o mesmo Jesus Cristo… tudo isto é o resultado do grande amor que ganhou lá dentro do Coração de Jesus»… Outra transformação é quando a alma, dentro do Coração de Jesus, Ele mesmo acende nela o seu amor, assim inflamada se abandona inteiramente à vontade de seu Jesus amado e Ele a possui.»

O VENERÁVEL PADRE JOSÉ DE ANCHIETA*** (✞1597). Primeiro apóstolo do Brasil, em 1585, um século antes das grandes revelações de Paray, fez uma Igreja em honra do Sagrado Coração de Jesus, na Diocese do Espírito Santo. A Igreja, que sem dúvida, é a primeira consagrada ao dulcíssimo Coração de Jesus, restaurada e solenemente consagrada em 1880, apresenta ainda alguns vestígios da devoção amada de seu fundador. No frontispício da Igreja, existe uma antiga pintura, que representa um cálice e sobre ele a imagem do Sagrado Coração de Jesus com a Cruz em cima. No interior, em meio da arcada do coro, vê-se, ligeiramente apagada, mais uma outra imagem do Coração de Jesus, que tem na chaga uma cruz no lugar da lança. No ano de 1562 ele publicou uma oração em latim, na qual exprimia o desejo ardente de entrar pela chaga do costado no Coração de Jesus, no qual propunha viver.

    *** O Pe. José de Anchieta foi beatificado em 1980 pelo Papa João Paulo II, e canonizado, em 2014, pelo Papa Francisco. É tido como o Apóstolo do Brasil.

Muitos outros padres da Companhia de Jesus se destacaram na propagação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, como: o Pe. João Baptista de Sainte Jure (1588-1657), o Pe. Jacó Noute (1608-1680), o Missionário João Baptista Zappa (1651-1694), que teve uma vida muito semelhante a de Sta. Margarida Maria, o Pe. Mathias Hajnal (1578-1644), considerando o Apóstolo da devoção do Sagrado Coração de Jesus na Hungria, dentre outros, além dos que, em nossos dias, se dedicam a propagar e a reavivar esta preciosa devoção ao Divino Coração de Jesus.


Por Maria a Jesus!


Sou Todo teu, Maria.


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FONTEin Eu Reinarei A devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu Desenvolvimento Histórico, Pe. Fernando Piazza, OSC, tradução do Dr. Saladino de Aguiar, Edição da Escolas Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. XIII, pp. 168-173 – Texto revisto e atualizado, com destaques acrescidos e o título é nosso.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

AS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – PARTE VII

AS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – PARTE VII

(Em forma de catecismo, com perguntas e repostas)


EXPOSIÇÃO DAS PROMESSAS DO SAGRADO CORAÇÃO

PROMESSAS FEITAS PELO SAGRADO CORAÇÃO ÀS ALMAS AFLITAS


Haverá criatura humana que possa dizer:

Nunca os meus olhos derramaram lágrimas nem jamais chorarei, sou inacessível à dor? A nossa vida principia com lágrimas, continua-se no meio de sofrimentos de toda a espécie e termina nas ânsias da agonia e da morte. «O Coração de Jesus, que tanto amou os homens», não podia ser insensível a esta dor universal; não se contentando com se associar a ela durante a vida mortal, quer ser o nosso consolador até ao fim dos séculos. Um dos principais frutos da devoção ao Sagrado Coração é dar a paz, quer no meio dos desgostos particulares da vida, quer no meio de calamidades publicas.

1) Quais são as consolações prometidas pelo Sagrado Coração aos seus servos no meio das suas provações?

«Consolá-los-ei nas suas penas», disse ele à Santa Margarida Maria. Notemos bem, que Nosso Senhor não prometeu aos amigos do seu divino Coração fazer cessar as penas, mas somente consolá-los nelas. Portanto, é ilusão muito perigosa julgar que a devoção ao Sagrado Coração tem por fim tornar o caminho do céu suave, agradável e fácil, fazendo desaparecer dele os espinhos da tribulação e as asperezas do sofrimento.

Não é assim! os amigos do Coração de Jesus devem contar com a cruz e por vezes sentir o seu peso. Contudo, se o Coração de Jesus não dispensa os seus servos da necessidade de carregar todos os dias com a cruz, quer que tenham a firme e inabalável confiança de receber a forca invencível da sua graça e a consolação do seu amor, para não desfalecerem no caminho.

«Nosso Senhor Jesus Cristo recompensar-vos-á copiosamente da devoção que tiverdes ao seu Coração Sagrado, escreve a Santa1. Se quereis honrá-lo, tornai o depositário de tudo quanto fizerdes e sofrerdes, unindo-vos sempre às suas santas intenções em tudo o que vos acontecer. Ofertai-lhe todos os prazeres, todas as amarguras.

Estabelecei vossa morada neste Divino Coração e tereis a paz.

Ele nos consolará em todas as necessidades e tribulações, tornando-se a força das nossas fraquezas. Ali achareis o remédio eficaz para todos os males, o refúgio em todas as necessidades».

Dando a própria experiência como testemunho das suas afirmações, a serva de Deus acrescenta:

«Uma vez, sentindo grande dificuldade em obedecer, o divino Mestre mostrou-me o seu Corpo Sagrado coberto de chagas, que tinha sofrido por meu amor, e censurou a minha ingratidão e covardia em não me vencer por seu amor».

«Meu Deus! que quereis que eu faça, lhe disse então, se a minha vontade pode mais do que eu? E respondeu-me que, se eu a sepultasse no seu Lado Sagrado, ela não teria dificuldade em se render.

«Ó meu Salvador, lhe disse então, sepultai-a vós, e tão fundo, que jamais possa de lá sair. Confesso que desde então tudo me pareceu fácil, e não tive mais dificuldade em me vencer. Sinto-me continuamente abrasada no desejo de sofrer, ainda que sinta repugnâncias terríveis da natureza, e as cruzes tão pesadas e tão dolorosas, que morreria mil vezes, se o adorável Coração do meu Jesus não me fortalecesse e auxiliasse em todas as necessidades.

2) Como o Coração de Jesus é o verdadeiro consolador nas calamidades publicas?

Diz o Sagrado Evangelho que os últimos tempos do mundo serão perturbados por tão grandes calamidades, que os próprios escolhidos se sentirão como que abalados. Quem será o consolador e o auxílio dos homens no meio da confusão universal do fim dos tempos, e entre as convulsões sociais que agitarão o mundo antes do grande drama final? «Nosso Senhor Jesus Cristo, responde a Santa, mostrou-me o desejo de que o seu Coração seja agora conhecido, para ser o mediador entre Deus e os homens, porque é todo poderoso para dar a paz, desviar os castigos que os nossos pecados mereceram, e para nos alcançar misericórdia».

«Quanto é poderoso este divino Coração, para aplacar a cólera da divina justiça, que a multidão dos nossos pecados irritou, atraindo sobre nós todas as calamidades que nos afligem! Mas é necessário orar, para que nos não aconteçam ainda maiores desgraças. As orações em comum têm grande poder sobre este Sagrado Coração, que sustem e desvia os rigores da divina Justiça, metendo-se de permeio entre ela e os pecadores, para alcançar misericórdia».

3) Qual é o caráter providencial da devoção ao Sagrado Coração sob o ponto de vista social?

Em nossos dias quase todas as nações são agitadas por crises internas, que põem as almas em mau estado e tiram à sociedade a segurança e a paz. Os homens políticos procuraram mil soluções a este mal social!. In vanum labor averunt! Todos os esforços são condenados a um resultado estéril, se não lhe juntarem o grande meio que nos indica Santa Margarida Maria. A salvação da sociedade e dos indivíduos está no Sagrado Coração, e só nele. A devoção a este adorável Coração, qual arco íris divino, brilha no meio da tempestade, como raio celeste, que vem consolar o pobre prisioneiro no seu cárcere. Erudimini qui judicatis terram! Oxalá que aqueles que têm nas mãos o governo das nações, compreendam os ensinamentos da humilde Virgem de Paray! Ela recebeu de Nosso Senhor a missão de falar aos príncipes e aos povos e de lhes dizer: Ide ao Sagrado Coração! S.S. Leão XIII, na admirável Encíclica de 25 de maio de 1899, anunciando a Consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus, sancionou este chamamento em nome d'Aquele de quem era Vigário, quando dizia:

«Eis o novo sinal de salvação, sinal divino e de última esperança! É, pois, ao Sagrado Coração de Jesus que devemos recorrer em todas as tribulações, quer públicas, quer particulares. Mas não percamos de vista a importante observação com relação às outras promessas:

Que as graças temporais e as alegrias sensíveis têm nesta devoção lugar secundário, e que, se Nosso Senhor promete alguns desses bens, é com a condição de que não sejam em detrimento do seu amor: se o são, tira-as sem piedade.


Sagrado Coração de Jesus.
 Santuário Nacional de la Gran Promesa. Valladolid (Espanha)

PROMESSAS RELATIVAS AOS ÚLTIMOS FINS DO HOMEM: A GRANDE PROMESSA


As promessas mais consoladoras de Nosso Senhor aos devotos servos do seu divino Coração são aquelas que se referem ao momento terrível da morte e à nossa salvação eterna.

1) Que quer dizer a grande promessa?

Entre as graças prometidas à devoção do Sagrado Coração é a mais extraordinária e ordinariamente conhecida com o nome da Grande Promessa.

«Em uma sexta-feira», escrevia a Santa, no mês de maio de 16882 durante a Sagrada Comunhão o meu divino Mestre disse-me esta palavras:

«Eu te prometo no excesso da misericórdia do meu Coração que o meu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses consecutivos a graça da penitencia final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receberem os sacramentos; nessa hora derradeira o meu Coração há de ser para eles asilo seguro».

Promessa tão magnânima é verdadeiramente digna da generosidade do Coração de Jesus. Quão indesculpáveis seriam aqueles que pusessem de parte esta tábua de salvação oferecida pelo amor infinito deste Coração divino! Quis por essa infinita misericórdia que ela fosse acessível a todos, por causa dos tremendos perigos que corre no mundo a salvação eterna das almas, sobretudo no meio da sociedade atual. São tantos e tais que podemos dizer com mais razão do que os apóstolos3: Quem se salvará? O Sagrado Coração dignou-se responder e a nós pertence aproveitar a resposta.

Posto que as palavras divinas dispensem comentários, não será inútil fazer alguns.

2) Será esta promessa um fato absolutamente novo?

Por mais extraordinária que pareça esta promessa, não é coisa nova. Graça semelhante não a tem também o Escapulário do Carmo?

3) Será certa esta promessa?

Esta promessa é certa, quanto à sua origem e quanto aos seus efeitos. Foi sem dúvida feita a Santa Margarida Maria, como atestam os escritos autênticos da serva de Deus, quando foram examinados pela Santa Sé na Beatificação da Serva de Deus. Cumprir-se-á, portanto, em todos aqueles que realizarem todas as condições impostas.

4) Como devemos entender esta promessa?

É preciso, entretanto, compreender o verdadeiro sentido desta promessa, e livrar-nos de falsa interpretação. Nosso Senhor não disse que aqueles que cumprissem as condições exigidas estavam dispensados de vigilância cuidadosa, para evitarem todo o pecado, de animoso combate, para vencerem as tentações, de cumprir os mandamentos, do emprego assíduo dos meios que a vida cristã exige, sobretudo da oração e da penitência. Assegura somente, que aqueles que fizerem estas nove comunhões alcançarão as graças necessárias, para guardarem com perfeição os preceitos e os conselhos evangélicos, para levarem a cruz todos os dias da vida, e para perseverarem até a morte no caminho estreito, que conduz ao Céu.

O cuidadoso exame desta promessa deixa-nos antever a admirável tática do amor divino. Para ir ao Céu, é necessário que as nossas almas vivam da vida de Jesus Cristo, comunicada pelos sacramentos, sobretudo pelo sacramento da Eucaristia.

Há muitos séculos que os homens desertaram totalmente da Sagrada Mesa, e a maior parte daqueles que ainda se conservam fieis à comunhão pascal, fazem-no por sistema e para que se diga que cumprem o preceito, de Comungar pela Páscoa da Ressurreição.

Por isso mesmo a sociedade cristã está minada por dentro de assustadora languidez espiritual, definha-se por falta de comunhões e ninguém a pode fazer sair deste mórbido estado.

5) Que meio irá Nosso Senhor empregar para tirar os homens deste invencível fastio tão vizinho da morte?

Vai lançar mão do desejo, que estes cristãos tão negligentes ainda têm de se salvar, e com o auxílio desta última centelha escondida na cinza da tibieza vai procurar reanimar a chama do seu amor, fazendo-os enveredar pelo caminho da Sagrada Mesa. Não lhes pedirá diretamente a comunhão frequente, porque sabe que a sua voz não seria ouvida; mas com tática divina vai pedir-lhes uma série de comunhões, em verdade transitaria, mas bastante repetidas e acompanhadas de circunstâncias um tanto difíceis para lhes formar o habito da comunhão, ao menos mensal.

6) Quais são as condições necessárias para ter direito nos frutos desta Grande Promessa?

Para alcançar a graça da perseverança final exigem-se três condições:

1ª. A comunhão deve ser feita na primeira sexta-feira e não em outro dia;

2ª. Deve fazer-se durante nove meses seguidos. Portanto, a novena deve recomeçar, se, na série das nove primeiras sextas-feiras, houver interrupção, exceto se for causada pela Sexta-feira Santa, caindo na primeira sexta-feira do mês; neste caso far-se-ia a comunhão na primeira sexta-feira do mês seguinte.

3ª. Deve ser feita, não somente em estado de graça, mas com a intenção especial de honrar o Sagrado Coração.

Estas condições, aparentemente fáceis trazem anexas tais dificuldades que é preciso amar verdadeiramente a Nosso Senhor para nos sujeitarmos a elas. Ora, diz Santo Agostinho: «Aquele que ama pode fazer o que quiser». Ama el fac quod vis; porque o amor divino que o guia, o meterá seguramente no caminho da santidade. Além disto, estas comunhões repetidas, feitas por amor do Sagrado Coração, atraem poderosamente para se contrair este santo costume; porque não há coisa que torne um hábito tão forte, como os atos repetidos com verdadeiro afeto. Este atrativo será sem dúvida aumentado pela unção especial que Nosso Senhor concederá a estas comunhões.

7) Poder-se-ão perder os frutos prometidos a estas nove comunhões?

Aqueles que depois de terem feito com sincera piedade as nove comunhões, se se afastarem da frequência dos sacramentos, perderão o direito aos frutos da promessa divina? Não, certamente, porque os benefícios de Deus são sem arrependimento. O Sagrado Coração saberá, pelas invenções do seu amor, tirar do abismo do pecado estes pobres náufragos, e preservá-los do fogo eterno. Mas as graças obtidas por meio destas nove comunhões são tão abundantes, que este esquecimento completo dos deveres essenciais da vida cristã será exceção bastante rara e quiçá momentânea.

8) Qual foi a proteção prometida pelo Sagrado Coração aos seus servos na hora da morte?

«O Sagrado Coração de Nosso Senhor disse-me, e confirmou-o, que o prazer que tem de ser conhecido, amado e honrado das suas criaturas é tão grande4, escreve a Santa, que me prometeu que todos aqueles que brasassem esta devoção e fossem dedicados a este adorável Coração, não pereceriam eternamente.

«Não; o seu amor não deixará perecer nenhuma das almas, que lhe forem consagradas para lhe prestar todas as homenagens e todo o amor, com vontade franca e sincera, e procurarem dar-lhe esta consolação conforme a medida das suas forças».

A serva de Deus fala, com frequência, nas suas cartas desta tão consoladora promessa.

«Minha muito estimada Mãe, escrevia à superiora da Visitação de Moulins, não posso exprimir-vos o prazer que experimentei quando li a vossa última carta, e o desejo que Vossa Caridade manifesta de ser toda do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo; porque é assim que asseguramos a salvação, que tão exposta anda n esta miserável vida, tão cheia de corrupção. Mas depois de nos dedicarmos a este Coração adorável para o amar e honrar quanto podermos, e de nos entregarmos totalmente a ele, toma todo o cuidado de nós e faz-nos chegar, através de todos os perigos ao porto da salvação».

Da mesma sorte falava a dois sacerdotes: «Amai o Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ah! se compreendêsseis quanto é bom amá-lo e ser amado por ele! Porque nenhum daqueles que lhe são particularmente dedicados perecerá! Ah! quanto é grato morrer depois de ter tido devoção constante ao Coração daquele que nos há de julgar!»

«No Coração do meu adorável Jesus encontro quanto falta à minha indigência, acrescentava ela falando de si, porque é cheio de misericórdia. Não encontro remédio mais eficaz para todas as aflições do que este Coração Sagrado. Nele durmo tranquilamente e repouso sem inquietação. Não há nada penoso e triste que não seja suavizado pelo Coração amável de Jesus. Os doentes e os pecadores acham nele asilo seguro e ali estão sem receio. Este Coração divino e tão amante é toda a minha esperança; é o meu refúgio; o seu merecimento é a minha salvação, a minha vida e a minha ressurreição. Enquanto me não faltar a sua misericórdia estou cheia de merecimentos; quanto mais poderoso elle é para me salvar, tanto maior é minha segurança».

9) Quais são as recompensas destinadas aos servos do Sagrado Coração no Céu?

Maravilhosas são as recompensas que o Coração de Jesus tem no Céu para os seus eleitos. No banquete celeste terão a dita de repousar no Coração do Salvador, como S. João na ceia.

As alegrias inefáveis deste divino repouso é o segredo do Paraíso. Contudo Santa Margarida Maria indica dois frutos particulares que dele resultam.

O primeiro é o aumento da que chamam bem-aventurança acidental, que consiste na nova alegria concedida a estes felizes eleitos do Sagrado Coração por cada progresso, que esta devoção ao Coração de Jesus, fizer no decurso dos séculos. Falando de S. Francisco de Sales, a Santa escrevia à madre de Saumaise5: «O adorável Coração de Jesus faz experimentar alegrias inexplicáveis ao nosso santo fundador por esta santa devoção se ter estabelecido no nosso Instituto. Nunca a glória acidental deste santo Pai fundador aumentou tanto como por este meio».

A segunda recompensa destinada aos servos do Coração de Jesus, é o grande valimento que terão junto de Deus. Por isso a Santa recomendava muito recorrer a estas almas amigas do Coração de Jesus por meio das mais fervorosas orações, especialmente nas empresas que interessassem a glória deste Coração adorável. «O nosso bom Pe. de la Colombière, dizia ela, alcança no Céu, por meio da sua intercessão, o que se realiza na terra para gloria deste Sagrado Coração».

Interrogada pela madre de Saumaise acerca do destino eterno de uma superiora do convento de Dijon, que durante a vida tinha sido muito dedicada ao Coração de Jesus, a Santa respondia: «quanto ao que vossa caridade me pergunta da nossa defunta mãe Anna Seraphina Boulier, creio que devo antes dar-vos os parabéns pela felicidade de terdes no Céu uma advogada tão poderosa, do que tomar parte na dor que sentistes na separação de amiga tão santa. Creio que está gozando do seu soberano Bem, que a faz poderosíssima para nos dar os testemunhos de verdadeira amizade. Ele de nada precisa, e creio que está bem elevada na glória entre os Serafins, que têm a missão de prestar contínua homenagem ao Sagrado Coração de Jesus, para reparar as tristes amarguras que sofreu e sofre ainda no SS. Sacramento, da ingratidão e frieza dos nossos. Ela tem grande poder para nos ajudar. É quanto vos posso dizer. Finalmente, minha querida Mãe, estamos encantadas com a vida desta santa religiosa. Assim Deus nos dê a graça de imitar as suas virtudes».

Depois de ouvir estas tão consoladoras promessas, só nos resta exclamar: Oh! mil vezes felizes dos que morrem no Sagrado Coração6! Beali mortui qui in Domino moriuntur!.




_______Continua…


NOTA: Substituímos a designação da vidente de “Bem-aventurada” por “Santa” Margarida Maria.



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1 Cartas 12, 33, 110, 116 e 124. - Avisos 15.

2 Carta 82.

3 S. Marcos X, 20.

4 Cartas 30, 37, 53, 58. - Vida e obras da Bem-aventurada, vol. 2, p. 481.

5 Apoc. XIV, 13.

6 Apoc. XIV, 13.


FONTE: livro, em formato PDF: “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Sexta Parte – As Promessas do Sagrado Coração, pp. 268-279 – Texto revisto e atualizado, sendo alguns destaques por nós acrescentados.


sexta-feira, 3 de julho de 2020

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JULHO

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JULHO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



EM VÓS ESTÁ A FONTE DA VIDA

(Das Obras de São Boaventura, bispo - Opusculum 3, Lignum vitae, 29-30.47 Opera omnia 8,79 - Séc.XIII)


Considera, ó homem redimido, quem é aquele que por tua causa está pregado na cruz, qual a sua dignidade e grandeza. A sua morte dá a vida aos mortos; por sua morte choram o céu e a terra, e fendem-se até as pedras mais duras. Para que, do lado de Cristo morto na cruz, se formasse a Igreja e se cumprisse a Escritura que diz: Olharão para aquele que transpassaram (Jo 19,37), a divina Providência permitiu que um dos soldados lhe abrisse com a lança o sagrado lado, de onde jorraram sangue e água. Este é o preço da nossa salvação. Saído daquela fonte divina, isto é, no íntimo do seu Coração, iria dar aos sacramentos da Igreja o poder de conferir a vida da graça, tornando-se para os que já vivem em Cristo bebida da fonte viva que jorra para a vida eterna (Jo 4,14).

Levanta-te, pois, tu que amas a Cristo, sê como a pomba que faz o seu ninho na borda do rochedo (Jr 48,28), e aí, como o pássaro que encontrou sua morada (cf. Sl 83,4), não cesses de estar vigilante; aí esconde como a andorinha os filhos nascidos do casto amor; aí aproxima teus lábios para beber a água das fontes do Salvador (cf. Is 12,3). Pois esta é a fonte que brota no meio do paraíso e, dividida em quatro rios (cf. Gn 2,10), se derrama nos corações dos fiéis para irrigar e fecundar a terra inteira.

Acorre com vivo desejo a esta fonte de vida e de luz, quem quer que sejas, ó alma consagrada a Deus, e exclama com todas as forças do teu coração: “Ó inefável beleza do Deus altíssimo e puríssimo esplendor da luz eterna, vida que vivifica toda vida, luz que ilumina toda luz e conserva em perpétuo esplendor a multidão dos astros, que desde a primeira aurora resplandecem diante do trono da vossa divindade.

Ó eterno e inacessível, brilhante e suave manancial daquela fonte oculta aos olhos de todos os mortais! Sois profundidade infinita, altura sem limite, amplidão sem medida, pureza sem mancha!”

De ti procede o rio que vem trazer alegria à cidade de Deus (Sl 45,5), para que entre vozes de júbilo e contentamento (cf. Sl 41,5) possamos cantar hinos de louvor ao vosso nome, sabendo por experiência que em vós está a fonte da vida, e em vossa luz contemplamos a luz (Sl 35,10).



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FONTE: Liturgia das Horas on line.



quinta-feira, 2 de julho de 2020

HORA SANTA DO MÊS DE JULHO + 1

HORA SANTA DO MÊS DE JULHO


Primeiramente me hás de receber no SS. Sacramento, sempre que a obediência te quiser conceder, por mais mortificações e humilhações que daí te hajam de vir, as quais tu deves receber como penhores do meu amor. E além disso hás de comungar todas as primeiras sextas-feiras de cada mês; e todas as noites da quinta para sexta-feira far-te-ei participar daquela mortal tristeza que eu quis sentir no Horto, tristeza que te há de reduzir a uma espécie de agonia mais angustiosa que a morte.

E para me acompanhares na humilde oração que eu apresentei a meu Pai, no meio de todas as minhas angústias; todas as quintas-feiras, levantar-te-ás entre as onze horas e meia-noite para comigo prostrares durante uma hora, com o rosto em terra, assim para aplacar a ira divina, pedindo misericórdia para com os pecadores, como para adoçar, de alguma maneira, a amargura que eu sentia com o desamparo em que me deixavam meus apóstolos, o qual me obrigou a lançar-lhes em rosto não o terem podido velar uma hora comigo. (palavras do Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo a Santa Margarida Maria Alacoque, acerca da comunhão reparadora das primeiras Sextas-feiras e Horas Santas)


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Acesse por aqui uma das Horas Santas de Junho que já publicamos, propostas por Santo Afonso Maria de Ligório ou pelo Pe. Mateo Crawley-Boevey.


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OS MISTÉRIOS DA ÁGUA E DO SANGUE