«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 28 de junho de 2019


FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



DEVOÇÃO AO CORAÇÃO DE JESUS



Ó Sagrado Coração de Jesus, ensinai-me a conhecer-Vos, ensinai-me a amar-Vos.

1 - O objeto da devoção ao Sagrado Coração é, propriamente falando, o Coração de carne de Jesus, o qual fazendo parte da Sua Humanidade santíssima, unida hipostaticamente ao Verbo, é digno de adoração. Contudo, o objeto terminal desta devoção é o amor de Jesus, de que o Seu Coração é o símbolo; por outras palavras, «sob a imagem simbólica do Coração, consideramos e veneramos a imensa caridade e o amor generoso do nosso divino Redentor» (Pio VI). Este é o significado da devoção ao Sagrado Coração, pelo qual a Igreja nos convida a honrar o Coração de Jesus como imagem visível do Seu amor invisível. «A Vossa caridade – canta a liturgia da festa – quis que fosseis trespassado por um golpe visível de lança, para que venerássemos as feridas do Vosso amor invisível» (BR.).

O objeto principal da devoção ao Sagrado Coração é, pois, o amor de Jesus: primeiro o amor incriado com que Ele, enquanto Verbo, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, nos amou desde a eternidade e pelo qual, desde a eternidade, decidiu encarnar para a nossa salvação; e depois, o amor criado, de caridade, com que nos amou enquanto Homem até morrer por nós na cruz, merecendo-nos, com o Seu amor, aquela mesma caridade com a qual pudéssemos corresponder ao Seu amor. É este o sentido mais profundo da devoção ao Sagrado Coração, sentido tão bem compreendido por Santa Teresa Margarida do Coração de Jesus que fez desta devoção o centro da sua vida. A Santa – dizem os processos – «Considerava o Coração de Jesus como o centro [a fonte] do amor em que o Verbo Divino, no seio do Pai, nos amou por toda a eternidade merecendo-nos que, participando desse mesmo amor, pudéssemos corresponder ao Seu amor na terra e no céu» (Sp. pg. 182).

2 - As outras devoções ao Redentor têm por objeto mistérios ou aspectos particulares da Sua vida, como por exemplo a Encarnação, a vida oculta, a Paixão, etc.: mas a devoção ao Sagrado Coração visa um objeto mais geral: o amor de Jesus, amor que constitui o motivo profundo e essencial de todos os Seus mistérios, que é a causa primeira e única de tudo quanto Ele fez por nós. Sob este aspecto, a devoção ao Sagrado Coração toca, por assim dizer, no fundo de todos os mistérios do Redentor, toca no fundo essencial da Sua vida, da Sua Pessoa; é o amor que explica a Encarnação do Verbo, é o amor que explica a existência do Homem-Deus, é o amor que explica a Sua Paixão, a Sua Eucaristia.

É impossível compreender o mistério pelo qual o Filho de Deus Se fez carne, morreu na cruz para salvar os homens e Se fez seu alimento, sem admitir este amor infinito que impeliu Deus – o Altíssimo, o Criador – a encontrar a forma de Se dar todo pela salvação da Sua criatura. A Igreja exprime-se justamente neste sentido num dos hinos do Ofício do Sagrado Coração: «Amor coegit te tuus mortale corpus sumere», o amor impeliu-Vos – ou antes, obrigou-Vos, se tomarmos o vocábulo latino em toda a sua força – ao tomar um corpo mortal para nos restituir o que o pecado de Adão nos havia tirado. E o hino continua, glorificando ora o amor eterno do Verbo, ora o amor humano de Jesus, amores que na realidade não se podem separar, como não se pode separar a Humanidade Santíssima de Jesus do Verbo que a assumiu. Jesus é simultaneamente Deus e Homem, e assim, o Seu amor é ao mesmo tempo amor divino e amor humano; Jesus amou-nos e ama-nos continuamente como Deus e como Homem. O Seu amor humano, criado, é sublimado pelo amor eterno do Verbo, ou antes, converte-se no próprio amor do Verbo que o faz Seu como são Seus todos os sentimentos e ações de Cristo-Homem; e o Seu amor divino torna-se-nos sensível, compreensível, tangível, por meio da manifestação do Seu amor humano. É sempre a Humanidade de Jesus que nos revela a Sua Divindade e do mesmo modo que através desta Humanidade santíssima conhecemos o Filho de Deus, também através do amor humano de Jesus conhecemos o Seu amor divino.

Colóquio - «Para isto, ó Jesus, foi trespassado o Vosso lado: para que nos fosse facilitada a entrada. Foi ferido o Vosso Coração para que, livres das inquietações, pudéssemos habitar nele. Mas foi ainda ferido para que através da chaga visível víssemos a chaga invisível do amor, porque quem arde em amor, é ferido pelo amor. Como podereis mostrar-nos melhor este Vosso amor ardente do que deixando uma lança dilacerar-Vos não o corpo, mas até o Coração? A ferida corporal indica, portanto, a ferida espiritual.

«Quem, pois, não amará este Coração assim trespassado? Quem não corresponderá com amor a Quem tanto nos ama? Quem não abraçará um Esposo tão casto? Certamente, ó Senhor, corresponde-Vos com amor a alma que, sentindo-se ferida pelo Vosso Amor, grita: 'Estou ferida pela caridade', Também nós, peregrinos na carne, na medida do possível, amamos, correspondemos com amor, abraçamos o nosso Ferido, a quem foram trespassados as mãos e os pés, o lado e o Coração. Amamos e oramos: ó Jesus, dignai-Vos atar com o laço e ferir com o dardo do Vosso amor o nosso coração, ainda duro e impenitente (S. Boaventura).

«Ó Jesus, um dos soldados abriu-Vos o lado com uma lança para que, no Vosso lado aberto, conheçamos o amor do Vosso Coração, amor que chegou até à morte, e entremos nós também nesse amor inefável pelo qual viestes a nós. Aproxima-te, pois, alma minha do Coração de Cristo, Coração grande, Coração secreto, Coração que em tudo pensa, Coração que tudo conhece, Coração que ama, ou antes, que arde em amor. Fazei-me compreender, Senhor, que a porta do Vosso Coração foi aberta pela veemência do amor e permiti-me entrar no esconderijo do Vosso amor, oculto desde a eternidade, mas revelado agora pela chaga do Vosso Coração» (cfr. S. Bernardino de Sena).




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FONTE: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, pp. 810-813 – Texto revisto e atualizado.

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