«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 27 de julho de 2018


OS DONS DO CORAÇÃO DE JESUS



O texto que segue abaixo é extraído da Carta Encíclica HAURIETIS AQUAS do Sumo Pontífice Venerável Papa Pio XII1, de 15 de Maio de 1956, sobre o Culto do Sagrado Coração de Jesus, um dos documentos de leitura mais recomendada acerca da devoção e do culto ao Sagrado Coração de Jesus.

No texto que reproduzimos, o Santo Padre identifica os preciosos DONS advindos do Coração de Jesus: o ESPÍRITO SANTO, a EUCARISTIA, MARIA SANTÍSSIMA, o SACERDÓCIO e a IGREJA.

Pois bem. Vejamos2:
Quem poderá descrever dignamente as pulsações do coração divino, índices do seu infinito amor, naqueles momentos em que ele deu aos homens os seus mais apreciados dons, isto é, a si mesmo no Sacramento da Eucaristia, sua Mãe Santíssima, e a participação no oficio Sacerdotal? 
Ainda antes de celebrar a última Ceia com seus discípulos, ao pensar em que ia instituir o sacramento do seu corpo e do seu sangue, com cuja efusão devia confirmar-se a nova aliança, sentiu o seu coração agitado de intensa emoção, que ele manifestou aos seus apóstolos com estas palavras: «Ardentemente desejei comer convosco este cordeiro pascal antes da minha paixão" (Lc 22, 15); emoção que, sem dúvida, foi ainda mais veemente quando ele "tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu-o a eles, dizendo: 'Isto é meu corpo, que se dá por vós; fazei isto em memória de mim'. Do mesmo modo tomou o cálice, depois de haver ceado, dizendo: 'Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que por vós será derramado'»(Lc 22, 19-20). 

Com razão, pois, pode-se afirmar que a divina Eucaristia, como Sacramento que ele dá aos homens e como Sacrifício que ele mesmo continuamente imola «desde o nascente até o poente» (Ml 1, 11), e também o Sacerdócio, são, sem dúvida, dons do Sagrado Coração de Jesus. 


Dom igualmente precioso do mesmo Sagrado Coração é, como indicávamos, a Santíssima Virgem, Mãe excelsa de Deus e Mãe amadíssima de todos nós, era justo que o gênero humano tivesse por Mãe espiritual aquela que foi Mãe natural do nosso Redentor, a ele associada na obra de regeneração dos filhos de Eva para a vida da graça. A propósito disso, escreve a respeito dela Santo Agostinho: "Evidentemente ela é mãe dos membros do Salvador, que somos nós, porque com a sua caridade cooperou para que nascessem na Igreja os fiéis, que são membros daquela cabeça"3. 
Ao dom incruento de si mesmo sob as espécies do pão e do vinho, Jesus Cristo nosso Salvador quis unir, como testemunho da sua caridade íntima e infinita, o sacrifício cruento da Cruz. Fazendo isso, deu exemplo daquela sublime caridade que com as seguintes palavras ele mostrara aos seus discípulos como meta suprema de amor: «Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos» (Jo 15,13). Pelo que o amor de Jesus Cristo, Filho de Deus, revela no sacrifício do Gólgota, de modo o mais eloquente, o amor do próprio Deus: «Nisto conhecemos a caridade de Deus: em haver ele dado sua vida por nós; e assim nós devemos dar a nossa vida por nossos irmãos» (1 Jo 3, 16). Certamente, o divino Redentor foi crucificado mais pela força do amor do que pela violência dos algozes, e o seu holocausto voluntário é dom supremo feito a cada um dos homens, segundo a incisiva expressão do Apóstolo: «Amou-me e entregou-se por mim» (Gl 2, 20).

(Foto: Capela São José)

Não se pode, pois, duvidar de que, participando intimamente da vida do Verbo Encarnado, e pelo mesmo motivo sendo, não menos do que os demais membros da sua natureza humana, como que instrumento conjunto da Divindade na realização das obras da graça e da onipotência divina4. O Sagrado Coração de Jesus é também símbolo legítimo daquela imensa caridade que moveu o nosso Salvador a celebrar, com o derramamento do seu Sangue, o seu místico Matrimônio com a Igreja: "Sofreu a paixão por amor à Igreja que ele devia unir a si como esposa"5. Portanto, do coração ferido do Redentor nasceu a Igreja, verdadeira administradora do sangue da redenção, e do mesmo Coração flui abundantemente a graça dos Sacramentos, na qual os filhos da Igreja bebem a vida sobrenatural, como lemos na sagrada liturgia: "Do coração aberto nasce a Igreja desposada com Cristo... Tu, que do coração fazes manar a graça"6. A respeito desse símbolo, que nem mesmo dos antigos Padres, escritores e eclesiásticos foi desconhecido, o Doutor comum, fazendo-se eco deles, assim escreve: "Do lado de Cristo brotou água para lavar e sangue para redimir. Por isso, o sangue é próprio do sacramento da eucaristia; a água, do sacramento do batismo, o qual, entretanto, tem força para lavar em virtude do sangue de Cristo"7. O que aqui se afirma do lado de Cristo, ferido e aberto pelo soldado, cumpre aplicá-lo ao seu Coração, ao qual, sem dúvida, chegou a lançada desfechada pelo soldado precisamente para que constasse de maneira certa a morte de Jesus Cristo. Por isso, durante o curso dos séculos, a ferida do Coração Sacratíssimo de Jesus, morto já para esta vida mortal, tem sido a imagem viva daquele amor espontâneo com que Deus entregou seu Unigênito pela redenção dos homens, e com o qual Cristo nos amou a todos tão ardentemente que a si mesmo se imolou como hóstia cruenta no Calvário: «Cristo amou-nos e ofereceu-se a Deus em oblação e hóstia de odor suavíssimo» (Ef 5, 2).



A missão do Espírito Santo junto aos discípulos é o primeiro e esplêndido sinal do seu amor munificente, depois da sua subida triunfal à direita do Pai. Aos dez dias, o Espírito Paráclito, dado pelo Pai celestial, baixou sobre eles, reunidos no cenáculo, segundo a promessa que ele lhes fizera na última ceia: «Rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador para estar convosco eternamente» (Jo 14, 16). O qual Espírito Paráclito, sendo, como é, o amor mútuo pessoal com que o Pai ama o Filho e o Filho ama o Pai, por ambos é enviado, e, sob forma de línguas de fogo, infunde na alma dos discípulos a abundância da caridade divina e dos demais carismas celestes. Esta infusão da caridade divina brotou também do Coração de nosso Salvador, «no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Cl 2, 3). Essa caridade é, portanto, dom do Coração de Jesus e do seu Espírito. A esse comum Espírito do Pai e do Filho deve-se o nascimento e a propagação admirável da Igreja no meio de todos os povos pagãos, contaminados pela idolatria, pelo ódio fraterno, pela corrupção de costumes e pela violência. Foi essa divina caridade, dom preciosíssimo do Coração de Cristo e do seu Espírito, que deu aos Apóstolos e aos Mártires aquela fortaleza com que eles lutaram até uma morte heroica, para pregarem a verdade evangélica e testemunhá-la com o seu sangue; foi ela que deu aos Doutores da Igreja aquele zelo intenso por ilustrar e defender a Fé Católica; foi ela que alimentou as virtudes nos confessores e os excitou a levarem a cabo obras admiráveis e úteis, para a própria santificação, para a salvação eterna e temporal do próximo; e, finalmente, foi ela que persuadiu as virgens a espontânea e alegremente renunciarem aos gozos dos sentidos e se consagrarem inteiramente ao amor do esposo celeste. A essa divina caridade, que transborda do Coração do Verbo Encarnado e por obra do Espírito Santo se difunde nas almas de todos os crentes, o Apóstolo das gentes entoou aquele hino de vitória que exalta a um tempo o triunfo de Jesus Cristo cabeça e o triunfo dos membros do seu corpo místico, sobre todos quantos de algum modo obstam ao estabelecimento do reino divino de amor entre os homens: «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação? Ou a angústia? Ou a fome? Ou a nudez? Ou o risco? Ou a perseguição? Ou o cutelo?... Por meio de todas essas coisas triunfamos por virtude daquele que nos amou. Pelo qual estou seguro de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem outra criatura, poderá jamais separar-nos do amor de Deus que se funda em Jesus Cristo nosso Senhor.» (Rm 8,35.37-39).

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.




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1 Foi proclamado “Venerável” pelo Papa Bento XVI, no dia 19 de Setembro de 2009, reconhecendo as virtudes heroicas do Servo de Deus.

3 De sancta virginitate, VI; PL 40, 399.

4 cf. s. Tomás, Summa theol., III, q.19, a. l; ed. Leon., t. XI,1903, p. 329.

5 Summa theol., Suppl., q. 42, a. l até 3; ed. Leon., t. XII,1906, p. 81.

6 Hino das Vésp. da Festa do Sagrado Coração de Jesus.

7 Summa theol, III, q. 66, a. 3, ed. Leon., t. XII,1906, p. 65.

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