HORA
SANTA DO MÊS DE JULHO
(por
Santo Afonso de Ligório)
Aparição do Sagrado Coração a Santa Margarida M. Alacoque |
CORAÇÃO
DE JESUS AFLIGIDO POR CAUSA DOS ESCÂNDALOS
DO MUNDO
Uma
das principais fontes da aflição do Coração de
Jesus, no Jardim de Getsêmani, foi a previsão dos escândalos que
não cessariam de lhe roubar as almas até o fim
do mundo.
Sem dificuldade o compreendereis, caro leitor, se considerais quanto
as almas lhe são caras.
Deus criou a alma à sua
imagem e semelhança. As outras criaturas foram criadas por um fiat
(Faça-se),
um sinal de
sua vontade, mas a
alma é
como emanada de seu sopro
divino
(Gn 2,7). Deus a amou desde toda eternidade (Gn 15,1),
Ele a
destinou para reinar no céu e para participar de sua glória divina:
Eu
mesmo,
diz Ele a
toda alma, pedindo-lhe o amor, eu
mesmo serei tua recompensa infinitamente grande.
(Jr 31, 8).
Mas o que melhor
demonstra quanto o Coração de Jesus estima as almas, é o que ele
fez para resgatá-las, para retirá-las do abismo da perdição em
que o pecado as tinha precipitado.
Uma coisa, com efeito, é
estimada pelo preço que um homem prudente quer dar por ela: se,
então, Jesus Cristo derramou seu sangue pelas almas, devemos dizer
que as almas valem o sangue de um Deus. O
que mais
comovia a São Paulo e o abrasava no amor para com Jesus, era o
pensamento de que Ele tinha querido morrer não somente por todos os
homens em geral, mas ainda por ele em particular: Ele
me amou,
dizia S.
Paulo todo arrebatado, e
entregou-se
por mim!
(Gl 2,20)
Esta
palavra, cada um de nós pode repeti-la depois dele, porque S. João
Crisóstomo afirma que Deus
ama tanto cada homem em
particular
como o mundo inteiro.
Assim cada
um de
nós não têm menos obrigação para com Jesus Cristo por ter
padecido por todos do que se Ele houvesse padecido somente por um de
nós. E
quem
poderá jamais,
pergunta S.
Lourenço Justiniano, explicar
o amor que o Coração de
Jesus tem a
cada um de nós? Este amor excede o de um filhinho para com sua mãe,
e desta
para com seu filho; é
tal que, segundo uma revelação feita a Santa Brígida, o
Senhor
estaria pronto a morrer tantas vezes como há
de
almas condenadas,
se elas
ainda fossem capazes de redenção.
Eis aí como Jesus Cristo
ama as almas! Julgai por aí que profunda aflição Ele sentiu no
Jardim das Oliveiras, vendo os males que os homens escandalosos não
cessariam de fazer até o fim do mundo, a tantas almas pelas quais
Ele sacrificaria sua vida. S. Leão não temia chamar homicida
aquele que
dá escândalo; sim, é um homicida muito cruel e ímpio que outro
qualquer, porque arranca a vida, não a do corpo, mas da alma, que é
infinitamente mais preciosa que o corpo; e por este meio, faz perder
ao Salvador todas as lágrimas, todos os padecimentos, todos os
trabalhos que lhe custaram para resgatá-la. Também S. Paulo dizia
que aquele
que faz
cair seu
irmão no pecado pelo mau exemplo, peca contra Jesus Cristo mesmo. (1
Cor 8,12) Ai!
Exclama gemendo Santo Ambrósio, aquele
que ocasiona a
perda
de uma alma, rouba ao Salvador o fruto de trinta e três anos de
penas e fadigas!
Isto é
o que
tornou tão dolorosa a agonia de Jesus no Jardim, isto o que lhe
arrancou do Coração esta angustiosa queixa: que
me aproveita ir derramar meu
sangue,
pois tantos homens, por seus escândalos, tornarão minha Paixão
inútil
para
eles e para os outros?
Em resumo,
o que os algozes fizeram o corpo sagrado do Salvador padecer quando o
crucificaram, os escandalosos o fazem sofrer no Sagrado Coração,
arrancando-lhe as almas mais preciosas para Ele que sua vida mesma.
Sim, diz
S. Bernardo, os
escandalosos fazem a Jesus uma perseguição mais cruel do que
aqueles que o crucificaram.
Ah! Não aumentemos o
numero desses assassinos de almas, destes ímpios perseguidores do
Coração de Jesus. Evitemos, com cuidado, não somente as ações
más em si, mas ainda, como quer S. Paulo, o
que não
tem senão a aparência do mal.
(1 Ts 5,22)
Desenvolvendo
a mesma doutrina, o Apostolo nos ensina, noutro lugar, que devemos,
algumas vezes, abster-nos de certas coisas permitidas, com
medo de que
sejam pedra de escândalo para as almas fracas.
(1 Cor 8,9)
Deve-se
também velar com muita atenção para não repetir certas máximas
do mundo, como:
é
preciso gozar a vida presente; – feliz aquele que têm riquezas,
etc. …
Que
escândalo ainda não seria louvar a quem faz o mal, por exemplo, a
um homem que se vinga, que mantém relações criminosas, que faz
leituras levianas e pouco cristãs
? Enfim,
se um teve
a desgraça de dar, no passado, algum escândalo, saiba que tem
obrigação
grave de reparar pelos bons exemplos o
mal que
fez. Isto é uma satisfação que exige o Coração amargurado de
Jesus.
PRÁTICA
Eu quero, durante esta
Hora Santa, chorar com Jesus Cristo os escândalos que causam a ruína
de tantas almas, e buscar em mim mesmo os meios eficazes para os
remediar, quanto puder.
AFETOS
E SÚPLICAS
Ah! Meu Jesus, eu mesmo
sou um dos desgraçados cujos maus exemplos têm saturado de
amarguras vosso Sagrado Coração. Dizei-me, como pudestes sofrer
tanto por mim, prevendo as injúrias que eu vos haveria de fazer? Mas
já que
me suportastes até agora, não cessando de querer minha salvação,
dai-me agora grande dor de meus pecados, dor igual à minha
ingratidão. Senhor, detesto do íntimo do coração os desgostos que
vos causei; se, no passado, desprezei vossa graça, no presente a
estimo mais que todos os reinos da terra. Eu vos amo de toda a minha
alma, ó Deus digno de amor infinito, e não desejo viver senão para
vos amar; dai-me, Jesus, mais amor; recordai-me sempre o amor que me
tendes, a fim
de que meu
coração arda sem cessar por vós, como o vosso Coração arde por
mim.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Coração de Jesus,
ardente de amor para com as almas, dai-me a graça de reparar o mal
que fiz.
EXEMPLO
«Para a
reparação
é que
eu fui posto no mundo, e morro por ela.» Estas palavras são da Irmã
Maria de S. Pedro, e nos revelam sua vida e sua missão. Sua infância
foi toda angélica. No dia de sua primeira comunhão ela fez a Jesus
Cristo, de seu coração e de todo o seu ser, doação eterna. Poucos
anos depois, o divino Mestre lhe disse: «Eu te quero no Carmo de
Tours.» Sua morada espiritual era o Sagrado Coração de Jesus:
nesta fornalha ardente é que ela recebeu tantas luzes para si e para
os outros. Jesus lhe comunicou muitas vezes os mais íntimos segredos
de seu adorável Coração. Desde o ano de 1843,
Deus lhe
concedeu favores extraordinários, e anunciou-lhe que sua justiça
estava irritada por causa dos pecados dos homens. Estimulada pela
graça, ela se ofereceu a
Deus para
aplacar sua ira; então o Senhor lhe inspirou, como poderoso meio de
a desarmar, a
fundação
de uma associação reparadora. Ela viu no Sagrado Coração de Jesus
o desejo que Ele tem de fazer misericórdia, não pondo como condição
senão a reparação dos ultrajes feitos a seu divino Pai, e recebeu
vivas luzes a respeito da Santa
Face do
Salvador, que devia ser o objeto sensível da reparação, como o
Coração de Jesus é o objeto material de seu amor para com os
homens.
«Eu vos darei minha
face, tinha-lhe dito Jesus, e quando a puserdes ante os olhos de meu
Pai, minha boca se abrirá para pleitear vossa causa.» Jesus lhe fez
então esta promessa: Porque
tendes honrado minha face coberta de chagas pelos pecadores,
renovarei em vós, na hora da morte, a imagem de Deus, e todos
aqueles que contemplarem sobre a terra as chagas da minha face, verão
um dia raiando de glória no céu.
Certo dia, depois da
Missa, ela correu a
lançar-se
aos pés de sua superiora, e disse-lhe:
«Nosso Senhor acaba de me dar ordem de dizer e fazer dizer quantas
vezes puder, a invocação seguinte referente ao grande crime de
blasfêmias: Louvado,
bendito, amado, adorado, glorificado seja sempre o santíssimo,
sacratíssimo, adorabilíssimo, desconhecido, inefável nome de Deus,
no céu, na terra, nos infernos, por todas as criaturas saídas das
mãos
de Deus, e pelo Sagrado Coração de
Jesus,
no Santíssimo Sacramento do altar.»
Pouco
depois, a irmã Dubouchet, tornada Madre Maria Theresa, fundou em
Paris a Obra
Reparadora, com
adoração do Santíssimo Sacramento, dia e noite. O berço da obra
foi a capela dos Carmelitas, rua Saint-Jacques. Foi nesta época que
alguns cristãos animados de fé viva, testemunhas do que se
praticava na capela dos Carmelitas, conceberam o pensamento de se
reunirem para prestarem homenagem a Nosso Senhor durante a noite, no
Sacramento de seu amor. Assim a Obra reparadora gerou a Adoração
noturna.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 244-249 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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