PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JULHO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Sagrado Coração de Jesus Luigi Galizzi (1873-1875). Bérgamo-Itália |
CORAÇÃO
DE JESUS, MODELO DE HUMILDADE
Oh!
Quanto é bela a alma ornada da virtude da
humildade! O humilde de coração, nos diz
S. Paulino,
torna-se o Coração de Jesus Cristo mesmo: Humilis
corde Cor Christi est.
E por quê?
Porque a humildade nos une ao Coração de Jesus Cristo, que é a
humildade mesma, como ele nos ensina por sua própria boca: Aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração
(Mt 11,29). Antes
de Jesus Cristo, esta bela virtude
era pouco conhecida e pouco estimada, ou antes era aborrecida sobre a
terra; por toda a
parte
reinava o maldito orgulho, que causou a desgraça de Adão e de todo
o gênero humano; por isso o Filho de Deus veio do céu para nos
ensinar, não somente por sua palavra, mais ainda por seu exemplo; a
este fim,
ele se
humilhou
até
fazer-se homem, tomando
a forma de servo
(Fl 2,7). Ele
quis até, entre os homens, ser tratado como objeto
de desprezo e
como o último
de todos, conforme
o que disse Isaías (Is 53,3). Com efeito, em Belém, nós o vemos
nascido num presépio e deitado numa manjedoura; em Nazaré, vemo-lo
desconhecido
e pobre numa oficina, fazendo o ofício de servo de um pobre artesão.
Vemo-lo, finalmente, em Jerusalém, flagelado como escravo,
esbofeteado como um homem vil,
coroado
como rei de teatro e crucificado como criminoso. Escutemos agora, o
que ele nos recomenda: Dei-vos
o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais vós
(Jo 13,15). Como
se dissesse: Meus filhos, se abracei todas estas ignomínias, é
para que,
seguindo meu exemplo, não as desdenheis.
Santo Agostinho, falando
da humildade de Jesus Cristo, diz que, se
tal remédio não nos cura de
nosso
orgulho, difícil será achar-se outro meio de
nos
livrarmos dele.
Eis aqui o
que o mesmo santo escrevia a um amigo: Se
quereis saber qual é
a virtude
principal, que nos cumpre praticar para
nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo, e a mais eficaz para nos
unir a Deus, dir-vos-ei que é
primeiramente
a humildade, em segundo lugar a humildade, em terceiro lugar a
humildade; interrogai-me quantas vezes quiserdes, sempre tereis a
mesma resposta.
A humildade de espírito
consiste em nos julgarmos dignos de desprezo; mas a humildade de
coração consiste em desejarmos ser desprezados pelos outros e nos
comprazermos nas humilhações. Esta é
propriamente
a humildade que Jesus Cristo veio nos ensinar por seu exemplo, quando
disse: Aprendei
de mim, que sou manso e humilde
de
coração.
Muitas
pessoas são humildes de boca, sem o serem de coração;
há,
diz S.
Gregório, pessoas
que
se
declaram criminosas, dignas de todos os suplícios, mas
que
não creem no que dizem; porque, se alguém as repreende, logo
se
amofinam, e sustentam que não têm a falta que lhe é imputada,
não deram
escândalo nenhum, valem mais do que muitas outras a quem não
repreendem, etc. Esta humildade é só de boca; não é a humildade
recomendada e praticada por Jesus Cristo, isto é, a humildade de
coração. A
humildade,
dizia S.
Vicente de Paulo, parece
bela em especulação, mas
na
prática é
horrível,
porque consiste em amar os abatimentos e desprezos.
Conforme S.
Francisco Xavier, o
amor pelas honras é
coisa
indigna de
todo
cristão, que deve ter sem cessar diante dos olhos as ignomínias de
Jesus Cristo; quanto
mais indigno é esse amor da alma que se diz discípula do Coração
infinitamente humilde de Jesus Cristo! Se
queremos, pois, santificar-nos, apreciaremos, segundo o conselho de
S. Boaventura, viver
ignorados e sermos tidos em nada.
PRÁTICA
Evitarei falar em meu
louvor; se outros me louvam, humilhar-me-ei interiormente lançando
um olhar sobre minhas faltas e dizendo: Eu só valho aquilo que sou
diante de Deus. Quando delinquir neste ponto, pedirei logo perdão ao
Coração tão humilde de Jesus. Direi muitas vezes esta bela
jaculatória:
Jesus, manso e humilde
de Coração, fazei meu coração semelhante ao vosso.
(300
dias de
indulgência dita uma vez
por dia –
25 de
Janeiro de 1868)
AFETOS
E SÚPLICAS
Ó Coração
humilíssimo de Jesus, que, por amor de mim, quisestes ser obediente
ate a morte de cruz, como ouso aparecer ante vós
e dizer-me
discípulo vosso, eu, tão grande pecador, e contudo tão orgulhoso,
que não posso suportar um desprezo sem ressentimento? Donde me vem
esse orgulho, se, por meus pecados, tenho merecido tantas vezes ser
calcado aos pés do demônio nos infernos? Ó Coração divino,
abeberado de tantos desprezos, fazei que eu me
torne
semelhante a vós. Sinceramente desejo mudar meu modo de proceder;
por meu amor sofrestes todos os opróbrios; quero por vosso amor
suportar todas as injúrias. Meu divino Redentor, pelo fato de
abraçardes as humilhações com tanto amor durante vossa vida, vós
as tornastes tão honrosas e desejáveis que eu, de agora em diante,
ponha toda a minha glória em sofrer convosco e por vós: Longe
de mim o pensamento de
buscar
minha glória em
outra
coisa fora da cruz
de
Nosso Senhor Jesus Cristo
(Gl 6,14).
Ó humilíssima
Maria, Rainha do céu e Mãe de Deus, em todas as coisas e
especialmente nos padecimentos, adquiristes a mais perfeita
semelhança com vosso divino Filho, obtende-me a graça de suportar
com resignação todos os ultrajes que me forem feitos no futuro.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Coração sagrado de
Jesus, tende compaixão de mim. (100
dias de indulgência para. os membros do Apostolado da Oração –
26 de
Junho de 1867)
EXEMPLO
A bem-aventurada Germana
Cousin tinha apenas 22
anos quando
morreu em 1601.
Sua vida
nos mostra que se pode adquirir a santificação em todos os estados
(de vida) e em qualquer idade, mas não sem o sofrimento, que é
o caminho
real da santidade. Aos cinco anos ela perdeu sua mãe. Tendo seu pai
contraído novas núpcias, viu-se Cousin sob o jugo de uma cruel
madrasta, cujo
capricho era obrigar a menina a trabalhar acima de suas forças.
Germana, tão estimada de sua mãe, achou duríssima sua nova
situação. Também não cessava de chorar; mas pouco a pouco se
acostumou a sofrer em silêncio, e a buscar somente na oração e no
amor de Jesus e de Maria a consolação e a força de que tinha
necessidade nas suas dores. Depois de sua primeira comunhão, sua
madrasta, para tê-la longe de sua companhia, decidiu empregá-la na
guarda do rebanho. Germana aceitou o cargo sem murmurar. Todas as
manhãs, depois de ter recebido um duro pedaço de pão, e tomando lã
para fiar, dirigia-se com seu rebanho para um pequeno vale. Lá,
sob um
velho carvalho, trabalhando ou ajoelhada, ela não cessava de orar.
Em certas
horas, falava de Deus às meninas da aldeia que eram atraídas por
sua doçura, e quando acontecia passar um mendigo, ela dividia com
ele seu pão. Quando, ao anoitecer, recolhia-se do campo para a casa,
não lhe era permitido aproximar-se do fogão nem da mesa,
protestando a madrasta que Germana tinha uma enfermidade que podia
passar aos outros meninos; para repousar, destinou-lhe a madrasta um
leito de sarmento colocado sob uma escada, numa galeria aberta a
todos os ventos. Entretanto,
nunca fez ouvir uma queixa. Cada domingo, ela se aproximava
devotamente da santa mesa e ficava todo o dia na igreja, perto do
Coração do seu Amado. Durante a semana, quando ouvia o sino chamar
os fieis para o santo sacrifício da Missa, Germana ardia em desejo
de assistir a ele e se unir assim mais intimamente ao Coração de
Jesus, sacerdote e vítima. Mas seu dever a retinha perto do seu
rebanho.
Um dia, enfim, inspirada
pelo alto, ela chama seus cordeiros e ovelhas, planta sua roca no
meio deles, recomenda-os aos anjos, e vai tranquilamente à Missa. Ao
voltar, encontra o rebanho pacificamente deitado em torno da roca,
como o tinha deixado. Desde então, ela não se privou mais da
felicidade de assistir ao santo sacrifício.
Cada dia, quando o sino
tocava, ela fincava a roca no chão, e os animais dóceis vinham se
colocar em torno dela; e embora a floresta vizinha fosse povoada de
lobos, nunca faltou-lhe ovelha nem cordeirinho. Para ir à igreja,
era preciso atravessar um arroio, que as cheias convertiam em
torrentes impetuosas; mas quando Germana tinha de passar, as águas
se dividiam, e assim passava para o outro lado sem se molhar.
Entretanto, o coração da madrasta não mudava em relação a ela.
Um dia em que Germana saía de casa, levando em seu avental alguns
pedaços de pão já abandonados, a madrasta, crendo-se roubada,
pôs-se à sua perseguição, furiosa, tendo na mão um bastão,
ordenou-lhe abrir o avental diante de todos os que tinham se reunido
ao redor dela. Germana obedeceu: ó prodígio! O pão tinha
desaparecido, e do avental só caíram flores perfumadas e que
pareciam colhidas naquele momento; era, entretanto, rigoroso inverno.
Este milagre fez a madrasta cair em si, mas Germana estava madura
para o céu; acharam-na morta certa manhã sobre seu leito de
sarmento.
Dois religiosos viram coros de virgens vindas do céu, para
acompanharem sua Irmã no glorioso triunfo com que Deus lhe
remunerava os merecimentos.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 331-337 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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