A ATUALIDADE DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. REMÉDIO CONTRA OS MALES DA VIDA PRESENTE
Já
tem mais de três séculos de existência entre nós a
devoção ao Coração de Jesus, mas nunca foi de tanta atualidade
como na hora presente.1
Esta
devoção é
um
remédio e o remédio supõe um mal, o mal estar geral da sociedade
moderna.
É
lei geral da Providência acomodar às necessidades dos tempos as
instituições que inspira e suscita. Pode dizer-se que a história
da Igreja não é
senão
a execução desta lei admirável.
Se
a devoção ao Coração de Jesus nos foi dada «como
remédio aos males dos últimos tempos»,
se estamos em plena era do Coração de Jesus, grande correspondência
a de existir entre esta devoção e aqueles males.
Na
verdade, estudando a índole e caracteres desta devoção e as
necessidades modernas, descobre-se logo entre eles a mesma relação
existente entre o remédio e a doença, entre o veneno e o antídoto.
Qual
é o espirito e o mal dos nossos tempos?
Qual
é
o
espirito e o fruto da devoção ao Coração de Jesus?
Vejamos
no seguinte esquema de Costa Rosetti.
ÍNDOLE
E CRIMES CARACTERÍSTICOS DO NOSSO TEMPO
|
ESPÍRITO
E FRUTOS DO CULTO AO
SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS
|
1.
Apostasia, renegação de Cristo.
|
1.
Estreita união com Cristo.
|
2.
Infidelidade total e cada dia mais alastrada.
|
2.
Fé viva, fomentada pela caridade do Sagrado Coração.
|
3.
Desesperança e pessimismo: desesperação causada pelas
calamidades sociais e pela miséria geral; frequente prática de
suicídio.
|
3.
Renovação da esperança, aumentada pela consideração da
clemência e infinita misericórdia do Sagrado Coração.
|
4.
Esfriamento da caridade para com Deus e Cristo: indiferentismo.
|
4.
Caridade acesa pelo Coração inflamado de Jesus; afervoramento da
vida cristã.
|
5.
Esmorecimento da vida católica com manifesto definhamento; a
tibieza e oscilante claudicação própria do liberalismo.
|
5.
Florescência da vida católica, visível, manifesta; frequência
aos Sacramentos; vigorosas associações católicas, opostas ao
liberalismo.
|
6.
Opressão da Igreja, disfarçada ou descarada; indiferença ou
hostilidade para com o Sumo Pontífice.
|
6.
Amor ao Vigário de Jesus Cristo; defesa enérgica dos direitos da
santa Igreja, esposa de Cristo.
|
7.
Materialismo teórico ou prático.
|
7.
Desejo aos bens suprassensíveis e sobrenaturais, provocado pelas
labaredas de amor do Sagrado Coração.
|
8.
Concupiscência, volúpia, fastio dos bens celestes.
|
8.
Lembrança e mais frequência à Comunhão eucarística.
|
9.
Sórdida cobiça de bens terrenos; ausência de caridade, egoísmo
na economia particular e pública; apropriação de bens dos mais
opulentos aos menos abastados até a miséria.
|
9.
Abnegação caridosa a bem do próximo, aurida no Coração de
Deus atravessado (pela lança), cercado de espinhos e coroado pela
cruz.
|
10.
Rivalidades sociais e discórdias violentas: questões operárias,
questões agrárias …2
|
10.
Solução pacífica das questões sociais, quando todos vão beber
na fonte do Sagrado Coração os sentimentos de abnegação,
justiça recíproca e legal, o seu inesgotável amor.
|
11.
O socialismo apaixonado e o comunismo cada vez mais voraz e
insaciável.
|
11.
Socialismo e comunismo debelados com reformas sociais, inspiradas
pela justiça e caridade do Sagrado Coração.
|
12.
O relaxamento e a decomposição da família e da sociedade
promovidas por um liberalismo e relativismo desmedidos, em escolas
e outros ambientes sociais.3
|
12.
A ação conservadora da doutrina católica, apropriada ao
verdadeiro progresso, que há de sanar todos os males sociais com
a virtude regeneradora do divino Coração.
|
Hoje,
como no tempo de S.
Agostinho,
como sempre, o mundo está dividido em duas grandes cidades ou reinos
– a cidade de Deus, o reino da luz, e a cidade do erro, o reino das
trevas e de Lúcifer.
As
grandes lutas e combates no mundo se travam todos em volta de Jesus.
Os
partidos intermediários e as outras lutas são pequenas coisas em
comparação à eterna luta, que divide o mundo naqueles dois grandes
reinos.
Não
queremos que Jesus reine sobre nós! nolumus
hunc regnare super nos,
exclamam
hoje com mais furor do que no tempo de Pilatos os blasfemos filhos do
erro.
É
necessário que Ele reine,
e
há de reinar sobre todos! oportet
illum regnare,
repetem,
por sua parte, com S.
Paulo,
os filhos da verdade.
Reinar
ou não reinar Jesus no mundo, eis a
eterna
luta que divide irreconciliavelmente os homens, eis a vida ou a morte
da sociedade.
É
o
amor em luta aberta com o ódio.
O
grande mal dos nossos tempos não é a pobreza – nunca os recursos
foram tantos e tão divididos como hoje; não é
a
ignorância – a ciência barateou-se e está ao alcance de todos –;
o grande mal, que a todos resume, é o ódio, é
o
egoísmo desta sociedade sem fé.
Quando
não há fé nem Deus, o amor é
impossível,
e sem amor a sociedade é
um
covil de feras, é o pleno reinado do egoísmo, cada um vive para si.
Então o amor ao próximo é
uma
mentira. O
egoísta
sem fé nunca chega a ter a noção do amor; quando dá mostras de
amar, é a si que ele ama, é
o
seu interesse que procura sempre. E
se
o próximo o contraria, afasta-o, persegue-o, mata-o. E sai da ordem
individual e se apodera da força e faz as leis e as leis são a
divinização da matéria, a glorificação das paixões.
Esta
é a grande aspiração do reino das trevas, hoje principalmente
concretizado na maçonaria (no relativismo, na exploração do homem
pelo homem … no secularismo), na igreja internacional do ódio.
É
no
meio desta sociedade pervertida e desnorteada que se levanta o
Coração de Jesus com o seu reino do amor, para fazer recuar o ódio.
O
amor
é
a
vida, é
o
sangue e a seiva da sociedade; é o homem que sai para fora de si
mesmo, que
esquece
os seus interesses, domina os seus maus instintos, vive para os
outros, sacrifica-se por eles, dá-lhes o que tem, e
até
a própria vida.
Esta
dedicação e este amor não veio, não podia vir da terra: é
a lição
que o Coração de Jesus constantemente prega aos homens.
Admiravelmente
grandiosa é a ideia que Santa Margarida4
nos dá do Coração de Jesus: «É
o
Santo dos santos, o Santo do amor, que desejava ser conhecido, para
ser o Mediador
entre
Deus e os homens; porque é
onipotente
para fazer
as
pazes, afastando os castigos que os nossos pecados provocam, e para
nos alcançar misericórdia.»
Esta
ideia de mediações,
ou
melhor, de nova ou segunda mediação
entre Deus e os homens aparece com, frequência nos escritos de Santa
Margarida: «É
o último esforço»
do seu amor, «uma
redenção amorosa», «uma nova efusão do amor de Deus de
todos os tesouros de amor, de graça, santificação e salvação que
possui».
É
verdade que Deus já tinha dado tudo, quando deu seu Filho e o Filho
consumou a doação de si na Encarnação, na Redenção e na
Eucaristia: – parece que não podia dar mais; mas deu: a nova
declaração de amor que fez aos homens nas revelações de Paray com
tais extremos de bondade e misericórdia são um chamamento paternal,
um apelo divinamente apaixonado às infinitas ternuras do seu amor.
Como
a Eucaristia é
um
resumo de todas as obras de Deus e encerrando todas as manifestações
de seu amor, constitui a mais excelente e admirável de todas, assim
o Coração de Jesus, dando-nos no amor que simboliza e encerra a
razão da Eucaristia e de todas as obras de Deus, constitui um novo
dom, uma declaração nova do seu amor, um chamamento mais íntimo,
um novo descer e caminhar para os homens, oferecendo-lhes o perdão,
a vida, o amor e a glória.
Oh!
Como é
belo
este descer de Jesus, este aparecer aos homens com o Coração nas
mãos a escorrer sangue e a lhes pedir o retorno do seu amor
infinito! As revelações de Paray abriram uma nova era na história
do amor de Deus e hoje estamos em pleno esplendor desta era bendita.
☞ NOTA
DO BLOG:
Fizemos pouquíssimas alterações no texto original, mantendo-o
quase íntegro, apenas adaptando-o para o tempo presente, que parece
renovar os mesmos vícios e males da época que foi escrita esta
magnífica obra.
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FONTE: livro, em formato PDF, “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Introdução III - excertos do texto do Pe. Joaquim dos Santos Abranches, Lisboa 15.08.1907 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil. O título é nosso.
1 No
original: “Já tem quase dois séculos de existência entre nós a
devoção ao Coração de Jesus, mas nunca foi de tanta actualidade
como na hora presente.”
2 No
original: “Rivalidades sociaes e discordias acerbissimas: a
questão operaria, a questão agraria, libertação civil e
franquias populares.”
3 No
original: “A
relaxação,
a lenta decomposição da família e da sociedade, operada pelo
liberalismo por meio das escolas emancipadas da religião e
dos
inumeráveis ardis dos pedreiros livres.”
4 No
original: “Beata Margarida”, pois, à época que foi escrito,
ainda não tinha sido canonizada, o que só ocorreu em 1920, pelo
Papa Bento XV.
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