«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

HORA SANTA DO MÊS DE JUNHO
(por Santo Afonso de Ligório)


"Aqui está o coração que tanto amou os homens"
(postal francês)
CORAÇÃO DE JESUS, AFLIGIDO POR CAUSA DOS PECADOS DO MUNDO


Parece que o Coração de Jesus nos convida ao pio exercício da Hora Santa por estas palavras do profeta Jeremias: Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai-me e vede se dor igual à minha dor. Para conceber toda a extensão e intensidade dessa aflição, é necessário que meditemos: de um lado o amor que nos tinha o Coração de Jesus desejoso de nos salvar a todo preço, do outro, o horror que ele tinha do pecado, causa de nossa perdição. Seria muito, alma fiel, consagrar cada mês uma hora a esta meditação tão salutar?

Jesus trazia todos os homens no seu Coração, porque ele amava a todos. Mas sendo eles todos pecadores, que eram para o Coração amante de Jesus, senão cruéis espinhos que o dilaceravam segundo o pensamento de Santo Agostinho? É, portanto verdade que nós temos sido os algozes desse Coração amabilíssimo, e algozes mais cruéis do que aqueles que rasgaram o corpo do Salvador.

Com efeito, procurai no Jardim das Oliveiras, e não achareis nem algozes para o flagelar, nem espinhos, nem cravos, e entretanto o sangue divino corre. Ele teve, diz S. Lucas, um suor de sangue que corria na terra em forma de gotas de chuva (Lc 22,44). Qual pode ser a causa deste suor? É a previsão de seu suplício que o lança nessas agonias? Não, porque ele se ofereceu espontaneamente para padecê-lo. (Is 58,7) Ah! Não busquemos outra causa que os nossos pecados. Da mesma sorte que o lagar faz correr o vinho da uva, assim nossos pecados fizeram correr o sangue das veias sagradas de Jesus Cristo. Quantas vezes não temos contribuído para esta aflição aumentando o peso de nossas faltas? Ah! Pesemos aqui a malícia do pecado, a fim de maldizer para sempre o que tanto afligiu o Coração deste bom Senhor.

O pecador aflige o Coração de Jesus, porque desonra a Deus. (Rm 2,23) cuja gloria o Salvador veio restabelecer. Não renuncia, com efeito, à graça santificante e a amizade divina por uma indigna satisfação? Se o homem consentisse em perder a amizade divina para ganhar um reino, e até o mundo inteiro, certamente faria imenso mal, porque a amizade de Deus vale mais que o mundo e mil mundos. Mas por que o pecador ofende a Deus? Por um pouco de terra, por um movimento de cólera, por um prazer brutal, por um fumo, por um capricho. Quando o pecador se põe a deliberar se consentirá ou não no pecado, toma, digamos assim, a balança na mão, para ver o que pesa mais, o que é preferível, a graça de Deus, ou essa paixão, esse fumo, esse prazer; quando, em seguida, dá seu consentimento, declara, quanto o pode fazer, que essa paixão, esse prazer, valem mais que a amizade de Deus! Não é isto desonrar a Deus? O pecador aflige também o Coração de Jesus, porque entrega-se ao poder do demônio, cujo império o Salvador veio destruir. Quando a alma consente no pecado, diz a Deus: Senhor, retirai-vos de mim. (Jó 21,14) Ela não o diz com a boca, mas de fato, porque sabe que Deus não pode ficar com o pecado; pecando, ela o obriga então a separar-se. E expulsando a Deus de seu Coração, faz entrar nele imediatamente o demônio para lhe tomar posse. Pela mesma porta pela qual sai Deus, entra o inimigo que vem estabelecer-se como senhor em lugar de Deus. Quando se batiza um menino, o Coração de Jesus se regozija porque o padre intima o demônio a ordem de sair dessa alma e dar o lugar ao Espírito Santo. Mas quando o homem consente no pecado, o Coração divino se aflige, porque o pecador diz a seu Deus que saia de sua alma e ceda o lugar ao demônio.

Não é isto restabelecer o império de Satanás, destruído pela Redenção? Enfim, o que aflige o Coração de Jesus, é que o pecador o obriga a pronunciar sobre sua cabeça a fatal sentença de condenação: Retira-te de mim maldito, vai para o fogo eterno. (Mt 25,41) Desgraçado daquele que rejeita as graças que Jesus Cristo lhe granjeou por tantos trabalhos e dores! Ah! Seu maior tormento no inferno, será pensar que Deus, para atraí-lo a seu amor, deu sua vida sobre uma cruz, e que ele, de seu modo próprio, quis se perder, e de modo irreparável, para sempre! ... durante toda a eternidade!... Ó eternidade! …

PRÁTICA

Oferecerei muitas vezes ao eterno Pai as aflições do Coração de Jesus, em reparação de meus pecados e de todo o mundo.

AFETOS E SÚPLICAS

Assim, meu Jesus, não foi a vista dos açoites, dos espinhos e da cruz, que vos causaram tanta aflição no Jardim de Getsêmani, foi a vista de meus pecados, cada um dos quais acabrunhou vosso Coração com tanta dor e tristeza, que vos fez suar sangue e vos reduziu à agonia. Eis aqui como respondi ao amor que me testemunhastes morrendo por mim. Ah! Dai-me parte da dor que sentistes por causa de meus pecados no Jardim das Oliveiras, a fim de que esta dor me conserve em aflição durante todo o resto de minha vida. Ó meu terno Redentor, pudesse eu agora vos consolar, por meu arrependimento e amor, tanto quanto vos tenho afligido! Do fundo da minha alma me arrependo, ó amor meu, de ter preferido a vós satisfações miseráveis: disto me arrependo, ó meu Jesus, e amo-vos sobre todas as coisas. Apesar de meus pecados, sei que me pedis meu amor: Amareis, dizeis, o Senhor vosso Deus de todo vosso Coração e de toda vossa alma. (Mt 22,37) Sim, meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, eu vos amo de toda a minha alma: dai-me vós mesmo todo o amor que de mim quereis. Se outrora procurei a mim mesmo, quero agora procurar somente a vós, conhecendo que me tendes amado mais do que os outros, quero também vos amar mais que os outros.

Atraí-me sempre, meu Jesus, atraí-me cada vez mais a vosso amor pelo odor de vossos perfumes, isto é, pelos doces atrativos de vossa graça. Dai-me, numa palavra, a força de corresponder à ternura de um Deus para com um verme da terra, ingrato e infiel. Ó Maria, Mãe de misericórdia, assisti-me com vossas orações.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Eterno Pai, perdoai-me pelos merecimentos do Coração de Jesus.

EXEMPLO

Santa Rosa de Lima teve o feliz destino de tornar-se esposa do Coração de Jesus. Um dia em que ela estava cercada de alguma de suas companheiras, veio uma borboleta, que, voando algum tempo à sua esquerda, pousou sobre seu coração. Depois de ter estado ai alguns instantes numa atividade contínua, voou, deixando na roupa da virgem donzela um coração perfeitamente desenhado. Todas as pessoas presentes notaram com surpresa esta pintura misteriosa, mas sem compreenderem sua significação. Rosa também não compreendeu. Somente ouviu uma voz que lhe dizia: Rosa, dá-me teu coração. Um dia Jesus Cristo lhe apareceu com sua divina Mãe, e disse-lhe esta palavra, a mais suave e amável que um Deus pode dirigir à sua criatura: Rosa de meu coração, sede para sempre minha esposa fiel. Para não perder a lembrança de tão grande beneficio, ela formou o desígnio de mandar fazer para si um anel nupcial. Rosa comunicou este projeto a seu irmão, sem lhe falar do que sucedera. Este bom irmão, desejando ver logo cumprida a vontade de Rosa, tirou medida no dedo dela e desenhou o anel num papel, ornando-o com um pequeno medalhão representando Jesus Cristo. Restava só tratar-se da divisa que devia cercá-lo. Rosa, com o olhar, consultava a seu irmão; este não fez esperar sua decisão: tomou a pena e escreveu estas palavras: Rosa de meu coração, sede minha esposa. Grande foi o espanto desta Santa donzela, vendo seu irmão reproduzir, sem o saber, as mesmas palavras que Jesus Cristo lhe dirigira na maravilhosa aparição com que a honrara.

Ela foi esposa fiel, porque, não obstante ficar no mundo, amou a Jesus Menino, a Jesus nos tormentos, e a Jesus na Eucaristia, de um modo superior ao que nos é possível imaginar.

Na idade de quatorze anos, ela já comungava três vezes por semana. Rosa preparava-se para o divino banquete, como se cada vez fosse a última de sua vida. «Não há neste mundo, dizia ela, prazer, nem gozo que possa dar uma ideia da alegria que sinto no delicioso festim, em que minha alma faminta come a carne de meu Deus.» Por um efeito de sua devoção para com o Santíssimo Sacramento, ela assistia cada dia a todas as Missas que se diziam na igreja dos Dominicanos. Nos dias em que havia exposição do Santíssimo, ficava em adoração desde a manhã até a tarde. Quando se nomeava o Santíssimo Sacramento na conversação, ela inclinava a cabeça; um de seus mais deliciosos prazeres era ouvir exaltado pelos pregadores este inefável mistério. Não contente de ornar os tabernáculos com flores naturais que ela cultivava no seu jardim, fazia artificiais de beleza surpreendente. Uma parte de suas noites era consagrada a esta ocupação, reservando o dia para trabalhar para sua família, que não tinha grande fortuna. A feliz esposa do Coração de Jesus deixou a terra para receber a coroa das virgens, em 1617.





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 238-243 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil)

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