HORA
SANTA DO MÊS DE JUNHO
(por
Santo Afonso de Ligório)
"Aqui está o coração que tanto amou os homens" (postal francês) |
CORAÇÃO
DE JESUS, AFLIGIDO POR CAUSA DOS PECADOS DO MUNDO
Parece
que o Coração de Jesus nos convida ao pio exercício da Hora Santa
por estas palavras do profeta Jeremias: Ó
vós
todos que passais pelo caminho, olhai-me e vede se
há
dor
igual
à minha dor.
Para
conceber toda a extensão e intensidade dessa aflição, é
necessário que meditemos: de um lado o amor que nos tinha o Coração
de Jesus desejoso de nos salvar a todo preço, do outro, o horror que
ele tinha do pecado, causa de nossa perdição. Seria muito, alma
fiel, consagrar cada mês uma hora a esta meditação tão salutar?
Jesus
trazia todos os homens no seu Coração, porque ele amava a todos.
Mas sendo eles todos pecadores, que eram para o Coração amante de
Jesus, senão cruéis
espinhos
que o
dilaceravam
segundo
o pensamento de Santo Agostinho? É,
portanto
verdade que nós temos sido os algozes desse Coração amabilíssimo,
e algozes mais cruéis do que aqueles que rasgaram o corpo do
Salvador.
Com
efeito, procurai no Jardim das Oliveiras, e não achareis nem algozes
para o flagelar, nem espinhos, nem cravos, e entretanto o sangue
divino corre. Ele
teve, diz
S. Lucas, um
suor de
sangue
que corria na terra em forma de gotas de chuva
(Lc 22,44). Qual
pode ser a causa deste suor? É
a
previsão de seu suplício que o lança nessas agonias? Não, porque
ele se ofereceu espontaneamente para padecê-lo.
(Is 58,7) Ah!
Não busquemos outra
causa que os nossos pecados. Da mesma sorte que o lagar faz correr o
vinho da uva, assim nossos pecados fizeram correr o sangue das veias
sagradas de Jesus Cristo. Quantas vezes não temos contribuído para
esta aflição aumentando o peso de nossas faltas? Ah!
Pesemos aqui a malícia do pecado, a fim
de
maldizer para sempre o que tanto afligiu o Coração deste bom
Senhor.
O
pecador aflige o Coração de Jesus, porque desonra
a Deus. (Rm 2,23)
cuja gloria o Salvador veio restabelecer. Não
renuncia, com efeito, à
graça
santificante e a
amizade
divina por uma indigna satisfação? Se o homem consentisse em perder
a amizade divina para ganhar um reino, e até o mundo inteiro,
certamente faria imenso mal, porque a amizade de Deus vale mais que o
mundo e mil
mundos.
Mas por que o pecador ofende a Deus? Por um pouco de terra, por um
movimento de cólera, por um prazer brutal, por um fumo, por um
capricho. Quando o pecador se põe a deliberar se consentirá ou não
no pecado, toma, digamos assim, a balança na mão, para ver o que
pesa mais, o que é preferível, a graça de Deus, ou essa paixão,
esse fumo, esse prazer; quando, em seguida, dá seu consentimento,
declara, quanto o pode fazer, que essa paixão, esse prazer, valem
mais que a amizade de Deus! Não é isto desonrar a Deus? O pecador
aflige também o Coração de Jesus, porque entrega-se ao poder do
demônio, cujo império o Salvador veio destruir. Quando a alma
consente no pecado, diz a Deus: Senhor,
retirai-vos de mim.
(Jó 21,14) Ela
não o diz com a
boca, mas de fato, porque sabe que Deus não pode ficar com o pecado;
pecando, ela o obriga então a separar-se. E expulsando a Deus de seu
Coração, faz entrar nele imediatamente o demônio para lhe tomar
posse. Pela mesma porta pela qual sai Deus, entra o inimigo que vem
estabelecer-se como senhor em lugar de Deus. Quando se batiza um
menino, o Coração de Jesus se regozija porque o padre intima o
demônio a ordem de sair dessa alma e dar o lugar ao Espírito Santo.
Mas quando o homem consente no pecado, o Coração divino se aflige,
porque o pecador diz a seu Deus que saia de sua alma e ceda o lugar
ao demônio.
Não
é
isto
restabelecer o império de Satanás, destruído pela Redenção?
Enfim, o que aflige o Coração de Jesus, é
que
o pecador o obriga a pronunciar sobre sua cabeça a fatal sentença
de condenação: Retira-te
de mim maldito, vai
para
o fogo eterno.
(Mt 25,41)
Desgraçado
daquele
que rejeita as graças que Jesus Cristo lhe granjeou por tantos
trabalhos e dores! Ah! Seu maior tormento no inferno, será pensar
que Deus, para atraí-lo a seu amor, deu sua vida sobre uma cruz, e
que ele, de seu modo próprio, quis se perder, e de modo irreparável,
para sempre! ... durante toda a eternidade!... Ó
eternidade!
…
PRÁTICA
Oferecerei
muitas vezes ao eterno Pai as aflições do Coração de Jesus, em
reparação de meus pecados e de todo o mundo.
AFETOS
E SÚPLICAS
Assim,
meu Jesus, não foi a vista dos açoites, dos espinhos e da cruz, que
vos causaram tanta aflição no Jardim de Getsêmani, foi a vista de
meus pecados, cada um dos quais acabrunhou vosso Coração com tanta
dor e tristeza, que vos fez suar sangue e vos reduziu à agonia. Eis
aqui como respondi ao amor que me testemunhastes morrendo por mim.
Ah! Dai-me parte da dor que sentistes por causa de meus pecados no
Jardim das Oliveiras, a fim de que esta dor me conserve em aflição
durante todo o resto de minha vida. Ó
meu
terno Redentor, pudesse eu agora vos consolar, por meu arrependimento
e amor, tanto quanto vos tenho afligido! Do fundo da minha alma me
arrependo, ó amor meu, de ter preferido a vós satisfações
miseráveis: disto me arrependo, ó meu Jesus, e amo-vos sobre todas
as coisas. Apesar de meus pecados, sei que me pedis meu amor:
Amareis,
dizeis,
o
Senhor vosso Deus de todo vosso Coração e de toda vossa alma.
(Mt 22,37) Sim,
meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração, eu vos amo de toda a
minha alma: dai-me vós mesmo todo o amor que de mim quereis. Se
outrora procurei a mim mesmo, quero agora procurar somente a vós,
conhecendo que me tendes amado mais do que os outros, quero também
vos amar mais que os outros.
Atraí-me
sempre, meu Jesus, atraí-me cada vez mais a vosso amor pelo odor de
vossos perfumes, isto é,
pelos
doces atrativos de vossa graça. Dai-me, numa palavra, a força de
corresponder à ternura de um Deus para com um verme da terra,
ingrato e infiel. Ó Maria, Mãe de misericórdia, assisti-me com
vossas orações.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Eterno
Pai, perdoai-me pelos merecimentos do Coração de Jesus.
EXEMPLO
Santa
Rosa de Lima teve o feliz destino de tornar-se esposa do Coração de
Jesus. Um dia em que ela estava cercada de alguma de suas
companheiras, veio uma borboleta, que, voando algum tempo à sua
esquerda, pousou sobre seu coração. Depois de ter estado ai alguns
instantes numa atividade contínua, voou, deixando na roupa da virgem
donzela um coração perfeitamente desenhado. Todas as pessoas
presentes notaram com surpresa esta pintura misteriosa, mas sem
compreenderem sua significação. Rosa também não compreendeu.
Somente ouviu uma voz que lhe dizia: Rosa,
dá-me teu
coração.
Um
dia Jesus Cristo lhe apareceu com sua divina Mãe, e disse-lhe esta
palavra, a mais suave e amável que um Deus pode dirigir à
sua
criatura: Rosa
de meu
coração,
sede para sempre minha esposa fiel.
Para
não perder a lembrança de tão grande beneficio, ela formou o
desígnio de mandar fazer para si um anel nupcial. Rosa comunicou
este projeto a seu irmão, sem lhe falar do que sucedera. Este bom
irmão, desejando ver logo cumprida a vontade de Rosa, tirou medida
no dedo dela e desenhou o anel num papel, ornando-o com um pequeno
medalhão representando Jesus Cristo. Restava só tratar-se da divisa
que devia cercá-lo. Rosa, com o olhar, consultava a seu irmão; este
não fez esperar sua decisão: tomou a pena e escreveu
estas palavras: Rosa
de meu coração, sede minha esposa.
Grande
foi o espanto desta Santa donzela, vendo seu irmão reproduzir, sem o
saber, as mesmas palavras que Jesus Cristo lhe dirigira na
maravilhosa aparição com que a honrara.
Ela
foi esposa fiel, porque, não obstante ficar no mundo, amou a Jesus
Menino, a Jesus nos tormentos, e a Jesus na Eucaristia, de um modo
superior ao que nos é possível imaginar.
Na
idade de quatorze anos, ela já comungava três vezes por semana.
Rosa preparava-se para o divino banquete, como se
cada
vez fosse a última de sua vida. «Não
há neste mundo, dizia ela, prazer, nem gozo que possa dar uma ideia
da alegria que sinto no delicioso festim, em que minha alma faminta
come a
carne
de meu Deus.»
Por um efeito de sua devoção para com o Santíssimo Sacramento, ela
assistia cada dia a todas as Missas que se diziam na igreja dos
Dominicanos. Nos dias em que havia exposição do Santíssimo, ficava
em adoração desde a manhã até a tarde. Quando se nomeava o
Santíssimo Sacramento na conversação, ela inclinava a cabeça; um
de seus mais deliciosos prazeres era ouvir exaltado pelos pregadores
este inefável mistério. Não contente de ornar os tabernáculos com
flores naturais que ela cultivava no seu jardim, fazia artificiais de
beleza surpreendente. Uma parte de suas noites era consagrada a esta
ocupação, reservando o dia para trabalhar para sua família, que
não tinha grande fortuna. A feliz esposa do Coração de Jesus
deixou a terra para receber a coroa das virgens, em 1617.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 238-243 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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