HORA SANTA DO MÊS DE MAIO
CORAÇÃO
AFLIGIDO DE JESUS, ABISMO INSONDÁVEL DE
DOR
Alma
fiel, eis aqui a Hora Santa! ... Voltemos a Getsêmani, e procuremos
sondar o abismo de dores em que se afunda neste momento o Coração
de Jesus. Mas que digo? Quem poderá jamais exprimir ou somente
conceber a extensão das angústias que Jesus padece, mil vezes mais
cruciantes que todos os suplícios que
o esperam em Jerusalém e sobre o Gólgota, tão violentas, numa
palavra, que bastariam para lhe tirar a vida? Minha
alma,
diz Ele,
está
triste até a morte (Mt
26:38).
Mas porquê
não morre? Ah! é
que Ele
prolonga sua vida para sacrificá-la na cruz.
É
verdade que um
anjo veio do céu para fortalecê-lo
(Lc 22:43), mas este
socorro, longe de aliviar sua pena, não faz senão aumentá-la; o
anjo reanima suas forças, para o ajudar a padecer mais tempo pela
salvação dos homens: ele o alenta representando-lhe a grandeza dos
frutos de sua Paixão, mas sem diminuir a dor dela. Também logo
depois da aparição do celeste espírito, Jesus
cai em
agonia
e seu sangue corre em
tal
abundância, que a terra fica banhada.
Eis
aqui então, ó
alma fiel,
eis aqui a mais cruel de todas as horas que o Coração de Jesus
passou na terra; eis aqui sua dor chegada ao extremo grau. À vista dos
tormentos que vão terminar sua vida, Ele fica tão espantado, que
suplica a seu Pai o livre deles: Meu
Pai, se é possível,
passe de mim este cálice!
(Mt 26:39). Entretanto,
Jesus não faz esta oração precisamente para escapar ao suplício
que o espera, pois a Ele voluntariamente se submeteu; mas quer nos
fazer entender as agonias que o torturam ao pensar em morte tão
amarga quanto aos sentidos; mas falando logo segundo o espírito,
tanto para se conformar à vontade de
seu Pai, como para nos obter a salvação, objeto dos mais ardentes
desejos do seu Coração, ajunta:
Todavia,
seja feita vossa vontade, não a minha!,
e continua
a orar e resignar-se
desta maneira durante três horas: Ele
se
pôs pela terceira vez em oração, repetindo sempre as mesmas
palavras
(Mt 26:44).
Que
abismo de aflições deve ser o inferno, pois Deus quis ser
submergido em tão insondável oceano de amarguras para nos preservar
dele! Desgraçados daqueles que forem separados para sempre d'Aquele
que tanto padeceu para lhes obter a salvação! Ah! não serão tanto
as trevas, a infecção, os gritos, o fogo, que constituirão seu
inferno; será antes a dor
de
ter perdido
a Deus. Todos
os tormentos juntos,
diz S.
Bruno, não
podem igualar esta pena.
S. João
Crisóstomo afirma que mil
infernos nada são sem comparação a este tormento.
Para nos
dar alguma ideia dele, considerai que, se alguém perde, por exemplo,
uma pedra preciosa do valor de cem escudos, experimenta grande pena;
mas se ela vale duzentos, a pena será dobrada; se quatrocentos, o
pesar crescerá em proporção; assim a
pena que
sentimos com a perda de um objeto, cresce na razão do seu valor. Ora
que bem o condenado perdeu? Um bem infinito,
que é
Deus; o pesar que esta perda lhe causa, é então de algum modo
infinito,
diz S.
Tomás.
Sobre
a terra só os servos de Deus é que avaliam esta desgraça; os
pecadores nem sequer se dão conta; vivem meses e anos longe de Deus,
e com isto não se inquietam. Por quê? Porque vivem nas trevas.
Contudo à hora da
morte, reconhecerão a grandeza do bem que por culpa sua perderam.
Aí! Aí! será então muito tarde, muito tarde para sempre!...
PRÁTICA
Quão
própria é esta consideração para me fazer estimar a Hora
Santa,
eis que por este pio e salutar exercício poderei arrancar muitas
almas ao inferno! Sim e custa fazê-la, a mim mesmo direi que é uma
hora de agonia muito branda comparada com a agonia de Jesus Cristo no
Jardim das Oliveiras; e com a agonia eterna dos réprobos no inferno.
AFETOS
E SÚPLICAS
Ó
terno, ó
amável, ó amante Coração de Jesus, vós fostes saciado
de amargura e agonizastes no Jardim das Oliveiras sem alívio algum,
e sem que ninguém visse vosso penar, ou ao menos vos consolasse
compadecendo-se de vós. Tudo isto padecestes, ó meu Jesus, a
fim de
satisfazerdes, pela agonia eterna, que eu devia padecer no inferno
por causa dos meus pecados.
Fostes
duramente abandonado e privado de todo socorro, a fim de me salvar, a
mim que tive a audácia de abandonar a Deus e lhe voltar as costas,
para contentar minhas más inclinações. Eu vos agradeço, ó
Coração amorosíssimo do meu Senhor, eu vos agradeço e me
compadeço de vossas dores, principalmente vendo que padeceis tanto
por amor dos homens, e que eles ficam insensíveis. Ó amor de
Jesus!... Ó ingratidão humana! … Ó homens,
olhai então este inocente Cordeiro, agonizando por vós, a fim
de
satisfazer a justiça de Deus pelas injúrias que lhe haveis feito;
vede-o orando e intercedendo por vós junto de seu eterno Pai; vede-o
e amai-o… Ah! Meu terno Redentor quão poucos são os que pensam
em vossas dores
e no vosso amor! Quão poucos os que vos amam!
Ah! Eu
mesmo tive a desgraça de viver muito tempo sem pensar em vós! Vós
tanto padecestes para conquistar meu amor, e eu não vos tenho amado!
Meu Jesus, perdoai-me; quero corrigir-me, quero amar-vos doravante em
diante.
Quão
desgraçado seria eu, se resistisse ainda à vossa
graça, e por esta razão me condenasse! Todas as misericórdias que
me tendes feito, e particularmente este doce convite, pelo qual
estais comigo para que vos ame! Seria meu mais cruel suplício no
inferno. Amadíssimo Jesus meu, tende compaixão de mim, não
permitais que eu ainda responda ao vosso amor com ingratidão;
esclarecei-me, e dai-me a força de vencer tudo para cumprir vossa
santa vontade. Atendei-me, eu vos suplico, pelos merecimentos de
vossa Paixão.
Ó minha cara
Mãe Maria, socorrei-me: vós já me tendes alcançado tantas graças
do Coração de Jesus! Eu vô-las agradeço, mas, se não continuais a
proteger-me, serei sempre infiel como no passado.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Ó Coração infinitamente misericordioso de Jesus, não permitais que eu seja tratado como por meus pecados mereço.
EXEMPLO
Um
menino de oito a nove anos, apascentando suas cabras numa colina de
Saint-Loup, na diocese de Poitiers, divertia-se em percorrer os Anais
da Propagação da Fé.
Um dia em
que ele lia a narração dos padecimentos e da morte do venerável
Carlos Cornay, exclamou: Eu
também
quero ir ao Tong-King,
e
ser mártir! Algum tempo
depois, conversando com seu pai, fez de repente esta reflexão: «Meu
pai, quanto pode valer este prado? - Não sei ao justo, diz o pai;
mas por quê? - Ah! se pudésseis me dar, eu o venderia para gastar o
valor com meus estudos.» O menino que falava assim, é um ilustre
mártir de Tong-King,
onde foi decapitado em 1861.
Seu nome é
Theophanes Vénard.
Lendo-se sua correspondência, é impossível não ver no piedoso
missionário a devoção mais terna para com os Corações de Jesus e
Maria. Ele escrevia do Seminário das missões estrangeiras a seus
pais: «Que importa a distância que nos separa, uma vez que somos
reunidos nos Corações de Jesus e Maria? No céu nos encontraremos!
Lá não falte ninguém! Deus nos deu um mesmo coração, dizia ele à
sua irmã. Nós nascemos para sermos unidos, para sermos uma só
alma, no céu, nos Corações de Jesus e Maria. Não vês que se a
Providencia nos separa, é porque quer nos reunir?» A seu irmão
Eusébio dizia: «Depõe muitas vezes o pensamento do teu futuro
no Coração de Jesus, Deus feito Homem, e
por algum
tempo moço: porque Jesus Cristo é
o Deus
Menino, o Deus Jovem,
o Deus Homem, o Deus de todas as idades; no Coração de Jesus, digo,
e no Coração de Maria.» Tendo sua irmã lhe comunicado que
desejava alistar-se no serviço de Nosso Senhor sob a flâmula da
virgindade, contudo, morando no mundo, ele regozijou-se com esta
notícia: «Oxalá sejam cumpridos teus desejos, escrevia-lhe;
celebra tuas núpcias, dá-lhe teu coração e tua vida, toma o
vestido nupcial, põe um anel em teu dedo, troca teu nome por outro.
Eu te saúdo, esposa virgem de Cristo Jesus! Oxalá chegue o dia de
eu saber que minha amada irmã faz parte do coro das virgens, do qual Maria Imaculada é
Rainha!».
Tendo
sua irmã se consagrado ao Senhor, o missionário lhe fez chegar este
bilhete: «Eu te felicito, mas lembra-te de que teu primeiro dever é
na família, para a família. Doçura e humildade nos Sagrados
Corações de Jesus e Maria.» Como são ternas as palavras que
escrevia de Hong-Kong a seu irmão: «Meu caro irmão, põe meu
coração no teu, põe o teu no meu, metamos ambos nos Corações de
Jesus e Maria, e assim seremos irmãos inseparáveis na vida e na
morte, na terra e na eternidade.» Vénard foi
atacado na China por uma gravíssima enfermidade dos pulmões, não
produzindo efeito os remédios, ele fez uma novena ao Coração de
Jesus e conseguiu a cura.
Vénard
não cessava de repetir a pequena oração: Jesus,
manso e humilde de Coração, compadecei-vos de nós.
Nele, isto
já era
hábito. Também quanta doçura mostrou nos ferros! «Eu beijo, dizia
ele, esta bela cadeia de ferro, verdadeiro laço da escravidão de
Jesus e Maria, que eu não trocaria por seu peso de ouro.» Tendo-lhe
o mandarim perguntado, se conservava rancor contra àquele que o
prendera, respondeu: «De modo nenhum; a religião cristã nos ensina
a amar aqueles que nos odeiam. - Pisai na cruz, disse-lhe o mandarim,
e não sereis morto. - O quê! replicou o mártir, eu preguei a
religião da cruz, e vós quereis que a abjure! Longe de mim tal
apostasia! - Meu desterro vai acabar, escrevia ele a seus pais; já
vou
chegando à
minha
verdadeira pátria; a terra foge, o céu se abre. Não lastimo perder
a vida deste mundo, meu coração tem sede das águas da vida
eterna.»
☞ NOTA:
O devoto ou devota pode – é até recomendável – acrescentar outras orações além de cânticos,
intercalando-os, a fim de completar a Hora Santa. Oportunamente,
postaremos algumas sugestões de orações para Hora Santa.
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FONTES:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 231-237 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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