«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Lyceu do Sagrado Coração de Jesus


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE MAIO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


NOSSA SENHORA DO SAGRADO CORAÇÃO, CANAL DAS GRAÇAS

Santo Afonso Maria de Ligório

Ainda que o Coração de Jesus seja o reservatório universal das graças, e a oração, o vaso destinado a recebê-las, contudo só as obteremos por intermédio da Santíssima Virgem. Lemos no Gênesis que Eliezer, servo de Abraão, chegou sequioso às bordas de um poço: Vindo Rebeca ao mesmo lugar, ele pediu-lhe de beber. Ela respondeu que de boa vontade daria a água, não somente a ele, mas também a todos os seus camelos. Maria nos é admiravelmente representada aqui sob à figura de Rebeca; quanto ao poço, não poderia ele significar o Coração de Jesus? Só a Maria pertence o cuidado de tirar as graças nesta fonte de vida eterna: precioso privilégio que lhe mereceu o nome de Nossa Senhora do Sagrado Coração.

Neste poço divino Ela pode tirar tanto quanto quiser por suas orações. Maria tem um certo direito sobre todas as graças do Coração de Jesus, diz Suarez, por sua qualidade de Mãe. Também S. Bernardo chama a Maria Onipotência suplicante: Omnipotentia supplex. Quando Ela pede, é com certa autoridade de mãe, suas orações têm alguma coisa de ordem, e é impossível que Ela não obtenha o que pede. Maria é tão poderosa, que se pode dizer, que nada existe acima do seu poder; tudo o que Ela quer, faz. Não é coisa digna do Filho de Deus honrar assim sua Mãe, pois que Ele veio, não para abolir, mas para cumprir a lei, que nos manda, entre outras coisas, honrar nossos pais? Ele quer por este meio satisfazer uma dívida de reconhecimento para com Àquela que lhe deu o ser humano. Seu amor para com Maria é tão grande, que basta que Ela fale, para ser ouvida, diz Guilherme de Paris. Santa Brígida ouviu um dia Jesus dizer a Maria: Minha Mãe, pedi o que quiserdes, não vos recusarei nada. Ó bondade admirável do Coração de Jesus! Ele se dignou nos dar por advogada Àquela que pode obter d'Ele, por suas súplicas, tudo o que quer.
Nossa Senhora do Sagrado Coração

Outra que não Rebeca teria podido dar água do poço ao servo de Abraão; mas Jesus, diz S. Bernardo, fez um decreto pelo qual Ele não quer nos conceder seus favores senão por meio de sua Mãe. Ele encheu Maria de todas as graças, a fim de que recebamos por Ela, como por um canal, todos os bens que podemos esperar. Por este canal salutar é que os dons celestes descem continuamente sobre nós. Holofernes, querendo reduzir a cidade de Betúlia, ordenou que seus aquedutos fossem cortados. Assim procede o demônio: ele se esforça o mais que pode, para conseguir que as almas percam a devoção a Maria, porque, uma vez desviado este benéfico canal, as graças do Coração de Jesus não podem mais chegar até nós. Consideremos, pois, ajunta S. Bernardo, com que afetuosa devoção Jesus quer que honremos sua Mãe, recorrendo à sua proteção, pois Ele pôs n'Ela a plenitude de todos os bens, de sorte que nenhuma graça nos vem do Coração de Jesus sem passar por Maria.

Eliezer foi feliz por ter encontrado Rebeca; mil vezes mais felizes seremos nós se achamos a Maria. Achando a Maria, achamos todos os bens, diz o abade de Celes; n'Ela temos todas as graças, todas as virtudes, pois que, por sua poderosa intercessão, do Coração de seu Filho obtemos tudo o que nos é necessário para sermos ricos dos dons celestes. Ela mesma nos diz que têm, entre suas mãos todas as riquezas do céu, isto é, as graças divinas, para as distribuir aqueles que a amam. (Pv. 8:18) Rebeca era tão boa, que, apenas o servo de Abraão falou, obteve água no mesmo instante. Quem poderá nos dizer a bondade de Maria? Não basta dizer que ela é nossa Mãe? Ah! para compreender o abismo de amor deste Coração maternal, seria preciso compreender o abismo do Coração de Jesus. Sim, é necessário conhecer o Coração de nosso Salvador, para conhecer o Coração de nossa Mãe: porque, tendo o amor tornado inseparáveis os Corações de Jesus e Maria, eles buscam, de comum acordo, nossa felicidade e salvação. Se a lembrança de nossos pecados nos separa de Deus, porque ofendemos n'Ele uma majestade infinita, aproximemo-nos de Maria, em que nada achamos de terrível. Sem dúvida, Ela é imaculada, a Rainha do universo, a Mãe de Deus; mas tem a mesma origem que nós, é filha de Adão como nós; n'Ela tudo é bondade, tudo é doçura; Ela se faz tudo para todos; por sua grande caridade, Ela se tornou devedora para com os justos e pecadores, abre a todos seu Coração cheio de misericórdia, a fim de que todos vão haurir dele. Maria tem para nós Coração de Mãe, coração formado de propósito para nos amar, coração no qual seu divino Filho derramou sua bondade, misericórdia, amor, e de alguma sorte seu Coração mesmo. E temeríamos recorrer a Ela? Mas que pode sair de uma fonte de bondade, senão bondade? diz S. Bernardo. Por isso é que ela é comparada à oliveira (Eclo 24:19) porque, se do fruto da oliveira não sai outra coisa que óleo, símbolo da misericórdia, do Coração de Maria não podem sair senão graças e misericórdias.

Mas, dirá alguém, eu sou tão grande pecador! Maria quereria ainda se interessar em meu favor? - Sim; se Rebeca se apressou a dar água aos camelos de Eliezer, que felicidade não experimenta o Coração de nossa Mãe, quando pode socorrer algum pobre pecador? Maria é chamada Rainha de misericórdia, diz S. Bernardo, porque abre o abismo de sua misericórdia (que é o Coração de seu Filho), para quem ela quer, quando quer, como quer. Nenhum pecador pode então perecer se Maria o protege. Ah! como Ela deseja salvar todos os homens, ainda os mais criminosos! Os homens me dão o nome de Mãe de misericórdia, dizia ela a Santa Brígida, e nisto vão bem: o Coração todo misericordioso de meu Filho me fez toda misericordiosa para com os pecadores. Ó clemência admirável do Coração de Jesus! Não querendo que tenhamos que temer muito a sentença que Ele deve pronunciar na nossa causa, destinou-nos uma advogada que é sua Mãe e nossa, de sorte que Ela é bastante poderosa para o dobrar, bastante compassiva para procurar salvar-nos. Oh! Que motivo de confiança! Minha salvação depende do Coração de Jesus, o mais terno dos irmãos, e do Coração de Maria, a mais amável e misericordiosa das mães!
As graças do Coração de Jesus nos vêm
pela mediação de Maria Santíssima

Que é o que Maria exige do pecador para o salvar? Uma só coisa: que a invoque com o desejo de se corrigir. Aquele que põe sua confiança n'Ela, nunca será confundido. Eu convido, nos diz Ela, todos os homens a recorrerem a mim, com paciência os espero e tenho vivo desejo de os socorrer; estou pronta sempre a lhes obter as graças, o perdão, a salvação; porque o Coração todo misericordioso de meu Filho me fez toda misericordiosa.

Confiança, pois, em Maria, diz Ubertino de Casal; se queremos achar lugar no Coração de Jesus, dirijamos-nos para Ele com esta boa Mãe. Ainda que fôssemos os maiores pecadores do mundo, Ela nos convida com o profeta Isaías a nos aproximarmos dele: Vinde, diz ela, vinde pecadores, ao Coração de meu Jesus; (Is 46:8) Ele está sempre aberto para vos receber; vinde arrependidos, e Ele vos acolherá.

PRÁTICA

Não deixarei passar sábado algum sem fazer alguma mortificação e oração especial em honra de Maria; rezarei uma Ave Maria quando o relógio dar horas; direi muitas vezes esta pequena oração que Santo Afonso costumava propagar:
Ó Virgem Maria, que fostes imaculada em vossa conceição, rogai por nós a Deus Pai cujo Filho Jesus gerastes por obra do Espirito Santo. (100 dias de Indulg. cada vez. - 21 Nov. 1793.)

AFETOS E SÚPLICAS
Ó Maria Rainha do céu e da terra, Mãe do Soberano do universo, a maior, mais elevada e mais amável das criaturas, é verdade que, na terra, muitos não têm a felicidade de vos conhecer e vos amar; mas no céu milhões de anjos e bem-aventurados vos amam e louvam sem cessar! E, ainda aqui em baixo, quantas felizes almas vivem abrasadas de amor para convosco, e todas cativas de vossa bondade! Ah! Quem me dera vos amar assim, ó minha amabilíssima Soberana, pensar continuamente em vos servir, louvar, honrar, e fazer-vos amar por todo o mundo! Vós atraístes um Deus pelos encantos de vossa beleza, e o arrancastes, digamos assim, do seio de seu Pai eterno, para se fazer homem e tornar-se vosso Filho; e eu, vermezinho desprezível, não vos amaria? Não, minha terníssima Mãe: quero vos amar, sim, quero vos amar ardentemente, e fazer tudo o que puder, para que sejais amada também dos outros. Aceitai então, ó Maria, o desejo que tenho de vos amar e ajudai-me a cumpri-lo. Sei que vosso Deus olha com agrado para aqueles que vos amam; depois da sua própria gloria, Ele nada deseja tanto como a vossa, a fim de vos ver honrada e amada de todos.

De vós, ó minha Rainha, é que espero todos os bens: a vós toca obter-me o perdão de meus pecados e a perseverança; a vós assistir-me na hora de minha morte; a vós tirar-me do purgatório; a vós, enfim, conduzir-me para o paraíso. Eis aqui até onde se estende a esperança daqueles que vos amam, e ela não é vã; tal é também minha esperança, amando-vos de todo o meu coração e sobre todas as coisas, depois de Deus.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Terno Coração de Maria, sede minha salvação.

EXEMPLO

O capitão Marceau, nascido em 1806 em Châteaudun, foi, a princípio, devasso e escandaloso; podia-se chamar-lhe, com um de seus amigos, Satanás em pessoa sobre a terra. Convertido a Deus, ele dizia um dia aos operários sem fé: «Meus amigos, já fui ímpio como vós; ninguém mais do que eu detestou o cristianismo; mas devo fazer-lhe esta justiça, enquanto não fui cristão, fui profundamente desgraçado. Até então não vivia; aquilo não era viver; eu agitava-me, ou antes minhas paixões me agitavam, arrastavam-me, mas eu não vivia. Não, eu não era homem, era coisa.» Marceau amava a verdade. Sua alma era reta, grande até. Um seu amigo o induziu a estudar a religião que ele blasfemava tanto, e Marceau aceitou o livro que lhe era apresentado. Um oficial, bom cristão, e seu amigo, notando este tratado, disse-lhe espantado: «Estudais então a religião, Marceau? Que pensais desta obra?» «É boa.» «Então sois dos nossos?» A estas palavras, Marceau corou-se. «Como, tornou o oficial, procedeis assim? Mas seria uma covardia! O que lestes, é verdadeiro ou falso; se é verdadeiro, deveis render-vos. Aqui a indiferença seria um crime contra a razão, pois a questão é tão importante, que não pôde ser dada ao desprezo.»

Um dia, Marceau disse a seu amigo: «Li, refleti e creio: estou convertido.» «Mas não basta crer, diz o oficial, é necessário praticar, orar e vencer a si próprio.» Marceau tinha esquecido o Pai Nosso e a Ave Maria. Ele se pôs a aprendê-los e a rezá-los. Isto é o que queria o Coração de Jesus para cativar essa alma.

Mais tarde, quando se lhe perguntava o que tinha feito para se converter, respondia: «Li, orei, e o céu fez o resto.» A grande dificuldade era a confissão. Marceau, de joelhos em terra, esperou sua vez durante duas horas. «Porque, disse-lhe o confessor, não me mandastes advertir?» «Meu Padre, respondeu o capitão, há dezoito anos que Deus me espera com paciência! Eu bem podia esperar duas horas.» O novo Agostinho tinha então trinta e seis anos. Eis aqui em que termos ele dá notícia de sua comunhão: «Quando me vi ao pé do altar, veio um pensamento agitar minha alma: creio eu na presença real? ... mas desprezei a tentação. Depois, quando o sacerdote voltou-se para mim e me apresentou a Santa Hóstia, comecei a tremer de comoção e respeito, entrei em transpiração, e recebi com verdadeira fé o corpo de nosso divino Salvador. Como humildemente me queixasse a Maria de não experimentar amor muito vivo para com seu divino Filho, senti de repente meu coração dilatar-se e lágrimas de reconhecimento molharam minhas pálpebras. Neste instante vi claramente a vida eterna.» Desde então, sem temer os sarcasmos de seus camaradas, Marceau ia com as insígnias do seu posto ao lugar santo; aí, de joelhos, confundido com as pobres mulheres, prostrado como um anjo adorador, profundamente recolhido, ele passava horas intensas diante do Santíssimo Sacramento. Muitas vezes, homens sem religião o seguiam ao lugar santo para o ridiculizassem, mas ele dizia: «Eu fui como eles: porque não podem ser daqui a pouco como eu?» Perguntavam-lhe como tinha conseguindo vencer o respeito humano. «Pelo uso da comunhão frequente,» respondia.

Um dia, Marceau foi, como de costume, receber a Eucaristia numa capella, e no lugar mesmo em que ele tinha outrora ultrajado a Nosso Senhor Jesus Cristo. Seu fim, procedendo assim, era oferecer ao Coração de Jesus uma comunhão reparadora. «No mesmo lugar onde eu o ofendi, desejo recebê-lo, tão bom é ele que não se negara a meu coração!» Quando o criticavam por assistir a missa todos os dias e comungar semanalmente, costumava dizer: «Eu blasfemei a Jesus Cristo; não é da mais estrita justiça, que lhe faça reparação?» No mais rigoroso do inverno, ele fazia, das onze horas à meia noite, a Hora Santa, em honra do Sagrado Coração de Jesus. Viram-no, numa enfermidade que lhe tirava as forças, lutar contra a doença e levantar-se para oferecer ao Coração de Jesus esta costumada homenagem. Marceau não cessou de ser a alma da Adoração noturna, para cujo estabelecimento poderosamente concorrera.(Augusto Marceau, capitão de fragata , por um padre Marista. Obra digna de recomendação)




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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 315-324 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil)

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