«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 31 de maio de 2018


SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI


Coração Eucarístico de Jesus
(postal Italiano)
O DIVINO CORAÇÃO DE JESUS, FORNALHA DE AMOR POR NÓS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Com razão, São Bernardo chama o divino Sacramento da Sagrada Eucaristia, Amor amorum, o Amor dos amores. Porque se abrirmos os olhos da fé para contemplar os prodigiosos efeitos da bondade inefável de nosso Salvador para conosco neste adorável mistério, veremos as oito chamas de amor que de contínuo saem desta admirável fornalha.

A primeira chama consiste no amor inconcebível do divino Coração de Jesus, que levou-lhe a se encerrar neste sacramento, e o obriga a morar nele continuamente, dia e noite, sem sair jamais, para estar sempre conosco, a fim de realizar a promessa que nos fez por estas palavras: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.»1. “És o bom pastor que quer estar sempre com suas ovelhas. És o médico divino que quer estar sempre à cabeceira de seus enfermos. És o pai cheio de ternura que jamais abandona a seus filhos. És o amigo fidelíssimo e afetuosíssimo que encontra suas delicias em estar com seus amigos: Deliciae meae esse cum filiis hominum2”.

A segunda chama desta ardente fornalha é o amor do Coração adorável de Nosso Salvador, que neste sacramento lhe impõe muitas, e grandiosas e importantes ocupações por nós. Porque aqui está adorando, louvando e glorificando incessantemente a seu Pai por nós, ou seja, para dar cumprimento às infinitas obrigações que nós temos em adorar-lhe, louvar-lhe e glorificar-lhe.

Aí está rendendo contínuas ações de graças a seu Pai por todos os bens corporais e espirituais, naturais e sobrenaturais, temporais e eternos que nos têm feito, continua fazendo-nos e seguirá fazendo, se nós não o impedirmos.

Está aí amando por nós a seu Pai, ou seja, cumprindo nossos deveres pelas infinitas obrigações que temos de lhe amar.

Está aí oferecendo seus méritos para satisfazer a seu Pai, para pagar-lhe, por nós, pelo que lhe devemos por nossos pecados.

Está aí rogando continuamente a seu Pai por nós, e por todas as nossas necessidades: «Pois vive sempre para interceder por eles»3.

A terceira chama desta fornalha, é o amor infinito de nosso amável Redentor, que impulsiona a sua onipotência para fazer-nos muitos prodígios neste adorável Sacramento, convertendo o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue, realizando muitos outros milagres que superam incomparavelmente a todos os que fizeram Moisés, os Profetas, os Apóstolos e até mesmo nosso Salvador enquanto esteve na terra. Porque todos esses milagres se fizeram unicamente na Judéia, mas estes se realizam em todo o universo. Aqueles foram passageiros e de pouca duração, mas estes são contínuos e durarão até o fim do mundo. Aqueles se fizeram em corpos separados de suas almas, que ressuscitaram, em enfermos que foram curados, e em outras criaturas parecidas, porém, os atuais se fazem no corpo adorável de um Deus, em seu precioso sangue e até na glória e grandezas de sua divindade, que estão neste Sacramento como que aniquiladas, sem que, de nenhuma forma, apareçam, como se na realidade não existissem.

A quarta chama está assinalada nestas divinas palavras do Príncipe dos Apóstolos, o melhor do Espírito Santo que fala por sua boca: «Deus primeiro enviou seu Filho Jesus a vós, para que nisso fosses abençoado»4; e vindo este Filho adorável todo cheio de amor por nós, e com um desejo ardentíssimo de derramar incessantemente suas santas bênçãos sobre os que lhe honram e lhe amam como a seu Pai. Principalmente por este divino Sacramento cumula de bênçãos os que não a recusam.

A quinta chama é seu amor imenso por nós, que lhe obriga conceder-nos todos os tesouros da graça e de santidade que adquiriu na terra. E, com efeito, na santa Eucaristia nos concede bens imensos e infinitos, graças abundantíssimas e muito particulares, se possuirmos as disposições necessárias para recebê-las.

A sexta chama é o amor ardentíssimo que lhe põe todos os dias à nossa disposição, não só para enriquecer-nos com os dons e graças que, com seu sangue nos adquiriu, senão também para dar-nos a si mesmo inteiramente pela santa comunhão; quer dizer, dar-nos sua divindade, sua humanidade, sua pessoa divina, seu corpo adorável, seu sangue preciosíssimo, sua santa alma, numa palavra, tudo o que tem e é, enquanto Deus e enquanto homem; e, consequentemente, dar-nos seu eterno Pai e seu Santo Espírito, que são inseparáveis d'Ele; como também nos inspirar a devoção à sua Santíssima Mãe, que segue seu divino Cordeiro por todos os lugares, muito mais que as santas Virgens, das quais se diz: «Estas são as que seguem o Cordeiro para onde quer que vá»5.

A sétima chama é o amor infinito que leva este boníssimo Salvador a se sacrificar agora continuamente por nós. Amor que, de certa maneira, supera o amor com que se imolou no altar da cruz. Porque lá se imolou só no Calvário, e aqui se sacrifica em todos os lugares nos quais se faz presente por meio da santa Eucaristia. Lá, imolou-se só uma vez, aqui sacrifica-se milhões de vezes, todos os dias. É certo que o sacrifício da cruz se realizou em um mar de dores, e o daqui se faz em um oceano de gozo e de felicidade; entretanto, estando o Coração de nosso Salvador tão abrasado de amor por nós agora como antes, se for possível e necessário para nossa salvação, está disposto a sofrer as mesmas dores que suportou ao se imolar no Calvário, tantas vezes como a cada dia se sacrifica em todos os altares do mundo, e isso por causa do infinito e imenso amor que nos tem.

A oitava chama dessa amável fornalha, consiste no amor que nosso benigníssimo Redentor nos demonstra quando dá aos homens todos esses testemunhos de sua bondade, num tempo em que não recebe da maior parte deles senão demostrações do mais furioso ódio que se possa imaginar.
Na Santa Ceia, Jesus institui o Sacramento da Eucaristia

Em que tempo nos fez patente tanto amor? O último de seus dias e a véspera de sua morte, é quando instituiu este divino Sacramento, quando os homens despejavam contra Ele tanta raiva e furor como os demônios, segundo estas suas palavras: «Mas esta é a vossa hora e do poder das trevas»6.

Ó Salvador meu, não tens Vós senão pensamentos de paz, de caridade e de bondade para com os homens, e eles não têm senão pensamentos de malícia e de crueldade contra Vós. Vós não pensais senão em encontrar meios de salvá-los; e eles não pensam senão encontrar meios de se perderem.

Todo vosso Coração e todo vosso Espírito se dedicam a romper as cadeias que lhes mantém cativos e escravos dos demônios; e eles os vendem, os traem e os entregam nas mãos de vossos cruéis inimigos. Vós vos ocupais em instituir um Sacramento admirável, para estar sempre com eles, mas eles não querem nada de Vós, se esforçam por retirá-los do mundo, exilá-los da terra, e, se puderem, até aniquilá-los. Vós lhes preparais uma infinidade de graças, de dons e de favores na terra, tronos magníficos e coroas gloriosas para o céu, senão quiserem fazer-se indignos delas; e eles, vos preparam cordas, açoites, espinhos, cravos, lanças, cruzes, cusparadas, opróbrios, blasfêmias, e toda sorte de ignomínias, de ultrajes e de crueldades. Vós lhes fazeis um festim deliciosíssimo com vossa própria carne e vosso próprio sangue; e eles vos oferecem fel e vinagre. Vós lhes dais vosso corpo santíssimo, inocentíssimo e imaculado; e eles o marcam a golpes, dilacerando-o à força de açoites, traspassam-no com cravos e com espinhos, e cobrem-lhe de chagas, desde os pés até a cabeça, desconjuntando-o na cruz, fazendo-lhe sofrer os mais terríveis suplícios. Enfim, Senhor meu, Vós os amais mais que o vosso sangue e vossa vida, posto que por eles vos sacrificastes, e eles vos arrancam a alma do corpo à força de tormentos.

Ó que bondade! Ó que caridade! Ó que amor de vosso Coração adorável! Ó Salvador meu! Ó que ingratidão, que impiedade, que crueldade a do coração humano para convosco!

O que então passastes (no Calvário), passas também agora. Porque vosso amabilíssimo Coração, ó Jesus meu, está neste Sacramento, todo abrasado de amor a nós, e está aí para nosso bem, cheio de efeitos de sua bondade. Porém, de que forma vos devolvemos, Senhor meu? Com ingratidões e ofensas de mil modos e maneiras, de pensamentos, palavras e obras, pisoteando vossos divinos mandamentos e os de vossa Igreja. Ah! Que ingratos somos! Nosso benigníssimo Salvador nos há amado tanto que haveria de morrer de amor por nós mil vezes enquanto esteve na terra, se não houvesse conservado Ele mesmo sua vida milagrosamente, e a ser possível, e se necessário fosse para nossa salvação, estaria ainda disposto a morrer mil vezes por nós. Morramos de dor à vista de nossos pecados, morramos de vergonha ao ver que tão pouco amor lhe temos, morramos mil vezes antes de lhe ofendermos no futuro. Oh! Salvador meu, concede-nos esta graça! Oh! Mãe de Jesus, obtêm-nos de vosso amado Filho este favor!


____________________ São João Eudes, Apóstolo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria



NOTA DO BLOG: Mais tarde postaremos a meditação para Hora Santa de Junho, pois amanhã é a Primeira Sexta-Feira do mês dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, no Mês do Sagrado Coração.




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1 Mateus 28,20
2 Provérbios 8,20
3 (Hebreus 7,25): “Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles.” (grifamos)
4Misit Deus Filium suum benedicentem vobis” (At 3,26)
5 Atos 14,4
6 Lucas 22,53


FONTE: opúsculo, em PDF, “El Corazón de Jesús”, Obras de San Juan Eudes, Editoria “San Juan Eudes”, Usaquen-Bogotá, D.E., 1957, Capítulo IX: El Divino Corazón de Jesús, Horno de Amor a Nosotros en el Stmo. Sacramento – Texto por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil.

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