SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI
Coração Eucarístico de Jesus (postal Italiano) |
O
DIVINO CORAÇÃO DE JESUS, FORNALHA DE AMOR
POR NÓS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Com
razão, São Bernardo chama o divino Sacramento da Sagrada
Eucaristia, Amor
amorum, o
Amor
dos amores.
Porque se abrirmos os olhos da fé para contemplar os prodigiosos
efeitos da bondade inefável de nosso Salvador para conosco neste
adorável mistério, veremos as oito chamas de amor que de contínuo
saem desta admirável fornalha.
A
primeira chama consiste no amor inconcebível do divino Coração de
Jesus, que levou-lhe a se encerrar neste sacramento, e o obriga a
morar nele continuamente, dia e noite, sem sair jamais, para estar
sempre conosco, a fim de realizar a promessa que nos
fez por estas palavras:
«Eis
que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.»1.
“És o bom pastor que quer estar sempre com suas ovelhas. És o
médico divino que quer estar sempre à cabeceira de seus enfermos.
És o pai cheio de ternura que jamais abandona a seus filhos. És o
amigo fidelíssimo e afetuosíssimo que encontra suas delicias em
estar com seus amigos: Deliciae
meae esse cum filiis hominum2”.
A
segunda chama desta ardente fornalha é o amor do Coração adorável
de Nosso Salvador, que neste sacramento lhe impõe muitas, e
grandiosas
e importantes ocupações por nós. Porque aqui está adorando,
louvando e glorificando
incessantemente a seu Pai por nós, ou seja, para dar cumprimento às
infinitas obrigações que nós temos em adorar-lhe, louvar-lhe e
glorificar-lhe.
Aí
está rendendo contínuas ações de graças a seu Pai por todos os
bens corporais e espirituais, naturais e sobrenaturais, temporais e
eternos que nos têm feito, continua fazendo-nos e seguirá fazendo,
se nós não o impedirmos.
Está
aí amando por nós a seu Pai, ou seja, cumprindo nossos deveres
pelas infinitas obrigações que temos de lhe amar.
Está
aí oferecendo seus méritos para satisfazer a seu Pai, para
pagar-lhe, por nós, pelo que lhe devemos por nossos pecados.
Está
aí rogando continuamente a seu Pai por nós, e por todas as nossas
necessidades: «Pois
vive sempre para interceder por eles»3.
A
terceira chama desta fornalha, é o amor infinito de nosso amável
Redentor, que impulsiona a sua onipotência para fazer-nos muitos
prodígios neste adorável Sacramento, convertendo o pão em seu
corpo e o vinho em seu sangue, realizando muitos outros milagres que
superam incomparavelmente a todos os que fizeram Moisés, os
Profetas, os Apóstolos e até mesmo nosso Salvador enquanto esteve
na terra. Porque todos esses milagres se fizeram unicamente na
Judéia, mas estes se realizam em todo o universo.
Aqueles foram passageiros e de pouca duração, mas estes são
contínuos e durarão até o fim do mundo.
Aqueles se fizeram em corpos separados de suas almas, que
ressuscitaram, em enfermos que foram curados, e em outras criaturas
parecidas, porém, os atuais se fazem no corpo adorável de um Deus,
em seu precioso sangue e até na glória e grandezas de sua
divindade, que estão neste Sacramento como que aniquiladas, sem que,
de nenhuma forma, apareçam, como se na realidade não existissem.
A
quarta chama está assinalada nestas divinas palavras do Príncipe
dos Apóstolos, o melhor do Espírito Santo que fala por sua boca:
«Deus
primeiro enviou seu Filho Jesus a vós, para que nisso fosses
abençoado»4;
e vindo
este Filho adorável todo cheio de amor por nós, e com um desejo
ardentíssimo de derramar incessantemente suas santas bênçãos
sobre os que lhe honram e lhe amam como a seu Pai. Principalmente por
este divino Sacramento cumula de bênçãos os que não a recusam.
A
quinta chama é seu amor imenso por nós, que lhe obriga conceder-nos
todos os tesouros da graça e de santidade que adquiriu na terra. E,
com efeito, na santa Eucaristia nos concede bens imensos e infinitos,
graças abundantíssimas e muito particulares, se possuirmos as
disposições necessárias para recebê-las.
A
sexta chama é o amor ardentíssimo que lhe põe todos os dias à
nossa disposição, não só para enriquecer-nos
com os dons e graças que, com seu sangue nos adquiriu, senão também
para dar-nos a si mesmo
inteiramente pela
santa comunhão; quer dizer, dar-nos sua divindade, sua humanidade,
sua pessoa divina, seu corpo adorável, seu sangue preciosíssimo,
sua santa alma, numa palavra, tudo o que tem e é, enquanto Deus e
enquanto homem; e, consequentemente, dar-nos seu eterno Pai e seu
Santo Espírito, que são inseparáveis d'Ele; como também nos
inspirar a devoção à sua Santíssima Mãe, que segue seu divino
Cordeiro por todos os lugares, muito mais que as santas Virgens, das
quais se diz: «Estas
são as que seguem o Cordeiro para onde quer que vá»5.
A
sétima chama é o amor infinito que leva este boníssimo Salvador a
se sacrificar agora continuamente por nós. Amor que, de certa
maneira, supera o amor com que se imolou no altar da cruz. Porque lá
se imolou só no Calvário, e aqui se sacrifica em todos os lugares
nos quais se faz presente por meio da santa Eucaristia. Lá,
imolou-se só uma vez, aqui sacrifica-se milhões de vezes, todos os
dias. É certo que o sacrifício da cruz se realizou em um mar de
dores, e o daqui se faz em um oceano de gozo e de felicidade;
entretanto, estando o Coração de nosso Salvador tão abrasado de
amor por nós agora como antes, se for possível e necessário para
nossa salvação, está disposto a sofrer as mesmas dores que
suportou ao se imolar no Calvário, tantas vezes como a cada dia se
sacrifica em todos os altares do mundo, e isso por causa do infinito
e imenso amor que nos tem.
A
oitava chama dessa amável fornalha, consiste no amor que nosso
benigníssimo Redentor nos demonstra quando dá aos homens todos
esses testemunhos de sua bondade, num tempo em que não recebe da
maior parte deles senão demostrações do mais furioso ódio que se
possa imaginar.
Na Santa Ceia, Jesus institui o Sacramento da Eucaristia |
Em
que tempo nos fez patente tanto amor? O último de seus dias e a
véspera de sua morte, é quando instituiu este divino Sacramento,
quando os homens despejavam contra Ele tanta raiva e furor como os
demônios, segundo estas suas palavras: «Mas
esta é a vossa hora e do poder das trevas»6.
Ó
Salvador meu, não tens Vós senão pensamentos de paz, de caridade e
de bondade para com os homens, e eles não têm senão pensamentos de
malícia e de crueldade contra Vós. Vós não pensais senão em
encontrar meios de salvá-los; e eles não pensam senão encontrar
meios de se perderem.
Todo
vosso Coração e todo vosso Espírito se dedicam a romper as cadeias
que lhes mantém cativos e escravos dos demônios; e eles os vendem,
os traem e os entregam nas mãos de vossos cruéis inimigos. Vós vos
ocupais em instituir um Sacramento admirável, para estar sempre com
eles, mas eles não querem nada de Vós, se esforçam por retirá-los
do mundo, exilá-los da terra, e, se puderem, até aniquilá-los. Vós
lhes preparais uma infinidade de graças, de dons e de favores na
terra, tronos magníficos e coroas gloriosas para o céu, senão
quiserem fazer-se indignos delas; e eles, vos preparam cordas,
açoites, espinhos, cravos, lanças, cruzes, cusparadas, opróbrios,
blasfêmias, e toda sorte de ignomínias, de ultrajes e de
crueldades. Vós lhes fazeis um festim deliciosíssimo com vossa
própria carne e vosso próprio sangue; e eles vos oferecem fel e
vinagre. Vós lhes dais vosso corpo santíssimo, inocentíssimo e
imaculado; e eles o marcam a golpes, dilacerando-o
à
força de açoites, traspassam-no com cravos e com espinhos, e
cobrem-lhe de chagas, desde os pés até a cabeça, desconjuntando-o
na cruz, fazendo-lhe sofrer os mais terríveis suplícios. Enfim,
Senhor meu, Vós os amais mais que o vosso sangue e vossa vida, posto
que por eles vos sacrificastes, e eles vos arrancam a alma do corpo à
força de tormentos.
Ó
que bondade! Ó que caridade! Ó que amor de vosso Coração
adorável! Ó Salvador meu! Ó que ingratidão, que impiedade, que
crueldade a do coração humano para convosco!
O
que então passastes (no Calvário), passas também agora. Porque
vosso amabilíssimo Coração, ó Jesus meu, está neste Sacramento,
todo abrasado de amor a nós, e está aí para nosso bem, cheio de
efeitos de sua bondade. Porém, de que forma vos devolvemos, Senhor
meu? Com ingratidões e ofensas de mil modos e maneiras, de
pensamentos, palavras e obras, pisoteando vossos divinos mandamentos
e os de vossa Igreja. Ah! Que ingratos somos! Nosso benigníssimo
Salvador nos há amado tanto que haveria de morrer de amor por nós
mil vezes enquanto esteve na terra, se não houvesse conservado Ele
mesmo sua vida milagrosamente, e a ser possível, e se necessário
fosse para nossa salvação, estaria ainda disposto a morrer mil
vezes por nós. Morramos de dor à vista de nossos pecados, morramos
de vergonha ao ver que tão pouco amor lhe temos, morramos mil vezes
antes de lhe ofendermos no futuro. Oh! Salvador meu, concede-nos esta
graça! Oh! Mãe de Jesus, obtêm-nos de vosso amado Filho este
favor!
____________________
São João Eudes, Apóstolo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria
☞ NOTA
DO BLOG:
Mais tarde postaremos a meditação para Hora Santa de Junho, pois
amanhã é a Primeira Sexta-Feira do mês dedicada ao Sagrado
Coração de Jesus, no Mês do Sagrado Coração.
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3 (Hebreus
7,25): “Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles
que, por meio dele, aproximam-se de Deus,
pois vive sempre para interceder por eles.”
(grifamos)
5 Atos
14,4
6 Lucas
22,53
FONTE: opúsculo, em PDF, “El Corazón de Jesús”, Obras de San Juan Eudes, Editoria “San Juan Eudes”, Usaquen-Bogotá, D.E., 1957, Capítulo IX: El Divino Corazón de Jesús, Horno de Amor a Nosotros en el Stmo. Sacramento – Texto por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil.
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