«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 1 de junho de 2018

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JUNHO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

A GUARDA DE HONRA DO SAGRADO CORAÇÃO
(por Santo Afonso de Ligório)


Todos os reis da terra têm sua guarda de honra, formada do que a nação possui de mais nobre e devotado. O Rei dos reis, Jesus Cristo, quis também ter sua guarda de honra durante sua vida mortal. Em Belém, no Egito em Nazaré, ela compunha-se de Maria e José; era pequena pelo numero, mas muito grande pela dignidade das personagens. Durante sua vida publica, o Salvador recebeu de seu Pai, para o acompanharem nos seus cursos e participarem de seus trabalhos, os doze apóstolos e os setenta e dois discípulos. No Calvário, vemos a corte do Redentor crucificado formada de Maria, sua Mãe, algumas santas mulheres, Maria Madalena e S. João, aos quais podemos ajuntar o Bom Ladrão. Estes últimos poderiam chamar-se por titulo especial, a primeira Guarda de honra ao Sagrado Coração; porque eles não foram somente as testemunhas constantes das chamas de amor que dele surgiram durante a Paixão, mas ainda tiveram o grande privilégio de o ver aberto pela lança do soldado Longino, e de contemplar a chaga dele, quando os membros frios de Jesus foram depostos nos joelhos de sua Mãe. Os olhos de amor puderam então descobrir os mistérios do Coração de Jesus pelas aberturas feitas no seu corpo, diz S. Bernardo. Quem não teria querido participar da felicidade destas almas fieis? Mas que digo? É esta a linguagem da fé? Não temos na Eucaristia este mesmo corpo que foi pregado na cruz, este mesmo sangue, que foi derramado no Calvário, este mesmo Coração, que foi aberto para nos dar asilo?

Quereis então, alma piedosa, fazer parte da guarda de honra do Sagrado Coração? Ide muitas vezes visitá-lo no santo Tabernáculo. Oh! quanto são agradáveis ao Coração de Jesus aqueles que o visitam muitas vezes, e fazem consistir suas delícias em lhe fazer companhia nas igrejas onde ele reside em seu Sacramento! Ele exigiu de Santa Maria Madalena de Pazzis que ela o fosse visitar trinta vezes por dia. S. Luiz de Gonzaga sentia-se de tal modo arrebatado pelos suaves atrativos do Salvador que, ao separar-se do Tabernáculo, com ternura comovente lhe dizia: Deixai-me, Senhor. O grande apóstolo das Índias, S. Francisco Xavier, ia restaurar-se de seus grandes trabalhos diante do Santíssimo Sacramento. S. João Francisco Regis fazia a mesma coisa; e quando achava a igreja fechada, consolava-se ficando de joelhos diante da porta, exposto à chuva, ao frio, para assim fazer côrte ao menos de longe, ao divino Consolador. Todos os santos tiveram sempre esta devoção. Fiquemos persuadidos de que a alma que se conserva diante do Santíssimo Sacramento, por pouco que seja recolhida, recebe de Jesus Cristo mais consolação do que o mundo poderia dar por todas as suas festas e prazeres. Oh! quão delicioso é estar com fé ao pé do altar!

Se queres fazer parte da guarda de honra do Coração de Jesus não deixeis passar dia algum sem assistir à Missa. O Senhor concede em todo tempo seus favores, quando lhe são pedidos em nome de Jesus: mas durante a Missa ele os concede com mais abundância, porque nossas orações são então fortificadas e acompanhadas pelas do Coração de Jesus, oferecendo-se para nos obter as graças de seu Pai. Conforme o santo Concilio de Trento: o tempo da celebração da Missa é justamente aquele em que o Senhor está sobre seu trono de graça. S. João Crisóstomo afirma que os anjos esperam este momento precioso, a fim de intercederem mais eficazmente por nós; o mesmo santo acrescenta que aquilo que não se alcança durante a Missa, dificilmente se poderá alcançar em qualquer outro tempo. Oh! Que tesouros de graças podemos então obter para nós e para os outros! Não esqueçamos que, ouvindo a Missa, nós a oferecemos com o celebrante: não nos dispensemos, pois, dela o venerável João d'Ávila (hoje, Santo), extenuado por uma longa viagem, dispunha-se a não celebrar naquele dia, mas Jesus Cristo lhe apareceu e, descobrindo-lhe seu peito, fez-lhe ver suas chagas, principalmente a do sagrado lado. Esta visão animou o servo de Deus, e ele disse a missa, não obstante a fraqueza em que estava.

Se quereis fazer parte da guarda de honra do Sagrado Coração, aproximai-vos o mais possível à santa mesa. Felizes aqueles que têm fome do pão dos anjos!… Os teólogos concordam em dizer que a comunhão nos obtêm mais graças do que todos os outros sacramentos, porque nela recebemos a Jesus Cristo, autor mesmo da graça. Quando um príncipe faz por sua própria mão um dom a alguém, este dom é sempre maior que o que ele concede por intermediárias. Eu não sou digno de comungar tão a miúdo, dizeis vós. Escutai o que dizia uma santa alma: Por isso mesmo que eu conheço minha indignidade, quisera comungar três vezes por dia, porque comungando mais vezes, espero tornar-me menos indigna. Quanto mais fracos nos sentimos, tanto mais devemos usar do remédio, que nos é oferecido na comunhão; quando um muro pende, põem-se-lhe escoras, não para endireitai-o, mas para impedir que ele caia. Não é grande bem ser preservado, pela comunhão, da queda no pecado mortal? Comungai muitas vezes, Filotéia, dizia S. Francisco de Sales, comungai o mais frequentemente que puderdes, com licença de vosso pai espiritual, e, crede-me, as lebres tornam-se brancas nas nossas montanhas, porque comem só neve; à força de comerdes a pureza mesma, neste divino sacramento, tornar-vos-ei inteiramente pura. Mas muitas vezes uma pessoa foge da comunhão, porque sabe, que a comunhão frequente não concorda com a vida de prazeres, amizades mundanas, vaidades, estima própria, mesas regaladas; eis aí porquê evita comungar com frequência. Temem-se as repreensões interiores, que Jesus Cristo faz cada vez que é recebido em seu Sacramento de amor; numa palavra, a razão porque muitos só raramente comungam, é porque desejam viver com mais liberdade.

Que dizeis a isto?

PRÁTICA

Todos os dias irei fazer um momento de guarda diante de Jesus Cristo na igreja; se não me for possível ter este favor, pedirei a meu bom anjo para que vá em meu lugar, e leve meu coração e todos os meus afetos para meu bom Rei amadíssimo.

AFETOS E SÚPLICAS

Querido Salvador meu, vós sois o Senhor do Céu, o Rei dos reis, o Filho de Deus: como vos vejo nas igrejas, abandonado de todo o mundo? Junto de vós só percebo anjos e algumas almas fervorosas. Ah! Quero ajuntar-me a eles para vos fazer companhia. Não me recuseis esta honra. Sim, a vós irei, para conversar convosco a sós, ó divino solitário, ó único amor de minha alma! Insensato fui, eu vos abandonei, eu vos deixei só, para ir mendigar junto das criaturas alguns prazeres miseráveis e envenenados; mas agora, iluminado por vossa graça, não tenho mais outro desejo que viver solitário convosco, que quereis viver solitário por amor de mim. Ah! Quem me dará azas? e força para sair deste mundo, onde tantas vezes achei minha ruína fugir e morar sempre convosco, que sois a alegria do paraíso e o verdadeiro amigo de minha alma? Senhor, apegai-me ao vosso Coração, a fim de que não me separe mais de vós, e ache minha felicidade em fazer-vos muitas vezes companhia nas igrejas.

Por vossa solidão no santo Tabernáculo, concedei-me contínuo recolhimento interior; fazei que minha alma se converta em oratório solitário, onde só me ocupe convosco, a quem submeto todos os meus pensamentos e todas as minhas ações, e consagro todos os meus afetos, a fim de que vos ame sempre, suspirando sem cessar pelo momento em que sairei da prisão de meu corpo , para ir vos amar e vos ver sem véu no céu. Eu vos amo, Bondade infinita, e espero vos amar sempre, no tempo e na eternidade. Ó Maria, rogai a Jesus que me prenda a seu divino Coração por seu amor, e não permitais que me suceda ainda perder o grande tesouro de sua graça.
Coração Eucarístico de Jesus 

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Louvado e agradecido seja a cada momento o Santíssimo e Diviníssimo Sacramento! (100 dias de indulg. uma vez por dia. - 24 de Maio de 1776)

EXEMPLO

Não basta falar cristãmente, é necessário proceder também cristãmente, dizia Marceau, este grande amigo do Coração de Jesus. Edifiquemo-nos com a devoção deste capitão de fragata para com a adorável Eucaristia. Quando ele teve a felicidade de converter sua mãe, recomendou-lhe instantemente a audição da santa missa, ainda quando isto lhe custasse muito, e a visita ao Santíssimo Sacramento. «Jesus Cristo, dizia-lhe ele, está presente sobre os altares; lá espera nossas orações, e nós o deixaríamos?» E a fim de dar novo peso à sua recomendação, contava-lhe que, se ele havia entrado tão facilmente no seio da Igreja, era por ter, desde o começo, assistido fielmente à missa todas as manhãs, e visitado cada dia a Nosso Senhor na adorável Eucaristia. Um dia, seus amigos lhe disseram: «Não sabemos como fazes, Marceau, teus marinheiros estão sempre contentes, quaisquer que sejam os serviços que lhes mandas, e os nossos se queixam, clamam, ficam furiosos, não podemos domá-los.» «Senhores, disse Marceau, vou indicar-vos como procedo: quando vejo que eles estão descontentes, vou passar uma hora ou duas diante do Santíssimo Sacramento, por sua intenção, e então tudo corre bem.» Alguém lhe mostrava surpresa pela grande brandura que ele mostrava num conflito entre os oficiais: «Por que espantar-vos?, disse Marceau, eu comunguei hoje!» Comandante da Arca da aliança, ele tinha estabelecido a bordo a mais bela ordem. Começava-se o dia pela oblação do santo Sacrifício. O capitão mesmo preparava os ornamentos, depois reivindicava para si o privilégio de ajudar a Missa. Ele ajudava três a cada dia, e durante elas ficava como aniquilado de joelhos. Tendo Marceau sabido que muitos marinheiros murmuravam por ele comungar todos os dias, reuniu-os e disse lhes: «Em vez de vos escandalizardes e murmurardes, deveis regozijar-vos. Se eu não comungasse todos os dias, ao menor descontentamento que me desseis, jogar-vos-ia todos no mar.»

Certo dia um amigo manifestava o temor que tinha de comungar, porque faltava-lhe o fervor. «E eu, respondeu o comandante, porque sou um miserável, e que comungo tantas vezes, tenho necessidade de um remédio quotidiano para me suster.» Em 1851, quando foi acometido da enfermidade de que morreu, ele quis ir recomendar seus pios projetos ao santuário bendito do Coração de Jesus, Paray-le-Monial. A irmã que lhe prestou os derradeiros serviços, dizia: «Nunca encontramos modelo mais perfeito em todas as virtudes.» Quem poderá desesperar vendo Marceau, livre pensador, tornar-se um santo! Nele se verificou a bela palavra de S. Francisco de Sales: «Uma só alma fervorosa dá mais gloria a Deus que mil cristãos negligentes e tíbios.»



NOTA DO BLOG - 1: A guarda de honra a que se refere Santo Afonso, não é a prática devocional revelada pelo Santíssimo Redentor, em março de 1863, à Irmã Maria do Sagrado Coração Bernaud, religiosa do Mosteiro da Visitação (França), aprovada pelo Santo Padre, Papa Pio IX, em 1867, e sobre a qual postaremos oportunamente.


NOTA DO BLOG - 2: Estamos iniciando o Mês do Sagrado Coração de Jesus, e para melhor celebrá-lo, publicaremos, a cada dia do mês, uma meditação. A de hoje, será publicada mais tarde, neste mesmo blog. 



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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 324-331 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil)

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