PRIMEIRA
SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JUNHO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
A
GUARDA DE HONRA DO SAGRADO CORAÇÃO
(por Santo Afonso de Ligório)
Todos
os reis da terra têm sua guarda de honra, formada do que a nação
possui de mais nobre e devotado. O Rei dos reis, Jesus Cristo, quis
também ter sua guarda de honra durante sua vida mortal. Em Belém,
no Egito em Nazaré, ela compunha-se de Maria e José; era pequena
pelo numero, mas muito grande pela dignidade das personagens. Durante
sua vida publica, o Salvador recebeu de seu Pai, para o acompanharem
nos seus cursos e participarem de seus trabalhos, os doze apóstolos
e os setenta e dois discípulos. No Calvário, vemos a corte do
Redentor crucificado formada de Maria, sua Mãe, algumas santas
mulheres, Maria Madalena e S. João, aos quais podemos ajuntar o Bom
Ladrão. Estes últimos poderiam chamar-se por titulo especial, a
primeira Guarda de honra ao Sagrado Coração; porque eles não foram
somente as testemunhas constantes das chamas de amor que dele
surgiram durante a Paixão, mas ainda tiveram o grande privilégio de
o ver aberto pela lança do soldado Longino, e de contemplar a chaga
dele, quando os membros frios de Jesus foram depostos nos joelhos de
sua Mãe. Os olhos de amor puderam então descobrir os mistérios
do Coração de Jesus pelas aberturas feitas no seu
corpo, diz S. Bernardo. Quem não teria querido participar da
felicidade destas almas fieis? Mas que digo? É esta a linguagem da
fé? Não temos na Eucaristia este mesmo corpo que foi pregado na
cruz, este mesmo sangue, que foi derramado no Calvário, este mesmo
Coração, que foi aberto para nos dar asilo?
Quereis
então, alma piedosa, fazer parte da guarda de honra do Sagrado
Coração? Ide muitas vezes visitá-lo no santo Tabernáculo. Oh!
quanto são agradáveis ao Coração de Jesus aqueles que o visitam
muitas vezes, e fazem consistir suas delícias em lhe fazer companhia
nas igrejas onde ele reside em seu Sacramento! Ele exigiu de Santa
Maria Madalena de Pazzis que ela o fosse visitar trinta vezes por
dia. S. Luiz de Gonzaga sentia-se de tal modo arrebatado pelos suaves
atrativos do Salvador que, ao separar-se do Tabernáculo, com ternura
comovente lhe dizia: Deixai-me, Senhor. O grande apóstolo das
Índias, S. Francisco Xavier, ia restaurar-se de seus grandes
trabalhos diante do Santíssimo Sacramento. S. João Francisco Regis
fazia a mesma coisa; e quando achava a igreja fechada, consolava-se
ficando de joelhos diante da porta, exposto à chuva, ao frio, para
assim fazer côrte ao menos de longe, ao divino Consolador. Todos os
santos tiveram sempre esta devoção. Fiquemos persuadidos de que a
alma que se conserva diante do Santíssimo Sacramento, por pouco que
seja recolhida, recebe de Jesus Cristo mais consolação do que o
mundo poderia dar por todas as suas festas e prazeres. Oh! quão
delicioso é estar com fé ao pé do altar!
Se
queres fazer parte da guarda de honra do Coração de Jesus não
deixeis passar dia algum sem assistir à Missa. O Senhor concede em
todo tempo seus favores, quando lhe são pedidos em nome de Jesus:
mas durante a Missa ele os concede com mais abundância, porque
nossas orações são então fortificadas e acompanhadas pelas do
Coração de Jesus, oferecendo-se para nos obter as graças de seu
Pai. Conforme o santo Concilio de Trento: o tempo da celebração
da Missa é justamente aquele em que o Senhor está sobre seu trono
de graça. S. João Crisóstomo afirma que os anjos
esperam este momento precioso, a fim de intercederem mais eficazmente
por nós; o mesmo santo acrescenta que aquilo que não se
alcança durante a Missa, dificilmente se poderá alcançar em
qualquer outro tempo. Oh! Que tesouros de graças podemos então
obter para nós e para os outros! Não esqueçamos que, ouvindo a
Missa, nós a oferecemos com o celebrante: não nos dispensemos,
pois, dela o venerável João d'Ávila (hoje, Santo), extenuado por
uma longa viagem, dispunha-se a não celebrar naquele dia, mas Jesus
Cristo lhe apareceu e, descobrindo-lhe seu peito, fez-lhe ver suas
chagas, principalmente a do sagrado lado. Esta visão animou o servo
de Deus, e ele disse a missa, não obstante a fraqueza em que estava.
Se
quereis fazer parte da guarda de honra do Sagrado Coração,
aproximai-vos o mais possível à santa mesa. Felizes aqueles que têm
fome do pão dos anjos!… Os teólogos concordam em dizer que a
comunhão nos obtêm mais graças do que todos os outros sacramentos,
porque nela recebemos a Jesus Cristo, autor mesmo da graça. Quando
um príncipe faz por sua própria mão um dom a alguém, este dom é
sempre maior que o que ele concede por intermediárias. Eu não sou
digno de comungar tão a miúdo, dizeis vós. Escutai o que dizia uma
santa alma: Por isso mesmo que eu conheço minha
indignidade, quisera comungar três vezes por dia, porque comungando
mais vezes, espero tornar-me menos indigna. Quanto mais fracos
nos sentimos, tanto mais devemos usar do remédio, que nos é
oferecido na comunhão; quando um muro pende, põem-se-lhe escoras,
não para endireitai-o, mas para impedir que ele caia. Não é grande
bem ser preservado, pela comunhão, da queda no pecado mortal?
Comungai muitas vezes, Filotéia, dizia S. Francisco de
Sales, comungai o mais frequentemente que puderdes, com licença
de vosso pai espiritual, e, crede-me, as lebres tornam-se brancas nas
nossas montanhas, porque comem só neve; à força de
comerdes a pureza mesma, neste divino sacramento, tornar-vos-ei
inteiramente pura. Mas muitas vezes uma pessoa foge da comunhão,
porque sabe, que a comunhão frequente não concorda com a vida de
prazeres, amizades mundanas, vaidades, estima própria, mesas
regaladas; eis aí porquê evita comungar com frequência. Temem-se
as repreensões interiores, que Jesus Cristo faz cada vez que é
recebido em seu Sacramento de amor; numa palavra, a razão porque
muitos só raramente comungam, é porque desejam viver com mais
liberdade.
Que
dizeis a isto?
PRÁTICA
Todos
os dias irei fazer um momento de guarda diante de Jesus Cristo na
igreja; se não me for possível ter este favor, pedirei a meu bom
anjo para que vá em meu lugar, e leve meu coração e todos os meus
afetos para meu bom Rei amadíssimo.
AFETOS
E SÚPLICAS
Querido
Salvador meu, vós sois o Senhor do Céu, o Rei dos reis, o Filho de
Deus: como vos vejo nas igrejas, abandonado de todo o mundo? Junto de
vós só percebo anjos e algumas almas fervorosas. Ah! Quero
ajuntar-me a eles para vos fazer companhia. Não me recuseis esta
honra. Sim, a vós irei, para conversar convosco a sós, ó divino
solitário, ó único amor de minha alma! Insensato fui, eu vos
abandonei, eu vos deixei só, para ir mendigar junto das criaturas
alguns prazeres miseráveis e envenenados; mas agora, iluminado por
vossa graça, não tenho mais outro desejo que viver solitário
convosco, que quereis viver solitário por amor de mim. Ah! Quem
me dará azas? e força para sair deste
mundo, onde tantas vezes achei minha ruína fugir e morar sempre
convosco, que sois a alegria do paraíso e o verdadeiro amigo de
minha alma? Senhor, apegai-me ao vosso Coração, a fim de que não
me separe mais de vós, e ache minha felicidade em fazer-vos muitas
vezes companhia nas igrejas.
Por
vossa solidão no santo Tabernáculo, concedei-me contínuo
recolhimento interior; fazei que minha alma se converta em oratório
solitário, onde só me ocupe convosco, a quem submeto todos os meus
pensamentos e todas as minhas ações, e consagro todos os meus
afetos, a fim de que vos ame sempre, suspirando sem cessar pelo
momento em que sairei da prisão de meu corpo , para ir vos amar e
vos ver sem véu no céu. Eu vos amo, Bondade infinita, e espero vos
amar sempre, no tempo e na eternidade. Ó Maria, rogai a Jesus que me
prenda a seu divino Coração por seu amor, e não permitais que me
suceda ainda perder o grande tesouro de sua graça.
Coração Eucarístico de Jesus |
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Louvado
e agradecido seja a cada momento o Santíssimo e Diviníssimo
Sacramento! (100 dias de indulg. uma vez por dia. - 24 de Maio de
1776)
EXEMPLO
Não
basta falar cristãmente, é necessário proceder também
cristãmente, dizia Marceau, este grande amigo do Coração de Jesus.
Edifiquemo-nos com a devoção deste capitão de fragata para com a
adorável Eucaristia. Quando ele teve a felicidade de converter sua
mãe, recomendou-lhe instantemente a audição da santa missa, ainda
quando isto lhe custasse muito, e a visita ao Santíssimo
Sacramento. «Jesus
Cristo, dizia-lhe ele, está presente sobre os altares; lá espera
nossas orações, e nós o deixaríamos?»
E a fim de dar novo peso à sua recomendação, contava-lhe que, se
ele havia entrado tão facilmente no seio da Igreja, era por ter,
desde o começo, assistido fielmente à missa todas as manhãs, e
visitado cada dia a Nosso Senhor na adorável Eucaristia. Um dia,
seus amigos lhe disseram: «Não
sabemos como fazes, Marceau, teus marinheiros estão sempre
contentes, quaisquer que sejam os serviços que lhes mandas, e os
nossos se queixam, clamam, ficam furiosos, não podemos domá-los.»
– «Senhores,
disse Marceau, vou indicar-vos como procedo: quando vejo que eles
estão descontentes, vou passar uma hora ou duas diante do Santíssimo
Sacramento, por sua intenção, e então tudo corre bem.»
Alguém lhe mostrava surpresa pela grande brandura que ele mostrava
num conflito entre os oficiais: «Por
que espantar-vos?, disse Marceau, eu comunguei hoje!»
Comandante da Arca da aliança, ele tinha estabelecido a bordo a mais
bela ordem. Começava-se o dia pela oblação do santo Sacrifício. O
capitão mesmo preparava os ornamentos, depois reivindicava para si o
privilégio de ajudar a Missa. Ele ajudava três a cada dia, e
durante elas ficava como aniquilado de joelhos. Tendo Marceau sabido
que muitos marinheiros murmuravam por ele comungar todos os dias,
reuniu-os e disse lhes: «Em
vez de vos escandalizardes e murmurardes, deveis regozijar-vos. Se eu
não comungasse todos os dias, ao menor descontentamento que me
desseis, jogar-vos-ia todos no mar.»
Certo
dia um amigo manifestava o temor que tinha de comungar, porque
faltava-lhe o fervor. «E
eu, respondeu o comandante, porque sou um miserável, e que comungo
tantas vezes, tenho necessidade de um remédio quotidiano para me
suster.»
Em 1851, quando foi acometido da enfermidade de que morreu, ele quis
ir recomendar seus pios projetos ao santuário bendito do Coração
de Jesus, Paray-le-Monial. A irmã que lhe prestou os derradeiros
serviços, dizia: «Nunca
encontramos modelo mais perfeito em todas as virtudes.»
Quem poderá desesperar vendo Marceau, livre pensador, tornar-se um
santo! Nele se verificou a bela palavra de S. Francisco de Sales:
«Uma
só alma fervorosa dá mais gloria a Deus que mil cristãos
negligentes e tíbios.»
☞ NOTA
DO BLOG - 1:
A guarda de honra a que se refere Santo Afonso, não é a prática
devocional revelada pelo Santíssimo Redentor, em março de 1863, à
Irmã
Maria do Sagrado Coração Bernaud, religiosa do Mosteiro da
Visitação (França), aprovada pelo Santo Padre, Papa Pio IX, em
1867, e sobre a qual postaremos oportunamente.
☞ NOTA
DO BLOG - 2:
Estamos iniciando o Mês do Sagrado Coração de Jesus, e para melhor
celebrá-lo, publicaremos, a cada dia do mês, uma meditação. A de
hoje, será publicada mais tarde, neste mesmo blog.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 324-331 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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