«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JANEIRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


"Dulcíssimo Coração de Jesus, feri meu coração com vosso santo amor!"


A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO, SETA RESERVADA


Santo Agostinho diz que Deus, para conquistar o amor dos homens, lançou-lhes nos corações diversas setas de amor. Quais são elas? São, primeiro as criaturas, depois o Verbo Encarnado, e enfim a devoção especial ao Sagrado Coração, reservada para estes últimos tempos. Todas as criaturas que vemos, são setas de amor; Deus as fez para o homem, a fim de ganhar seu coração.

Por esta razão Santo Agostinho parecia ouvir as vozes com que elas lhe pregavam o amor divino. Parecia-lhe que o sol, a lua, as estrelas, as montanhas, os campos, os mares, os rios, as flores, os frutos, os pássaros e os peixes lhe bradavam, uns após outros: Agostinho, ama a Deus; Agostinho, ama a Deus; porque Deus nos criou para ti, para te atrair ao seu amor.

Todos estes objetos são então outras tantas setas de amor, que devem inflamar o coração do homem, mas, como se não bastassem, o Padre Eterno chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho, seu Filho muito amado. Deus amou tanto o mundo, diz Jesus a Nicodemos, que lhe deu seu Filho único! (Jo 3, 16) Oh! Que seta de fogo Jesus Cristo! Como suas qualidades divinas são capazes de arrebatar todos os corações! Quando as filhas de Jerusalém perguntavam à esposa dos Cânticos pelas qualidades do seu Amado: Qualis est dilectus tuus? (Ct 5, 10), ela respondia com açodamento amoroso: Meu Amado é escolhido entre mil; é de uma beleza que excede todas as belezas. Sua cabeça é brilhante como o ouro puro seu rosto é como um lírio branco e vermelho… E assim continua, empregando os emblemas mais expressivos para descrever a Jesus Cristo, até que, não sabendo mais que dizer, termina por estas palavras: Enfim meu Amado é todo desejável; ele não é como os outros filhos dos homens: entre todos se distingue pela beleza; (Sl 41, 3) é tão perfeito, que não lhe falta perfeição nenhuma: é, em tudo, o mais belo. Com efeito, em qualquer situação de sua vida que Jesus Cristo se apresenta ao nosso olhar, parece-nos todo desejável, todo amável, seja como menino na lapa, seja como simples operário na oficina de São José, quer como solitário no deserto, quer como pregador do Evangelho, percorrendo a Judéia e Galiléa, mas em lugar algum nos parece mais amável do que sobre a cruz, onde o vemos com o Coração traspassado, e na Eucaristia, onde se digna dar-se a nós como vítima, companheiro e alimento: Tatus desiderabilis, talis est dilectus meus.
"Ó Jesus, vinde morar em meu coração!"

Esta seta ardente abrasou muitas almas que se consumiram de amor para com Deus; mas aí, muitos corações com tudo ficaram endurecidos. Que fez o Senhor? Apareceu a Santa Margarida Maria, dizendo-lhe: Eis aqui o Coração que tanto amou os homens! O caçador reserva a sua melhor flecha para o último arremesso, a fim de melhor assegurar a presa que persegue; assim Jesus Cristo, entre todos os seus benefícios, guardou a devoção especial para com seu Sagrado Coração como uma seta de reserva, até estes últimos tempos: e agora ele quer que ela se propague por toda parte, como para dar o último golpe, e ferir com seu amor os corações dos homens: Posuit me sicut sagittam electam, in pharetra sua abscondit me. (Is 49, 2)

É agora então, alma cristã, é agora o tempo de amar: É agora a época do amor: Ecce tempus tuum, tempus amantium. (Ez 16, 8) E qual será a prova de amor que ides dar a Jesus Cristo? Ah! Ides procurar agradar-lhe; ides tomar por vossa divisa: Agradar a Deus e morrer!… Oh! Quanto é belo agradar a Deus! Se quereis saber o que se entende por agradar a Deus, escutai o que escreveu o padre Antônio Torres: «Significa agradar a esse Coração cheio de amor, ao qual devemos tanto; ser agradável aos divinos olhos sempre cheios de solicitude para nosso bem; satisfazer a esta vontade divina, sempre ocupada em nos amar. Agradar a Deus é o fim para que fomos criados, o fim a que devem tender todos os nossos desejos, a regra que deve dirigir todo o nosso proceder. Agradar a Deus é o que os santos buscam antes de tudo; é o que levou tantas virgens a se consagrarem ao Senhor nos claustros; é o que tornou insensíveis às calúnias e às injúrias os que foram perseguidos; é o que tornou doces aos mártires os tormentos e a morte mesma. Agradar a Deus é uma coisa tão excelente, que se deve preferir a todos os interesses, a todas as felicidades… Eis aí o que quer dizer: Agradar a Deus.»

Aquele que deseja agradar a Deus perfeitamente deve tomar as resoluções seguintes:

1°. Evitar toda falta venial voluntária.
2°. Despir-se de todo afeto as coisas da terra.
3°. Nunca deixar seus exercícios ordinários de oração e mortificação, quaisquer que sejam o enojo e desgosto que neles se ache.
4°. Meditar todos os dias na Paixão.
5°. Submeter-se à vontade de Deus em todas as contrariedades.
6°. Pedir sem cessar a Deus o dom de seu santo amor.

PRÁTICA

Tomarei por divisa: Agradar ao Coração de Jesus, e morrer. Seu amor para comigo é sem limites! Não chegarei a amá-lo também sem reserva? Isto alcançarei, se puser em prática os meios acima indicados.

AFETOS E SÚPLICAS

Meu Senhor, meu Deus, meu amor, meu tudo, sei que só vós me podeis tornar feliz, nesta vida e na outra; mas não quero vos amar para minha própria satisfação; todo meu desejo, no amor que vos consagro, é contentar vosso divino Coração: quero que minha paz, minha felicidade, durante toda a minha vida, consista unicamente em unir minha vontade à vossa santa vontade, ainda que me fosse preciso sofrer para isto todos os males. Vós sois meu Deus, e eu sou vossa criatura; ah! que posso desejar senão agradar a meu Soberano Senhor, a meu Deus, que me consagra amor de predileção? Ó meu Jesus, vós descestes do céu para levardes aqui na terra vida pobre e mortificada por amor de mim; renuncio a tudo e não quero mais viver senão para vos amar; todo meu prazer será vos agradar.

Eu vos amo, ó meu amável Redentor, eu vos amo com todas as minhas forças. Para que me permitais vos amar, ensinai-me como vos agradar! Estou resolvido a vos satisfazer quanto me for possível. Ó Mãe de Deus, tornai-me semelhante a vós, não na glória, que não posso merecer no mesmo grau que vós, mas na graça de agradar ao Senhor e de fazer como vós sua divina vontade.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Dulcíssimo Coração de Jesus, feri meu coração com vosso santo amor.

EXEMPLO
Antigo holy Card francês de Santa Margarida
Maria (ainda Beata)

A Madre Mélin tinha privado da comunhão Santa Margarida Maria na primeira sexta feira do mês. O Senhor, para a punir, ameaçou-a com o tirar-lhe uma jovem professa de grande esperança: era a irmã Rosália Verchere. Ainda na flor da idade, pois tinha apenas dezoito anos, caiu de repente e perigosamente enferma, e em poucos dias corria risco de vida. Margarida Maria tinha se posto em oração para pedir a Nosso Senhor seu restabelecimento, e foi-lhe respondido que esta irmã continuaria enferma, até que a superiora tirasse a proibição quanto à comunhão da primeira sexta-feira do mês. Não podendo resolver-se por si mesma a fazer conhecer as graças que recebeu do Coração do seu Amado, a Santa recorreu a uma irmã antiga, Maria Magdalena, em quem tinha grande confiança. Escreveu-lhe, pois, o bilhete seguinte: «No Sagrado Coração de Jesus Cristo é que vos escrevo este bilhete, minha querida irmã, pois ele assim o quer. Não vos surpreendais que me dirija a vós na extrema pena que padeço por causa de minha irmã Verchere. Esta manhã, levantando-me, pareceu-me ouvir distintamente estas palavras: Dize à tua superiora que ela me dá grande desgosto… proibindo-te à comunhão que eu te tinha mandado fazer nas primeiras sextas-feiras de cada mês, a fim de satisfazer, oferecendo a meu eterno Pai os merecimentos de meu Sagrado Coração, à sua divina justiça pelas faltas que se cometem contra a caridade. Visto como te escolhi para seres a vítima expiatória destas faltas, e ela te proibiu de cumprir minha vontade nisto, estou resolvido a sacrificar para mim, como vítima, a irmã que esta enferma.» A irmã Magdalena não hesitou em aconselhar-lhe que declarasse tudo à superiora; a Santa o fez, apesar de sua extrema repugnância. A Madre Mélin respondeu que lhe permitiria a comunhão na primeira sexta-feira do mês, mas contanto que ela rogasse a Jesus pelo restabelecimento da irmã Verchere. Margarida obedeceu, e a enferma, cuja morte parecia inevitável, saiu logo do perigo. Entretanto a Santa, que tomou as palavras da superiora como simples promessa, não ousava ainda recomeçar suas comunhões. Também a irmã Verchere, saída das portas do túmulo, continuava com grandes dores. Durante os cinco ou seis meses que ela esteve na enfermaria, a Santa lhe fez frequentes visitas, e ao mesmo tempo conjurava ao Coração de Jesus que acabasse a cura que tinha começado. Mas Nosso Senhor declarou positivamente que ela não seria atendida, senão quando tivesse recomeçado suas comunhões da primeira sexta-feira do mês. Pelo que Margarida resolveu a falar de novo à superiora, e esta não quis resistir mais tempo a uma vontade do céu tão claramente manifestada. Logo a irmã Verchere ficou completamente sã.




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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 288-294 – Texto revisto, e atualizado)

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