PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JANEIRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
"Dulcíssimo Coração de Jesus, feri meu coração com vosso santo amor!" |
A
DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO, SETA RESERVADA
Santo
Agostinho diz que Deus, para conquistar o amor dos homens,
lançou-lhes nos corações diversas setas de amor. Quais são
elas? São, primeiro as criaturas, depois o Verbo Encarnado, e enfim
a devoção especial ao Sagrado Coração, reservada para estes
últimos tempos. Todas as criaturas que vemos, são setas de amor;
Deus as fez para o homem, a fim de ganhar seu coração.
Por
esta razão Santo Agostinho parecia ouvir as vozes com que elas lhe
pregavam o amor divino. Parecia-lhe que o sol, a lua, as estrelas, as
montanhas, os campos, os mares, os rios, as flores, os frutos, os
pássaros e os peixes lhe bradavam, uns após outros: Agostinho, ama
a Deus; Agostinho, ama a Deus; porque Deus nos criou para ti, para te
atrair ao seu amor.
Todos
estes objetos são então outras tantas setas de amor, que devem
inflamar o coração do homem, mas, como se não bastassem, o Padre Eterno
chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho, seu Filho muito
amado. Deus amou tanto o mundo, diz Jesus a Nicodemos, que
lhe deu seu Filho único! (Jo 3, 16) Oh! Que seta
de fogo Jesus Cristo! Como suas qualidades divinas são capazes de
arrebatar todos os corações! Quando as filhas de Jerusalém
perguntavam à esposa dos Cânticos pelas qualidades do seu Amado:
Qualis est dilectus tuus? (Ct 5, 10), ela respondia com
açodamento amoroso: Meu Amado é escolhido
entre mil; é de uma beleza que excede todas as belezas.
Sua cabeça é brilhante como o ouro puro seu
rosto é como um lírio branco e vermelho…
E assim continua, empregando os emblemas mais expressivos para
descrever a Jesus Cristo, até que, não sabendo mais que dizer,
termina por estas palavras: Enfim meu Amado é todo
desejável; ele não é como os outros filhos dos homens:
entre todos se distingue pela beleza; (Sl 41, 3) é tão
perfeito, que não lhe falta perfeição nenhuma: é, em tudo, o mais
belo. Com efeito, em qualquer situação de sua vida que Jesus Cristo
se apresenta ao nosso olhar, parece-nos todo desejável, todo amável,
seja como menino na lapa, seja como simples operário na oficina de
São José, quer como solitário no deserto, quer como pregador do
Evangelho, percorrendo a Judéia e Galiléa, mas em lugar algum nos
parece mais amável do que sobre a cruz, onde o vemos com o Coração
traspassado, e na Eucaristia, onde se digna dar-se a nós como
vítima, companheiro e alimento: Tatus desiderabilis, talis est
dilectus meus.
"Ó Jesus, vinde morar em meu coração!" |
Esta
seta ardente abrasou muitas almas que se consumiram de amor para com
Deus; mas aí, muitos corações com tudo ficaram endurecidos. Que
fez o Senhor? Apareceu a Santa Margarida Maria, dizendo-lhe: Eis
aqui o Coração que tanto amou os homens! O caçador reserva a
sua melhor flecha para o último arremesso, a fim de melhor assegurar
a presa que persegue; assim Jesus Cristo, entre todos os seus
benefícios, guardou a devoção especial para com seu Sagrado
Coração como uma seta de reserva, até estes últimos tempos: e
agora ele quer que ela se propague por toda parte, como para dar o
último golpe, e ferir com seu amor os corações dos homens: Posuit
me sicut sagittam electam, in pharetra sua abscondit me. (Is 49,
2)
É
agora então, alma cristã, é agora o tempo de amar: É
agora a época do amor:
Ecce tempus tuum, tempus amantium. (Ez 16, 8) E qual será a
prova de amor que ides dar a Jesus Cristo? Ah! Ides procurar
agradar-lhe; ides tomar por vossa divisa: Agradar a Deus e
morrer!… Oh! Quanto é belo agradar a Deus! Se quereis saber o
que se entende por agradar a Deus, escutai o que escreveu o padre
Antônio Torres: «Significa
agradar a esse Coração cheio de amor, ao qual devemos tanto; ser
agradável aos divinos olhos sempre cheios de solicitude para nosso
bem; satisfazer a esta vontade divina, sempre ocupada em nos amar.
Agradar a Deus é o fim para que fomos criados, o fim a que devem
tender todos os nossos desejos, a regra que deve dirigir todo o nosso
proceder. Agradar a Deus é o que os santos buscam antes de tudo; é
o que levou tantas virgens a se consagrarem ao Senhor nos claustros;
é o que tornou insensíveis às calúnias e às injúrias os que
foram perseguidos; é o que tornou doces aos mártires os tormentos e
a morte mesma. Agradar a Deus é uma coisa tão excelente, que se
deve preferir a todos os interesses, a todas as felicidades… Eis aí
o que quer dizer: Agradar a Deus.»
Aquele
que deseja agradar a Deus perfeitamente deve tomar as resoluções
seguintes:
1°.
Evitar toda falta venial voluntária.
2°.
Despir-se de todo afeto as coisas da terra.
3°.
Nunca deixar seus exercícios ordinários de oração e mortificação,
quaisquer que sejam o enojo e desgosto que neles se ache.
4°.
Meditar todos os dias na Paixão.
5°.
Submeter-se à vontade de Deus em todas as contrariedades.
6°.
Pedir sem cessar a Deus o dom de seu santo amor.
PRÁTICA
Tomarei
por divisa: Agradar ao Coração de Jesus, e morrer. Seu amor para
comigo é sem limites! Não chegarei a amá-lo também sem reserva?
Isto alcançarei, se puser em prática os meios acima indicados.
AFETOS
E SÚPLICAS
Meu
Senhor, meu Deus, meu amor, meu tudo, sei que só vós me podeis
tornar feliz, nesta vida e na outra; mas não quero vos amar para
minha própria satisfação; todo meu desejo, no amor que vos
consagro, é contentar vosso divino Coração: quero que minha paz,
minha felicidade, durante toda a minha vida, consista unicamente em
unir minha vontade à vossa santa vontade, ainda que me fosse preciso
sofrer para isto todos os males. Vós sois meu Deus, e eu sou vossa
criatura; ah! que posso desejar senão agradar a meu Soberano Senhor,
a meu Deus, que me consagra amor de predileção? Ó meu Jesus, vós
descestes do céu para levardes aqui na terra vida pobre e
mortificada por amor de mim; renuncio a tudo e não quero mais viver
senão para vos amar; todo meu prazer será vos agradar.
Eu
vos amo, ó meu amável Redentor, eu vos amo com todas as minhas
forças. Para que me permitais vos amar, ensinai-me como vos agradar!
Estou resolvido a vos satisfazer quanto me for possível. Ó Mãe de
Deus, tornai-me semelhante a vós, não na glória, que não posso
merecer no mesmo grau que vós, mas na graça de agradar ao Senhor e
de fazer como vós sua divina vontade.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Dulcíssimo
Coração de Jesus, feri meu coração com vosso santo amor.
EXEMPLO
Antigo holy Card francês de Santa Margarida Maria (ainda Beata) |
A
Madre Mélin tinha privado da comunhão Santa Margarida Maria na
primeira sexta feira do mês. O Senhor, para a punir, ameaçou-a com
o tirar-lhe uma jovem professa de grande esperança: era a irmã
Rosália Verchere. Ainda na flor da idade, pois tinha apenas dezoito
anos, caiu de repente e perigosamente enferma, e em poucos dias
corria risco de vida. Margarida Maria tinha se posto em oração para
pedir a Nosso Senhor seu restabelecimento, e foi-lhe respondido que
esta irmã continuaria enferma, até que a superiora tirasse a
proibição quanto à comunhão da primeira sexta-feira do mês. Não
podendo resolver-se por si mesma a fazer conhecer as graças que
recebeu do Coração do seu Amado, a Santa recorreu a uma irmã
antiga, Maria Magdalena, em quem tinha grande confiança.
Escreveu-lhe, pois, o bilhete seguinte: «No
Sagrado Coração de Jesus Cristo é que vos escrevo este bilhete,
minha querida irmã, pois ele assim o quer. Não vos surpreendais que
me dirija a vós na extrema pena que padeço por causa de minha irmã
Verchere. Esta manhã, levantando-me, pareceu-me ouvir distintamente
estas palavras: Dize à tua superiora que ela me dá grande desgosto…
proibindo-te à comunhão que eu te tinha mandado fazer nas
primeiras sextas-feiras de cada mês, a fim de satisfazer, oferecendo
a meu eterno Pai os merecimentos de meu Sagrado Coração, à sua
divina justiça pelas faltas que se cometem contra a caridade. Visto
como te escolhi para seres a vítima expiatória destas faltas, e ela
te proibiu de cumprir minha vontade nisto, estou resolvido a
sacrificar para mim, como vítima, a irmã que esta enferma.»
A irmã Magdalena não hesitou em aconselhar-lhe que declarasse tudo
à superiora; a Santa o fez, apesar de sua extrema repugnância. A
Madre Mélin respondeu que lhe permitiria a comunhão na primeira
sexta-feira do mês, mas contanto que ela rogasse a Jesus pelo
restabelecimento da irmã Verchere. Margarida obedeceu, e a enferma,
cuja morte parecia inevitável, saiu logo do perigo. Entretanto a
Santa, que tomou as palavras da superiora como simples promessa, não
ousava ainda recomeçar suas comunhões. Também a irmã Verchere,
saída das portas do túmulo, continuava com grandes dores. Durante
os cinco ou seis meses que ela esteve na enfermaria, a Santa lhe fez
frequentes visitas, e ao mesmo tempo conjurava ao Coração de Jesus
que acabasse a cura que tinha começado. Mas Nosso Senhor declarou
positivamente que ela não seria atendida, senão quando tivesse
recomeçado suas comunhões da primeira sexta-feira do mês. Pelo que
Margarida resolveu a falar de novo à superiora, e esta não quis
resistir mais tempo a uma vontade do céu tão claramente
manifestada. Logo a irmã Verchere ficou completamente sã.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 288-294 – Texto revisto, e
atualizado)
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