CATECISMO
DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CATECISMO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Coração amantíssimo de Jesus |
SEGUNDA PARTE
O REINADO DO CORAÇÃO DE JESUS. COMO ELE DESEJA REINAR ?
IISEGUNDA PARTE
O REINADO DO CORAÇÃO DE JESUS. COMO ELE DESEJA REINAR ?
AS
DUAS LEIS FUNDAMENTAIS DO REINADO DO SAGRADO CORAÇÃO
(Continuação)
O
princípio fundamental que deve governar os súditos deste divino
Rei, podem ser enunciados desta forma: O
Sagrado
Coração quer reinar por amor.
E
assim quer por dois motivos: porque nos ama, e porque não é amado.
Daí deduzem-se duas leis gerais: o amor
e
a reparação.
Porque
nos ama, quer que lhe paguemos amor com amor; porque não é
amado,
pede que lhe ofereçamos reparações, e essas reparações devem ser
feitas especialmente por amor. Rei incomparável que assim nos diz:
«Amai-me,
porque eu vos amo!
Amai-me,
porque não sou amado».
8)
Qual
a
primeira
lei
do
reinado do Sagrado Coração?
Primeiramente
mostraremos que o amor é
a
primeira lei dada pelo Coração de Jesus aos seus servos, e em
seguida indicaremos os motivos, o caráter e as qualidades deste
amor.
9)
O Coração
de Jesus quer reinar por amor?
«O
fim
principal da devoção ao Sagrado Coração, diz Santa Margarida
Maria1,
é
converter
as
almas
ao amor deste divino Coração, e fazê-lo senhor e possuidor dos
nossos corações, retribuindo-lhe amor com amor. Um2
dia vi um coração a
arder
todo em chamas, e ouvi estas palavras: "Tenho
sede; desejo ardentemente ser amado”».
«O
meu
amabilíssimo Salvador fez-me conhecer: 1º.
que
o ardente desejo que tem de ser amado lhe fez conceber o desígnio de
manifestar aos homens o seu Coração, com todos os tesouros de amor,
de misericórdia, de graça, de santificação e de salvação, que
ele encerra; 2º.
que
é
necessário
honrar esse amor na figura deste coração de carne; e 3º.
que
esta devoção é o último esforço do amor divino para nos dar a
doce liberdade deste reino de amor».
10)
Quais os motivos que nos obrigam a amar o Sagrado Coração?
Santa
Margarida Maria indica principalmente nove títulos [motivos], que o
Sagrado Coração oferece ao nosso amor:
1º.
É
o
Coração do nosso Criador e
do
nosso Juiz.
«O
Coração
amabilíssimo do meu bom Mestre3
é
o Coração de um criador e de um juiz: quer [receber] o amor e a
homenagem das suas criaturas, escreve ela».
2º.
É
o
Coração do melhor dos Pais,
«que
me gerou na cruz, no meio de grandes sofrimentos, e é justo que lhe
pertençamos sem reserva, e que nos lancemos confiadamente nos seus
braços que, por nosso amor, estendeu na cruz».
3º.
É
o
Coração de um bom Pastor.
«Contemos
os passos que este soberano Pastor têm dado nos procurando. Devemos
agradecer-lhe e unir os nossos aos seus, pedindo-lhe a graça de
caminhar sempre pela estrada do seu amor, dizendo-lhe muitas vezes:
Ah!
meu amável Pastor, desprendei-me de todas as coisas terrenas e de
mim
mesmo,
para que só me una a vós. Falai ao meu coração, e atraiu-o tão
fortemente ao vosso amor, que não possa resistir-vos».
4º.
É
o Coração do nosso Soberano,
que
se regozija vendo-nos combater; seja a nossa satisfação sermos-lhe
fiéis, e digamos-lhe: «Ó
Senhor, o meu coração pertence-vos! Não permitais que ele se ocupe
senão de vós, que sois o preço das minhas vitórias e o
sustentáculo inabalável da minha miséria».
5º.
É
o
Coração de um piloto hábil e dedicado.
«É
necessário
entrarmos na chaga do Sagrado Coração como pobres viajantes,
expostos a um contínuo naufrágio no mar tempestuoso deste mundo, se
nos falta o socorro do nosso hábil piloto, a cujos cuidados devemos
nos entregar confiadamente. O nosso cuidado deve ser amá-lo e
agradar-lhe, e assim dizer muitas vezes a Nosso Senhor: Meu
Deus, Vós sois o meu tudo, a minha vida e o meu amor! Salvai-me, e
não me deixeis perecer no abismo das minhas iniquidades».
6º.
É
o
Coração do nosso Salvador.
«Consideremos
o amável Coração de nosso Senhor Jesus Cristo como o Coração do
nosso Libertador, que morreu de amor por nós».
7º.
É
o
Coração de um bom Mestre e de um sábio Diretor.
«Um
dia, escreve a Bem-aventurada [hoje, Santa], apresentou-se diante de
mim o amado da minha alma, e disse-me, mostrando-me o Coração. “Eis
o Mestre que te dou, e que te ensinará o
que
deves fazer por meu amor”.
Isto ficou de tal modo impresso no meu espírito, que nunca mais o
pude esquecer. Consideremos, pois, o Coração de Jesus como nosso
Mestre, que nos ensinará a conhecê-lo e amá-lo com
toda
a nossa alma, com todas as nossas forças e
potências,
pois nesse amor está a nossa alegria e felicidade. É um diretor tão
bom que, ao mesmo tempo que ensina, proporciona os meios de pôr em
prática as suas lições, ou ainda melhor, ele próprio é esse meio
e essa prática»
.
8º.
É
o
Coração de um benfeitor generoso,
«que
se compraz em fazer ricos aos necessitados, –
e de um
Mediador
omnipotente,
que
sem cessar intercede pelo mundo culpado.
9º.
É
o Coração de um amigo.
«Considerai
nosso Senhor como um verdadeiro e perfeito amigo, diz a
Bem-aventurada. Olhando-o assim, podemos dizer-lhe todos os segredos
do nosso coração, patentear-lhe as nossas misérias e necessidades,
como aquele que exclusivamente as pode remediar. Digamos-lhe:
Ó
amigo
do meu Coração, aquele que amais está enfermo. Visitai-me e
curai-me; bem sei que
não
podeis amar-me e ao mesmo tempo desamparar-me».
11)
Como nos mostra Nosso Senhor o amor de um amigo?
A
amizade supõe certa igualdade entre os amigos,
reciprocidade nos afetos e troca mutua de
bens.
Ora, Nosso Senhor fez-se semelhante a nós na
Encarnação;
pede por isso amor por amor, e
depois
de nos ter dado com o seu Coração tudo o
que
tem e tudo o que é, convida-nos a que nos consagremos inteiramente a
ele.
Ademais,
no amor que o Coração de Jesus nos tem, encontram-se todas as
qualidades de uma amizade perfeita.
12)
Qual
é
a
primeira qualidade da amizade?
É
a sinceridade,
que
faz com que não amem só com palavras, mas mostremos essa afeição
por obras. Assim foi e assim é o amor de Nosso Senhor ara conosco.
«Mas,
meu Deus, como é grande este amor do
Coração
de Jesus, exclama a Santa4.
Este Coração adorável amou tanto os homens, que para lhes
testemunhar o seu amor morreu na árvore da cruz, e ainda hoje se
consome de amor no SS. Sacramento».
13)
Qual
é
a
segunda qualidade da amizade?
A
indulgência
e uma bondade
misericordiosa
é
o
segundo traço distintivo do amor que o Sagrado Coração nos tem.
«Então
minha querida mãe, escrevia a Santa à Madre de Saumaise, que
diremos do Coração Sagrado do nosso amabilíssimo Jesus? O seu amor
é cheio de misericórdia. Ainda não tinha reparado em tanta
misericórdia.
Cerca-me
por todos os lados, sinto-me abismada nela e dela não posso sair.
Oh! que grandes são as misericórdias e liberalidades do meu
soberano Senhor! São tão abundantes em mim, que nem posso
explicá-las, nem
distingui-las.
Muitas
vezes só assim me posso exprimir: Misericordias
Domini in deternum cantabo!
E
que mais poderei eu dizer?»
14)
Qual
é
a
terceira qualidade da verdadeira amizade?
É
uma constância
inabalável,
e
é assim que Nosso Senhor nos ama.
«Este
amável Coração, escreve a Santa, não cessa de se consumir em amor
para conosco. Ama-nos tão ardentemente, que está sempre abrasado de
amor no SS. Sacramento».
15)
Qual
é
a
quarta qualidade do amor que nos tem o Sagrado Coração?
O
amor da amizade do Coração de Jesus tem uma quarta qualidade, que
não se encontra nas amizades humanas:
é
um amor
universal.
Entre
os homens o círculo dos amigos é muito restrito. Nosso Senhor
ama-nos a todos com amor de amizade, ainda que não a
todos
igualmente, pois têm os seus privilegiados.
16)
Quais
são as almas que o Sagrado Coração ama com predileção?
O
Sagrado Coração tem uma solicitude muito particular pelas almas
aflitas, pelas almas tíbias e pelas almas fervorosas.
17)
Como é que as almas mais provadas têm por isso a predileção do
Coração de Jesus?
«Ah!
minha querida irmã, escrevia Santa Margarida Maria a uma noviça, a
quem torturavam muitas inquietações de espírito, se
compreendêsseis a ardente caridade de Nosso Senhor para conosco,
facilmente veríeis que todas essas permissões e disposições são
provas do seu amor. Aquilo que julgais serem rigores da sua justiça,
são unicamente manifestações da sua amorosa bondade. Por isso vos
digo: quanto tendes que a gradecer ao Coração do nosso divino
Mestre, que tanto vos ama!
Desta
maneira, é que ele purifica as almas como o ouro no crisol, e lhes
tira toda a liga.
18)
Por que razão tem Nosso Senhor uma espécie de predileção para com
as
almas tíbias?
O
Coração
de Jesus manifestou muitas vezes a Santa Margarida Maria que há
outra classe de pessoas, com que ele usa de uma ternura particular:
são aquelas almas que, depois de terem sido fervorosas, caíram na
tibieza.
Quantas
vezes ele lhe pediu que se sacrificasse por essas almas negligentes!
Acaso um amigo fiel pode esquecer um amigo ternamente amado, mas
infiel?
«A
graça que assim vos persegue, apesar das vossas continuas
reincidências, escreve a nossa Bem-aventurada a uma dessas almas
negligentes, é tudo o que há de melhor, por que isso prova o desejo
ardente que Deus tem de salvar a vossa alma, mas não o fará sem a
vossa cooperação. Por esta razão conheço que o Senhor vos ama, e
quereria ver-vos adiantar no seu amor».
19)
Quais são as almas que o Coração de Jesus
ama
com maior de predileção?
Coração de Jesus, Bom Pastor |
As
almas que o Coração de Jesus ama com maior predileção são as
almas fervorosas, diz Santa Margarida Maria, como a medida do seu
amor é
o
grau de fervor que sentem os seus servos assim, a alma que for mais
humilde penetrará mais no íntimo do Coração de Jesus; a mais
pobre e
despojada
de tudo possuí-la-á mais perfeitamente; a mais mortificada receberá
maiores carícias; a mais obediente fá-lo-á triunfar; a mais
caritativa será a mais amada; a mais silenciosa será a mais
ensinada. O excesso do seu amor inscreverá os seus nomes neste
Coração Sagrado.
20)
Qual
é a quinta qualidade do amor do Sagrado Coração para
conosco?
O
amor do Sagrado Coração tem ainda mais um distintivo: é a
fidelidade.
Com
efeito, ama-nos apesar das nossas infidelidades para com Ele, apesar
da nossa indiferença a seu respeito; ama-nos não obstante as nossas
ingratidões e ultrajes; o próprio ódio não é capaz de triunfar
deste amor. Amigo sempre fiel, vai em busca de seus inimigos,
procurando vencê-los à força de amor. Aquae
multa non potuerunt extinguere charitatem.5
«O
Sagrado Coração, diz a Santa, cobriu a nossa alma com o
manto da sua caridade, para não nos privar da sua misericórdia».
21)
Qual deve ser o sinal distintivo do nosso amor ao Sagrado Coração?
Com
uma só palavra podemos indicar o distintivo do nosso amor ao Coração
de Jesus: devemos testemunhar-lhe um
amor de amizade.
22)
Como podemos ter a Nosso Senhor um amor de amizade?
1º.
Esforçando-nos
por imitá-lo e tornarmo-nos semelhantes a Ele, sobretudo na mansidão
e na humildade.
2º.
Dando
ao nosso amor para com Nosso Senhor os mesmos caracteres que
encontramos no amor de Nosso Senhor para conosco.
23)
Como poderemos testemunhar ao Sagrado Coração a sinceridade do
nosso amor?
Fazendo
por seu amor todos os sacrifícios que nos pedir.
24)
Como poderemos testemunhar ao Sagrado Coração um amor
misericordioso?
Compadecendo-nos
das suas dores, e esforçando-nos por consolá-lo dos ultrajes que
recebe, e repará-los.
25)
Como poderemos corresponder ao amor constante que o Sagrado Coração
nos tem?
Dedicando-nos
ao seu serviço, não obstante os sacrifícios que tivermos de fazer.
«Custe
o que custar, diz a Bem-aventurada, perseveremos no amor deste
Coração Sagrado, para darmos algum retorno ao amor que nos reserva
liberalidades maiores do que aquelas que já nos têm concedido. Mas
não paremos aqui: é
preciso
ir até ao fim, sem cansaço nem desânimo com o trabalho que
tivermos,
porque tudo é para glória de Deus e santificação da nossa alma».
26)
Como poderá ser universal o nosso amor ao Sagrado Coração?
Em
certo modo podemos imitar esta qualidade do amor do Sagrado Coração,
amando todas as criaturas, como ele mesmo as ama, nele e por ele.
27)
Como há de
ser fiel o
nosso amor ao Coração de Jesus?
«Nada
se pode comparar ao amigo fiel»
, diz o Espírito Santo6.
A fidelidade supõe um amor extraordinário, acompanhado de uma
dedicação sem limites e de
uma
delicadeza excepcional, que se estende a todos os instantes da vida,
e
está
disposta a vencer todos os obstáculos que se lhe apresentem.
«Para
empregar bem o tempo, diz Santa Margarida Maria, é preciso que
sejamos inviolavelmente fiéis a Deus, ao Coração Sagrado de Nosso
Senhor, a nós mesmos, às nossas regras comuns e ao nosso
regulamento particular, e isto, custe o que custar, seja qual for a
violência que tenhamos de fazer».
"Eis aqui o Tabernáculo de Deus entre os homens" |
Santa
Margarida Maria indica um grande numero delas, que podemos dividir em
três classes: «O
que
pede o Coração de Jesus aos seus amigos, diz ela8,
é
a pureza de intenção, a humildade nas obras, e a unidade no desejo»
. Segundo este divino programa, podemos dividir este amor ou
as
qualidades dele em
três classes, conforme dizem respeito:
1ª. a
pureza do coração e da intenção; 2ª. a
prática
das virtudes, especialmente a da humildade; 3ª. a perfeição do
amor divino, ou a união perfeita com o Coração de Jesus.
Contentemo-nos
com uma rápida exposição de todas elas.
29)
Quais
são as qualidades que formam a primeira classe, ou que
se
referem à pureza do coração?
A
Santa indica quatro principais:
1º.
O
amor ao Sagrado Coração deve ser timorato,
isto
é, deve inspirar um temor filial de tudo aquilo que possa contristar
este divino Coração, e não somente aos que principiam, mas também
às almas adiantadas na virtude, «porque,
diz a Santa, nesta vida mortal há sempre que recear. Mas o nosso
temor deve ser amorosamente filial, que nos faça praticar o bem, e
evitar o mal. Desembaracemo-nos de todos os outros temores, que não
podem vir senão do espírito das trevas, e esforcemo-nos para que o
amor vá pouco a pouco dissipando o temor».
Na
verdade, um temor excessivo
não pode aliar-se ao amor perfeito, que exige a liberdade de filhos
e o
impulso
espontâneo do coração.
Por
esta razão revestiu a nossa alma com o vestido
da inocência e a
cobriu
com o manto da sua caridade. É necessário, portanto, evitar, não
somente o pecado, mas toda a imperfeição voluntária, que possa
manchar, ainda que pouco, a
pureza
do nosso coração, que deve ser o trono do nosso Amado, e dar-lhe
com fidelidade amor por amor conforme o conhecimento que nos der da
sua vontade».
2º.
O
amor ao Sagrado Coração deve ser simples,
sem
duplicidade nem rodeios, quer nas palavras,
quer
nas ações.
3º.
Exige
uma grande pureza de intenção e de afeição.
Este
ouro celeste não sofre nenhuma liga e exclui todo o apego desregrado
às criaturas.
«O
Coração amabilíssimo de Jesus quer
que
em todas as coisas o vejamos só a
ele
e aos interesses da sua glória, e que no mais completo esquecimento
de nós mesmos, façamos todas as nossas ações por ele.
«Escolhamos
estas divisas:
«Tudo
para Deus, nada para mim!
«Meu
Deus e meu tudo, vós sois todo meu e eu sou todo vosso.»
4º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve excluir todo o amor próprio.
«Não
devemos ter afeto demasiado a nós mesmos; tudo deve ser do Sagrado
Coração, que deseja possuir o nosso inteiramente vazio de nós
mesmos. O amável Coração do divino Mestre quer ser amado sem
reserva,
quer
tudo daqueles que ama; não quer um coração dividido; quer tudo ou
nada».
30)
Quais são as qualidades do nosso amor ao Sagrado Coração que
constituem à 2ª classe, ou que se referem às virtudes?
O
fruto principal do amor divino deve fazer produzir atos de virtude,
sobretudo atos de amor:
1º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser prático e
ativo.
«Pedis-me
alguma breve oração para testemunhar o vosso amor ao Sagrado
Coração do nosso amável Salvador10,
respondia Santa Margarida Maria a uma das suas irmãs; – para mim,
não sei, nem encontro outra superior a este mesmo amor; tudo serve
quando se ama; até as grandes ocupações são provas do nosso amor.
Amai, pois, e, como diz S anto Agostinho, fazei o que quiserdes».
2º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser livre.
A
Santa diz a este respeito: «O Coração
humilde de Jesus quer ser amado sem violência, por vontade livre e
amorosa.»
Felizes
as almas que se dedicam a este Coração divino, sem ser pelo temor
dos castigos reservados àqueles que o não querem amar!
3º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser desinteressado.
«O
verdadeiro amor ama sem interesse. Uma alma que quer ser toda de
Deus, só a ele se afeiçoa, renuncia a todo o interesse próprio e
não quer saber senão dele, que vale mais do que todos os seus dons.
O dom precioso do seu amor, ultrapassa todos os mais [os outros]; é
o único que nos deve atrair, fazer trabalhar e sofrer. Oh! quanto é
bom
amar o Sagrado Coração, por ele mesmo e só por ele! Amemo-lo sem
gosto, sem prazer, sem sentimento, quer no meio do sofrimento e da
desolação, quer no gozo das consolações. Não nos apeguemos às
doçuras espirituais; procuremos a Deus pela fé, e convençamo-nos
de que ele tanto merece o nosso amor quando nos castiga como quando
nos consola. E, se algumas consolações nos dá, é para nos dispor
a beber algumas gotas do seu cálice pela mortificação ou por outra
qualquer maneira».
O
desapego
deve ir
ainda
mais longe: para ser perfeito deve ultrapassar os limites deste
mundo; devemos desapegar-nos em certo modo dos próprios bens
eternos.
4º.
O
amor
ao Sagrado Coração exige o desapego dos bens da glória,
devemos
contentar-nos com o lugar que Deus nos tiver destinado no Céu.
5º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser humilde.
«O
Sagrado
Coração de Jesus, diz Santa Margarida Maria, quer
sobretudo que sejamos humildes de coração11.
Quer
que sejamos desprezíveis e pequenos aos nossos olhos para crescermos
nele.
6º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser obediente e submisso às criaturas.
A
alma que ama verdadeiramente a Nosso Senhor não se contenta com
obedecer àqueles que estão revestidos da autoridade divina, mas por
amor de Deus submete-se a todas as criaturas. Como Santa Margarida
Maria tem por divisa: «Tudo
se sujeite, tudo obedeça ao amor divino!» Considera as criaturas
como mensageiras deste divino amor, que muitas vezes por suas ordens,
desejos e até seus caprichos injustos ou pouco razoáveis,
manifestam a vontade do Coração de Jesus.
7º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser dócil aos conselhos.
O
amor
divino não nos diz somente: obedecei aos mandamentos, mas
acrescenta: segui os conselhos.
8º.
O
amor
do Sagrado Coração deve ser· dócil às inspirações da graça.
Deus
não nos fala somente por meio da sua Igreja e dos seus ministros,
mas ainda, e muitas vezes, pela graça. O verdadeiro amor exige que
se ouçam com docilidade estes chamamentos interiores da voz divina.
Nada é
tão
contrário a
este
amor, como as resistências à graça.
9º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser perseverante.
A duração
de alguns dias não o satisfaz; a vida inteira deste mundo é
pequena; para ele é
preciso
a eternidade. Mas esta perseverança pede uma grande generosidade e
uma coragem invencível.
10º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser contínuo
e
sem interrupção.
A alma
apaixonada pelo Coração de Jesus não se contenta com consagrar
a este
amor as circunstâncias mais importantes da
vida;
aspira transformar as palpitações do coração, as menores ações,
em outros tantos atos de amor.
«O
amor divino tudo supre, diz a Santa, mas parece-me que não teremos
tempo demais para amar o adorável Coração de Jesus, único objeto
do nosso amor. Suplico ao divino Esposo das nossas almas, que, pois
nos criou unicamente para o amar, seja para sempre o nosso amor e
nosso tudo, que nos consuma no seu puro amor, para que nem um só
momento deixemos de o amar»
11º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser militante,
«porque
o reino dos céus sofre violência12:
Não devemos empreender uma viagem tão importante no mar sublime do
amor de Deus, sem as
armas
necessárias para combater».
31)
Quais
são as qualidades do nosso amor de amizade ao Coração de Jesus que
formam a 3ª classe e se referem especialmente à
união
com este divino Coração?
O
amor de amizade a Jesus nunca diz basta, mas quanto
mais
se
aproxima deste
divino
objeto,
tanto mais deseja unir-se a ele até perder-se neste Coração
adorável; o que não terá lugar senão no céu pela visão
beatífica. Completemos as santas ascensões descritas pela Beata
Margarida Maria.
1º.
O
amor
ao Coração de Jesus deve ser acompanhado de paz interior13.
«Se
ele nos ama, diz a Santa, que temos que recear, salvo não o amar
tanto quanto ele quer? Quanto mais confiarmos, maior será o cuidado
que terá de nós».
2º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser amor de confiança.
«Tende
nele uma grande confiança, diz a Santa, e nunca desconfieis da sua
misericórdia, que é infinitamente maior
do que
todas
as
nossas misérias.
Abismai-as
todas nesta grande misericórdia. Lançai-vos muitas vezes nos braços
desta misericórdia do Coração de Jesus, resignando-vos a tudo o
que Ele quiser de vós. Nas
vossas
meditações considerai sobretudo a grande misericórdia deste
Sagrado Coração. Pedi-lhe que a derrame sobre vós e sobre todos os
pecadores».
«Oh!
quanto devemos
agradecer a Deus
o terno amor que nos tem, diz a Bem-aventurada! Amor que o obriga a
usar de tanta misericórdia para conosco que não nos deixará
perecer». «Não
temas,
me
disse
um dia,
confia
em mim;
eu
sou
o
teu
protetor e o teu fiador. Um filho pode acaso perecer nos braços de
um pai todo-poderoso?»
3º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser um amor de preferência.
«Devemos
amá-lo como a única coisa necessária ao nosso coração.
Mais
vale perder tudo do que decair da graça do Sagrado Coração.
O
Coração do nosso adorável Jesus é todo o nosso tesouro.
4º.
O
Sagrado
Coração deve ser amado com um amor de complacência,
preciosa
disposição que nos faz achar nele a nossa alegria.
5º.
O
Sagrado
Coração quer
ser
amado com um amor cioso.
«Como
Jesus é cioso do nosso coração e quer possuí-lo inteiramente,
também nós devemos ser ciosos do seu, amando-o mais do que
ninguém».
6º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser um amor de gratidão.
«Bendigamos
este divino Coração e agradeçamos-lhe o seu ardente amor para
conosco».
7º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser um amor de abandono à sua divina
vontade.
«O
Coração de Jesus quer que em tudo vejamos a sua vontade, a qual
deve acabar com os nossos desejos, deixando-lhe inteira liberdade
para fazer de nós o que lhe aprouver, e reservando-nos só o cuidado
de lhe agradar e de o amar sobre todas as coisas».
8º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser um amor crucificado,
«que
não tenha alegria senão no sofrimento, para
ser
mais conforme ao seu amado. Tenhamos por divisa: «Eu
só quero a
Jesus,
o
seu
amor e a sua cruz. Só estes bens me agradam, todos os mais me
parecem desprezíveis».
9º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser um
amor
forte e triunfante;
«pois
deve triunfar tão perfeitamente dos nossos corações, que não
possam afastar-se das suas santas leis».
10º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser ardente.
«Supliquemos
ao amável Coração de Jesus que o fogo, que ele veio trazer à
terra,
abrase sem cessar os nossos corações».
11º.
O
amor
ao Sagrado
Coração deve ser insaciável
e crescer sem cessar.
Ainda
que a nossa capacidade de amar seja finita e limitada, contudo,
quanto mais nos esforçarmos por amar a Deus, tanto mais a graça
aumenta em nós essa capacidade, de modo que, se não nos é possível
chegar a um amor infinito, podemos ao menos crescer constantemente no
amor de Deus.
«O
Senhor
ama-nos, diz Santa Margarida Maria, e quereria ver-nos adiantar cada
vez mais no seu amor».
12º.
O
amor
ao Coração de Jesus deve ser um amor de transformação e de
imitação.
«Supliquemos
ao divino Coração que nos transforme nele para que vivamos numa
inteira conformidade com sua vontade Santíssima».
13º.
O
amor
ao Sagrado Coração deve ser zeloso.
«Amar
e fazer amar o Sagrado Coração», eis qual deve ser a nossa divisa!
14º.
O
amor ao Sagrado Coração deve ser celeste.
Este
adorável Coração quer que os seus amigos da terra rivalizem em
amor com os seus amigos do céu.
15º.
O
amor
ao Sagrado Coração é
um
mistério inexplicável.
Só
no céu poderemos admirar as surpreendentes maravilhas deste
divino Coração!
32)
Será difícil chegar a este amor ao Sagrado Coração?
Quantos
cristãos ao lerem estas páginas terão a tentação de dizer: se
para amar o Coração de Jesus é
necessário
reunir todas estas qualidades, bem posso renunciar a este amor;
inútil é experimentar; nunca lá chegarei.
[MUITO
IMPORTANTE LER-SE ☞]
Almas cristãs, não raciocineis dessa forma. Com efeito, a plenitude
da perfeição do amor ao Sagrado Coração exija estas divinas
qualidades, mas pode amar-se verdadeiramente este divino Coração,
sem se possuírem todas, pelo menos em toda a extensão. Santa
Margarida Maria propõe-nos o fim que devemos atingir, o modelo que
devemos copiar, o programa que temos de cumprir; mas, para todas as
coisas há um princípio. Não deveis pretender logo o amor dos que
atingiram a perfeição; contentai-vos com o daqueles que principiam
trabalhando por alcançá-la:
é
preciso ser aprendiz para chegar a ser mestre. Experimentai,
suavemente, mas com perseverança, e sobretudo orai, e orai muito,
porque o amor divino é graça que se deve solicitar com a oração,
e é o que vos pede o Coração de Jesus.
33)
Quais
são os diversos estados, nos quais Nosso Senhor pede
que
lhe retribuamos amor com amor?
Nosso
Senhor manifestou-nos o seu infinito amor sem interrupção desde o
primeiro instante da sua Encarnação; é justo que honremos todas as
provas de amor que nos deu e que ainda hoje nos dá.
Principiemos
por aquelas que nos deu durante a sua vida oculta, na qual, segundo a
expressão de um santo doutor, Jesus menino se mostrava
excessivamente amável: Panmlus
Domimts et
amabilis
nimis.
Que
amor não lhe devemos nós pelo amor que nos mostrou durante a sua
vida publica?! Com efeito, é mais para admirar a caridade
inesgotável do Coração de Jesus, do que o poder e a
sabedoria
divina que manifestou nos ensinamentos, nos milagres e nas maravilhas
da sua vida.
Diante
das obras realizadas então por Jesus, podemos exclamar: Dilexit
mundunz:
Eis
o fruto do amor do Sagrado Coração para conosco. E, foram em tão
grande número as provas desta divina caridade que, diz S.
João,
se se descrevessem minuciosamente, o mundo inteiro não poderia
conter os livros que as narrassem: Sunt
alia multa qua: fecit Jesus, quae si scribantur per singula, nec
ipsum arbitror mundum capere posse eos qui scribendi szmt libri14.
Contudo
o Coração de Jesus quer que nos ocupemos particularmente do amor
que nos manifestou durante a
sua
vida padecente, e em particular do amor que nos manifesta na sua vida
eucarística.
34)
Por que razão pede Nosso Senhor as nossas homenagens à
sua
vida
padecente?
E quais
são as circunstâncias de sua vida, que ele quer recordemos de um
modo especial?
Nosso
Senhor quer que amemos de um modo especial a sua vida padecente,
porque nela é
que
Ele mostra mais o grande amor que tem às criaturas: Sic
Deus dilexit mundum!
Posto
que toda a vida de N. S. seja admirável, Santa Margarida Maria faz
notar, com grande particularidade, algumas circunstâncias, em que a
caridade do Coração de Jesus, sem ser maior, brilha com mais
fulgor. Vejamos quais são elas:
1ª.
A
fome
e a sede de Jesus,
por meio das quais Nosso Senhor quis fazer conhecer a fome e a sede
que tem de ser amado por nós.
2ª.
O
Jardim
da agonia.
«Foi
ali,
disse Nosso Senhor a Santa Margarida Maria, que eu sofri mais do que
em todo o decurso da minha Paixão, vendo-me num abandono total do
céu e da terra, carregado dos pecados dos homens»15.
3ª.
Jesus
no pretório,
onde
ele, o juiz dos vivos e dos mortos, foi julgado, desprezado,
injuriado e condenado.»
4ª.
A
venda de ignominia,
que
foi posta nos olhos de Jesus.
5ª.
A
Flagelação
dolorosa,
a
que Nosso Senhor foi exposto.
6ª.
A
coroa
de espinhos,
colocada
na fronte do Rei dos Anjos e dos homens.
7ª.
O
silêncio
de Jesus.
«O
mistério
da Paixão que amo mais, dizia Santa Margarida Maria, é o silêncio
sagrado que Jesus manteve no meio dos maiores sofrimentos.
Para
o
imitar,
não abramos a boca, senão para orar por aqueles que nos perseguem».
8ª.
O
Ecce
Homo.
Nosso
Senhor apareceu assim muitas vezes à Santa Margarida Maria.
9ª.
Jesus
levando a pesada Cruz,
que
as iniquidades dos homens tornavam pesadíssima.
10ª.
Jesus
pregado na Cruz:
«Nada
me agrada tanto como a Santíssima Virgem aos pés da cruz, diz a
serva de Deus. Quanto é suave lançar-me nos braços de um Deus
morrendo por nosso amor!»
11ª.
A
lançada.
«vede
a abertura do Lado, dizia S. Bernardo: Oh! como é bom habitar no
Coração de Jesus!»
12ª.
A
Paixão perpétua do Coração de Jesus.
A alma
cristã deve sobretudo considerar com amor a parte que o Coração de
Jesus tomou na sua Paixão. «Nosso
Senhor16,
diz Santa Margarida, quer que nos santifiquemos glorificando o seu
Coração amoroso, pois ele [o Coração] só
sofreu
mais que toda a sua humanidade santíssima.
Desde
o primeiro instante da Encarnação foi este Coração Sagrado um mar
de amarguras; sofreu desde aquele primeiro momento até soltar na
cruz o ultimo suspiro.
Tudo
quanto esta humanidade santíssima sofreu interiormente no suplício
da cruz, sofreu-o continuamente o seu Coração. É por isso que Deus
estima que ele seja honrado de um modo particular, que os homens lhe
deem tanta alegria e prazer por meio das suas homenagens quanta foi a
amargura e a angustia que lhe fizeram sentir com os seus pecados».
35)
De que maneira
havemos
de honrar
o
amor
padecente do
Coração
de
Jesus?
Coração Agonizante de Jesus |
As
principais homenagens que devemos prestar ao Coração de Jesus na
sua vida padecente são:
1ª.
Meditar
os inefáveis mistérios dos seus sofrimentos, especialmente durante
o exercido da Via-Sacra;
2ª.
Honrar
a imagem deste divino Coração, que é
o
memorial sensível da sua vida padecente, por causa dos instrumentos
da Paixão que nele se veem:
3ª.
Imitai-o,
especialmente, pela paciência nos trabalhos e pela prática da
penitência.
«É
preciso que nos tornemos cópias vivas de Jesus crucificado,
manifestando-o por todas as nossas ações».
Por
que deve o
Coração de Jesus ser especialmente honrado na sua vida
eucarística?
Conquanto
Nosso Senhor nos peça que honremos todas as manifestações de amor
que o seu Sagrado Coração nos deu, deseja contudo, que honremos
este divino Coração especialmente na Eucaristia, em
atenção
ao amor excepcional que nos manifestou neste sacramento.
«Tenho
sede, disse ele um dia a Santa Margarida, mas uma sede
ardentíssima de ver o meu Coração amado pelos homens no Santíssimo
Sacramento; esta sede devora-me, e não encontro ninguém que procure
saciar-me, como eu desejo, retribuindo-me o meu amor»17.
Para
corresponder a esta queixa dolorosa pede à Santa Margarida Maria
que, à devoção ao Sagrado Coração se dê uma
forma,
por
assim dizer, eucarística; e recomenda que a maior parte das práticas
desta devoção se façam diante do SS. Sacramento, ou em união com
Jesus vivendo na Sagrada Hóstia.
☞ NOTA:
Substituímos a designação da Vidente de “Bem-aventurada” por
“Santa” Margarida Maria.
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__________________
4Cartas
48, 31, 54, 66, 85. Avis. 11, 14, 21.
5
Cantic. VIII.
6 cf.
Eclo VI, 15
7
Não devemos procurar uma distinção bem definida nas expressões
empregadas pela B. Marg. M. Vendo a impossibilidade de exprimir o
que deve ser o amor divino, recorreu a tudo o que a linguagem humana
tem mais expressivo; e termina sempre confessando que este amor é
um mistério inexplicável.
8
Carta III à Madre Greyfié.
9 Avis.
24 – Cartas 15, 27, 40,43, 92, 107, 111 – Avis. 40.
10 Cartas
15, 22, 43, 91, 118.- Avis. 10.
11 Observ.
14, 28, 31, 40, 43, 46, 52. - Cartas 3, 55, 105, 113.
12
cf. Mateus 11, 12.
13
Cartas 27, 73, 86, 92, 118 e 62. - Avis. 15, 6, 10, 16, 19, 21 , 33.
14 cf.
Ev. de S. João 21, 25.
15
Cartas ao Pe. Croiset, 15 de setembro 1689. - Cartas 32 e 100.
16
Vida da B. Margarida Maria, pelos contemp. p. - S2. - Cartas 63,
100, 92, 102.
17
Cartas ao Pe. Croiset, 1690.
FONTE: livro, em formato PDF: “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Segunda Parte – O Reinado do Coração de Jesus. Como Ele Deseja Reinar, pp. 58 a 80 – Texto revisto e atualizado, sendo alguns destaques por nós acrescentados.
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