«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019


HORA SANTA DO MÊS DE JANEIRO
(Por Santo Afonso de Ligório)


(Foto: Diário Católico)

EXCELÊNCIA DA HORA SANTA


A Hora Santa é uma devoção muito agradável ao Coração de Jesus e de muito proveito para a alma piedosa, porque é um exercício de reconhecimento, orações e amor.

A Hora Santa é primeiramente um exercício de reconhecimento, porque meditando-se os padecimentos do Coração de Jesus no Jardim do Getsêmani, mostra-se que se deseja fazer-lhe companhia no seu abandono e consolá-lo na sua agonia, e que se reconhece plenamente o amor que o levou a padecer tanto por nós.

Se uma pessoa depois de ter sofrido por um amigo soubesse que este amigo não quer de modo algum pensar nesse ato de devotamento, que sentimento teria de tão monstruosa ingratidão? E que prazer, ao contrário, teria, se lhe dissessem que seu amigo se lhe reconhece devedor de reconhecimento eterno e nunca falaria ou se lembraria de seus benefícios sem se comover até as lagrimas? Julguemos por aí o prazer que se dá a Jesus Cristo pensando em sua Paixão. O fiel que faz a Hora Santa pode então ser justamente chamado o Consolador do Coração de Jesus.
Jesus no Getsêmani

A Hora Santa é também exercício de orações. Ah! quão necessária é a oração ao homem, para perseverar na graça de Deus! É bom, sem duvida, dizer muitas vezes ao Coração de Jesus: Eu não vos deixarei nunca; mas esta vontade será frágil, se não for sustentado pela oração. Lembremo-nos do que sucedeu a S. Pedro. Ele tinha ouvido da boca do Salvador que naquela mesma noite todos os seus discípulos o abandonariam. (Mt 26, 31) Este aviso não lhe abriu os olhos. Em vez de reconhecer sua fraqueza e pedir ao Senhor socorros para não cair na infidelidade, confiando demais nas próprias forças, protestou que, ainda que todos abandonassem seu divino Mestre, ele, não, nunca. Em vão o Salvador, retomando a palavra, disse-lhe: Em verdade eu te digo, nesta mesma noite, antes de cantar o galo, tu me negarás três vezes; o discípulo continuou a resistir na sua presunção: Não, clamou ele, ainda que seja necessário morrer convosco, não vos negarei. Mas que aconteceu? Apenas entrara o infeliz na casa do pontífice, que, acusado de ser um dos discípulos de Jesus Cristo, renegou três vezes com juramento, protestando que não o conhecia sequer. Se Pedro tivesse pedido ao Senhor a graça da constância, não o teria renegado. No Jardim das Oliveiras, seu bom Mestre o tinha advertido a que orasse e velasse, a fim de que não sucumbisse à tentação. Mas Pedro, em vez de orar, adormecera, o que atraiu-lhe, da parte de Jesus, esta amarga repreensão: Assim então, não pudestes velar uma hora comigo? Feliz a alma que faz a Hora Santa! Jesus não a repreenderá, como a Pedro, por não ter podido velar uma hora com ele. Ela vela e ora, e orando, alcança a força de vencer o respeito humano, as tentações, viver na humildade e ser fiel a Deus.

A Hora Santa é também exercício de amor por meio do qual a alma piedosa se inflama no mesmo fogo do Coração de Jesus. Aí está o sagrado celeiro de que fala a esposa dos Cantares. Ela dizia que todas as vezes que seu celeste Esposo a introduzia no celeiro de sua Paixão, o amor divino de tal maneira se apossava de sua alma, que então, desfalecida de amor, ela era obrigada a buscar alívios para seu coração ferido. (Ct 2, 4) Como, então, uma alma, considerando, durante a Hora Santa, a Paixão de Jesus Cristo, não se sentirá ferida por tantas setas de amor, isto é, pelas dores e agonias que dilaceraram o Coração de Jesus? Como não seria suave e agradavelmente forçada a amar Àquele que tanto a amou? Também os santos viviam quase sem cessar ocupados em meditar as aflições de nosso terno Redentor.

Um piedoso solitário rogava a Deus lhe ensinasse o que poderia fazer para o amar perfeitamente: o Senhor se dignou revelar-lhe que, para chegar ao perfeito amor, não havia exercício mais útil que meditar na Paixão. Nesta aprazível escola é que S. Francisco de Assis se tornou um serafim sobre a terra. Ele chorava tão continuamente, quando meditava nos padecimentos de Jesus Cristo, que tinha perdido quase inteiramente a vista.
Jesus Flagelado

Esforcemo-nos, pois, almas piedosas, por imitar a Esposa dos Cantares, que gozava, dizia ela, suave repouso aos pés do seu amado. (Ct 2, 3) Ponhamos frequentemente diante de nossos olhos a Jesus agonizante no Jardim das Oliveiras; paremos algum tempo junto deste divino Salvador, e contemplemos com enternecimento os desamparos que ele sofreu, e o amor imenso que nos testemunhou nesta agonia de seu Coração. Oxalá pudéssemos dizer, com verdade, que repousamos à sombra d'Aquele que nós amamos? Quereis, almas amantes, gozar de repouso suavíssimo neste mundo cheio de tumultos, no meio das tentações que o inferno vos suscita, e dos temores que vos agitam ao pensardes nos juízos de Deus? Considerai, na solidão e no silêncio da Hora Santa, o Coração de vosso terno Redentor agonizando no Jardim das oliveiras: vede seu sangue divino correr de todos os seus membros, não ainda sob as pontas dos espinhos e cravos, mas pela violência da tristeza e do amor! Como, ao aspecto deste Coração sacrificado, vosso espírito se desapegará de todo desejo das honras mundanas, dos bens terrenos e dos prazeres sensuais! Então sairá do Coração de Jesus um sopro celeste e que acenderá em vós o santo desejo de padecer pelo amor d'Aquele que quis sofrer tanto por amor de vós.

PRÁTICA

Farei o pio exercício da Hora Santa na quinta-feira à tarde (ou, ao menos, na véspera da Primeira Sexta-feira do mês), retirando-me a algum logar solitário ou a uma igreja. Empregarei este precioso momento em orar, meditar, fazer o caminho da Cruz ou ler algumas paginas sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

AFETOS E SÚPLICAS

Eu quisera, ó meu adorável Redentor, morrer de pesar, quando me lembro de ter contristado tanto vosso Coração, o qual teve tão grande amor para comigo! Dignai-vos esquecer todos os desgostos que vos dei, e de lançar sobre minha alma um olhar de amor, como aquele com que favorecestes a São Pedro depois de seu pecado, olhar que converteu seus olhos em duas fontes incessantes de lagrimas. Ó Filho de Deus, ó amor infinito, que sofreis por esses homens mesmos que vos odeiam e maltratam; ó Majestade infinita, a quem os anjos adoram, muita honra teríeis feito aos homens, se somente os houvésseis admitido a vos oscular os pés; como, então, pudestes consentir em serdes afligido por ingratos que não cessarão de vos desprezar? Ó Jesus desprezado por amor de mim, fazei que eu seja desprezado por amor de vós: será possível que eu rejeite as humilhações, vendo que vós, meu Deus, tanto haveis sofrido por meu amor? Ah! meu Jesus, fazei-vos conhecer e fazei-vos amar.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Ó Coração amante de Jesus, muito ingrato seria eu se não vos amasse.

EXEMPLO
Impressão dos Sagrados Estigmas em São Francisco
de Assis, Monte Alverne-Itália

No dia 1° de Fevereiro de 1771, morreu em Assis uma religiosa de S. Francisco, a qual o céu favoreceu com as graças mais extraordinárias. Seu nome era Maria Saraceni. Sua vida toda seráfica é um dos mais belos modelos da devoção ao Coração de Jesus. A mestra de noviças perguntava um dia a Maria, então jovem aspirante, o que ela fazia durante a meditação: «Eu contemplo o Sagrado Coração de Jesus», respondeu. Quando ela recebeu o hábito, chorava sem cessar. Como lhe perguntassem o motivo, disse: «Parecia-me ver o terno Jesus dar-se a mim como Esposo crucificado. Compreendi então a obrigação que me incumbe de trabalhar para salvar as almas.» Deus lhe fez muitas vezes conhecer, na santa comunhão, que sua vontade era que ela recomendasse os pecadores à divina misericórdia. Por isso, ela resolveu abraçar a mais austera penitência. Tornada mestra de noviças, aplicou-se a inculcar, antes de tudo, nos jovens corações que lhe eram confiados, o desprezo do seculo, assim como grande amor para com o Sagrado Coração de Jesus. Num retiro, Jesus Cristo lhe fez gozar a suavidade do amor que reinava no seu Coração e pediu-lhe toda a sua vontade. Ela respondeu que já a tinha dado toda e sem reserva, mas que a partir daquele momento pretendia não somente renovar a oferenda já feita, mas ainda ajuntar a promessa de se encerrar para sempre no Sagrado Coração. Amante dos padecimentos, ela exclamava: «Desposei-me com a cruz. Oh! Quantas consolações me traz a Cruz de Jesus, meu Esposo coberto de sangue!» Muitas vezes lhe pareceu que Jesus a apertou contra seu Coração.

Nas quintas-feiras, pela tarde, ia ante o Santíssimo Sacramento para o exercício da Hora Santa, isto é, para fazer companhia a Jesus agonizante no Jardim das Oliveiras, a fim de obter d'Ele a conversão dos pecadores. Um dia, exclamou dando profundo suspiro: «Ah! porque tanta indiferença para com as almas resgatadas por Jesus! Não vedes o cruel estado de Jesus que agoniza, banhado em sangue? Este sangue vem do seu Coração, é expresso pelo amor das almas, sem excluir nenhuma desse amor. Oh! Jardim, Jardim, quão pouco se pensa em ti! Almas, almas, vinde ao Jardim, e recebereis o batismo do sangue.» A superiora perguntou um dia a Maria Saraceni a razão porque suspirava tão ardentemente pelos padecimentos: «Para salvar almas, minha mãe, respondeu ela; Deus seja bendito! Eu vejo muitos sacerdotes que têm zelo das almas. Oh! Santos sacerdotes, não vos desanimeis, trabalhai com denodo. Se soubésseis quanto Deus vos ama porque amais as almas!»

Quando uma de suas irmãs se aproximava dela depois da comunhão, Saraceni dizia-lhe com o sentimento da mais viva fé: «Vós sois um santo tabernáculo!» No começo de 1866, ela predisse que não tardaria a haver grande mortandade de homens; «mas o que é pior, ajuntou, é a perdição das almas! ...» Toda dedicada à devoção ao Coração de Jesus, Saraceni desejava que todo o mundo se consagrasse a ele: «Seria coisa muito agradável a Jesus Cristo, dizia esta religiosa, consagrar-se cada um ao Coração de Jesus por um ato escrito, e renovar frequentemente esta Consagração.»

O último dia de sua vida aproximava-se. E quem o crera? Este anjo da terra tremia, por pensar que Deus a tivesse abandonado por causa de seus pecados. «Ah! Exclamava, se eu tivesse de continuar a viver, começaria vida inteiramente santa !» Sua consolação no leito de dores era olhar para a imagem do Coração de seu Esposo, e ouvir ler afetos piedosos para com este Coração sagrado. Saraceni foi unir-se a Ele para sempre, aos 47 anos de idade.





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 204-211 – Texto revisto e atualizado)

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