«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019


HORA SANTA DO MÊS DE FEVEREIRO
(Por Santo Afonso de Ligório)


"Ó Coração de Jesus, quem não vos ama, mostra que não vos conhece."


CORAÇÃO AFLITO DE JESUS, VÍTIMA VOLUNTÁRIA


A aflição padecida pelo Coração de Jesus no Jardim de Getsêmani fará em nós pouca impressão, se não a considerarmos com fé muito viva. É pois necessário despertar nossa fé no começo de cada meditação, perguntando: Quem é que sofre? Que obrigação tinha ele de sofrer? Quem é que sofre? O Apóstolo, falando da divina beatitude, chama a Deus o Único feliz e poderoso. (1 Tm 6, 15) E com razão, porque toda felicidade que podemos gozar, nós suas criaturas, não é senão uma participação mínima da felicidade infinita de Deus; a beatitude dos eleitos consiste em se abismar no imenso oceano da beatitude divina. (Mt 25, 31) Tal é o paraíso que Deus dá à alma fiel, quando esta entra na posse do reino eterno.

Criando o homem e pondo-o na terra, Deus não quis a principio que ele tivesse que sofrer; colocou-o num lugar de delícias, (Gn 2, 15) onde ele devia passar para o céu, para lá gozar eternamente da glória dos bem-aventurados. Mas pecando, o homem tornou-se indigno do paraíso terrestre, e cerrou para si as portas do paraíso celeste, condenando-se voluntariamente à morte e aos padecimentos eternos. Que fez então o Filho de Deus para livrar o homem de tão grande desgraça? De feliz, de soberanamente feliz que ele sempre foi, consentiu em tornar-se de algum modo desgraçado, em ver-se afligido e perseguido.

Que obrigação tinha o Filho de Deus de padecer por nós e expiar nossas faltas? Nenhuma; se ele padeceu, é porque quis muito de sua vontade, como no-lo diz o profeta (Is 53, 7); se ele expiou nossas faltas, é que ele quis tomá-las sobre si para nos livrar da condenação eterna; é sua vontade, é sua pura bondade, é seu Coração amantíssimo que o levou a encarregar-se de todas as nossas dívidas e a se sacrificar inteiramente por nós, até expirar nas torturas. Ele mesmo o declarou: Eu dou minha vida; ninguém a tira, mas eu a deponho por mim mesmo. (Jo 10, 17)
Jesus no Getsêmani

Figuremos, a nosso modo, o Verbo eterno dirigindo-se nestes termos a seu divino Pai: Eis-me aqui, envia-me. (Is 6, 8) Meu Pai, como vossa majestade, que é infinita, foi ofendida pelo homem, não pode receber condigna satisfação de criatura alguma, nem sequer de um anjo; e dado que vos contentásseis com a satisfação que vos desse um anjo, pensai que até a hora presente, apesar de todo o bem que temos feito ao homem, ainda não pudemos obter seu amor, porque ele não compreendeu ainda quanto o amamos. Se queremos reduzi-lo de modo eficaz a nos amar, eis aqui a mais propícia ocasião que podemos ter. O homem caído em pecado necessita de um Redentor: Permiti que eu mesmo, vosso Filho único, me encarregue de o resgatar; descerei sobre a terra, assumirei corpo humano, e, por meus padecimentos, satisfarei plenamente a vossa justiça. – Mas, pensa, ó meu Filho, responde o Padre eterno, que, tomando sobre ti satisfazeres pelo homem, terás uma vida de dores. – Não importa, meu Pai, envia-me. – Pensa que serás obrigado a nascer numa gruta entre animais; que serás obrigado, ainda recém-nascido, a refugiar-te no Egito, para escapares às mãos daqueles mesmos homens que quereis salvar, que procurarão arrancar-te a vida, apenas hajas nascido. – Não importa, envia-me. – Pensa que, voltando à Palestina, deverás viver ali de um modo extremamente penoso e abjeto, como simples artista, na oficina de um carpinteiro. – Não importa, envia-me. – Pensa, enfim, que quando apareceres em público para pregares tua doutrina e te manifestares ao mundo, terás discípulos, é verdade, mas serão pouco numerosos: os homens, pela maior parte, desprezar-te-ão, e terminarão por fazer-te morrer ignominiosamente num madeiro infame. – Não importa, envia-me: Ecce ego, mitte me.

O Verbo então se fez carne: Verbum caro factum est; e o amor eterno veio abrasar um Coração semelhante ao nosso, feito de propósito para nos amar e padecer muito por nossa salvação. Havia mais de trinta e três anos que Jesus estava sobre a terra, quando uma tarde dirigiu-se para o Jardim das Oliveiras, e lá, ele, a alegria do paraíso , o gozo dos anjos a felicidade mesma, caiu na mais amarga das aflições: Coepit contristari et moetus esse (Mt 26, 37).

Meditemos com fé, de um lado, a felicidade eterna e infinita do Filho de Deus, do outro, o amor imenso que o fez sofrer voluntariamente a agonia de sangue no Jardim das Oliveiras, e obrigados seremos a exclamar atônitos: Ó aniquilamento de um Deus! Ó amor de um Deus!

Notemos aqui que Jesus Cristo não se contentou de dizer: Eu desejaria resgatar o mundo, mas o resgatou realmente, e a preço dos maiores sacrifícios. Tal deve ser nosso procedimento a respeito de nossa salvação e perfeição. Não basta dizer: Eu queria salvar-me, queria santificar-me. São desejos ineficazes, que nada valem, porque ainda assim não cumprimos as obrigações do nosso estado, não praticamos a oração, descuidamo-nos da comunhão, amamos o mundo com suas vaidades, não temos paciência, cometemos diariamente faltas deliberadas, pouco mortificamos as paixões, nem procuramos corrigi-las.

Não digamos então: Eu queria, mas sim: Quero, farei o que Deus quer e exige de mim, hoje mesmo, amanhã, sempre. Este o único meio certo de adquirirmos perfeição e conquistarmos o céu.

PRÁTICA

Examinar-me-ei seriamente para ver se faço tudo o que Deus exige para meu aperfeiçoamento espiritual. Não me tenho descuidado até hoje dos deveres do meu estado? Tenho sido fiel aos exercícios de piedade, como a Missa, o exame de consciência, a leitura espiritual, a meditação, a comunhão, a visita ao Santíssimo Sacramento, o terço, o caminho da Cruz, etc.? Qual será meu regulamento de vida para o futuro?
Jesus Flagelado: Ecce Homo

AFETOS E SÚPLICAS

Ah! amadíssimo Redentor meu, quanto vos custou me tirardes do abismo em que meus pecados me haviam atirado! Assim, ó meu divino Mestre, para me livrardes da escravidão do demônio, ao qual me vendi pecando voluntariamente, consentistes que vos afligissem, como se fosseis o maior dos pecadores, e eu, sabendo bem disto, pude contristar tantas vezes vosso amabilíssimo Coração, do qual tenho recebido tantas provas de amor! Ah! sendo vós a inocência mesma, vós que sois meu Deus, aceitastes com amor uma vida e morte tão penosas, aceito por vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me vierem de vossa mão: eu as aceito e abraço, porque me vêm dessas mãos que foram traspassadas para me livrar do inferno eterno, que tantas vezes mereci: o amor que me haveis testemunhado, ó meu Redentor, padecendo voluntariamente por mim , faça-me aceitar por vós todos os padecimentos e desprezos.

Senhor, por vossos merecimentos, dai-me vosso santo amor; vosso amor que tornara suaves e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Eu vos amo sobre todas as coisas, eu vos amo de todo o meu coração, eu vos amo mais do que a mim mesmo. Fazei que eu empregue o resto de meus dias em vos dar sinais de meu amor; porque não tenho ânimo de comparecer ante vosso tribunal tão pobre como sou, nada tendo feito por vosso amor. Mas, que posso fazer sem vossa graça? Não posso fazer mais que rogar-vos que me ajudeis, e esta oração mesma é efeito de vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me pelos merecimentos de vossos padecimentos e do sangue que por mim derramastes.

Ó Maria, recomendai-me a vosso divino Filho, considerando que eu sou uma das ovelhas pelas quais ele deu sua vida.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Ó Coração de Jesus, quem não vos ama, mostra que não vos conhece.

EXEMPLO

O espírito de sacrifício foi o alimento contínuo do Coração de Jesus, e por isso não admira ver certas almas, dedicadas a esse Sagrado Coração, levar o heroísmo até oferecer-se a Deus como vítimas para o bem da Igreja e de seu augusto Chefe. Nossa época tem sido particularmente fecunda em tais devotamentos. A maior parte, sem dúvida, dessas generosas imolações contemporâneas só ficaram em desejos; nem por isso deixaram de ser meritórias. Outras, entretanto, foram visivelmente aceitas. Tal é, tanto quanto a sabedoria humana pode julgar, a de Maria Léautaud, em Roma, em 1866. Esta santa moça era de Marselha, cidade tão devota do Coração de Jesus. Aos pobres soldados enfermos esta piedosa cristã fez o maior benefício com a introdução das irmãs de caridade nos hospitais de Marselha.

Napoleão III concedeu- lhe, com a cruz da Legião de honra, o incrível privilégio de pedir e obter o perdão para todos os condenados militares, cujo arrependimento ela assegurasse. Tendo ido a Roma para orar no túmulo dos apóstolos e receber a benção do Papa, esta admirável cristã foi retida por um atrativo superior e divino, e resolveu passar lá o resto de seus dias. Ela foi a mãe dos zuavos pontifícios, como o tinha sido dos soldados franceses em Marselha. Em 1866, sentindo suas forças se enfraquecerem, e não sabendo mais como servir a Deus, teve a inspiração de coroar sua vida por um supremo e heroico sacrifício.

Pio IX estava gravemente enfermo, e esta augusta e preciosa saúde dava novas inquietações ao mundo católico. Léautaud tomou a resolução de se oferecer como vítima a Deus, em lugar de seu Vigário. Temendo, porém, que isto fosse ato de presunção, ela quis primeiro obter a autorização do Papa. Quando Léautaud lhe expôs seu sublime desejo, Pio IX ficou algum tempo imóvel e silencioso, enquanto a piedosa cristã, mãos juntas e olhos fixos nele, esperava sua resposta. Enfim, como se ele tivesse obedecido a uma voz que lhe houvesse falado em segredo, pôs sua mão sobre a cabeça da generosa cristã, e disse-lhe com acento solene: «Vai, minha filha, e faze o que Deus te sugeriu.» Depois abençoou-a comovido, e ela o deixou cheia de alegria. O dia seguinte era um domingo. Léautaud assistiu, segundo seu costume, à primeira missa em S. Pedro. Comungou, e, logo depois da comunhão, ofereceu sua vida pelo Papa. Seu voto era apenas formulado, que, assaltada de terrível dor, caiu por terra dando um grito. Tomaram-na e a levaram para sua casa. Foi logo chamado o médico e este declarou que sua arte nada podia fazer para debelar enfermidade tão estranha. Todo este dia e os dois seguintes, dores tão fortes a torturavam que ela não podia falar, nem agradecer àqueles que a tratavam, senão por um suspiro ou movimento das mãos. A 19 de Dezembro, numa quarta-feira, ela ficou mais calma; pediu e recebeu os últimos sacramentos com devoção e alegria angélicas. Acabada a ação de graças, ela se despediu de suas amigas, e respondeu às orações dos agonizantes com uma piedade que comoveu todos os corações. Quando se diziam estas palavras supremas: «Parti, alma cristã, em nome do Padre que vos criou, em nome do Filho que vos resgatou, em nome do Espírito Santo que vos santificou», Léautaud inclinou a cabeça e expirou. A notícia de sua morte foi levada ao Vaticano. Pio IX recebeu-a sem mostrar surpresa alguma; mas, levantando os olhos para o céu, murmurou com voz comovida: «De pronto aceita!» (Um inverno em Roma, por Anatole de Ségur.)





Receba o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.




FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 211-218 – Texto revisto e atualizado)

Um comentário:

  1. Meu Deus(OtacilioDiasdeAlmeida) quebre toda força diabólica(perseguições"espiritual") desse sr. liberte do fogo do inferno e o conduza à vida eterna de bom ânimo faça justiça em sua vida, e de sua paz Jesus Cristo de Nazaré amém assim seja graças glórias a Deus e a Jesus

    ResponderExcluir