HORA
SANTA DO MÊS DE FEVEREIRO
(Por
Santo Afonso de Ligório)
"Ó Coração de Jesus, quem não vos ama, mostra que não vos conhece." |
CORAÇÃO
AFLITO DE JESUS, VÍTIMA VOLUNTÁRIA
A
aflição padecida pelo Coração de Jesus no Jardim de Getsêmani
fará em nós pouca impressão, se não a considerarmos com fé muito
viva. É pois necessário despertar nossa fé no começo de cada
meditação, perguntando: Quem é que sofre? Que obrigação tinha
ele de sofrer? Quem é que sofre? O Apóstolo, falando da divina
beatitude, chama a Deus o Único feliz e poderoso.
(1 Tm 6, 15) E com razão, porque toda felicidade que podemos gozar,
nós suas criaturas, não é senão uma participação mínima da
felicidade infinita de Deus; a beatitude dos eleitos consiste em se
abismar no imenso oceano da beatitude divina. (Mt 25, 31) Tal
é o paraíso que Deus dá à alma fiel, quando esta entra na posse
do reino eterno.
Criando
o homem e pondo-o na terra, Deus não quis a principio que ele
tivesse que sofrer; colocou-o num lugar de delícias, (Gn 2,
15) onde ele devia passar para o céu, para lá gozar eternamente da
glória dos bem-aventurados. Mas pecando, o homem tornou-se indigno
do paraíso terrestre, e cerrou para si as portas do paraíso
celeste, condenando-se voluntariamente à morte e aos padecimentos
eternos. Que fez então o Filho de Deus para livrar o homem de tão
grande desgraça? De feliz, de soberanamente feliz que ele sempre
foi, consentiu em tornar-se de algum modo desgraçado, em ver-se
afligido e perseguido.
Que
obrigação tinha o Filho de Deus de padecer por nós e expiar nossas
faltas? Nenhuma; se ele padeceu, é porque quis muito de sua
vontade, como no-lo diz o profeta (Is 53, 7); se ele expiou
nossas faltas, é que ele quis tomá-las sobre si para nos livrar da
condenação eterna; é sua vontade, é sua pura bondade, é seu
Coração amantíssimo que o levou a encarregar-se de todas as nossas
dívidas e a se sacrificar inteiramente por nós, até expirar nas
torturas. Ele mesmo o declarou: Eu dou minha vida;
ninguém a tira, mas eu a deponho por mim mesmo.
(Jo 10, 17)
Jesus no Getsêmani |
Figuremos,
a nosso modo, o Verbo eterno dirigindo-se nestes termos a seu divino
Pai: Eis-me aqui, envia-me. (Is 6, 8) Meu Pai, como vossa
majestade, que é infinita, foi ofendida pelo homem, não pode
receber condigna satisfação de criatura alguma, nem sequer de um
anjo; e dado que vos contentásseis com a satisfação que vos desse
um anjo, pensai que até a hora presente, apesar de todo o bem que
temos feito ao homem, ainda não pudemos obter seu amor, porque ele
não compreendeu ainda quanto o amamos. Se queremos reduzi-lo de modo
eficaz a nos amar, eis aqui a mais propícia ocasião que podemos
ter. O homem caído em pecado necessita de um Redentor: Permiti que
eu mesmo, vosso Filho único, me encarregue de o resgatar; descerei
sobre a terra, assumirei corpo humano, e, por meus padecimentos,
satisfarei plenamente a vossa justiça. – Mas, pensa, ó meu Filho,
responde o Padre eterno, que, tomando sobre ti satisfazeres pelo
homem, terás uma vida de dores. – Não importa, meu Pai, envia-me.
– Pensa que serás obrigado a nascer numa gruta entre animais; que
serás obrigado, ainda recém-nascido, a refugiar-te no Egito, para
escapares às mãos daqueles mesmos homens que quereis salvar, que
procurarão arrancar-te a vida, apenas hajas nascido. – Não
importa, envia-me. – Pensa que, voltando à Palestina, deverás
viver ali de um modo extremamente penoso e abjeto, como simples
artista, na oficina de um carpinteiro. – Não importa, envia-me. –
Pensa, enfim, que quando apareceres em público para pregares tua
doutrina e te manifestares ao mundo, terás discípulos, é verdade,
mas serão pouco numerosos: os homens, pela maior parte,
desprezar-te-ão, e terminarão por fazer-te morrer ignominiosamente
num madeiro infame. – Não importa, envia-me: Ecce ego,
mitte me.
O
Verbo então se fez carne: Verbum caro factum est; e o amor
eterno veio abrasar um Coração semelhante ao nosso, feito de
propósito para nos amar e padecer muito por nossa salvação. Havia
mais de trinta e três anos que Jesus estava sobre a terra, quando
uma tarde dirigiu-se para o Jardim das Oliveiras, e lá, ele, a
alegria do paraíso , o gozo dos anjos a felicidade mesma, caiu na
mais amarga das aflições: Coepit contristari et moetus esse
(Mt 26, 37).
Meditemos
com fé, de um lado, a felicidade eterna e infinita do Filho de Deus,
do outro, o amor imenso que o fez sofrer voluntariamente a agonia de
sangue no Jardim das Oliveiras, e obrigados seremos a exclamar
atônitos: Ó aniquilamento de um Deus! Ó amor de um Deus!
Notemos
aqui que Jesus Cristo não se contentou de dizer: Eu desejaria
resgatar o mundo, mas o resgatou realmente, e a preço dos
maiores sacrifícios. Tal deve ser nosso procedimento a respeito de
nossa salvação e perfeição. Não basta dizer: Eu queria
salvar-me, queria santificar-me. São desejos ineficazes, que
nada valem, porque ainda assim não cumprimos as obrigações do
nosso estado, não praticamos a oração, descuidamo-nos da comunhão,
amamos o mundo com suas vaidades, não temos paciência, cometemos
diariamente faltas deliberadas, pouco mortificamos as paixões, nem
procuramos corrigi-las.
Não
digamos então: Eu queria, mas sim: Quero, farei
o que Deus quer e exige de mim, hoje mesmo, amanhã, sempre. Este o
único meio certo de adquirirmos perfeição e conquistarmos o céu.
PRÁTICA
Examinar-me-ei
seriamente para ver se faço tudo o que Deus exige para meu
aperfeiçoamento espiritual. Não me tenho descuidado até hoje dos
deveres do meu estado? Tenho sido fiel aos exercícios de piedade,
como a Missa, o exame de consciência, a leitura espiritual, a
meditação, a comunhão, a visita ao Santíssimo Sacramento, o
terço, o caminho da Cruz, etc.? Qual será meu regulamento de vida
para o futuro?
Jesus Flagelado: Ecce Homo |
AFETOS
E SÚPLICAS
Ah!
amadíssimo Redentor meu, quanto vos custou me tirardes do abismo em
que meus pecados me haviam atirado! Assim, ó meu divino Mestre, para
me livrardes da escravidão do demônio, ao qual me vendi pecando
voluntariamente, consentistes que vos afligissem, como se fosseis o
maior dos pecadores, e eu, sabendo bem disto, pude contristar tantas
vezes vosso amabilíssimo Coração, do qual tenho recebido tantas
provas de amor! Ah! sendo vós a inocência mesma, vós que sois meu
Deus, aceitastes com amor uma vida e morte tão penosas, aceito por
vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me vierem de vossa mão:
eu as aceito e abraço, porque me vêm dessas mãos que foram
traspassadas para me livrar do inferno eterno, que tantas vezes
mereci: o amor que me haveis testemunhado, ó meu Redentor, padecendo
voluntariamente por mim , faça-me aceitar por vós todos os
padecimentos e desprezos.
Senhor,
por vossos merecimentos, dai-me vosso santo amor; vosso amor que
tornara suaves e amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Eu
vos amo sobre todas as coisas, eu vos amo de todo o meu coração, eu
vos amo mais do que a mim mesmo. Fazei que eu empregue o resto de
meus dias em vos dar sinais de meu amor; porque não tenho ânimo de
comparecer ante vosso tribunal tão pobre como sou, nada tendo feito
por vosso amor. Mas, que posso fazer sem vossa graça? Não posso
fazer mais que rogar-vos que me ajudeis, e esta oração mesma é
efeito de vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me pelos merecimentos de
vossos padecimentos e do sangue que por mim derramastes.
Ó
Maria, recomendai-me a vosso divino Filho, considerando que eu sou
uma das ovelhas pelas quais ele deu sua vida.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Ó
Coração de Jesus, quem não vos ama, mostra que não vos conhece.
EXEMPLO
O
espírito de sacrifício foi o alimento contínuo do Coração de
Jesus, e por isso não admira ver certas almas, dedicadas a esse
Sagrado Coração, levar o heroísmo até oferecer-se a Deus como
vítimas para o bem da Igreja e de seu augusto Chefe. Nossa época
tem sido particularmente fecunda em tais devotamentos. A maior parte,
sem dúvida, dessas generosas imolações contemporâneas só ficaram
em desejos; nem por isso deixaram de ser meritórias. Outras,
entretanto, foram visivelmente aceitas. Tal é, tanto quanto a
sabedoria humana pode julgar, a de Maria Léautaud, em Roma, em 1866.
Esta santa moça era de Marselha, cidade tão devota do Coração de
Jesus. Aos pobres soldados enfermos esta piedosa cristã fez o maior
benefício com a introdução das irmãs de caridade nos hospitais de
Marselha.
Napoleão
III concedeu- lhe, com a cruz da Legião de honra, o incrível
privilégio de pedir e obter o perdão para todos os condenados
militares, cujo arrependimento ela assegurasse. Tendo ido a Roma para
orar no túmulo dos apóstolos e receber a benção do Papa, esta
admirável cristã foi retida por um atrativo superior e divino, e
resolveu passar lá o resto de seus dias. Ela foi a mãe dos zuavos
pontifícios, como o tinha sido dos soldados franceses em Marselha.
Em 1866, sentindo suas forças se enfraquecerem, e não sabendo mais
como servir a Deus, teve a inspiração de coroar sua vida por um
supremo e heroico sacrifício.
Pio
IX estava gravemente enfermo, e esta augusta e preciosa saúde dava
novas inquietações ao mundo católico. Léautaud tomou a resolução
de se oferecer como vítima a Deus, em lugar de seu Vigário.
Temendo, porém, que isto fosse ato de presunção, ela quis primeiro
obter a autorização do Papa. Quando Léautaud lhe expôs seu
sublime desejo, Pio IX ficou algum tempo imóvel e silencioso,
enquanto a piedosa cristã, mãos juntas e olhos fixos nele, esperava
sua resposta. Enfim, como se ele tivesse obedecido a uma voz que lhe
houvesse falado em segredo, pôs sua mão sobre a cabeça da generosa
cristã, e disse-lhe com acento solene: «Vai, minha filha, e faze o
que Deus te sugeriu.» Depois abençoou-a comovido, e ela o deixou
cheia de alegria. O dia seguinte era um domingo. Léautaud assistiu,
segundo seu costume, à primeira missa em S. Pedro. Comungou, e, logo
depois da comunhão, ofereceu sua vida pelo Papa. Seu voto era apenas
formulado, que, assaltada de terrível dor, caiu por terra dando um
grito. Tomaram-na e a levaram para sua casa. Foi logo chamado o
médico e este declarou que sua arte nada podia fazer para debelar
enfermidade tão estranha. Todo este dia e os dois seguintes, dores
tão fortes a torturavam que ela não podia falar, nem agradecer
àqueles que a tratavam, senão por um suspiro ou movimento das mãos.
A 19 de Dezembro, numa quarta-feira, ela ficou mais calma; pediu e
recebeu os últimos sacramentos com devoção e alegria angélicas.
Acabada a ação de graças, ela se despediu de suas amigas, e
respondeu às orações dos agonizantes com uma piedade que comoveu
todos os corações. Quando se diziam estas palavras supremas:
«Parti, alma cristã, em nome do Padre que vos criou, em nome do
Filho que vos resgatou, em nome do Espírito Santo que vos
santificou», Léautaud inclinou a cabeça e expirou. A notícia de
sua morte foi levada ao Vaticano. Pio IX recebeu-a sem mostrar
surpresa alguma; mas, levantando os olhos para o céu, murmurou com
voz comovida: «De pronto aceita!» (Um inverno em Roma, por Anatole
de Ségur.)
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 211-218 – Texto revisto e
atualizado)
Meu Deus(OtacilioDiasdeAlmeida) quebre toda força diabólica(perseguições"espiritual") desse sr. liberte do fogo do inferno e o conduza à vida eterna de bom ânimo faça justiça em sua vida, e de sua paz Jesus Cristo de Nazaré amém assim seja graças glórias a Deus e a Jesus
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