PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CORAÇÃO
DE JESUS,
CENTRO DOS CORAÇÕES
(Por
Santo Afonso de Ligório)
O
Coração de Jesus é todo caridade. Deus
charitas est.
Também
ele quer que todos os cristãos se amem mutuamente: esta era a
recomendação em que mais insistia, antes de deixar este mundo:
Amai-vos
uns aos outros, como eu vos amei.
(Jo 13, 34)
Pode-se
dizer que este é o grande mandamento do Coração de Jesus. S.
Jerônimo refere de S. João Evangelista, que, quando seus discípulos
lhe perguntaram porque tantas vezes lhes recomendava o amor
fraternal, respondeu-lhes: Porque
é o preceito do Senhor: se
for
cumprido
em
toda
a sua
extensão,
basta para a salvação.
Também
nada fere tanto a Jesus Cristo como a violação deste preceito;
aquele que falta na caridade, fere-o na pupila dos olhos, mete-lhe um
espinho no Coração.
Para
evitar esta desgraça, consideremos que amar o próximo é amar a
Jesus. Santa Catarina de Gênova dizia um dia ao Senhor: Meu
Deus, vós me ordenais amar meu próximo e eu não posso amar senão
a vós só.
Mas
nosso Salvador lhe respondeu: Minha
filha,
aquele
que me tem
amor,
ama tudo o que
eu
amo.
Com
efeito, quando se ama uma pessoa, amam-se também seus parentes, seus
servos, seus retratos e até suas vestes, porque estes objetos são
amados por ela. A razão então que deve nos levar a amar nosso
próximo é
que
ele é
amado
do Coração de Jesus. Também o apóstolo S. João declara mentiroso
aquele que ousa dizer que ama a Deus, tendo ódio a seu irmão.
(1 Jo 4, 20)
De
outro modo, fazer bem ao próximo é
regozijar
o Coração de Jesus; porque ele prometeu considerar
como feito a si
o
bem que fazemos ao menor de seus irmãos,
isto
é, ao nosso próximo. (Mt 25, 40)
Santa
Catarina de Gênova concluía daí que, para
ver
quanto
se ama a Deus,
basta
ver
quanto
se ama o próximo.
No
Coração de Jesus Cristo é
que
se reúnem os corações caridosos; ele é o centro dos corações.
Oh! Quão bom é,
quão
agradável habitarem os irmãos juntamente! (Sl 132, 1), diz o
Salmista. S. Lucas faz um elogio perfeito dos primeiros cristãos,
dizendo que eles
tinham
um só coração e uma só alma:
Cor
unum et anima una.
(At 4, 32)
Num
corpo bem constituído, não pode haver senão um coração; ora, a
Igreja não é,
conforme
S. Paulo, o
corpo místico e espiritual
de
Jesus Cristo? (Cl 1, 24)
Os
membros da Igreja devem, pois, ter um só coração em Jesus Cristo.
A santa caridade é
o
fruto da oração que o Salvador fez a seu Pai, na vigília de sua
morte, pedindo que seus discípulos fossem um, pela caridade, como
ele é
um
com seu Pai. (Jo 17, 11)
Este
é um dos principais frutos da Redenção, predito por Isaías: O
lobo
habitará em paz com o cordeiro, e o leopardo com a cabra; um não
fará mal ao outro
(Is 11, 6), isto
é, que os discípulos de Jesus Cristo, apesar da diversidade dos
países, dos gênios, dos costumes, deviam viver em deliciosa paz
entre si, por meio da caridade divina que os animaria.
O
Apóstolo nos ensina em poucas palavras como é
necessário
conservar a caridade:
Revesti-vos,
diz
ele, como
os eleitos de
Deus,
de
entranhas
de
misericórdia.
(Cl 3, 12) Como
a gente traz sempre consigo o vestuário e se cobre com ele, assim em
todos os nossos pensamentos, palavras e ações, devemos trazer
conosco a caridade, e ser inteiramente cobertos por ela.
Oh!
Quanto é
agradável
ao Coração de Jesus a alma verdadeiramente caridosa! Ao contrário,
que espinho é
para
o Coração de Jesus a alma que fere a caridade!
PRÁTICA
Examinar-me-ei
muitas vezes sobre a virtude da caridade; sondarei meus pensamentos,
para ver se não faço juízos temerários; meus sentimentos, para
ver se não tenho contra alguém antipatia voluntária; minhas
palavras, para ver senão resvalo em maledicências e injúrias;
minhas
ações, para ver si presto a meu próximo os serviços que posso,
segundo meu estado, bens e talentos.
AFETOS
E SÚPLICAS
Ó
Coração
de meu terno Redentor, quão longe estou de parecer convosco! Vós
fostes caridade para com vossos perseguidores, e eu sou cheio de
rancor e ódio para com meu próximo; Vós orastes com tanto amor em
favor daqueles que vos crucificavam, e eu só penso em vingar-me
quando me causam algum desgosto. Perdoai-me, Coração de meu Jesus;
não quero ser mais o que fui no passado; dai-me a força de
amar
a quem me ofende, e de fazer-lhe bem. Não me abandoneis à força de
minhas paixões; fazei que nunca mais me separe de vós. Ah! Que
inferno seria para mim, se, após todas as graças que me tendes
feito eu me visse de novo separado de vós e privado de vossa
amizade. Não o permitais, ó meu amor, eu vos suplico pelo sangue
que derramastes por
mim.
Pai
eterno, pelos merecimentos do Coração de Jesus, livrai-me de me
excluir de vossa graça; se prevedes que ainda vos ei de ofender,
antes fazei-
me
morrer agora que penso estar na vossa graça. Ó
Deus
de amor, dai-me vosso amor. Ó poder infinito, socorrei-me. Ó
misericórdia
infinita, compadecei-vos de mim. Ó bondade infinita, atrai-me
inteiramente a vós. Eu vos amo, ó amabilidade suprema. Ó Maria,
Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; o poder maternal que tendes
sobre seu divino Coração, constitui minha esperança.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Coração
de Jesus, dai-me o verdadeiro amor ao próximo.
EXEMPLO
Aquele
que
não tem
zelo,
não
tem amor,
diz
Santo Agostinho. Para prová-lo, necessário nos é
ainda
voltar ao capitão Marceau (Vide Aqui), de quem já falamos. Apenas
convertido, fez-se apóstolo. Começou por levar para Deus sua mãe,
que
tinha a desgraça de viver na incredulidade. «Ó
minha mãe, escrevia-lhe ele , escutai-me, escutai a vosso filho,
outrora incrédulo... Tendes um
coração
tão bom; é
possível
que ele não seja de Deus? Com a oração tudo se alcança.»
Sua
mãe amava a leitura dos romances
e
folhetins de certo jornal. O filho, ontem ainda ímpio, incrédulo,
pouco
comedido
em seu procedimento, dissuadiu-a de continuar essas leituras: «Não
tenhais a menor duvida, boa mãe; estas leituras são más, excitam
as paixões.»
A
mãe não tardou a render-se. Esta conquista tão cara não bastava
ao capitão. Ele queria ser apóstolo de todos aqueles com quem
conversava. Pode-se dizer incalculável o bem que ele fez a
seus
amigos. Encontrando um dia certo oficial convertido na mesma época
que ele, perguntou-lhe se frequentava a confissão. «Sim; respondeu
o oficial, nas grandes festas.» - «Mas, vosso diretor não vos fixa
a época?» - «Não, confesso-me, absolvem-me, e nada mais.» -
«Mas, meu caro, é necessário pedir a vosso confessor que vos
determine a época da volta. Na vida espiritual tudo deve ser
regulado como num navio.» E Marceau conduziu seu amigo a outro
padre. Este, descobrindo no oficial uma alma de eleição,
determinou-lhe que se confessasse de quinze em quinze dias, depois de
oito em oito, e pouco depois, mais vezes por semana. Marceau sabia
que o homem não pode nada por si mesmo, e por isso fez-se apóstolo
principalmente da oração. Neste fim, distribuía profusamente um
opusculo de Santo Afonso de Ligório intitulado: O
grande
meio da oração.
Ele
trazia sempre consigo muitos exemplares desta obra. Devorado pelo
zelo das almas, ele quis contribuir para a propagação da fé até
nos países longínquos. Não contente de oferecer, cada ano, para
isto, largas esmolas, chegou a oferecer sua pessoa mesma, para
transportar missionários para a Oceania. O navio comprado para este
fim, foi denominado a Arca
da Aliança,
em
honra da
Mãe
de Deus.
Na
direção deste navio, Marceau desenvolveu zelo inteiramente
apostólico. Oração em comum, cânticos, celebração do santo
sacrifício, distribuição do pão da palavra divina, conversações
edificantes, tudo falava de Deus na Arca
da Aliança.
Marceau
tinha até obtido o favor de possuir no navio a Santa Eucaristia,
ante a qual ele passava todos os dias longas horas de adoração.
Quando chegou o mês de Junho, consagrado ao Coração de Jesus, ele
o fez celebrar por exercícios espirituais, e nesta ocasião, puderam
ver o cumprimento das promessas feitas à bem-aventurada Margarida
Maria (hoje Santa).
Houve
belas conversões, edificantes comunhões, e o comandante não
cessava de dizer nos transportes de sua alegria: «Bendito
seja o Sagrado Coração de Jesus!»
No
mesmo tempo, a fim de satisfazer a sede ardente que tem da salvação
das almas o Sagrado Coração de Jesus, ele fazia sacrifícios e
penitências para este passageiro ou aquele marinheiro, que lhe
parecia mais separado de Deus. Como ele tinha especial devoção à
Paixão
de Jesus Cristo e às
dores
de Maria, viam-no frequentemente ocupado em fazer o caminho da cruz,
para a conversão das almas. «Eu não faço assim senão para Deus,
dizia ele, e para o bem das missões.» E com esta piedade , Marceau
era sempre afável, sempre amável e sempre amado. Um parisiense, que
tinha vivido com ele quatro anos, dizia: «Marceau
é
o
que vi de mais belo na minha vida.»
Um sacerdote, arrebatado pelo fogo divino que animava esta alma,
chamava-lhe o
missionário
dos missionários.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 351-356 – Texto revisto, e
atualizado)
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