«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 5 de outubro de 2018


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



CORAÇÃO DE JESUS, CENTRO DOS CORAÇÕES
(Por Santo Afonso de Ligório)


O Coração de Jesus é todo caridade. Deus charitas est. Também ele quer que todos os cristãos se amem mutuamente: esta era a recomendação em que mais insistia, antes de deixar este mundo: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. (Jo 13, 34)

Pode-se dizer que este é o grande mandamento do Coração de Jesus. S. Jerônimo refere de S. João Evangelista, que, quando seus discípulos lhe perguntaram porque tantas vezes lhes recomendava o amor fraternal, respondeu-lhes: Porque é o preceito do Senhor: se for cumprido em toda a sua extensão, basta para a salvação. Também nada fere tanto a Jesus Cristo como a violação deste preceito; aquele que falta na caridade, fere-o na pupila dos olhos, mete-lhe um espinho no Coração.

Para evitar esta desgraça, consideremos que amar o próximo é amar a Jesus. Santa Catarina de Gênova dizia um dia ao Senhor: Meu Deus, vós me ordenais amar meu próximo e eu não posso amar senão a vós só. Mas nosso Salvador lhe respondeu: Minha filha, aquele que me tem amor, ama tudo o que eu amo. Com efeito, quando se ama uma pessoa, amam-se também seus parentes, seus servos, seus retratos e até suas vestes, porque estes objetos são amados por ela. A razão então que deve nos levar a amar nosso próximo é que ele é amado do Coração de Jesus. Também o apóstolo S. João declara mentiroso aquele que ousa dizer que ama a Deus, tendo ódio a seu irmão. (1 Jo 4, 20)

De outro modo, fazer bem ao próximo é regozijar o Coração de Jesus; porque ele prometeu considerar como feito a si o bem que fazemos ao menor de seus irmãos, isto é, ao nosso próximo. (Mt 25, 40) Santa Catarina de Gênova concluía daí que, para ver quanto se ama a Deus, basta ver quanto se ama o próximo.

No Coração de Jesus Cristo é que se reúnem os corações caridosos; ele é o centro dos corações. Oh! Quão bom é, quão agradável habitarem os irmãos juntamente! (Sl 132, 1), diz o Salmista. S. Lucas faz um elogio perfeito dos primeiros cristãos, dizendo que eles tinham um só coração e uma só alma: Cor unum et anima una. (At 4, 32) Num corpo bem constituído, não pode haver senão um coração; ora, a Igreja não é, conforme S. Paulo, o corpo místico e espiritual de Jesus Cristo? (Cl 1, 24) Os membros da Igreja devem, pois, ter um só coração em Jesus Cristo. A santa caridade é o fruto da oração que o Salvador fez a seu Pai, na vigília de sua morte, pedindo que seus discípulos fossem um, pela caridade, como ele é um com seu Pai. (Jo 17, 11) Este é um dos principais frutos da Redenção, predito por Isaías: O lobo habitará em paz com o cordeiro, e o leopardo com a cabra; um não fará mal ao outro (Is 11, 6), isto é, que os discípulos de Jesus Cristo, apesar da diversidade dos países, dos gênios, dos costumes, deviam viver em deliciosa paz entre si, por meio da caridade divina que os animaria.

O Apóstolo nos ensina em poucas palavras como é necessário conservar a caridade: Revesti-vos, diz ele, como os eleitos de Deus, de entranhas de misericórdia. (Cl 3, 12) Como a gente traz sempre consigo o vestuário e se cobre com ele, assim em todos os nossos pensamentos, palavras e ações, devemos trazer conosco a caridade, e ser inteiramente cobertos por ela.

Oh! Quanto é agradável ao Coração de Jesus a alma verdadeiramente caridosa! Ao contrário, que espinho é para o Coração de Jesus a alma que fere a caridade!

PRÁTICA


Examinar-me-ei muitas vezes sobre a virtude da caridade; sondarei meus pensamentos, para ver se não faço juízos temerários; meus sentimentos, para ver se não tenho contra alguém antipatia voluntária; minhas palavras, para ver senão resvalo em maledicências e injúrias; minhas ações, para ver si presto a meu próximo os serviços que posso, segundo meu estado, bens e talentos.

AFETOS E SÚPLICAS

Ó Coração de meu terno Redentor, quão longe estou de parecer convosco! Vós fostes caridade para com vossos perseguidores, e eu sou cheio de rancor e ódio para com meu próximo; Vós orastes com tanto amor em favor daqueles que vos crucificavam, e eu só penso em vingar-me quando me causam algum desgosto. Perdoai-me, Coração de meu Jesus; não quero ser mais o que fui no passado; dai-me a força de amar a quem me ofende, e de fazer-lhe bem. Não me abandoneis à força de minhas paixões; fazei que nunca mais me separe de vós. Ah! Que inferno seria para mim, se, após todas as graças que me tendes feito eu me visse de novo separado de vós e privado de vossa amizade. Não o permitais, ó meu amor, eu vos suplico pelo sangue que derramastes por mim.

Pai eterno, pelos merecimentos do Coração de Jesus, livrai-me de me excluir de vossa graça; se prevedes que ainda vos ei de ofender, antes fazei-
me morrer agora que penso estar na vossa graça. Ó Deus de amor, dai-me vosso amor. Ó poder infinito, socorrei-me. Ó misericórdia infinita, compadecei-vos de mim. Ó bondade infinita, atrai-me inteiramente a vós. Eu vos amo, ó amabilidade suprema. Ó Maria, Mãe de Deus, rogai a Jesus por mim; o poder maternal que tendes sobre seu divino Coração, constitui minha esperança.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Coração de Jesus, dai-me o verdadeiro amor ao próximo.

EXEMPLO

Aquele que não tem zelo, não tem amor, diz Santo Agostinho. Para prová-lo, necessário nos é ainda voltar ao capitão Marceau (Vide Aqui), de quem já falamos. Apenas convertido, fez-se apóstolo. Começou por levar para Deus sua mãe, que tinha a desgraça de viver na incredulidade. «Ó minha mãe, escrevia-lhe ele , escutai-me, escutai a vosso filho, outrora incrédulo... Tendes um coração tão bom; é possível que ele não seja de Deus? Com a oração tudo se alcança.» Sua mãe amava a leitura dos romances e folhetins de certo jornal. O filho, ontem ainda ímpio, incrédulo, pouco comedido em seu procedimento, dissuadiu-a de continuar essas leituras: «Não tenhais a menor duvida, boa mãe; estas leituras são más, excitam as paixões.» A mãe não tardou a render-se. Esta conquista tão cara não bastava ao capitão. Ele queria ser apóstolo de todos aqueles com quem conversava. Pode-se dizer incalculável o bem que ele fez a seus amigos. Encontrando um dia certo oficial convertido na mesma época que ele, perguntou-lhe se frequentava a confissão. «Sim; respondeu o oficial, nas grandes festas.» - «Mas, vosso diretor não vos fixa a época?» - «Não, confesso-me, absolvem-me, e nada mais.» - «Mas, meu caro, é necessário pedir a vosso confessor que vos determine a época da volta. Na vida espiritual tudo deve ser regulado como num navio.» E Marceau conduziu seu amigo a outro padre. Este, descobrindo no oficial uma alma de eleição, determinou-lhe que se confessasse de quinze em quinze dias, depois de oito em oito, e pouco depois, mais vezes por semana. Marceau sabia que o homem não pode nada por si mesmo, e por isso fez-se apóstolo principalmente da oração. Neste fim, distribuía profusamente um opusculo de Santo Afonso de Ligório intitulado: O grande meio da oração. Ele trazia sempre consigo muitos exemplares desta obra. Devorado pelo zelo das almas, ele quis contribuir para a propagação da fé até nos países longínquos. Não contente de oferecer, cada ano, para isto, largas esmolas, chegou a oferecer sua pessoa mesma, para transportar missionários para a Oceania. O navio comprado para este fim, foi denominado a Arca da Aliança, em honra da Mãe de Deus.

Na direção deste navio, Marceau desenvolveu zelo inteiramente apostólico. Oração em comum, cânticos, celebração do santo sacrifício, distribuição do pão da palavra divina, conversações edificantes, tudo falava de Deus na Arca da Aliança. Marceau tinha até obtido o favor de possuir no navio a Santa Eucaristia, ante a qual ele passava todos os dias longas horas de adoração. Quando chegou o mês de Junho, consagrado ao Coração de Jesus, ele o fez celebrar por exercícios espirituais, e nesta ocasião, puderam ver o cumprimento das promessas feitas à bem-aventurada Margarida Maria (hoje Santa).

Houve belas conversões, edificantes comunhões, e o comandante não cessava de dizer nos transportes de sua alegria: «Bendito seja o Sagrado Coração de Jesus!» No mesmo tempo, a fim de satisfazer a sede ardente que tem da salvação das almas o Sagrado Coração de Jesus, ele fazia sacrifícios e penitências para este passageiro ou aquele marinheiro, que lhe parecia mais separado de Deus. Como ele tinha especial devoção à Paixão de Jesus Cristo e às dores de Maria, viam-no frequentemente ocupado em fazer o caminho da cruz, para a conversão das almas. «Eu não faço assim senão para Deus, dizia ele, e para o bem das missões.» E com esta piedade , Marceau era sempre afável, sempre amável e sempre amado. Um parisiense, que tinha vivido com ele quatro anos, dizia: «Marceau é o que vi de mais belo na minha vida.» Um sacerdote, arrebatado pelo fogo divino que animava esta alma, chamava-lhe o missionário dos missionários.




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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 351-356 – Texto revisto, e atualizado)

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