«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 4 de outubro de 2018


HORA SANTA DO MÊS DE OUTUBRO
(Por Santo Afonso de Ligório)


"Eis o Coração que tanto amou os homens" (postal francês - tradução livre)


CORAÇÃO AFLIGIDO DE JESUS, ASILO DAS ALMAS TENTADAS


A que combates interiores o Coração de Jesus não quis submeter-se no Jardim das Oliveiras? De um lado, uma viva repugnância à sua Paixão lhe fazia dizer: Afaste-se de mim este cálice amargo! Do outro, uma perfeita submissão à vontade de seu Pai lhe fazia ajuntar logo: Entretanto, ó meu Pai, faça-se a vossa vontade e não a minha! (Mt 26, 39) Nesta circunstância, Jesus Cristo quis nos mostrar que ele tinha tomado realmente sobre si as misérias de nossa humanidade; mas ao mesmo tempo, mereceu-nos uma força que supera nossa fraqueza, porque, tendo sido ele mesmo tentado, diz S. Paulo, pode nos socorrer nas tentações. (Hb 2, 18) Como assim? É que nosso Salvador, depois de ter padecido as tentações1, ficou mais propenso a se compadecer de nossos males e a nos ajudar quando tentados. Esta explicação nos é dada pelo Apostolo nesta passagem: Nós não temos um Pontífice incapaz de se compadecer de nossas fraquezas: para ser mais semelhante a nós, ele as experimentou todas, exceto o pecado. (Hb 4, 15) E então nos exorta a recorrermos com confiança ao trono da graça, isto é, ao Coração de Jesus, para recebermos os socorros de que temos necessidade. Consolemo-nos, pois, eis que acabamos de achar o verdadeiro porto e lugar de refúgio nas tempestades das tentações: é o Coração de Jesus.

Deus permite que as almas santas sejam provadas pelas tentações, a fim de que conheçam melhor sua fraqueza e a necessidade que têm do socorro divino para não sucumbirem. Ele o permite também para torná-las mais ricas em merecimentos, como foi dito a Tobias: Porque ereis agradável a Deus, foi necessário que a tentação vos pusesse à prova. (Tb 12, 13) Enfim, para desapegá-las cada vez mais da terra e fazer que desejassem mais ardentemente ir gozar de sua presença no céu. As boas almas, vendo-se assaltadas, dia e noite, por tantos inimigos, enojam-se da vida presente, e clamam gemendo com o Profeta; Ah! Quanto dura meu exílio! (Sl 119, 5)

Não nos perturbemos à vista destas tentações. Se o Coração de Jesus é por nós, que podem contra nós todos os esforços do inferno?" Ah! Ele é um Coração fiel: não permite que sejamos tentados acima de nossas forças; ao contrario, grande proveito nos faz tirar da tentação. Este é o ensino do grande Apóstolo. (I Cr 10, 13) Aquele então que resiste à tentação, não perde nada e ganha muito. Siga o aviso de Santo Agostinho, isto é, ponha-se com a alma cheia de confiança no Coração de Jesus, e nada tema; porque Jesus é tão bom! Que não se retirará de maneira a nos deixar sucumbir. Como poderíamos temer que o Senhor nos recuse o socorro, depois dele nos ter feito tantas e tão belas promessas? Quando vossos inimigos vos apertem, diz ele, invocai-me, eu vos tirarei do perigo, e vós me glorificareis. (Sl 49, 15) Então chamareis o Senhor em vosso socorro, e ele vos ouvirá; clamareis: Depressa, Senhor, socorrei-me; e ele vos responderá: Eis-me aqui, presente estou para vos defender. (Is 58, 9) O Senhor está perto e muito perto daqueles que o invocam. Não esqueçamos invocar os santos nomes de Jesus e Maria, que têm virtude particular, principalmente contra as tentações impuras. Logo que os meninos percebem o lobo, dizia S. Francisco de Sales, correm a lançar-se nos braços de seu pai e de sua mãe, e aí se conservam em segurança. Façamos o mesmo: vamos pôr-nos em segurança nos Corações de Jesus e de Maria, invoquemos logo seus santos nomes, sem prestar ouvido à tentação, sem raciocinar com ela.

Se o Coração agonizante de Jesus é nosso asilo nas lutas da vida, sê-lo-á principalmente na luta decisiva da morte. Nessa hora, mais que nunca, teremos que temer os assaltos do inferno; ele se esforçará tanto mais por nos perder, quanto nos vir mais perto do nosso fim. Rainaldo conta de S. Elzear, cristão de vida muito pura, que, ao aproximar-se a hora de sua morte, os demônios lhe fizeram terríveis assaltos, e ele disse então: As tentações do inferno são bem grandes neste momento, mas Jesus Cristo lhes tira sua força pelos merecimentos de sua Paixão. Jesus Cristo mesmo quis ser perturbado vendo a morte de perto; quis sentir esta pena, a fim de que, se experimentássemos alguma turbação em nossa morte, não perdêssemos a confiança, lembrando-nos de que nosso Salvador padeceu a mesma aflição. Se, pois, nesse momento supremo, o demônio quer nos aterrar, representando-nos as faltas de nossa mocidade, responder-lhe-emos com S. Bernardo: Faltam-me muitos merecimentos para ir para o paraíso, bem o sei; mas o que me falta, eu tomo no meu tesouro que é o Coração de Jesus; aí se acham para mim todos os merecimentos d'Aquele que se dignou padecer e morrer precisamente para me obter a gloria eterna de que sou indigno. S. Francisco de Sales pensava no Coração de Jesus, quando exclamava, cheio de confiança sem limites: Eu viverei e morrerei sobre seu peito; nem a morte nem a vida me separarão d'Ele.

PRÁTICA

Em todas as penas, desânimos, tentações, obscuridades, lançarei minha alma com santo abandono nos Corações de Jesus e Maria; pronunciarei afetuosamente seus doces nomes, e ficarei em repouso. Deste modo adquirirei o hábito de orar, que me será de grande preço à hora da minha morte.



AFETOS E SÚPLICAS

Ó meu Jesus, é pouco um coração para vos amar; ah! se eu possuísse os corações de todos os homens! Mas ainda seria pouco. Que ingratidão seria dividir meu coração entre vós e as criaturas! Não, meu amor, nada de partilha: vós quereis e mereceis meu coração todo: eu quero vo-lo dar inteiramente. Se não sei vo-lo dar como devo, tomai-o vós mesmo, a fim de que eu possa em verdade vos chamar o Deus de meu Coração. (Sl 72, 26) Rogo-vos, divino Redentor meu, pelos merecimentos infinitos da vida que quisestes passar por mim nas humilhações e padecimentos, concedei-me a verdadeira humildade, que me faça amar a vida obscura e desprezada. Fazei que eu abrace com amor as enfermidades, as afrontas, as perseguições, as penas interiores, e todas as cruzes que me vierem de vossa mão. Fazei que eu vos ame, e depois tratai-me como for de vosso agrado. Ó Coração amante de Jesus, abrasai-me de amor para convosco, fazendo-me conhecer o imenso bem que em vós se acha. Fazei que eu seja todo para vós antes de morrer. Eu vos amo, ó meu Jesus, tão digno e tão desejoso de meu amor, eu vos amo de todo o meu coração e com toda a minha alma.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Ó Coração de Jesus, assisti-me nos meus derradeiros combates contra o inferno.

EXEMPLO

Se as almas santas receberam do céu favores extraordinários, é forçoso confessar que os compraram bem caro. A vida de Amada Débillot, na religião soror Saint-Martinien, é prova disto. Ela foi recebida na casa das irmãs de S. Carlos em Angers no ano 1852 para tratar os enfermos nos hospitais. «Feliz sou, dizia ela, de poder consagrar minha vida ao divino Jesus, dedicando-me a obras tão agradáveis a seu amável Coração. Eu o amo nos seus membros enfermos.» Entre tantos doentes que ela tratou, quase não se encontra um só que haja resistido a seu zelo. Seu grande segredo para os converter, era oferecer a Deus em favor deles suas orações, seus trabalhos e padecimentos. Durante nove anos seus dias inteiros se passaram nos exercícios da mais penosa caridade; muitas vezes na semana lhe era necessário assistir às operações mais graves, apesar das repugnâncias que talvez para outros teriam parecido invencíveis. Devendo pensar cada dia horríveis chagas, ela tinha gosto em pedir para si os infelizes a quem a infecção da enfermidade tornava repugnantes a todos os outros. Vendo-a sempre alegre, ninguém poderia pensar que ela tinha que fazer horríveis violências a si. Débillot dizia à sua própria natureza: «Sim, revolta-te, faze o que quiseres, não te concederei nada.» Entretanto, Deus não esquecia sua serva. Algumas vezes, no forte de suas penas, ela exclamava: «É muito, Senhor, sim, é muito; não posso mais; retirai a abundância de vossas consolações ou aumentai meu coração.» Um dia Nosso Senhor lhe disse: «Os esposos da terra oferecem diamantes à esposa que escolheram; eu te escolhi, bem o sabes; pedi-me o que quiseres, e logo te darei.» Ela respondeu-lhe que, vendo-o com os açoutes, a corôa de espinhos, a cruz, os cravos, o fel, a lança, os desprezos, as injurias, ela não queria outra coisa; estes eram os diamantes que ambicionava, mas queria também ver seu coração no Coração de seu amável Esposo. Para recompensar sua serva de tanta caridade, o Salvador lhe disse: «Há tanto tempo tu me rogas para que meu Coração seja no teu, e o teu no meu; para que isto se faça, é necessário que consintas em viver da minha vida, que se passou nas tristezas, nojos, desamparos, padecimentos, e no desejo de glorificar meu Pai. Queres viver assim? Queres ser a companheira inseparável de meus padecimentos?» Quando se apresentava a Cruz, ela repetia: «Meu Deus, o que quiserdes, tudo o que quiserdes, nada senão aquilo que quiserdes.»

Na sua última enfermidade conservava sempre o crucifixo entre as mãos, beijando com amor as cinco chagas, principalmente a do Sagrado Coração. «Meu coração no seu Coração!» dizia ela toda em êxtase.» «Tenho confiança, dizia esta piedosa amante de Jesus à Madre Superiora, pus meu coração no Coração de Jesus; ele o mudará, e eu serei mudada n'Ele.»

Sua preciosa morte se deu em 1863.






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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 262-268 – Texto revisto, atualizado e adaptado para o português do Brasil)



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1 Falando de Jesus Cristo, a palavra tentação não significa a funesta inclinação para o mal, a que somos sujeitos em consequência de nossa natureza corrompida; mas sim o temor, o desgosto, a tristeza, as dores e todas as penas interiores e exteriores que ele quis padecer por nós durante sua vida mortal. O Salvador pôde ser tentado exteriormente pelo demônio, como aconteceu no deserto, mas nunca interiormente.

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