«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 1 de novembro de 2018


HORA SANTA DO MÊS DE NOVEMBRO
(Por Santo Afonso de Ligório)


O Sagrado Coração de Jesus, Sant'ana, S. Joaquim e as Almas
do Purgatório

CORAÇÃO AFLIGIDO DE JESUS, CONSOLADO PELO ZELO DAS ALMAS


Feliz, mil vezes feliz a alma compassiva, que procura consolar o Coração de Jesus, agonizando no Jardim das Oliveiras! E que se deve fazer para o consolar? A causa única de sua aflição é a perdição das almas que o ultrajam em vez de o amar: por conseguinte, a consolação que ele requer, é que procuremos ganhar-lhe as almas. Não é a perdição delas que lhe arrancou tantas lagrimas? Não é para resgatá-las que ele deu seu sangue? Aquele que salva uma alma, enxuga de alguma sorte as lagrimas de Jesus e impede que seu sangue tenha sido derramado em pura perda. – Mas, direis, eu deixo este cuidado para os padres. – Ah! Se fosseis capaz de tal linguagem, seria sinal de que não amaríeis quase a Nosso Senhor. Se amasses verdadeiramente a Deus, diz Santo Agostinho, fareis todos os esforços para que todos os outros o amem. Não, um coração que ama a Deus, não poderia ficar indiferente à condenação de tantas almas criadas para o louvar eternamente. S. Boaventura dizia, que ele aceitaria tantas mortes quantos pecadores há no mundo, se por este meio pudesse salvá-los todos. S. Caetano, achando-se em Nápoles durante a terrível revolução de 1547, e vendo que estas perturbações causavam a perdição eterna de tantas pobres almas, sentiu-se tão profundamente comovido, que morreu de dor. Quanto a nós, procuremos ao menos ser úteis aos pecadores, quanto podemos, por nossas palavras, exemplos, ações, e especialmente por nossas orações e por nossos padecimentos.

Oh! Quão agradáveis seríamos ao Coração de Jesus, se nos retirássemos de tempos em tempos a um lugar solitário, para chorarmos e orarmos com Jesus chorando e orando no Jardim das Oliveiras. Persuadamo-nos bem que todos os discípulos do Coração de Jesus devem zelar por sua honra, como ele o queria de Santa Teresa: De agora em diante, disse-lhe ele, tomarás cuidado de minha honra como minha verdadeira esposa. Se um discípulo de Jesus não cuida dos interesses da glória de Deus, quem então cuidará? O Senhor prometeu atender a quem lhe dirige seus rogos: Em verdade, em verdade vos digo, tudo o que pedirdes em meu nome, ele vo-lo dará. (Jo 16, 23) Ora, muitos teólogos, apoiados na autoridade de S. Basílio, ensinam que esta promessa é valiosa, não somente para a pessoa que ora, mas ainda para todos aqueles em favor de quem se ora, contanto que não ponham obstáculo positivo ao efeito da oração. Sendo assim, não deixemos nunca, quer comungando, quer visitando o Santíssimo Sacramento, quer fazendo o pio exercício da Hora Santa, de recomendar a Deus os pobres pecadores, os infleis, os hereges, e todos os que vivem longe de Deus.
Jesus no Jardim das Oliveiras


Oh! Quanto agrada ao Coração de Jesus a oração pelos pecadores! Ele dizia um dia à venerável Serafina de Capri: Ajuda-me por tuas orações a salvar as almas, ó minha filha. Outra vez falava a Santa Maria Magdalena de Pazzis assim: Ó minha filha, vê quantas almas estão entre as mãos do demônio; se meus eleitos não as livrassem por suas orações, todas se tornariam presas dele. Daqui estas graves palavras da santa a suas religiosas: Minhas irmãs, daremos conta a Deus de todas as almas que se perdem; se tivéssemos dirigido fervorosas orações a Deus em favor delas, talvez não se houvessem condenado. Também se lê na sua vida que ela não deixava passar hora alguma do dia sem orar pelos pecadores.

Outra grande serva de Deus, soror Stefânia de Soncino, fez, durante quarenta anos, rudes penitências, aplicando-as todas para a salvação dos pecadores. Muitas almas devem sua conversão menos aos sermões dos pregadores do que às orações das almas fervorosas. Foi revelado a um missionário que o fruto que ele operava, não era devido à sua eloquência, mas às orações de um irmão que o servia. Ah! Oremos, oremos pelas almas que se perdem, e oremos também pelos sacerdotes que Deus chama para trabalhar na conversão dos pecadores.

Que consolação, que motivo de confiança, principalmente no leito da morte, podermos pensar que muitas almas conquistamos para Jesus Cristo, pelas orações exemplos, conversações, padecimentos, etc. Ganhar almas para Deus, é, segundo S. Gregório, o meio mais fácil de expiar os próprios pecados, e segundo Santo Agostinho, é assegurar para si a predestinação. Se merece grande recompensa quem livra um homem da morte temporal, que não se merecerá por livrá-lo da morte eterna e procurar-lhe uma vida que não terá mais fim? Ah! O Coração de Jesus poderia não ser reconhecido para com aquele que tiver arrancado ao inferno uma alma resgatada a preço de tão grandes sacrifícios?

PRÁTICA

Quero a todo preço salvar as almas. para isto não me é preciso deixar a pátria, a família, nem meu estado. Posso ser apóstolo de minha pátria, pela obra de S. Francisco de Sales: apóstolo das regiões infiéis, pela obra da propagação da e da santa infância; apóstolo da Cidade, ou do lugar em que moro, por meus bons exemplos; apóstolo do mundo inteiro, pelo apostolado da oração, etc. Mas, cumpre-me principalmente ser apóstolo da minha família, procurando para meus filhos, que Deus mo deu, educação inteiramente católica, apartando deles toda leitura que for suspeita, exercendo a vigilância mais ativa para remover tudo que possa ser para eles ocasião de pecado. Não é verdade que, se eu o quisesse seriamente, faria de minha casa um verdadeiro santuário dedicado ao Sagrado Coração? Bastar-me-ia para isto estabelecer a reza quotidiana do terço e as orações da noite em comum, como também uma breve leitura espiritual, etc.

AFETOS E SÚPLICAS

Ó Coração amabilíssimo de meu divino Salvador, Coração digno de reinar sem partilha em todos os corações, quem me dera poder fazer conhecer a todos os homens o amor que lhes tendes e os favores com que cumulais as almas que vos amam sem reserva! Ó Coração amantíssimo, muito infeliz é o coração que não vos ama. Pois, Senhor, vós morrestes na cruz, sem alívio algum, por amor dos homens; como, depois disto, estes mesmos homens podem viver sem pensar em vós? Ó amor de Deus!... ó ingratidão dos homens! Ah! meu Jesus, quão pouco sois amado! Insensato que sou, eu mesmo vivi tantos anos sem pensar em vós, acumulando faltas sobre faltas. Amadíssimo Redentor meu, o que me faz gemer é menos ter merecido vossa ira, que ter desprezado vosso amor.

Ó dores de Jesus, ó ignomínias de Jesus, ó chagas de Jesus, ó morte de Jesus, fixai-vos no meu coração; nele viva sem cessar vossa doce lembrança, para continuamente me estimular e me inflamar em vosso amor. Eu vos amo, meu Jesus, eu vos amo, meu soberano Bem; eu vos amo, meu amor, meu tudo; eu vos amo sem reserva, e quero amar-vos sempre. Ah! não permitais que eu tenha ainda a desgraça de vos deixar e vos perder. Fazei que eu seja todo para vós, concedei-me esta graça pelos merecimentos da vossa morte; nela ponho toda a minha confiança. Confio igualmente em vós, ó Maria, minha augusta Rainha, fazei que eu ame a Jesus Cristo, e sede também meu amor, vós que sois minha mãe e minha esperança.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Coração clementíssimo de Jesus, fazei que todos os pecadores se convertam e vos amém.

EXEMPLO

Santa Lutgarda do Coração de Jesus
(Foto: Commons Wikimedia)

Santa Lutgarda, nascida em Tongeren, em 1182, foi uma das mais ardentes adoradoras do Coração de Jesus. Sua nobreza e as prendas que a distinguiam, foram causa para que muitos senhores do país a pedissem em matrimônio. Um dia em que ela se entretinha com um deles, aparece-lhe de repente Nosso Senhor mostrando-lhe seu Coração e a chaga de seu lado: «Ó Lutgarda, diz-lhe, contempla aqui o que deves amar. Deixa as criaturas, e em meu Coração acharás as inefáveis delícias do divino amor.» Quando, depois disto, voltou o pretendente, Lutgarda lhe disse como Santa Ignês: «Está acabado, já me prometi a outro esposo: pertenço a um consorte divino.» Com a idade de 18 anos, entrou para a Ordem das Beneditinas [Convento de Santa Catarina], junto da cidade de Saint-Trond. Desde este momento, sua vida não foi mais que uma série de favores da parte do Coração de Jesus. Um dia em que ela se aniquilava diante do Senhor, ele lhe disse: «Que queres? – Ó Senhor, respondeu, Lutgarda, o que eu quero, é o vosso Coração. – E eu, disse o Senhor, o que quero, é o teu. – Oh! diz Lutgarda, tomai-o, purificai-o pelo fogo de vosso amor, colocai-o no vosso, e doravante só em vós e por vós o possua eu.» Um dia em que ela estava de cama por causa de enfermidades, o Senhor lhe disse: «Pensa nos pecadores que têm necessidade de tuas orações. Levanta-te, e vai à igreja.» Lutgarda obedece, e eis que no momento em que queria entrar no lugar santo, Jesus Cristo, pregado na cruz, desprega sua mão direita e a aperta ternamente sobre seu Coração. Este Coração sagrado torna-se desde então o objeto especial de sua devoção, motivo pelo qual se chamou Lutgarda do Sagrado Coração. Dele nossa Santa recebeu o grande dom de consolar as almas aflitas. Uma pessoa era horrivelmente atormentada por certas tentações, e não tinha ânimo de descobri-las a ninguém, nem sequer a seu confessor. Neste estado ela foi se recomendar às orações de Santa Lutgarda. «De que sofreis? disse-lhe a Santa. – Oh! A ninguém tenho ânimo de dizer. – Pois bem! O que tendes vergonha de dizer, o Senhor me revelou.» Depois, com grande espanto da pobre vítima, a Santa lhe fez exposição minuciosa de tudo o que a atormentava, e acabou por exortá-la a fazer uma boa confissão e a proceder santamente. A pessoa saiu toda consolada e decidida a usar, de então por diante, do Sacramento da Penitência segundo os desígnios misericordiosos do Coração de Jesus.

Para expiar as desordens de sua época, Lutgarda pôs em prática um jejum de sete anos. Um dia o Senhor lhe disse: «Quero que, por teus padecimentos e orações, aplaques a ira de meu Pai, a fim de que ele não fira os pecadores de morte eterna.» Outra vez, o Senhor lhe apareceu com suas chagas sagradas, oferecendo-se a seu Pai pelos pecadores, e voltando-se para Lutgarda, disse-lhe : «Vês como eu me ofereço a meu Pai pelos pecadores? Assim é que eu quero que tu também te ofereças inteiramente por meus pecadores, e deles apartes os raios de minha Justiça.»

Imitemos a Lutgarda, dando nosso coração a Jesus Cristo, e oferecendo sem cessar ao Padre eterno os merecimentos da Paixão do Salvador pela conversão dos pecadores.





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 268-275 – Texto revisto e atualizado)

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