«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 2 de novembro de 2018


PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE NOVEMBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


CORAÇÃO DE JESUS, MODELO DE CONFORMIDADE COM A VONTADE DE DEUS


Oh! Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de Jesus! O maior sinal de amor que se pode dar a alguém, é fazer em tudo e sempre a sua vontade, ainda quando seja preciso para isto perder tudo , até a vida. Ora, tal foi a disposição contínua do Coração de Jesus; ele não buscou em toda a sua vida senão a vontade de seu Eterno Pai. Apenas encarnado no seio de sua Mãe, ele diz: Ó meu Pai vós rejeitastes as vítimas que os homens vos ofereciam; quereis que eu vos sacrifique o corpo que me destes: pois sim! aqui estou, pronto para fazer vossa vontade. (Hb 10, 5) Quantas vezes protestou que descera do céu não para fazer a sua vontade, mas a de seu Pai que o enviava! (Jo 6, 38) Para fazer conhecer ao mundo o amor imenso que tinha a seu Pai, Jesus lhe obedeceu até fazer o sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. É precisamente o que dizia ao sair ao encontro dos inimigos que vinham prendê-lo para o conduzirem à morte: A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai e faço tudo o que ele me ordenou, levantai-vos, vamos. (Jo 14, 31)

Deus nos promete a glória celeste, mas com uma condição: é que nosso coração se torne conforme ao Coração de Jesus. Ora, a união da vontade do homem com a vontade de Deus é que produz esta conformidade. Como o ódio divide as vontades, assim o amor as une; de sorte que duas pessoas se amam verdadeiramente quando uma quer o que a outra quer. As almas fiéis a amar a Deus, diz o Sábio, submetem-se a tudo o que ele quer. (Sb 3, 9) S. Crisóstomo diz que toda a perfeição do amor consiste na santa resignação à vontade de Deus. Quando uma alma faz morrer sua vontade própria para não deixar viver senão a vontade de Deus, atinge o cimo da perfeição.

Oh! que felicidade poder sempre dizer como a Esposa sagrada: Minha alma se liquefez desde que meu Amado falou. (Ct 5, 6) Por que esta expressão: se liquefez? Como as matérias líquidas não têm forma própria, mas tomam a do vaso em que se acham, assim as almas que amam a Deus, não têm mais vontade própria, mas se conformam a tudo o que ele quer; ou, para melhor exprimir-me, elas têm uma vontade dócil, que se presta a tudo o que o Senhor quer, diferentemente daqueles que têm vontade dura e rebelde. Um instrumento é bom, quando obedece ao operário que dele se serve; de outra sorte não presta, e lança-se fora. Há pessoas que fazem consistir sua santidade em fazer muitas penitências, comungar muitas vezes, rezar muitas orações vocais; mas nisto não consiste a perfeição, esta consiste em submeter-se à vontade de Deus. As penitências, as comunhões, as orações são boas, mas enquanto Deus as quer; são elas meios apenas para nos unir à vontade divina. Muitos se conformam à vontade de Deus na prosperidade, mas logo que a adversidade chega, já não fazem o mesmo. É grande loucura. Disto resulta que soframos duplamente e sem merecimentos, porque, quer queiramos quer não, a vontade de Deus se fará.
Santa Maria Madalena de Pazzi

Tudo o que o Coração de Jesus deseja de nós é que cumpramos a vontade de Deus: Meu filho, diz ele, dá-me teu coração, (Pr 23, 26) isto é, tua vontade; dize comigo: Ó Pai, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu! Tal era o desejo continuo dos santos. O Senhor, aparecendo um dia à Santa Gertrudes atormentada pela febre, perguntou-lhe se desejava a saúde, ela respondeu: Quero o que quer vosso Coração, não quero senão vossa santa vontade. Se desejamos também agradar inteiramente ao Coração de Jesus, procuremos não somente nos conformar em tudo à sua santa vontade, mas ainda nos uniformizar com ela, se assim posso me exprimir. A palavra conformar quer dizer que dirigimos a nossa vontade como a de Deus, mas uniformizar significa que as duas vontades não formam senão uma, não queremos senão o que Deus quer, sua vontade única é a nossa.

Santa Maria Madalena de Pazzi dizia que todas as nossas orações não deviam ter por fim senão obter de Deus a graça de seguir em tudo sua santa vontade. Santa Teresa dizia: Este dom de nossa vontade tem grande império no Coração de Deus, pois o que determina a se unir à nossa baixeza. Mas nunca se poderá chegar a esta suprema felicidade, senão por meio da oração mental e contínuas súplicas, com sincero desejo de ser sem reserva para o Coração de Jesus.

PRÁTICA

Direi sempre, com o maior fervor e o mais inteiro abandono a Deus, estas palavras do Padre Nosso: Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu! E quando me sobrevier alguma contrariedade, levantarei meu coração para o céu dizendo:

Seja feita, louvada e exaltada para sempre em todas as coisas a santíssima, altíssima, amabilíssima vontade de Deus! (100 dias de ind. uma vez por dia - 19 de Maio de 1818)
(Foto: Sedarium)

AFETOS E SÚPLICAS

Coração de meu amadíssimo Jesus, vossa ternura tem atrativos irresistíveis para arrebatar os corações. Quantas pessoas, avassaladas de amor para com vossa inefável bondade, ardem sem cessar para convosco nas mais felizes chamas e pensam sempre em vós. Ah! Tocai meu pobre coração, ele também deseja apegar-se a vós e viver nas suaves cadeias de vosso amor. Desde este momento, ó meu Jesus, deponho todos os meus interesses, todas as minhas esperanças, todos os meus afetos, minha alma, meu corpo, tudo enfim entre as mãos de vossa bondade; aceitai-me, Senhor, e de mim disponde segundo vosso beneplácito. Ó meu amor, não quero mais me queixar das disposições de vossa providência, sei que procedendo todas de vosso Coração tão terno, elas são sempre cheias de amor e vantajosas para mim; basta que as queirais; eu também as quero sem restrição no tempo e na eternidade. Fazei de mim e em mim tudo que vos agrada; eu me uno sem reserva à vossa vontade sempre santa, boa, bela, perfeita, amável.

Ó vontade de meu Deus, quanto me sois cara! Quero viver e morrer estreitamente unido a vós: o que vos agrada, me agrada; vossos desejos sejam meus desejos. Meu Deus, meu Deus, ajudai-me; fazei que de agora em diante eu não viva mais senão para querer o que vós quereis, para amar vossa amável vontade. Quem me dera morrer por vosso amor, ó vós que morreste por amor de mim e vos fizestes meu alimento! Malditos sejam os dias em que segui minha vontade com grande desgosto vosso. Eu vos amo, ó vontade de Deus; eu vos amo tanto como a Deus, pois sois Deus mesmo. Eu vos amo então de todo o meu coração, e todo me dou a vós.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Ó vontade de Deus, sois meu amor.

EXEMPLO

Quem não ouviu falar de Isabel de França, irmã de Luiz XVI1? Ela também foi grande amante do Coração de Jesus. Nos seus primeiros anos, ela não dava a presagiar que mais tarde lhe chamariam a angelica Isabel, e o povo de Paris lhe daria o nome de Santa Genoveva das Tulherias, porque ela era altiva e assomada. Felizmente seu coração era dócil, e seus defeitos desapareceram de tal sorte que, na côrte se admirava a transformação prodigiosa operada no seu caráter. Isabel não desdenhava os trabalhos da agulha nos quais adquiriu surpreendente habilidade. Certa “dama d'honor” [dama de honra], que vira e examinara um admirável bordado que a princesa acabava de fazer: «É em verdade pena, disse, que Sua Alteza seja tão hábil.» – «Por quê?» pergunta Isabel. – «Esta habilidade ficaria tão bem nas moças pobres!Este talento lhes bastaria para ganharem o seu pão e o de sua família.» – «Talvez para isto é que Deus me deu, respondeu a princesa. E quem sabe um dia talvez farei uso dele para ganhar meu pão.» Para ter com mais abundância esmolas, ela mandava vender, às vezes, objetos preciosos, como relógios, braceletes, joias. Um dia em que lhe traziam o preço: «Não é somente dinheiro, diz ela, é também tempo ganho, por que tais e tais pobres não terão de padecer tanto tempo.» A ela devemos esta bela oração que faremos bem recitar frequentemente:

«Que me sucedera hoje, ó meu Deus? Não sei. O que sei, é que não me acontecerá nada que não tenhais previsto de toda a eternidade. Basta-me isto, ó meu Deus! Para ficar tranquila. Adoro vossos eternos desígnios, e a eles me submeto de todo o meu coração; quero tudo, aceito tudo, faço-vos sacrifício de tudo; uno este sacrifício ao de vosso caro Filho, meu Salvador, pedindo-vos, por seu Sagrado Coração e seus merecimentos infinitos, a paciência nas minhas enfermidades e a perfeita submissão que vos é devida em tudo o que quiserdes e permitirdes.»

Isabel escrevia a certa amiga: «É preciso pôr tudo ao pé do crucifixo. É o livro dos livros: só ele consola a alma aflita.» Vendo os assaltos furiosos dados contra a Igreja, Isabel escreveu a fórmula de um voto ao Coração Imaculado de Maria, para obter a conservação da religião na França. A este mesmo fim, ela mandou oferecer, na Catedral de Chartres, um Coração de Jesus unido ao Coração de Maria, feito de ouro puríssimo. Encerrada na prisão do Templo com a família real, Isabel derramava seu coração no Coração de Jesus, e ensinava aos outros cativos a buscarem neste divino Coração a calma e a resignação. Aí foi que ela ensinou à sua jovem sobrinha a devoção ao Coração de Jesus. Isabel invocou o Coração de Jesus até no cadafalso, onde a revolução a fez subir em 1793.




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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 357-363 – Texto revisto, e atualizado)

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1 A princesa Elizabeth (Serva de Deus Isabel da França) era a irmã mais nova de Luís XVI, tendo nascido em Versaille (3.5.1764) e morreu na guilhotina, durante a Revolução Francesa, juntamente com outros vinte e quatro prisioneiros em 10 de maio de 1794 . Compreendeu bem cedo qual era a sua vocação, não se casaria e também não seria religiosa, viveria como exemplo no meio dos seus e sobretudo no auxílio aos pobres e doentes, ofício a qual ela se entregou inteiramente. cf. https://www.gaudiumpress.org/content/95555-A-irma-do-rei-Luiz-XVI--Elizabeth-de-Franca--sera-canonizada

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