PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE NOVEMBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CORAÇÃO DE JESUS, MODELO DE CONFORMIDADE COM A VONTADE DE DEUS
Oh!
Em que chamas de amor para com seu Pai abrasou-se o Coração de
Jesus! O maior sinal de amor que se pode dar a alguém, é fazer em
tudo e sempre a sua vontade, ainda quando seja preciso para isto
perder tudo , até a vida. Ora, tal foi a disposição contínua do
Coração de Jesus; ele não buscou em toda a sua vida senão a
vontade de seu Eterno Pai. Apenas encarnado no seio de sua Mãe, ele
diz: Ó meu Pai vós rejeitastes as vítimas que os
homens vos ofereciam; quereis que eu vos sacrifique o
corpo que me destes: pois sim! aqui estou, pronto para
fazer vossa vontade. (Hb 10, 5) Quantas vezes protestou que
descera do céu não para fazer a sua vontade, mas a
de seu Pai que o enviava! (Jo 6, 38) Para fazer
conhecer ao mundo o amor imenso que tinha a seu Pai, Jesus lhe
obedeceu até fazer o sacrifício de sua vida pela salvação dos
homens. É precisamente o que dizia ao sair ao encontro dos inimigos
que vinham prendê-lo para o conduzirem à morte: A fim de que o
mundo saiba que amo a meu Pai e faço tudo o que ele me
ordenou, levantai-vos, vamos. (Jo 14, 31)
Deus
nos promete a glória celeste, mas com uma condição: é que nosso
coração se torne conforme ao Coração de Jesus. Ora, a união da
vontade do homem com a vontade de Deus é que produz esta
conformidade. Como o ódio divide as vontades, assim o amor as une;
de sorte que duas pessoas se amam verdadeiramente quando uma quer o
que a outra quer. As almas fiéis a amar a Deus,
diz o Sábio, submetem-se a tudo o que ele quer. (Sb 3,
9) S. Crisóstomo diz que toda a perfeição do amor consiste na
santa resignação à vontade de Deus. Quando uma alma faz morrer
sua vontade própria para não deixar viver senão a vontade de Deus,
atinge o cimo da perfeição.
Oh!
que felicidade poder sempre dizer como a Esposa sagrada: Minha
alma se liquefez desde que meu Amado falou. (Ct 5,
6) Por que esta expressão: se liquefez? Como as matérias
líquidas não têm forma própria, mas tomam a do vaso em que se
acham, assim as almas que amam a Deus, não têm mais vontade
própria, mas se conformam a tudo o que ele quer; ou, para melhor
exprimir-me, elas têm uma vontade dócil, que se presta a tudo o que
o Senhor quer, diferentemente daqueles que têm vontade dura e
rebelde. Um instrumento é bom, quando obedece ao operário que dele
se serve; de outra sorte não presta, e lança-se fora. Há pessoas
que fazem consistir sua santidade em fazer muitas penitências,
comungar muitas vezes, rezar muitas orações vocais; mas nisto não
consiste a perfeição, esta consiste em submeter-se à vontade de
Deus. As penitências, as comunhões, as orações são boas, mas
enquanto Deus as quer; são elas meios apenas para nos unir à
vontade divina. Muitos se conformam à vontade de Deus na
prosperidade, mas logo que a adversidade chega, já não fazem o
mesmo. É grande loucura. Disto resulta que soframos duplamente e sem
merecimentos, porque, quer queiramos quer não, a vontade de Deus se
fará.
Santa Maria Madalena de Pazzi |
Tudo
o que o Coração de Jesus deseja de nós é que cumpramos a vontade
de Deus: Meu filho, diz ele, dá-me teu coração, (Pr
23, 26) isto é, tua vontade; dize comigo: Ó Pai,
seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu!
Tal era o desejo continuo dos santos. O Senhor, aparecendo um dia
à Santa Gertrudes atormentada pela febre, perguntou-lhe se desejava
a saúde, ela respondeu: Quero o que quer vosso Coração, não
quero senão vossa santa vontade. Se desejamos também agradar
inteiramente ao Coração de Jesus, procuremos não somente nos
conformar em tudo à sua santa vontade, mas ainda nos
uniformizar com ela, se assim posso me exprimir. A palavra
conformar quer dizer que dirigimos a nossa vontade como a de
Deus, mas uniformizar significa que as duas vontades não
formam senão uma, não queremos senão o que Deus quer, sua vontade
única é a nossa.
Santa
Maria Madalena de Pazzi dizia que todas as nossas orações não
deviam ter por fim senão obter de Deus a graça de seguir em tudo
sua santa vontade. Santa Teresa dizia: Este dom de nossa
vontade tem grande império no Coração de Deus, pois o que
determina a se unir à nossa baixeza. Mas nunca se poderá chegar
a esta suprema felicidade, senão por meio da oração mental e
contínuas súplicas, com sincero desejo de ser sem reserva para o
Coração de Jesus.
PRÁTICA
Direi
sempre, com o maior fervor e o mais inteiro abandono a Deus, estas
palavras do Padre Nosso: Seja feita a vossa vontade assim
na terra como no céu! E quando me sobrevier
alguma contrariedade, levantarei meu coração para o céu dizendo:
Seja
feita, louvada e exaltada para sempre em todas as coisas
a santíssima, altíssima, amabilíssima vontade de
Deus! (100 dias de ind. uma vez por dia - 19 de Maio de
1818)
(Foto: Sedarium) |
AFETOS
E SÚPLICAS
Coração
de meu amadíssimo Jesus, vossa ternura tem atrativos irresistíveis
para arrebatar os corações. Quantas pessoas, avassaladas de amor
para com vossa inefável bondade, ardem sem cessar para convosco nas
mais felizes chamas e pensam sempre em vós. Ah! Tocai meu pobre
coração, ele também deseja apegar-se a vós e viver nas suaves
cadeias de vosso amor. Desde este momento, ó meu Jesus, deponho
todos os meus interesses, todas as minhas esperanças, todos os meus
afetos, minha alma, meu corpo, tudo enfim entre as mãos de vossa
bondade; aceitai-me, Senhor, e de mim disponde segundo vosso
beneplácito. Ó meu amor, não quero mais me queixar das disposições
de vossa providência, sei que procedendo todas de vosso Coração
tão terno, elas são sempre cheias de amor e vantajosas para mim;
basta que as queirais; eu também as quero sem restrição no tempo e
na eternidade. Fazei de mim e em mim tudo que vos agrada; eu me uno
sem reserva à vossa vontade sempre santa, boa, bela, perfeita,
amável.
Ó
vontade de meu Deus, quanto me sois cara! Quero viver e morrer
estreitamente unido a vós: o que vos agrada, me agrada; vossos
desejos sejam meus desejos. Meu Deus, meu Deus, ajudai-me; fazei que
de agora em diante eu não viva mais senão para querer o que vós
quereis, para amar vossa amável vontade. Quem me dera morrer por
vosso amor, ó vós que morreste por amor de mim e vos fizestes meu
alimento! Malditos sejam os dias em que segui minha vontade com
grande desgosto vosso. Eu vos amo, ó vontade de Deus; eu vos amo
tanto como a Deus, pois sois Deus mesmo. Eu vos amo então de todo o
meu coração, e todo me dou a vós.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Ó
vontade de Deus, sois meu amor.
EXEMPLO
Quem
não ouviu falar de Isabel de França, irmã de Luiz XVI1?
Ela também foi grande amante do Coração de Jesus. Nos seus
primeiros anos, ela não dava a presagiar que mais tarde lhe
chamariam a angelica Isabel, e o povo de Paris lhe daria o nome de
Santa Genoveva das Tulherias, porque ela era altiva e assomada.
Felizmente seu coração era dócil, e seus defeitos desapareceram de
tal sorte que, na côrte se admirava a transformação prodigiosa
operada no seu caráter. Isabel não desdenhava os trabalhos da
agulha nos quais adquiriu surpreendente habilidade. Certa “dama
d'honor” [dama de honra], que vira e examinara um admirável
bordado que a princesa acabava de fazer: «É em verdade pena, disse,
que Sua Alteza seja tão hábil.» – «Por quê?» pergunta Isabel.
– «Esta habilidade ficaria tão bem nas moças pobres!Este talento
lhes bastaria para ganharem o seu pão e o de sua família.» –
«Talvez para isto é que Deus me deu, respondeu a princesa. E quem
sabe um dia talvez farei uso dele para ganhar meu pão.» Para ter
com mais abundância esmolas, ela mandava vender, às vezes, objetos
preciosos, como relógios, braceletes, joias. Um dia em que lhe
traziam o preço: «Não é somente dinheiro, diz ela, é também
tempo ganho, por que tais e tais pobres não terão de padecer tanto
tempo.» A ela devemos esta bela oração que faremos bem recitar
frequentemente:
«Que
me sucedera hoje, ó meu Deus? Não sei. O que sei, é que não me
acontecerá nada que não tenhais previsto de toda a eternidade.
Basta-me isto, ó meu Deus! Para ficar tranquila. Adoro vossos
eternos desígnios, e a eles me submeto de todo o meu coração;
quero tudo, aceito tudo, faço-vos sacrifício de tudo; uno este
sacrifício ao de vosso caro Filho, meu Salvador, pedindo-vos, por
seu Sagrado Coração e seus merecimentos infinitos, a paciência nas
minhas enfermidades e a perfeita submissão que vos é devida em tudo
o que quiserdes e permitirdes.»
Isabel
escrevia a certa amiga: «É preciso pôr tudo ao pé do crucifixo. É
o livro dos livros: só ele consola a alma aflita.» Vendo os
assaltos furiosos dados contra a Igreja, Isabel escreveu a fórmula
de um voto ao Coração Imaculado de Maria, para obter a conservação
da religião na França. A este mesmo fim, ela mandou oferecer, na
Catedral de Chartres, um Coração de Jesus unido ao Coração de
Maria, feito de ouro puríssimo. Encerrada na prisão do Templo com a
família real, Isabel derramava seu coração no Coração de Jesus,
e ensinava aos outros cativos a buscarem neste divino Coração a
calma e a resignação. Aí foi que ela ensinou à sua jovem sobrinha
a devoção ao Coração de Jesus. Isabel invocou o Coração de
Jesus até no cadafalso, onde a revolução a fez subir em 1793.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 357-363 – Texto revisto, e
atualizado)
______________
1
A princesa Elizabeth (Serva de Deus Isabel da França) era a irmã
mais nova de Luís XVI, tendo nascido em Versaille (3.5.1764) e
morreu na guilhotina, durante a Revolução Francesa, juntamente com
outros vinte e quatro prisioneiros em 10 de maio de 1794 .
Compreendeu bem cedo qual era a sua vocação, não se casaria e
também não seria religiosa, viveria como exemplo no meio dos seus
e sobretudo no auxílio aos pobres e doentes, ofício a qual ela se
entregou inteiramente. cf.
https://www.gaudiumpress.org/content/95555-A-irma-do-rei-Luiz-XVI--Elizabeth-de-Franca--sera-canonizada
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