SANTA MARGARIDA MARIA: HUMILDADE, CONDIÇÃO INDISPENSÁVEL PARA ENTRAR E SE CONSERVAR NO CORAÇÃO DE JESUS
“«Aprendei
de mim, que sou doce e humilde de coração.»
[…] A humildade é a atitude da criatura em relação a seu
Criador; do discípulo diante de seu mestre. Opõe-se à
autossuficiência e torna o coração disponível para Deus. Falando
da pobreza interior diante da doença, Margarida Maria declara:
'Onde
existe menos de nós mesmos, aí há mais de Deus'
(C. 12)
Reconhecer
e amar a sua pequenez: na linguagem de seu tempo, Margarida Maria
fala de 'amor
à sua abjeção'
ou de 'aniquilamento',
o que deve ser entendido como humildade.
Não
existe meio mais seguro para entrar e conservar-se na amizade do
Sagrado Coração … É a virtude do Coração de Jesus, que só
abaixa até nós sua grandeza enquanto nos encontra aniquilados no
amor à nossa pequenez. Ele cuidará de vos elevar à união com ele
na medida em que esta santa virtude vos desapegará da afeição a
tudo o que há de brilho diante da criatura e de vós
(C. 77).
Deus
não resiste à humildade. Durante as Matinas da Visitação,
Margarida Maria, que sofria de uma afonia, recebe o menino Jesus em
seus braços. Instaura-se um diálogo:
– Meu
Senhor e meu Deus, em virtude de que excesso de amor abaixai-vos
assim vossa grandeza infinita?
– Eu
venho, minha filha, perguntar-te por que tu me dizes tantas vezes que
não me aproximes de ti.
– Senhor,
vós o sabeis, não sou digna nem de me aproximar de vós, nem de vos
tocar!
– Aprenda
que, quanto mais tu te retiras no teu nada, mais minha grandeza se
abaixa para te encontrar
(S. 19).
A
humildade se traduz por palavras, como mostra esta resolução de
retiro, que é em si mesma um programa de vida perfeita:
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Santa Margarida Maria recebe o menino Jesus das mãos de Nossa Senhora |
Eu
falarei sempre de Deus com respeito e humildade, e de tudo o que se
relaciona a meu próximo com estima e caridade. De mim mesma, nunca
(Aut. - Ret.).
O
silêncio sobre si mesmo é renúncia a procurar aplauso das pessoas.
Margarida Maria aconselhava a suas noviças:
Guardai
o silêncio nas acusações e em tudo o que poderia atrair para vós
a vã estima e a aprovação das criaturas. Porque o Senhor rejeita o
que elas mais estimam, e seu espírito só repousa num coração
humilde (Av.
46).
“Para
encorajar a prática da humildade, nada melhor que imagens. A árvore
plantada à margem da água não é somente sinal de fecundidade.
Considerai-vos
como árvore plantada ao longo das águas, que dá seu fruto na
estação. Quanto mais batida pelos ventos, mais reforça suas raízes
na terra. Assim também vós, quanto mais fordes batidas pelos ventos
das tormentas, mais será preciso aprofundar vossas raízes por meio
de profunda humildade no Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus
Cristo (Av.
24).
Outra
imagem, a de escada cujos degraus sucessivos evocam o conhecimento
crescente de nossa pobreza interior, condição indispensável para o
encontro com Deus:
As
humilhações que vos fará encontrar no interior de vós mesmas são
como escadas para vos fazer descer ao abismo de vosso nada, a fim de
encontrar aí vosso prazer. Porque o Soberano de nossas almas só se
satisfaz com almas aniquiladas, e para se estar toda nele é preciso
nada ser em si mesmo
(C. 80).
“Como
o coração humano poderia unir-se ao Coração de Jesus? O Senhor
responde:
Abismai-vos
em minha grandeza e cuidai de nunca sair daí, porque, se sairdes,
não mais aí entrareis
(S. 9).
É
preciso abandonar-se com total confiança. Jesus disse: «Aquele
que perde sua vida por causa de mim, há de salvá-la»
– perder tudo para ganhar tudo!
![]() |
Santa Margarida Maria Alacoque |
Este
Sagrado Coração é um abismo de todos os bens no qual temos de nos
perder para não mais saborear as coisas da terra (C.
70).
Seria
preciso retranscrever as três páginas das 'Admoestações
e instruções 71'
sobre os abismos do Coração de Jesus para todas as espécies de
disposições. Contentemo-nos com este breve resumo feito por
Margarida Maria para o Pe. Croiset:
Este
divino Coração é um abismo de bem no qual os pobres devem
mergulhar suas necessidades; um abismo de alegria onde é preciso
mergulhar todas as nossas tristezas; um abismo de humilhação para
nosso orgulho de misericórdia pelos miseráveis, e um abismo de amor
onde mergulhar todas as nossas misérias
(C. 132).
Em
todo bem reconhecer a obra de Deus, esquecer-se de si mesmo, tal é o
sentido da advertência que Jesus deu a Margarida Maria por ocasião
do retiro para profissão:
Cuidai
para nunca abrir os olhos para olhar fora de mim
(Ret. 72).
A
oração que segue é atribuída por alguns autores a Margarida
Maria. Com algumas variantes encontra-se também nas obras de São
Cláudio la Columbière. Pouco importa a autoria. O essencial é
desejar e pedir a humildade!
Ensinai-me, meu amável Salvador, o perfeito esquecimento de mim mesmo, a única via capaz de dar acesso a vosso Coração sagrado. E já que doravante nada farei a não ser por vós, fazei que tudo o que eu fizer seja digno de vós. Ensinai-me o que devo fazer para atingir a pureza do vosso amor. Dai-me esse amor, muito ardente e muito generoso. Dai-me a profunda humildade sem a qual ninguém vos pode agradar. Realizai em mim perfeitamente todas as vossas santas vontades, no tempo e durante toda eternidade. Amém! (O. 31).”
➱
LEGENDAS
DAS FONTES (citadas):
S.:
Escritos compostos a pedido da madre de Saumaise;
Aut.:
Autobiografia (vida escrita pela santa)
C.:
Cartas
Av.:
Avisos (para as noviças)
O.:
Orações
Ret.:
Sentimentos de seus retiros
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FONTE:
livro “Na Escola do Coração de Jesus com Margarida Maria
[itinerário espiritual]”, Pe. Gérard Dufour, Editora Loyola, São
Paulo/2000, excertos do Cap. 2 - “Um Doce Mestre que Ensina a
Humildade”, pp. 25 a 29 - O título da postagem é nosso, assim
como alguns destaques.
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