PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE SETEMBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CORAÇÃO
DE JESUS, AMIGO DAS ALMAS CASTAS
(Por
Santo Afonso de Ligório)
O
Coração de Jesus consagra afeto especial às
virgens e almas puras; elas lhe são tão caras como os anjos. Tais
são os atrativos da virtude da castidade; também, diz Santo
Ambrósio, aquele que a guarda, é um anjo, aquele
que a perde, é um demônio. Uma alma casta é a esposa predileta
do Coração de Jesus: Eu prometi a Jesus Cristo, diz S.
Paulo, apresentar-lhe vossas almas como esposas castas. (2 Cor
11, 2) Está escrito que o Esposo divino se nutre entre os
lírios. (Ct 2, 16) Estes lírios são as almas que se conservam
puras para agradar a Deus. Um interprete nota sobre esta passagem dos
Cânticos, que, como o demônio se sustenta das manchas
da impureza, assim o Coração de Jesus se nutre dos lírios da
castidade.
Esta
virtude, alcançada em grau supremo, é que formou a união mais
íntima entre Jesus e Maria, a virgem das virgens. Esta união de
amor foi tal que, como Maria mesma revelou a Santa Brígida, seu
Coração não formava senão um com o Coração de Jesus. Esta
virgem incomparável apareceu tão bela aos olhos do Senhor, que ele
ficou arrebatado por sua beleza, e por isso lhe chama sua única
columba, sua única perfeita. (Ct 6, 3) Quanto mais um
coração é puro, diz Alberto o Grande,
tanto mais se enche de amor divino. Daí vem que o amor
sagrado feriu e traspassou de tal modo o Coração de Maria, que não
ficou parte alguma dele que não fosse abrasada. S. Bernardino atesta
que ela nunca foi tentada pelo inferno; porque, diz ele, como as
moscas se afastam de um grande fogo, assim os demônios eram
repelidos para longe do Coração de Maria, que era uma chama de
caridade tão intensa, que eles não ousavam aproximar-se dela.
Seu sono mesmo não a impedia de amar a Deus atualmente. Ela podia
então dizer com seu divino Filho: Eu durmo e meu Coração vela,
(Ct 5, 2) meu Coração ama, meu Coração não cessa de se unir ao
Coração de meu Amado. ó efeitos admiráveis da pureza!
O Santo Trânsito de São José, amparado por Jesus e Maria Santíssima |
A
grande pureza de S. José é que lhe mereceu a gloria incomparável
de ser escolhido para pai nutrício de Jesus; sua pureza mereceu-lhe
a felicidade de viver na intimidade do Filho de Deus, de ser
ternamente amado por ele, de poder tantas vezes estreitar sobre seu
coração o Coração ardente de Jesus Cristo. Ah! Que afetos deviam
penetrar o coração de S. José, quando levava em seus braços este
amável Menino, e lhe fazia ou recebia ternas carícias, e ouvia sair
de sua boca as palavras de vida eterna, que, como outros tantos
dardos inflamados, abrasavam sua bela alma! Entre as pessoas que se
amam muitas vezes o amor esfria à medida que a frequência é maior,
porque quanto mais os homens conversam, tanto mais descobrem um os
defeitos do outro. Isto não sucedia com S. José: quanto mais ele
conversava com Jesus, mais admirava sua santidade, e quanto mais o
admirava, mais o amava. Ele teve o favor inefável, depois de ter
apertado a Jesus tantas vezes contra seu coração, de exalar o
ultimo suspiro nos braços e sobre o Coração de Jesus: Tais foram
as relações deste esposo virgem com seu Deus.
S.
João era o discípulo amado de Jesus, porque primava pela pureza. Na
última ceia, ele teve a ventura de reclinar a cabeça sobre o
peito e o Coração do seu divino Mestre. (Jo 13,
25) Ó discípulo de predileção, vós sentistes então toda a
ternura do Coração ardente de Jesus para com aqueles que o amam!…
Se queremos também tornar-nos caros ao Coração de Jesus e merecer
suas ternas consolações, procuremos primar na castidade, sabendo
que todas as riquezas da terra não são nada em comparação
de uma alma casta. (Eclo 26, 20) Por ser maior o valor desta
virtude, mais terrível é a guerra que a carne faz ao homem para lhe
arrebatar este tesouro. Para conservai-o, pois, é necessário
empregar toda a vigilância possível.
Primeiro,
é necessário fugir da ocasião. Fugi do pecado, diz o
Espírito Santo, como se foge de uma serpente. (Eclo 21, 2)
Não se contenta de fugir da mordedura das serpentes; foge-se de seu
contato, foge-se até de sua vizinhança. Se pessoas há que podem
ser para nós ocasião de queda, devemos fugir até de sua presença
e conversação. O casto José não quis nem escutar o que a mulher
de Putifar tinha começado a lhe dizer: fugiu logo, persuadido que
era perigoso parar para a ouvir.
S. João, o "discípulo amado", reclinando a cabeça sobre o peito de Jesus, na Santa Ceia. |
Importa
ainda, se queremos ser castos, fugir à ociosidade. O Espírito Santo
nos adverte que a ociosidade ensina a cometer muitos pecados.
(Eclo 33, 29) Mas diz Santo Isidoro, o trabalho amortece o fogo da
concupiscência.
Pratiquemos
alem disto a humildade e a mortificação. A carne que não é
mortificada, dificilmente se submete ao espírito. A castidade
conserva-se no meio das mortificações, como o lírio no meio dos
espinhos. Quanto aos orgulhosos, Deus os pune permitindo que caiam em
alguma falta vergonhosa: Priusquam humiliarer, ego deliqui.
(Sl 118) S. Bernardo diz: Pela humildade é que se
obtém a castidade.
O
mais necessário, porém, é a oração. Cumpre orar e orar
continuamente; porque para praticar uma virtude qualquer, tem-se
necessidade da graça de Deus, e com muito mais razão é necessária,
para conservar a castidade, uma graça poderosa, vista a violenta
inclinação do homem para o mal. Assim, desde os primeiros assaltos
do vício impuro, é bom renovar o firme propósito de antes morrer
do que pecar, e imediatamente depois , é necessário refugiar-se nos
Corações de Jesus e Maria, invocando seus santos nomes. Assim é
que os santos venceram todas as tentações de que foram acometidos.
PRÁTICA
Para
obter grande pureza, invocarei cada dia a S. José, pela seguinte
oração, que é chamada oração eficaz: S. José,
pai e protetor das virgens, guarda fiel a quem Deus
confiou Jesus, a inocência mesma, e Maria, a Virgem
das virgens, eu vos rogo e conjuro, por Jesus e Maria,
este duplo depósito que vos foi tão caro, fazei que eu conserve meu
coração isento de toda mancha, e que, puro e casto,
sirva constantemente a Jesus e Maria em castidade
perfeita. Assim seja. (100 dias de ind. uma vez por dia. 4 de
Fev. de 1877)
AFETOS
E SÚPLICAS
Terno
Redentor meu, eu vos agradeço me terdes dado tantos meios para
vencer as tentações que me assaltam cada dia. Prometo praticar
estes meios constantemente; ajudai-me a vos ser fiel. Vejo que
quereis minha felicidade eterna: eu também a quero, principalmente
para agradar ao vosso Coração que deseja tanto a minha salvação.
Meu Deus, não quero mais resistir ao amor que me tendes. Por um
efeito deste amor é que me suportastes com tanta paciência quando
vos ofendia. Vós me convidais a vos amar: Oh! Isto é o que desejo.
Sim, eu vos amo, ó bondade suprema, eu vos amo, bem infinito; pelos
merecimentos do vosso Coração não permitais que eu seja ingrato a
vossos benefícios; ponde fim à minha ingratidão, ou à minha vida.
Senhor, o que haveis operado em mim, dignai-vos confirmar e
completar. (Sl 67, 29) Esclarecei-me, fortificai-me, abrasai-me
no vosso amor. Ó Maria, tesoureira do Coração de Jesus,
proclamai-me vosso servo; é o titulo que ambiciono, e rogai a Jesus
por mim. Após seus merecimentos, são vossas orações que devem me
salvar.
"Eu sou a Imaculada Conceição" Virgem de Lourdes |
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Bendita
seja a santa e imaculada conceição da Bem-aventurada Virgem Maria!
(100 dias de indulg. cada vez. 21 de Nov. de 1793)
EXEMPLO
lmelda
Lambertini nasceu em Bolonha de uma família nobre. Desde o berço,
tudo nela anunciava alguma coisa de sobrenatural. Para parar suas
lágrimas, bastava pronunciar os nomes sagrados de Jesus e Maria.
Apenas terminada sua infância, ela fez para si um pequeno oratório
onde ia frequentemente para rezar e oferecer a Deus seu coração
virginal. Desprezando o mundo, ela pedia a seus pais a permissão de
entrar para um convento da ordem de S. Domingos. Impossível
descrever suas mortificações, seu amor à oração, sua
generosidade em cumprir todos os seus deveres. Todos os seus afetos
eram para a Rainha dos anjos e para a Eucaristia. Todos os dias ouvia
a Missa. Sua tenra idade não lhe permitia participar do banquete
sagrado, e isto lhe causava grande dor, porque seu coração vivia
abrasado no amor de Jesus. Ela não cessava então de convidar o
Esposo divino a vir morar em sua alma. O Coração de Jesus, que ama
sempre aqueles que o amam, dignou-se ouvi-la pelo prodígio que vamos
referir. Era o dia da Ascensão do ano de 1333. Imelda tinha então
doze anos. Enquanto suas companheiras, felizes e recolhidas, iam,
cada uma a seu turno, tomar lugar na mesa santa, só ela ficou
ajoelhada no seu lugar, chorando de inveja a pensar na felicidade das
outras. Seus olhos erguidos para o céu, suas pequenas mãos cruzadas
sobre o peito, e segurando entre os dedos o crucifixo que nunca
deixava, ela dizia com a esposa sagrada: “Vinde, ó Amado da minha
alma! Descei ao jardim do meu coração que é todo vosso. Ou cessai
de inclinar para mim vosso olhar, ou deixai minha alma voar para vós.
Arrastai-me para vós: corra eu ao odor de vossos perfumes! Oh!
Pudesse eu também vos dar asilo e fazer-vos festa em meu coração!
Ó Jesus, vinde, porque enfraqueço de amor para convosco!” Mas
Jesus não vinha. Sabendo que tudo é possível à oração, ela
orava e chorava ao mesmo tempo. De repente, uma hóstia sobe do
cibório, atravessa a grade do coro, e voando pelo ar, para acima de
Imelda. As religiosas, comovidas por este espetáculo, não ousavam
crer em seus próprios olhos; mas a ilusão não é mais possível: o
milagre persevera; uma claridade se espalha na igreja, acompanhada de
suave odor. O confessor, advertido deste prodígio, corre, e vendo
neste fato manifestação inequívoca de Deus, recolhe
respeitosamente sobre uma patena a Santa Hóstia, e a dá em comunhão
à ditosa menina.
Enfim,
ela possui seu Deus, o único objeto de seu amor!... Com as mãos
cruzadas sobre o peito, os olhos suavemente cerrados, a piedosa
menina abisma-se em profunda e deliciosa contemplação. Muito tempo
suas irmãs admiram-na em silêncio, não ousando interrompê-la.
Afinal, chamam-na, sacodem-na, mandam que se levante. Imelda, sempre
tão pronta em obedecer fica imóvel, ela não ouve, não sente.
Imelda, a amante da Eucaristia, não era mais deste mundo... Ela
tornou-se logo objeto de veneração publica. Tendo sido operados
muitos prodígios em seu túmulo, a Igreja permitiu honrá-la sob o
titulo de bem-aventurada. (Petits BoUandistes, 16 de Setembro)
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 344-350 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
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