PRIMEIRA
SEXTA-FEIRA DO MÊS DE AGOSTO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
“EU VOS AMEI... VÓS AMAREIS”(Pe. Mateo Crawley-Boevey)
Está
tudo aí, é todo o Evangelho, é toda a Lei... (Jo.
15, 20)
Eu
vos amei, até ao presépio, até à cruz, até à eucaristia.
Eu
vos amei sem nenhum mérito de vossa parte, malgrado todos os vossos
deméritos... malgrado vossas misérias. . . não, por causa das
vossas misérias.
Eu
vos amei com um amor de preferência. Abandonei meu Pai, meu céu,
meus anjos, para vir para o vosso meio.
Os
tesouros da terra, eu os desprezei... nasci na indigência do
estábulo.
Eu
vos amei mais que a minha vida, pois que eu a dei por vós, e quando
se dá a própria vida, deu-se tudo. Meu Pai devia fazer justiça...
Eu quis ser a vítima; eu me lancei entre a sua cólera e vós.
Fui,
pois, ferido por vossa causa, ferido de morte por amor.
Eu
vos amei mais que a minha majestade: vede a que ultrajes eu a
entreguei por vós.., as bofetadas, os espinhos, os escarros, a veste
dos loucos, os chicotes, a cruz... Procurei os opróbrios a fim de
vos cobrir um dia com a minha glória, eu, um Deus.
Eu
ainda vos amo mais que a minha glória, pois esta glória eu a cobri
com um sudário no Calvário e com uma morte mística no sacramento
do meu amor, e a que desprezos eu não a expus?
Eu
vos amei... Eu vos amo!... E vós, me amais?...
Tereis
sido os primeiros? – Não, eu vos precedi.
Desde
toda a eternidade já estáveis em meu amor (Rm. 12, 10).
Até
que ponto me amais?
Acaso
o vosso amor por mim também é um amor de preferência? De
preferência aos vossos bens, às vossas comodidades, aos vossos
projetos, aos vossos prazeres, aos vossos amigos, a vós mesmos?
Ah!
ele bate às vossas portas, ele espera, ele mendiga e muitas vezes, a
título de resposta, dizem-lhe: "Senhor, um momento... tenho
tanta coisa a fazer... meu futuro, meus interesses, minha fortuna.
Espera..."
E
Jesus espera muito tempo.
A
fortuna veio ou não veio. Ele bate de novo:
"Queres-me?
Eu sou tua paz, abre para mim!...
Espera
ainda um pouco, estou tão preocupado: minhas comodidades a
providenciar, minha saúde; vou atingir a situação sonhada, a
felicidade!... espera ainda um pouco".
E
Jesus espera à porta, como um pobre, como um mendigo. Ele, o divino
Mendigo do amor! Ele nos estende a mão... e essa mão divina, essa
mão transpassada por nós, às vezes, muitas vezes, ele deve
resignar-se a recolher vazia.
Ele
esperou muito tempo: as preocupações passaram ou não; outras lhes
sucederam, as desilusões se multiplicaram. As flores e os espinhos
precederam-no.
Quem
sabe será ele recebido agora?
Ele
bate, e chora ao bater! (Lc. 14, 18)
"Queres-me
hoje? A mim, o consolador, o amigo dos maus dias, queres-me?
– Hoje?...
hoje... é o único dia de repouso que as criaturas me deixaram.
Espera, Senhor, espera... talvez amanhã".
E
ele espera, ele, Deus, que não precisa de nada, espera que uma
criatura, pequena, fraca, que precisa de tudo, principalmente dele em
tudo, uma criatura que ele cumulou de bens, da qual só recebeu
ultrajes, ingratidões e desprezo, tenha a bondade de recebê-lo...
Tem-se
tempo para tudo e para todos, salvo para o Rei dos reis. Como furiosa
torrente de alegrias e lágrimas, as ilusões, as ingratidões, as
tristezas invadiram o lar... Jesus é abandonado à soleira da porta,
congelado pela geada da noite, ele têm lágrimas aos olhos, o
Coração ferido, ele espera sempre doce e
paciente: – "Abri para mim, repete; sou eu, Jesus, o único
amigo dos dias sem sol, aquele que nunca esquece que nunca muda. O
único que sempre fica; recebe-me, eu sou a infinita misericórdia!"
Ah!... eis que enfim se abre a porta, mas... que decepção!... –
não é para ele, é a morte que entra, e depois é o coveiro que
passa, e então ele se introduz, ele, o Rei de glória!... Ah! muitas
vezes ele chega para chorar sobre um cadáver!
Eis
a triste história de milhares e milhares de almas e famílias,
história de um amor e de uma ingratidão quase infinita. Como tinha
razão aquele que disse a Jesus que ele é um Coração infinito!
Ele
poderia forçar essa porta que não se abre para ele, agir com
autoridade: ele o Mestre. Mas não, não é uma homenagem forçada
que ele quer, é o dom livre e espontâneo do coração, é o
amor! E ele não recebe o amor, ele, que o dá com tanta
generosidade!
Ah!
Jesus não é amado!... Ele não é amado!... Não é amado... não,
mesmo por aqueles que se dizem seus amigos. O que mais podia ele no
entanto fazer para conquistar-nos?
Será
que foi só para obter o temor, que ele se fez homem, que morreu na
cruz, que se escondeu sob os véus da hóstia? – Ah! para se fazer
temer ele tinha outros meios em seu poder supremo e em sua justiça.
Como,
então, o coração humano não tem senão esta resposta: o temor,
para corresponder aos excessos do amor divino? Será um escravo, um
mercenário... acaso ele não é filho? E se é filho, onde está
então seu amor, a sua piedade filial?
Ouço
alguém dizer-me: "O Espírito Santo nos ensina que o temor
de Deus é o começo da sabedoria"*
O começo, sim, mas não a perfeição.
Na
base do edifício da nossa conversão, sim, coloquemos o temor, e que
ele aí sempre permaneça, mas no vértice coloquemos o complemento
da lei, o amor, que é a substância da santidade!
Quem
chegará a esse vértice, senão vós, discípulos apóstolos do
Sagrado Coração?
ORAÇÃO PARA PEDIR MAIOR AMOR AO CORAÇÃO DE JESUS
Coração
de Jesus, quão grande foi o vosso amor que vos fez companheiro
nosso em todas as horas de nossa vida! Assim, temos sempre ao nosso
lado mestre que nos ensina o que nos cumpre fazer para agradar a
Deus; conforto em todas as nossas tribulações, pois o vosso exemplo
nos infunde coragem para sofrer; amigo fiel que, solícito do nosso
bem, partilha conosco nossas aflições. Que bom Coração é o
vosso, Jesus! Coração de Jesus, chegai ao nosso tíbio coração
uma dessas chamas que circundam o vosso, para que o seu contato ateie
em nós um abrasador incêndio de fervoroso amor, com o qual possamos
corresponder, de algum modo, à vossa infinita caridade.
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FONTES:
1. texto: livro
Jesus
Rei de Amor,
Pe. Mateo Crawley-Boevey, Editora Vozes, 2ª edição/1939, Cap.
III-Vida de Amor, pp. 146-150 – Texto atualizado e alguns destaques
são do original; 2. oração: opúsculo Orações
ao Coração de Jesus,
Pe. Arthur Schwab, SVD, Edições Loyola, 2ª edição/1987, pp.
45-46.
*Apocalipse
3, 20: “Eis-me aqui à porta: e eu bato. Se alguém ouve a
minha voz e abre-me a entrada, eu entrarei em casa, e comerei com
ele e ele comigo”.
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