PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE DEZEMBRO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CORAÇÃO DE JESUS, MODELO DE FIDELIDADE
Oh!
Quanto o belo Coração de Jesus é fiel para com aqueles que ele
chama a seu santo amor! Ele não pode deixar de cumprir
tudo o que prometeu. (1 Ts 5, 24) Ora, ele prometeu
ser fiel; ele diz a cada alma que se lhe quer dar: Pois que me dais
vosso coração, consinto também em vos dar o meu, contraio
aliança convosco; (Os 2, 19) desposo-vos para sempre.(Ez 16, 8)
Muitas
vezes acontece que a alma cai na infidelidade e abandona a Jesus
Cristo, mas ele mesmo abandonar a alma primeiro, faltar-lhe na
fidelidade, é o que nunca aconteceu nem jamais acontecerá. O que
acontece sempre, é o seguinte: Jesus tem um Coração tão fiel que,
quando é abandonado, traído, desprezado por uma criatura infiel,
vai à sua procura, exortando-a, convidando-a, instando com ela para
que torne à sua amizade. No mundo, quando um esposo se vê
abandonado por sua esposa, longe de querer se reconciliar com ela,
para sempre a repudia, mas o Esposo divino não procede assim;
estimulado por amor extremo, ele faz todos os esforços para
reconquistar a alma que o deixou: pede, exorta, convida, promete,
ora, súplica, a fim de que ela se digne ao menos responder a um
Coração que nunca lhe faltou com a fidelidade.
Esta
verdade é confirmada pelo exemplo da Sinagoga, que, de esposa
querida do Senhor, como ele se dignou lhe chamar, tornara-se
adúltera, abandonando seu Deus para se entregar à idolatria, e
prostituindo-se assim, não a um só, mas a todos os demônios de uma
vez. Escutas o tocante discurso que lhe dirige o Senhor: «Tua
infidelidade para comigo é enorme: tu me traíste e abandonaste para
te entregar a uma multidão de horríveis amantes; tu me ultrajaste
por tantos abomináveis adúlteros, quantos são os demônios ante os
quais te prostraste. (Jr 3) Não há lugar que não
tenha sido testemunha de tua infidelidade. (Jr 2, 10) Se
um homem chega a deixar sua mulher, e esta se dá
a outro, acontecerá jamais que ele a torne
receber, ainda quando ele mesmo fosse o primeiro a
abandoná-la? Entretanto, vê a bondade de meu Coração! Bem que
seja eu abandonado, traído, vergonhosamente rejeitado de ti,
convido-te, exorto-te, e te conjuro a voltares para mim; estou
pronto a receber-te.» E de que maneira, ó meu Deus,
recebereis esta esposa infiel? «Ela me será tão cara como
antes: eu a receberei com o amor de outrora; quero até que
ela me chame seu Pai; e me trate
como esposo, guarda de sua virgindade, como se
ela me houvesse sido tão fiel sempre, como eu
a ela. (Jr 3, 4) Venha sem temor; recebê-la-ei como minha
filha ainda inocente, e como se nunca tivesse manchado sua
virgindade.»
"Ó Jesus, vinde e morai no meu coração" |
Tal
é a linguagem cheia de ternura que o Senhor usava com a pérfida
Sinagoga, tal é também a que ele usa para com toda alma que lhe foi
infiel. Que bondade! Que caridade!.... Ainda que rejeitado e traído,
ele corre atrás das almas que o abandonaram, e pede-lhes para
voltarem a ele! Ó amável Jesus se vê muitas vezes traído: almas
há que receberam dele singulares favores, e o deixam por uma
miserável paixão. Sim, almas há que deveriam experimentar a mais
pungente dor por não ver o Coração de Jesus amado de todos os
homens, e conservam seu coração apegado às criaturas.
Quais
são as causas ordinárias desta infidelidade? Três: a falta de
oração, o amor do mundo e as paixões do coração.
A
falta de oração faz que Deus nos retire seu socorro; e sem o
socorro de Deus não podemos observar seus mandamentos. Donde vem,
dizia o sábio bispo Abelly, a relaxação que se nota
nos costumes, senão da falta de oração? Deus está sempre
disposto a nos enriquecer com suas graças; mas, como observa S.
Gregório, quer que lhas roguemos e de algum modo o
forcemos por nossas importunações a nos escutar.
O
amor do mundo dificilmente se concilia com a fidelidade a Deus. S.
João nos diz: Todo o mundo é sob o
poder do espirito maligno;(1 Jo 5, 19) o que Santo
Ambrósio explica assim: Todos os que vivem no mundo, estão sob o
poder tirânico do pecado. O ar do mundo é nocivo à alma:
aquele que o respira, contrai facilmente alguma enfermidade
espiritual. O respeito humano, os maus exemplos, as más companhias,
são causas poderosas que levam a separar de Deus; todos sabem que as
ocasiões perigosas, tão frequentes no mundo, perdem grande número
de almas.
Enfim,
as paixões são nossos mais terríveis inimigos. Há pessoas que
praticam muitas devoções, comunhões, orações, jejuns e
penitências corporais; mas desprezam vencer suas paixões, por
exemplo, certos ressentimentos, certas aversões, certas
curiosidades, certas afeições perigosas; não sabem suportar as
contrariedades, desapegar-se de certas pessoas, submeter sua vontade
à obediência. Estas pessoas não somente não atingirão a
perfeição, mas, continuando a seguir suas paixões, vão de mal a
pior e tornar-se-ão infiéis a Deus. A menor faísca que não
se extingue, pode fazer arder toda uma floresta; e uma paixão
não reprimida pode de conduzir a alma à sua perdição.
PRÁTICA
Quando
eu perceber que me torno negligente na oração, meu coração se
deixa ir ao amor do mundo, as paixões tomam ascendência no meu
procedimento, renovarei minha resolução de ser todo para Jesus,
dizendo com Santa lnês: Eu sou de Jesus; só quero a Jesus; consagro
ao seu Coração amabilíssimo amor eterno.
(Foto: blog Sacra Galeria) |
AFETOS
E SÚPLICAS
Ó
meu Jesus, se todos os homens parassem para vos considerar na cruz
com viva fé, crendo que sois seu Deus e morrestes para salvá-los,
como poderiam viver separados de vós e privados de vosso amor? E eu,
sabendo bem tudo isto, como tenho podido vos dar tantos desgostos? Se
os outros vos ofenderam, ao menos pecaram nas trevas ao passo que eu
vos ofendi em plena luz. Mas estas mãos traspassadas, este lado
aberto, este sangue, estas chagas, que eu considero em vós, fazem-me
esperar o perdão e vossa graça. Ó meu amor, aflito estou por vos
ter desprezado; agora vos amo de todo o meu coração, e nada me
contrista mais que a lembrança de vos ter ofendido: possa a dor que
sinto, ser sinal que me haveis perdoado! Ó Coração ardente de
Jesus, abrasai meu pobre coração! Ó meu Jesus, morto pelas dores
que vos causei, fazei que eu morra pela dor de vos ter ofendido e
pelo amor que me mereceis. Eu me sacrifico todo por vós, que vos
sacrificastes todo por mim.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Ó
minha Mãe, Maria, tornai-me fiel ao amor de Jesus.
EXEMPLO
São Francisco de Sales |
A
residência espiritual de S. Francisco de Sales era no Coração de
Jesus. Aí é que ele hauria, como na sua verdadeira fonte, os suaves
ardores de seu zelo. Tudo o que saiu de sua pena, respira o amor do
Coração de Jesus. «Quanto o Senhor é bom, minha cara
filha, escrevia ele a Santa Joana de Chantal; quão amável é seu
Coração! Moremos aí, nesse santo domicílio. Viva sempre em nossos
corações este Coração. – Outro dia, na oração, considerando o
lado aberto de Nosso Senhor, vendo seu Coração, parecia-me que
nossos corações estavam em torno dele e lhe faziam homenagem como
ao soberano Rei dos corações.» No seu Tratado do Amor de
Deus, ele diz : «Sim, certamente, ó Timóteo, o amor divino
assentado sobre o Coração do Salvador, como sobre seu trono real,
tem o olhar fixo sobre todos os corações dos filhos dos homens,
porque é o soberano deles... Também, o amor divino deste Coração
ou antes este Coração do divino amor só tem olhar de predileção
para os nossos. Ó Deus, se o víssemos como ele é, morreríamos de
amor para com ele.» Lê-se nas suas cartas: «Não é
felicidade para nós o podermos encerrar nossos corações no Coração
do Salvador? – Quando então o amor, triunfando de nossas
inclinações, ver-se-á unido ao Coração supremo de nosso
Salvador? – Ó minha filha, se considerais este Coração, é
impossível que ele não vos agrade; porque é um Coração tão
manso, tão suave, tão condescendente! Quem não amaria este Coração
real, tão paternalmente maternal para conosco? – Ó minha filha,
ponde vosso caro coração no lado aberto do Salvador, e uni-o a este
Rei dos corações.» – S. Francisco escrevia também a
Santa Chantal: «Ah! Se fosse necessário abrir nosso peito
para acolher nele seu Coração, não o faríamos? – Minha cara
filha, não somos filhos adoradores e servos do Coração amoroso e
paternal de nosso Salvador? Não é sobre este fundamento que temos
edificado nossas esperanças? Ele é nosso mestre, nosso rei, nosso
pai, nosso tudo.» Certa manhã, ansioso por dar curso a uma
repentina inspiração, o bispo de Genebra toma a pena, e, às
pressas, escreve à sua Santa cooperadora um pensamento que «Deus,
diz ele, meu deu esta noite, a saber: que nossa casa da Visitação
é, por sua graça, bastante nobre e considerável para ter suas
armas, seu brasão, sua divisa e seu grito de armas. Eu pensei então,
minha cara madre, se nisto concordais comigo, que nos é
necessário tomar por armas seu único Coração traspassado
por duas flechas, cercado de uma coroa de espinhos, servindo este
pobre coração de pedestal a uma cruz, que o coroará e será
gravada com os sagrados nomes de Jesus e Maria. Minha filha, eu
vos direi, à primeira entrevista que tivermos, mil pequenos
pensamentos que me ocorrem neste assunto: em verdade, nossa pequena
Congregação é obra do Coração de Jesus e de Maria. Ao morrer, o
divino Salvador nos deu nascimento pela chaga do seu Sagrado Coração:
é, pois, muito justo que nosso coração fique, por uma incessante
mortificação, sempre cercado da coroa de espinhos que traspassou a
cabeça de nosso Chefe, em quanto o amor o teve pregado no trono de
suas mortais dores.»
O
santo escrevia estas palavras proféticas em 1611; a bem-aventurada
Margarida Maria [hoje, santa] nasceu em 1647 e teve sua visão do
Sagrado Coração em 1675. Vê-se que as irmãs da Visitação eram
destinadas por Deus a honrar especialmente o Coração de Jesus, e
isto é tão evidente que, em 1657, Henrique de Maupas, bispo de Puy,
já lhes dava o titulo de Filhas do Coração de
Jesus.
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 363-369 – Texto revisto, e
atualizado)
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