HORA
SANTA DO MÊS DE DEZEMBRO
(Por
Santo Afonso de Ligório)
"Maria vê um soldado meter violentamente a lança no sagrado lado de Jesus." (Foto: Capela São José) |
CORAÇÃO DE JESUS AFLIGIDO PELA PREVISÃO DAS DORES DE SUA MÃE
Jesus
Cristo não foi o único em sofrer por nosso amor, ele teve uma
companheira inseparável em Maria, sua Mãe dulcíssima e nossa.
Maria, amando-nos imensamente, desejava imensamente nossa salvação;
mas nem este amor nem este desejo em nada diminuía a amargura do
sacrifício voluntario que ela nos fazia do mais amável dos filhos.
Notemos, de outro modo, que a previsão das dores desta Santa Mãe
não foi uma das menores causas das angústias do Coração de Jesus.
No Getsêmani, o Senhor teve diante dos olhos tudo o que ela ia
padecer em Jerusalém, no caminho do Calvário e ao pé da Cruz, e
sentiu pena proporcionada à sua ternura para com ela. Segue-se daí
que ideia muito incompleta teríamos das dores interiores de Jesus,
se não conhecêssemos o martírio do Coração de sua Mãe.
Ora,
este martírio foi inefável, como o amor que era a medida dele.
Maria amava a Jesus com um amor natural como filho seu, e com um amor
sobrenatural como seu Deus, e estas duas chamas, confundidas e unidas
numa só, tinham formado tal braseiro, que este Coração virginal
amava a Jesus tanto quanto é possível a uma simples criatura.
Concluamos disto que jamais houve dor comparável a dor de Maria.
Assim
como o Coração de Jesus começou a padecer desde sua conceição,
assim Maria, semelhante em tudo a seu divino Filho, sofreu o martírio
durante toda a sua vida. Mas sua dor cresceu sobre toda a medida,
quando chegou o momento da Paixão.
Agonia de Jesus no Getsêmani |
Quão
doloroso foi o encontro deste Filho e de sua Mãe no caminho do
Calvário! Jesus olhou para Maria, e Maria para Jesus, e nesta hora
seus Corações, cheios de amor, foram traspassados de dor
agudíssima. Quem poderá pintar a aflição do Coração compassivo
de Maria, quando ouviu Jesus queixar-se na cruz de que seu Pai
eterno o havia abandonado? (Mt 27, 46) Para cúmulo de amargura,
ela sabia que sua presença e compaixão, longe de consolar este
Filho querido, eram para ele motivo de maior tormento. Porque a
amargura que transbordava do Coração de Maria, remontava à
sua fonte, isto é, ao Coração de Jesus: é
pensamento de S. Bernardo.
O
último suspiro de Jesus não foi o fim das dores de sua Mãe,
porque, enquanto ela chorava a morte de seu Filho, vê aproximar-se
dele soldados armados. A esta vista, Maria se espanta e exclama: Ah!
Meu Filho já está morto; não o
insulteis mais, poupai-me este novo tormento, a mim, sua pobre Mãe!
Assim é que ela os suplicava, diz S. Boaventura. Mas, ó céus!
Maria vê um soldado meter violentamente a lança no sagrado lado
de Jesus. Esta lançada fez tremer a cruz e dividiu o Coração
de nosso Senhor em duas partes, como foi revelado a Santa
Brígida. Dele saiu sangue e água; (Jo 19, 34) este pouco de
sangue era tudo o que restava no corpo do Salvador; Jesus quis
derramá-lo a fim de nos ensinar por este meio que a última gota do
seu sangue era então dada por nosso amor. A lançada abriu em Jesus
uma chaga, mas Maria é que sentiu a dor dela.
Nossa Senhora das Dores ou da Piedade |
Os
Santos Padres pensam que foi esta propriamente a espada predita pelo
santo velho Simeão à divina Mãe, espada não de ferro, mas de dor,
que traspassou sua alma bendita no Coração
de Jesus, do qual ela não podia ser arrancada, assim se exprime,
entre outros, S. Bernardo. Este sentimento concorda com o que a
bem-aventurada Virgem revelou a Santa Brígida: Quando a lança
foi retirada, pareceu-me vermelha de sangue, e vendo traspassar o
Coração de meu Filho muito amado, pareceu-me que meu Coração
também era traspassado. Foi por milagre que Maria sobreviveu a
tantas penas. Aí antes ela tinha ao menos um Filho para se
compadecer de suas dores, e daí por diante não tem mais!... Temendo
outros insultos contra este Filho muito amado, a Mãe aflita pediu a
José de Arimatéia para requerer de Pilatos o corpo de Jesus, por
compaixão para com ela, este juiz consentiu em dar o corpo do
Salvador. Os dois discípulos desceram-no então da cruz. Bernardino
de Bustis considera como a pobre Mãe, firmando-se na ponta dos pés
e estendendo os braços, recebe seu querido Filho e depois,
acolhendo-o com amoroso abraço, assenta-se ao pé da cruz. Ela vê
sua boca aberta, seus olhos extintos; examina suas carnes
dilaceradas, seus ossos descobertos; tira-lhe a corôa de espinhos, e
considera os estragos feitos na sagrada cabeça de seu Filho; olha as
mãos, os pés, o lado aberto e exclama: Ah! Meu Filho, a que estado
vos reduziu vosso amor para com os homens! Que mal lhes havíeis
feito para que vos maltratassem deste modo? Ó espinhos cruéis, ó
cravos, ó lança impiedosa, como pudestes atormentar assim vosso
Criador?... Mas porque falo eu aos espinhos, aos cravos, à lança!
Ah! Pecadores, pecadores, vós, vossos pecados é que maltrataram
assim meu Filho!
PRÁTICA
Tomarei
a Maria por modelo na minha devoção para com o Coração agonizante
de Jesus. Ela foi a primeira a fazer a Hora Santa, e em que dolorosas
circunstâncias!... Então é que ela se tornou a Mãe da Igreja e de
cada fiel; então é que seu Filho lhe deu o poder sobrenatural para
nos socorrer em tudo, por tudo, e sempre. Cumpre-nos,
portanto, ser-lhe extremamente agradáveis, primeiro, quando
damos-lhe o nome tão doce de mãe, e o título tão glorioso de
Perpétuo Socorro; depois, quando, mostrando-lhe confiança sem
limites, rogamos-lhe, não somente por nossas necessidades, mas ainda
pelas de toda a Igreja.
AFETOS
E SÚPLICAS
Mater Dolorosa |
Virgem
santa, a mais elevada de todas as criaturas desta terra de exílio,
eu vos saúdo, ainda que seja um miserável rebelde a meu Deus, digno
de castigos antes que de graça, de severidade antes que de
misericórdia. Se falo assim, ó minha Rainha, não é por
desconfiança de vossa bondade. Sei que vos gloriais de ser tanto
mais benfeitora quanto maior; sei que, se vos regozijais de vossas
riquezas, é porque podeis reparti-la-ás com vossos miseráveis
filhos. Sei que quanto mais culpados são os que vos imploram, tanto
mais a peito tendes protegê-los e salvá-los. Ó minha Mãe,
oferecei a Deus, eu vos rogo, estas lágrimas amargas que derramastes
por mim na morte de vosso Filho, e por seu merecimento alcançai-me
verdadeira dor de meus pecados. Ainda neste momento as minhas
iniquidades vos afligem anto, quanto vos afligiram então os
pecadores; ó Maria, fazei que de agora em diante aja com cuidado de
não vos afligir de novo por minha ingratidão. De que me serviriam
as lágrimas que por mim derramastes, se eu persistisse no pecado? De
que me serviria vossa misericórdia, se, reiterando minhas
infidelidades, viesse a me condenar? Oh! não, minha Rainha, não o
permitais. Vós que obtendes de Deus tudo o que quereis, e atendeis a
todos que vos imploram, eis aqui as duas graças que vos peço, de
vós espero e ouso até exigir: ser fiel ao Coração de Jesus, não
o ofendendo mais, e amá-lo pelo restante da minha vida tanto como o
ofendi.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Jesus
e Maria, aos vossos Corações, cheios de amor para comigo, recomendo
a minha alma.
EXEMPLO
A
venerável Madre da Encarnação, ursulina, chamada com razão a nova
Teresa, passou os mares em 1640, para ir trabalhar no Canadá na
conversão e instrução dos selvagens. Dotada de notável zelo
apostólico, ela não cessava toda a sua vida de orar pela salvação
das almas. Uma noite em que ela conjurou o Padre eterno a estender o
reino do seu divino Filho, reconheceu, por uma luz interior que a
divina Majestade não a escutava como de ordinário. Muito aflita
ficou a boa Madre, porque pronta estava ela a sofrer todas as penas
imagináveis pela conversão dos pecadores. Ora, enquanto ela se
aniquilava diante de seu Deus, ouviu uma voz que lhe disse: Dirigi-me
tuas orações pelo Coração de Jesus meu amabilíssimo
Filho: por ele é que eu te ouvirei e atenderei tuas
súplicas. Desde este momento, ela não deixou passar instante
algum de sua vida sem honrar o Coração de Jesus, e sem oferecê-lo
ao Padre eterno pela salvação das almas. Seja-nos permitido citar
alguns fragmentos da bela oração de que ela se servia para este
fim:
«Pelo Coração de meu Jesus é que me aproximo de vós, ó Pai eterno! Por este divino Coração, eu vos adoro por todos aqueles que não vos adoram; eu vos amo por todos os que não vos amam; conheço-vos por todos os cegos voluntários, que, por desprezo, não vos conhecem. Quero, por este divino Coração, satisfazer os deveres de todos os mortais. Faço em espirito a volta do mundo para procurar todas as almas resgatadas pelo sangue precioso de Jesus Cristo. Eu vo-las apresento com este divino Coração, pelo qual vos peço a conversão delas. Ah! Fazei que elas vivam por este divino Coração. Em nome de Jesus vos rogo: enchei-as de vosso espírito, e conservai-as eternamente unidas a vós pelos merecimentos do Sagrado Coração.
E a vós, ó meu Jesus, que vos darei pelo excesso de vosso amor para comigo? Por intermédio de vossa divina Mãe é que eu desejo dar-vos minhas ações de graças: apresento-vos, pois, seu santíssimo Coração, como apresento o vosso a vosso Pai; eu vos amo por esse Coração que tanto vos amou; eu vo-lo ofereço para vos agradecer todos os vossos benefícios; para a santificação de minha alma, enfim, para que vos agrade dá-me a graça da perseverança final no vosso amor.»
Receba
o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.
FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 275-281 – Texto revisto e
atualizado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário