«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


HORA SANTA DO MÊS DE DEZEMBRO
(Por Santo Afonso de Ligório)


"Maria vê um soldado meter violentamente a lança no sagrado lado de Jesus."
(Foto: Capela São José)

CORAÇÃO DE JESUS AFLIGIDO PELA PREVISÃO DAS DORES DE SUA MÃE


Jesus Cristo não foi o único em sofrer por nosso amor, ele teve uma companheira inseparável em Maria, sua Mãe dulcíssima e nossa. Maria, amando-nos imensamente, desejava imensamente nossa salvação; mas nem este amor nem este desejo em nada diminuía a amargura do sacrifício voluntario que ela nos fazia do mais amável dos filhos. Notemos, de outro modo, que a previsão das dores desta Santa Mãe não foi uma das menores causas das angústias do Coração de Jesus. No Getsêmani, o Senhor teve diante dos olhos tudo o que ela ia padecer em Jerusalém, no caminho do Calvário e ao pé da Cruz, e sentiu pena proporcionada à sua ternura para com ela. Segue-se daí que ideia muito incompleta teríamos das dores interiores de Jesus, se não conhecêssemos o martírio do Coração de sua Mãe.

Ora, este martírio foi inefável, como o amor que era a medida dele. Maria amava a Jesus com um amor natural como filho seu, e com um amor sobrenatural como seu Deus, e estas duas chamas, confundidas e unidas numa só, tinham formado tal braseiro, que este Coração virginal amava a Jesus tanto quanto é possível a uma simples criatura. Concluamos disto que jamais houve dor comparável a dor de Maria.

Assim como o Coração de Jesus começou a padecer desde sua conceição, assim Maria, semelhante em tudo a seu divino Filho, sofreu o martírio durante toda a sua vida. Mas sua dor cresceu sobre toda a medida, quando chegou o momento da Paixão.
Agonia de Jesus no Getsêmani

Quão doloroso foi o encontro deste Filho e de sua Mãe no caminho do Calvário! Jesus olhou para Maria, e Maria para Jesus, e nesta hora seus Corações, cheios de amor, foram traspassados de dor agudíssima. Quem poderá pintar a aflição do Coração compassivo de Maria, quando ouviu Jesus queixar-se na cruz de que seu Pai eterno o havia abandonado? (Mt 27, 46) Para cúmulo de amargura, ela sabia que sua presença e compaixão, longe de consolar este Filho querido, eram para ele motivo de maior tormento. Porque a amargura que transbordava do Coração de Maria, remontava à sua fonte, isto é, ao Coração de Jesus: é pensamento de S. Bernardo.

O último suspiro de Jesus não foi o fim das dores de sua Mãe, porque, enquanto ela chorava a morte de seu Filho, vê aproximar-se dele soldados armados. A esta vista, Maria se espanta e exclama: Ah! Meu Filho já está morto; não o insulteis mais, poupai-me este novo tormento, a mim, sua pobre Mãe! Assim é que ela os suplicava, diz S. Boaventura. Mas, ó céus! Maria vê um soldado meter violentamente a lança no sagrado lado de Jesus. Esta lançada fez tremer a cruz e dividiu o Coração de nosso Senhor em duas partes, como foi revelado a Santa Brígida. Dele saiu sangue e água; (Jo 19, 34) este pouco de sangue era tudo o que restava no corpo do Salvador; Jesus quis derramá-lo a fim de nos ensinar por este meio que a última gota do seu sangue era então dada por nosso amor. A lançada abriu em Jesus uma chaga, mas Maria é que sentiu a dor dela.
Nossa Senhora das Dores ou da Piedade

Os Santos Padres pensam que foi esta propriamente a espada predita pelo santo velho Simeão à divina Mãe, espada não de ferro, mas de dor, que traspassou sua alma bendita no Coração de Jesus, do qual ela não podia ser arrancada, assim se exprime, entre outros, S. Bernardo. Este sentimento concorda com o que a bem-aventurada Virgem revelou a Santa Brígida: Quando a lança foi retirada, pareceu-me vermelha de sangue, e vendo traspassar o Coração de meu Filho muito amado, pareceu-me que meu Coração também era traspassado. Foi por milagre que Maria sobreviveu a tantas penas. Aí antes ela tinha ao menos um Filho para se compadecer de suas dores, e daí por diante não tem mais!... Temendo outros insultos contra este Filho muito amado, a Mãe aflita pediu a José de Arimatéia para requerer de Pilatos o corpo de Jesus, por compaixão para com ela, este juiz consentiu em dar o corpo do Salvador. Os dois discípulos desceram-no então da cruz. Bernardino de Bustis considera como a pobre Mãe, firmando-se na ponta dos pés e estendendo os braços, recebe seu querido Filho e depois, acolhendo-o com amoroso abraço, assenta-se ao pé da cruz. Ela vê sua boca aberta, seus olhos extintos; examina suas carnes dilaceradas, seus ossos descobertos; tira-lhe a corôa de espinhos, e considera os estragos feitos na sagrada cabeça de seu Filho; olha as mãos, os pés, o lado aberto e exclama: Ah! Meu Filho, a que estado vos reduziu vosso amor para com os homens! Que mal lhes havíeis feito para que vos maltratassem deste modo? Ó espinhos cruéis, ó cravos, ó lança impiedosa, como pudestes atormentar assim vosso Criador?... Mas porque falo eu aos espinhos, aos cravos, à lança! Ah! Pecadores, pecadores, vós, vossos pecados é que maltrataram assim meu Filho!

PRÁTICA

Tomarei a Maria por modelo na minha devoção para com o Coração agonizante de Jesus. Ela foi a primeira a fazer a Hora Santa, e em que dolorosas circunstâncias!... Então é que ela se tornou a Mãe da Igreja e de cada fiel; então é que seu Filho lhe deu o poder sobrenatural para nos socorrer em tudo, por tudo, e sempre. Cumpre-nos, portanto, ser-lhe extremamente agradáveis, primeiro, quando damos-lhe o nome tão doce de mãe, e o título tão glorioso de Perpétuo Socorro; depois, quando, mostrando-lhe confiança sem limites, rogamos-lhe, não somente por nossas necessidades, mas ainda pelas de toda a Igreja.

AFETOS E SÚPLICAS
Mater Dolorosa

Virgem santa, a mais elevada de todas as criaturas desta terra de exílio, eu vos saúdo, ainda que seja um miserável rebelde a meu Deus, digno de castigos antes que de graça, de severidade antes que de misericórdia. Se falo assim, ó minha Rainha, não é por desconfiança de vossa bondade. Sei que vos gloriais de ser tanto mais benfeitora quanto maior; sei que, se vos regozijais de vossas riquezas, é porque podeis reparti-la-ás com vossos miseráveis filhos. Sei que quanto mais culpados são os que vos imploram, tanto mais a peito tendes protegê-los e salvá-los. Ó minha Mãe, oferecei a Deus, eu vos rogo, estas lágrimas amargas que derramastes por mim na morte de vosso Filho, e por seu merecimento alcançai-me verdadeira dor de meus pecados. Ainda neste momento as minhas iniquidades vos afligem anto, quanto vos afligiram então os pecadores; ó Maria, fazei que de agora em diante aja com cuidado de não vos afligir de novo por minha ingratidão. De que me serviriam as lágrimas que por mim derramastes, se eu persistisse no pecado? De que me serviria vossa misericórdia, se, reiterando minhas infidelidades, viesse a me condenar? Oh! não, minha Rainha, não o permitais. Vós que obtendes de Deus tudo o que quereis, e atendeis a todos que vos imploram, eis aqui as duas graças que vos peço, de vós espero e ouso até exigir: ser fiel ao Coração de Jesus, não o ofendendo mais, e amá-lo pelo restante da minha vida tanto como o ofendi.

ORAÇÃO JACULATÓRIA

Jesus e Maria, aos vossos Corações, cheios de amor para comigo, recomendo a minha alma.

EXEMPLO

A venerável Madre da Encarnação, ursulina, chamada com razão a nova Teresa, passou os mares em 1640, para ir trabalhar no Canadá na conversão e instrução dos selvagens. Dotada de notável zelo apostólico, ela não cessava toda a sua vida de orar pela salvação das almas. Uma noite em que ela conjurou o Padre eterno a estender o reino do seu divino Filho, reconheceu, por uma luz interior que a divina Majestade não a escutava como de ordinário. Muito aflita ficou a boa Madre, porque pronta estava ela a sofrer todas as penas imagináveis pela conversão dos pecadores. Ora, enquanto ela se aniquilava diante de seu Deus, ouviu uma voz que lhe disse: Dirigi-me tuas orações pelo Coração de Jesus meu amabilíssimo Filho: por ele é que eu te ouvirei e atenderei tuas súplicas. Desde este momento, ela não deixou passar instante algum de sua vida sem honrar o Coração de Jesus, e sem oferecê-lo ao Padre eterno pela salvação das almas. Seja-nos permitido citar alguns fragmentos da bela oração de que ela se servia para este fim:

«Pelo Coração de meu Jesus é que me aproximo de vós, ó Pai eterno! Por este divino Coração, eu vos adoro por todos aqueles que não vos adoram; eu vos amo por todos os que não vos amam; conheço-vos por todos os cegos voluntários, que, por desprezo, não vos conhecem. Quero, por este divino Coração, satisfazer os deveres de todos os mortais. Faço em espirito a volta do mundo para procurar todas as almas resgatadas pelo sangue precioso de Jesus Cristo. Eu vo-las apresento com este divino Coração, pelo qual vos peço a conversão delas. Ah! Fazei que elas vivam por este divino Coração. Em nome de Jesus vos rogo: enchei-as de vosso espírito, e conservai-as eternamente unidas a vós pelos merecimentos do Sagrado Coração.

E a vós, ó meu Jesus, que vos darei pelo excesso de vosso amor para comigo? Por intermédio de vossa divina Mãe é que eu desejo dar-vos minhas ações de graças: apresento-vos, pois, seu santíssimo Coração, como apresento o vosso a vosso Pai; eu vos amo por esse Coração que tanto vos amou; eu vo-lo ofereço para vos agradecer todos os vossos benefícios; para a santificação de minha alma, enfim, para que vos agrade dá-me a graça da perseverança final no vosso amor.»





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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 275-281 – Texto revisto e atualizado)

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