SÃO JOÃO EUDES, APÓSTOLO DOS SAGRADOS CORAÇÕES DE JESUS E MARIA
São João Eudes, "Apóstolo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria" |
No
último dia 19 de agosto, fez-se memória a São João Eudes, considerado o “Apóstolo
do Coração de Jesus e Maria”,
fundador da “Congregação
de Jesus e Maria”
e da “Congregação
de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor”.
Para S. João Eudes os Corações de Jesus e Maria constituíam um
único coração, daí “Apóstolo
do Coração...”.
Este
Santo é considerado o precursor da devoção própria aos Corações
de Jesus e Maria, tendo sido definido por São Pio X como “Autor,
pai, doutor, apóstolo, promotor e propagandista da devoção
litúrgica aos sagrados Corações de Jesus e Maria”1.
Escreveu magníficas obras tratando da devoção a estes Corações,
dentre as quais, “A
Devoção ao Adorável Coração de Jesus”
e “O
Admirável Coração da Santíssima Mãe de Deus”,
esta última concluída pouco antes de sua morte, no dia 19 de agosto
de 1680.
No
livro que dedicou à devoção ao Sagrado Coração de Jesus (1671),
compôs Missa e Ofício próprios para honrar o Coração de Jesus,
tendo inclusive celebrado, pela primeira vez, uma festa em honra do
Sagrado Coração, na capela do Seminário de Rennes, no dia 31 de
agosto de 1670, e que, logo
em seguida, estendeu-se a toda diocese.
Embora
não tenha sido o primeiro apóstolo dessa devoção, foi ele “quem
introduziu o culto do Sagrado Coração de Jesus e do Santo Coração
da Maria”,
como lembrou Leão XIII em 1903, e no decreto de sua beatificação,
acrescentou: “O
foi o primeiro que, por divina inspiração, lhes tributou um culto
litúrgico”2.
Com
o objetivo de dar maior honra e glória ao Sagrado Coração de
Jesus, e em homenagem a este Arauto da devoção aos Corações de
Jesus e Maria, publicamos abaixo um de seus escritos, extraído de
uma em espanhol, por nós traduzido e adaptado para o português do
Brasil.
Sou Todo Teu, Maria.
“O Coração de Jesus é um só com o Coração do Pai e do Espírito Santo e uma Fogueira de Amor por Nós”
A Santíssima Trindade e o Coração de Jesus |
Todos
sabem que a fé cristã nos ensina que as três
pessoas
da Santíssima Trindade têm uma mesma divindade, poder, sabedoria e
bondade, um mesmo espírito, uma mesma vontade e um mesmo coração.
Daí
porque, Nosso Salvador, enquanto Deus, só tem um Coração com o Pai
e o Espírito Santo; e, enquanto homem, seu Coração, humanamente
divino e divinamente humano, é também um só com o Coração do Pai
e do Espírito, em unidade de espírito, amor e vontade.
Por
isso, adorar o
Coração
de Jesus é adorar o Coração do Pai, do Filho e do Espírito Santo;
é adorar um Coração que é uma fogueira ardente de amor por nós.
Nessa fogueira devemos aprofundar-nos agora para
arder
nela eternamente. Ai dos que são lançados na horrível fogueira do
fogo eterno preparada para
o
diabo e seus anjos! Porém, ditosos os que se lançam no fogo eterno
do amor divino que por nós se abrasa o Coração do Pai, do Filho e
do
Espírito Santo.
Para
animar-nos a submergirmos nesta fornalha, vejamos o que são esse
fogo e esse amor.
Queres
saber qual é o amor do Coração paternal de Nosso divino Pai, que
é o Pai de Jesus? Escuta a São Paulo:
«Aquele
que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o
entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?»
(Rom
8, 32).
Enviou-o
a este mundo e
o
deu a nós, para
demostrar-nos
seu amor, mesmo sabendo, antes de enviá-lo, da maneira que o iríamos
a tratar. Sabia que, devendo nascer na terra, para que os homens
pudessem viver no céu, sua divina Mãe buscaria um lugar para dar a
luz e
não o
encontraria: «Não
havia lugar para eles na hospedaria»
(Lc 2, 7);
e que, apenas nascido, os homens o buscariam para matá-lo, vendo-se
obrigado a fugir e esconder-se num país estranho; que, quando
começasse a pregar e a instruí-los, tratariam como um insensato e
buscariam amarrá-lo como se houvesse perdido a razão; que ao
anunciar a Palavra de seu Pai, várias vezes levariam pedras para lhe
atirar, inclusive levando-o ao cume de uma montanha, para dali
precipitá-lo; que o atariam como a um ladão, arrastando-o pelas
ruas de Jerusalém, como se fosse um criminoso, fazendo-o sofrer toda
sorte de ultrajes e tormentos e o fazendo morrer da morte mais infame
e cruel do mundo. Que depois de sua ressurreição, buscariam
extinguir a crença nele para aniquilá-lo inteiramente; que havendo
estabelecido a Igreja e os sacramentos para
aplicar
às almas os frutos de sua paixão e de sua morte, a maioria dos
cristãos abusariam deles, profanando-os e os fazendo servir para sua
maior condenação; enfim, que depois de todo seu trabalho,
sofrimentos e morte, a maioria dos homens pisoteariam seu Sangue
precioso e tornariam inútil o que Ele havia feito por sua salvação,
e infelizmente se perderiam.
Tudo
isso considerastes, Pai adorável, e sem embargo, não deixastes de
enviar teu Filho amadíssimo. Quem te obrigou a isso? O amor de teu
Coração paternal por nós, tão incompreensível que nos faz dizer:
Pai das misericórdias, parece que tu nos amas mais que a teu
Filho
e que a ti mesmo, pois, Ele é uma só coisa contigo. Até poderíamos
dizer que parece como se, por amor a nós, odiavas a teu Filho e a
ti mesmo. Oh! Bondade incompreensível! Oh! Amor admirável! Isto é
algo do amor infinito do amável Coração do Padre Eterno por nós.
Queres
conhecer agora o amor incompreensível do divino Coração do Filho
de Deus por nós? Escutai o que Ele disse: «Como
o Pai me ama, assim também eu vos amo.»
(Jo
15, 9).
Meu Pai
vos
ama, tanto que por amor a vós, entregou-me à morte e morte de cruz.
E
eu
vos amo, tanto que me abandonei, por amor a vós, ao poder
das
trevas e à ira de meus inimigos: «Esta
é a vossa hora e do poder das trevas.»
(Lc
22, 53).
Oh!
Salvador meu! Posso dizer-te com teu fiel servidor São Boaventura
que tu
me amas de tal maneira que pareces odiares a ti mesmo por mim.
Vejamos
agora o amor do Espírito Santo. Ele é o Coração do Pai
e
do Filho. Quando este divino Espírito formou o
Homem-Deus
nas sagradas
entranhas
da Santa Virgem, sabia bem o que íamos fazer com ele? Sabia, por
exemplo, as indignidades e crueldades que os homens lhe fariam? Que
fariam tudo para
aniquilar
sua obra mestra que é a geração do Homem-Deus? Sabia muito bem e,
sem dúvida, não deixou de formá-lo no seio da Virgem; de fazê-lo
nascer no mundo para nós; de mostrar-se em forma de pomba sobre sua
cabeça, no rio Jordão, para dar-nos a conhecê-lo; de conduzi-lo ao
deserto para que ali fizesse penitência por nossos pecados; de
animá-lo para que nos pregasse seu Evangelho e nos anunciasse as
verdades do céu: «O
Espírito do Senhor está sobre mim...»
(Lc
4, 18), e
de levá-lo a sacrificar-se a si mesmo na cruz para nossa Redenção:
«Pelo
Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus …»
(Hb
9, 14).
Oh!
Amor sem igual! Tem mais amor pelo pecador e pelo criminoso do que
pelo Homem-Deus, que é o Santo dos Santos! Por um escravo de Satanás
que pelo
Filho único de
Deus,
por uma fagulha do inferno que pelo Rei do céu! Oh! Prodígio sem
igual! Quem te encantou dessa maneira? Perdoa-me Espírito adorável
te falar assim, mas esse amor excessivo que nos tens não seria,
acaso, porque também te fizestes escravo, como o Pai e seu Filho
único? Quão certo é o que se diz: que amar e conhecer apenas se
lhe concede Deus!
Dessa
maneira nos amam o Pai, o Filho e o Espírito Santo: «De
tal
modo Deus amou o mundo»
(Jo
3, 16).
Em verdade, o divino Coração é uma fogueira de
amor
por nós.
O
que faremos para corresponder à semelhante bondade? O que pedes de
nós, Deus meu? É que ouçamos sua voz que grita há tanto tempo:
«Meu
filho, dá-me teu coração»
(Pr
23, 26).
Um
grande prelado, Juan de Zumárraga, primeiro arcebispo do México,
nas Índias, América, tida como a Nova Espanha, em carta que
escreveu aos padres de sua ordem, reunidos em Tolosa no ano de 1532,
assegura que, antes que os habitantes da dita cidade do México
tivessem se convertido à fé (cristã), o diabo a quem adoravam em
seus ídolos, exercia sobre eles tirania tão
cruel
que os obrigava a degolar todos os anos mais de vinte mil crianças,
abrindo-lhes as entranhas para arrancar o coração e oferecê-lo em
sacrifício, queimando-os sobre brasas acesas como incenso. Se apenas
na cidade do México se imolavam a Satanás, a cada ano, mais de
vinte mil corações de crianças, deixo-lhe concluir quantos lhe
eram sacrificados cada ano em todo o reino do México.
São João Eudes consagrou suas duas Congregações aos Sagrados Corações de Jesus e Maria |
Adoramos
a um Deus que não exige de nós coisas tão estranhas. Pede, tão
somente, nosso coração, porém, não quer que o arranquemos de
nosso peito como sacrifício. Se contenta com que lhe ofereçamos
nossos afetos, especialmente os dois principais que são o amor e o
ódio. O amor, para amá-lo com todas as nossas forças e acima de
todas as coisas; o ódio, para odiar unicamente ao pecado.
O
que pode existir de mais doce do que amar a bondade infinita da qual
não temos recebido senão toda espécie de bens? O que pode existir
de mais fácil que odiar o que há de pior no mundo e que é a causa
única de todos nossos males? Certamente, recusando nosso coração a
quem há tanto tempo nos pede, coração que lhe pertence por uma
infinidade de razões, todos aqueles pagãos que sacrificaram ao
diabo os corações de seus filhos, levantar-se-iam contra nós e nos
condenariam no dia do juízo. Qual não será a nossa reação
quando, o verdadeiro e legítimo rei de nossos corações,
mostrar-nos àqueles pobres idólatras, dizendo-lhes: estas são as
pessoas que arrancaram o coração do peito de seus próprios filhos
para imolá-los a Satanás, enquanto vós me haveis recusado os
afetos do vosso! Não, não nos permitamos reprovação semelhante;
entreguemos hoje mesmo, de maneira total e irrevogável, nosso
coração Àquele que o criou e o resgatou, e que tantas vezes nos
tem feito dom de si mesmo.
A
história das
cruzadas
pela liberdade de Terra Santa, escrita por um padre da
Companhia
de Jesus, refere que, em 1098, Geffroy de
la Tour,
nobre, um dos mais valentes guerreiros do exército cristão que
combatia os infiéis, tendo ouvido os rugidos de um leão, que
parecia queixar-se de um grande mal, entrou no bosque que cercava o
local e, percorrendo até o lugar de
onde provinha
o lamento, viu uma horrível e imensa serpente envolvendo as patas e
o corpo do leão. Impedia-o
de reagir, injetando-lhe seu veneno.
Impressionado com aquela situação do leão, tomou sua espada e
matou a serpente. Então, o pobre leão, vendo-se livre e
reconhecendo o autor de sua liberdade, veio agradecer-lhe da maneira
que podia, aproximando-se, lambeu-lhe os pés, e a partir de então
se apegou a ele como a quem devia à vida, nunca mais o abandonou,
seguindo-o por todos os lugares, como um cão fiel e sem atacar a
ninguém, a não ser aqueles que ofendessem seu companheiro (e
salvador). Como (Geffroy) ia sempre ao combate e à caça,
fornecia-lhe presas em abundância. Entretanto, o mais admirável foi
que, após as Cruzadas, quando Geffroy deveria retornar de navio à
França, o capitão da nau não permitiu que o leão o acompanhasse,
a pobre fera desesperada se lançou ao mar, nadando sempre atrás do
navio, até que lhe faltaram as forças e se afogou, ou seja,
preferiu morrer, a ver-se separada de seu salvador.
Não
deveríamos nós morrermos de vergonha ao ver como uma fera nos dá
lições de gratidão para com nosso Supremo Benfeitor? Terá que se
enviar os cristãos a uma escola de feras para que aprendam
o
que devem a Deus? Tu, Salvador meu, arrancaste-me das garras do
dragão infernal, destes tua vida para livrar-me da morte eterna no
inferno, para fazer-me viver uma vida imortal no céu. Que eu seja
todo teu; que não viva senão para ti; que te siga por
todos
os lugares; que todas as potências de minha alma estejam
irremediavelmente ligadas à tua divina vontade; que eu não tenha
sentimentos distintos dos teus; que não odeie jamais nada
senão a teu inimigo,
o pecado; que não ame senão a ti acima de todas
as
coisas, preferindo morrer antes de me ver separado de ti, meu
amabilíssimo Jesus!
_________São
João Eudes
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FONTE: livro, em
formato PDF, “San Juan Eudes Obras Escogidas”, Centro
Carismático Minuto de Dios, Bogotá-Colombia, 2ª edição/1990, El
Divino Corazon de Jesus, Cap. XI, pp. 565 a 569.
____________
1 cf.
https://www.acidigital.com/noticias/igreja-celebra-hoje-sao-joao-eudes-primeiro-promotor-da-devocao-ao-sagrado-coracao-de-jesus-90327
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