«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 24 de agosto de 2018


SÃO JOÃO EUDES, APÓSTOLO DOS SAGRADOS CORAÇÕES DE JESUS E MARIA

São João Eudes, "Apóstolo dos Sagrados Corações de Jesus e Maria"

No último dia 19 de agosto, fez-se memória a São João Eudes, considerado o Apóstolo do Coração de Jesus e Maria, fundador da Congregação de Jesus e Maria e da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. Para S. João Eudes os Corações de Jesus e Maria constituíam um único coração, daí Apóstolo do Coração....

Este Santo é considerado o precursor da devoção própria aos Corações de Jesus e Maria, tendo sido definido por São Pio X como Autor, pai, doutor, apóstolo, promotor e propagandista da devoção litúrgica aos sagrados Corações de Jesus e Maria1. Escreveu magníficas obras tratando da devoção a estes Corações, dentre as quais, A Devoção ao Adorável Coração de Jesus e O Admirável Coração da Santíssima Mãe de Deus, esta última concluída pouco antes de sua morte, no dia 19 de agosto de 1680.

No livro que dedicou à devoção ao Sagrado Coração de Jesus (1671), compôs Missa e Ofício próprios para honrar o Coração de Jesus, tendo inclusive celebrado, pela primeira vez, uma festa em honra do Sagrado Coração, na capela do Seminário de Rennes, no dia 31 de agosto de 1670, e que, logo em seguida, estendeu-se a toda diocese.

Embora não tenha sido o primeiro apóstolo dessa devoção, foi ele quem introduziu o culto do Sagrado Coração de Jesus e do Santo Coração da Maria, como lembrou Leão XIII em 1903, e no decreto de sua beatificação, acrescentou: O foi o primeiro que, por divina inspiração, lhes tributou um culto litúrgico2.

Com o objetivo de dar maior honra e glória ao Sagrado Coração de Jesus, e em homenagem a este Arauto da devoção aos Corações de Jesus e Maria, publicamos abaixo um de seus escritos, extraído de uma em espanhol, por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil.

Sou Todo Teu, Maria.

O Coração de Jesus é um só com o Coração do Pai e do Espírito Santo e uma Fogueira de Amor por Nós


A Santíssima Trindade e o Coração de Jesus

Todos sabem que a fé cristã nos ensina que as três pessoas da Santíssima Trindade têm uma mesma divindade, poder, sabedoria e bondade, um mesmo espírito, uma mesma vontade e um mesmo coração. Daí porque, Nosso Salvador, enquanto Deus, só tem um Coração com o Pai e o Espírito Santo; e, enquanto homem, seu Coração, humanamente divino e divinamente humano, é também um só com o Coração do Pai e do Espírito, em unidade de espírito, amor e vontade.

Por isso, adorar o Coração de Jesus é adorar o Coração do Pai, do Filho e do Espírito Santo; é adorar um Coração que é uma fogueira ardente de amor por nós. Nessa fogueira devemos aprofundar-nos agora para arder nela eternamente. Ai dos que são lançados na horrível fogueira do fogo eterno preparada para o diabo e seus anjos! Porém, ditosos os que se lançam no fogo eterno do amor divino que por nós se abrasa o Coração do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Para animar-nos a submergirmos nesta fornalha, vejamos o que são esse fogo e esse amor.

Queres saber qual é o amor do Coração paternal de Nosso divino Pai, que é o Pai de Jesus? Escuta a São Paulo: «Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?» (Rom 8, 32). Enviou-o a este mundo e o deu a nós, para demostrar-nos seu amor, mesmo sabendo, antes de enviá-lo, da maneira que o iríamos a tratar. Sabia que, devendo nascer na terra, para que os homens pudessem viver no céu, sua divina Mãe buscaria um lugar para dar a luz e não o encontraria: «Não havia lugar para eles na hospedaria» (Lc 2, 7); e que, apenas nascido, os homens o buscariam para matá-lo, vendo-se obrigado a fugir e esconder-se num país estranho; que, quando começasse a pregar e a instruí-los, tratariam como um insensato e buscariam amarrá-lo como se houvesse perdido a razão; que ao anunciar a Palavra de seu Pai, várias vezes levariam pedras para lhe atirar, inclusive levando-o ao cume de uma montanha, para dali precipitá-lo; que o atariam como a um ladão, arrastando-o pelas ruas de Jerusalém, como se fosse um criminoso, fazendo-o sofrer toda sorte de ultrajes e tormentos e o fazendo morrer da morte mais infame e cruel do mundo. Que depois de sua ressurreição, buscariam extinguir a crença nele para aniquilá-lo inteiramente; que havendo estabelecido a Igreja e os sacramentos para aplicar às almas os frutos de sua paixão e de sua morte, a maioria dos cristãos abusariam deles, profanando-os e os fazendo servir para sua maior condenação; enfim, que depois de todo seu trabalho, sofrimentos e morte, a maioria dos homens pisoteariam seu Sangue precioso e tornariam inútil o que Ele havia feito por sua salvação, e infelizmente se perderiam.

Tudo isso considerastes, Pai adorável, e sem embargo, não deixastes de enviar teu Filho amadíssimo. Quem te obrigou a isso? O amor de teu Coração paternal por nós, tão incompreensível que nos faz dizer: Pai das misericórdias, parece que tu nos amas mais que a teu Filho e que a ti mesmo, pois, Ele é uma só coisa contigo. Até poderíamos dizer que parece como se, por amor a nós, odiavas a teu Filho e a ti mesmo. Oh! Bondade incompreensível! Oh! Amor admirável! Isto é algo do amor infinito do amável Coração do Padre Eterno por nós.

Queres conhecer agora o amor incompreensível do divino Coração do Filho de Deus por nós? Escutai o que Ele disse: «Como o Pai me ama, assim também eu vos amo.» (Jo 15, 9). Meu Pai vos ama, tanto que por amor a vós, entregou-me à morte e morte de cruz. E eu vos amo, tanto que me abandonei, por amor a vós, ao poder das trevas e à ira de meus inimigos: «Esta é a vossa hora e do poder das trevas.» (Lc 22, 53). Oh! Salvador meu! Posso dizer-te com teu fiel servidor São Boaventura que tu me amas de tal maneira que pareces odiares a ti mesmo por mim.

Vejamos agora o amor do Espírito Santo. Ele é o Coração do Pai e do Filho. Quando este divino Espírito formou o Homem-Deus nas sagradas entranhas da Santa Virgem, sabia bem o que íamos fazer com ele? Sabia, por exemplo, as indignidades e crueldades que os homens lhe fariam? Que fariam tudo para aniquilar sua obra mestra que é a geração do Homem-Deus? Sabia muito bem e, sem dúvida, não deixou de formá-lo no seio da Virgem; de fazê-lo nascer no mundo para nós; de mostrar-se em forma de pomba sobre sua cabeça, no rio Jordão, para dar-nos a conhecê-lo; de conduzi-lo ao deserto para que ali fizesse penitência por nossos pecados; de animá-lo para que nos pregasse seu Evangelho e nos anunciasse as verdades do céu: «O Espírito do Senhor está sobre mim...» (Lc 4, 18), e de levá-lo a sacrificar-se a si mesmo na cruz para nossa Redenção: «Pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus …» (Hb 9, 14).

Oh! Amor sem igual! Tem mais amor pelo pecador e pelo criminoso do que pelo Homem-Deus, que é o Santo dos Santos! Por um escravo de Satanás que pelo Filho único de Deus, por uma fagulha do inferno que pelo Rei do céu! Oh! Prodígio sem igual! Quem te encantou dessa maneira? Perdoa-me Espírito adorável te falar assim, mas esse amor excessivo que nos tens não seria, acaso, porque também te fizestes escravo, como o Pai e seu Filho único? Quão certo é o que se diz: que amar e conhecer apenas se lhe concede Deus!

Dessa maneira nos amam o Pai, o Filho e o Espírito Santo: «De tal modo Deus amou o mundo» (Jo 3, 16). Em verdade, o divino Coração é uma fogueira de amor por nós.

O que faremos para corresponder à semelhante bondade? O que pedes de nós, Deus meu? É que ouçamos sua voz que grita há tanto tempo: «Meu filho, dá-me teu coração» (Pr 23, 26).

Um grande prelado, Juan de Zumárraga, primeiro arcebispo do México, nas Índias, América, tida como a Nova Espanha, em carta que escreveu aos padres de sua ordem, reunidos em Tolosa no ano de 1532, assegura que, antes que os habitantes da dita cidade do México tivessem se convertido à fé (cristã), o diabo a quem adoravam em seus ídolos, exercia sobre eles tirania tão cruel que os obrigava a degolar todos os anos mais de vinte mil crianças, abrindo-lhes as entranhas para arrancar o coração e oferecê-lo em sacrifício, queimando-os sobre brasas acesas como incenso. Se apenas na cidade do México se imolavam a Satanás, a cada ano, mais de vinte mil corações de crianças, deixo-lhe concluir quantos lhe eram sacrificados cada ano em todo o reino do México.
São João Eudes consagrou suas duas Congregações aos Sagrados
Corações de Jesus e Maria
Adoramos a um Deus que não exige de nós coisas tão estranhas. Pede, tão somente, nosso coração, porém, não quer que o arranquemos de nosso peito como sacrifício. Se contenta com que lhe ofereçamos nossos afetos, especialmente os dois principais que são o amor e o ódio. O amor, para amá-lo com todas as nossas forças e acima de todas as coisas; o ódio, para odiar unicamente ao pecado.

O que pode existir de mais doce do que amar a bondade infinita da qual não temos recebido senão toda espécie de bens? O que pode existir de mais fácil que odiar o que há de pior no mundo e que é a causa única de todos nossos males? Certamente, recusando nosso coração a quem há tanto tempo nos pede, coração que lhe pertence por uma infinidade de razões, todos aqueles pagãos que sacrificaram ao diabo os corações de seus filhos, levantar-se-iam contra nós e nos condenariam no dia do juízo. Qual não será a nossa reação quando, o verdadeiro e legítimo rei de nossos corações, mostrar-nos àqueles pobres idólatras, dizendo-lhes: estas são as pessoas que arrancaram o coração do peito de seus próprios filhos para imolá-los a Satanás, enquanto vós me haveis recusado os afetos do vosso! Não, não nos permitamos reprovação semelhante; entreguemos hoje mesmo, de maneira total e irrevogável, nosso coração Àquele que o criou e o resgatou, e que tantas vezes nos tem feito dom de si mesmo.

A história das cruzadas pela liberdade de Terra Santa, escrita por um padre da Companhia de Jesus, refere que, em 1098, Geffroy de la Tour, nobre, um dos mais valentes guerreiros do exército cristão que combatia os infiéis, tendo ouvido os rugidos de um leão, que parecia queixar-se de um grande mal, entrou no bosque que cercava o local e, percorrendo até o lugar de onde provinha o lamento, viu uma horrível e imensa serpente envolvendo as patas e o corpo do leão. Impedia-o de reagir, injetando-lhe seu veneno. Impressionado com aquela situação do leão, tomou sua espada e matou a serpente. Então, o pobre leão, vendo-se livre e reconhecendo o autor de sua liberdade, veio agradecer-lhe da maneira que podia, aproximando-se, lambeu-lhe os pés, e a partir de então se apegou a ele como a quem devia à vida, nunca mais o abandonou, seguindo-o por todos os lugares, como um cão fiel e sem atacar a ninguém, a não ser aqueles que ofendessem seu companheiro (e salvador). Como (Geffroy) ia sempre ao combate e à caça, fornecia-lhe presas em abundância. Entretanto, o mais admirável foi que, após as Cruzadas, quando Geffroy deveria retornar de navio à França, o capitão da nau não permitiu que o leão o acompanhasse, a pobre fera desesperada se lançou ao mar, nadando sempre atrás do navio, até que lhe faltaram as forças e se afogou, ou seja, preferiu morrer, a ver-se separada de seu salvador.

Não deveríamos nós morrermos de vergonha ao ver como uma fera nos dá lições de gratidão para com nosso Supremo Benfeitor? Terá que se enviar os cristãos a uma escola de feras para que aprendam o que devem a Deus? Tu, Salvador meu, arrancaste-me das garras do dragão infernal, destes tua vida para livrar-me da morte eterna no inferno, para fazer-me viver uma vida imortal no céu. Que eu seja todo teu; que não viva senão para ti; que te siga por todos os lugares; que todas as potências de minha alma estejam irremediavelmente ligadas à tua divina vontade; que eu não tenha sentimentos distintos dos teus; que não odeie jamais nada senão a teu inimigo, o pecado; que não ame senão a ti acima de todas as coisas, preferindo morrer antes de me ver separado de ti, meu amabilíssimo Jesus!

_________São João Eudes




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FONTE: livro, em formato PDF, “San Juan Eudes Obras Escogidas”, Centro Carismático Minuto de Dios, Bogotá-Colombia, 2ª edição/1990, El Divino Corazon de Jesus, Cap. XI, pp. 565 a 569.

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