PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE AGOSTO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Sagrado Coração de Jesus - Roma, Itália |
CORAÇÃO
DE JESUS, MODELO DA MANSIDÃO
(Por
Santo Afonso de Ligório)
CORAÇÃO DE JESUS, MODELO DA MANSIDÃO
Um
dos caracteres mais atrativos e especiais do
Coração de Jesus é a virtude da mansidão: Aprendei de mim,
dizia ele, que sou manso e humilde de coração. (Mt 11, 29)
Nosso divino Redentor foi chamado Cordeiro: Ecce Agnus Dei,
não somente por causa do sacrifício da cruz em que ele devia ser
imolado para expiar os nossos pecados, mas ainda por causa da
mansidão que mostrou durante toda a sua vida, e particularmente no
tempo de sua dolorosa paixão.
Vós
não sabeis que espírito vos impele. (Lc 9, 55) Tal foi a
resposta do Salvador aos discípulos que lhe pediam castigasse os
Samaritanos, quando o expulsaram do país. Ah! Que espírito é este?
Dizia -lhes. Não é o meu: meu espírito é só mansidão e bondade.
Eu não vim para perder, mas para salvar as almas;
e vós quereis me obrigar a perdê-las? Calai-vos, não me façais
mais tais pedidos, porque este não é o meu espírito.
Com
que mansidão tratou Jesus, com efeito, a mulher adúltera!
Contentou-se de lhe recomendar não pecasse mais, e fosse em paz.
Pelos mesmos testemunhos de bondade é que ele empreendeu a conversão
da Samaritana: começou por lhe pedir de beber; em seguida disse-lhe:
Oh! Se soubésseis quem, é Aquele que vos pede de
beber! Revelou-lhe, enfim, que ele era o Messias esperado. (Jo 4)
De que bondade usou também para com o traidor Judas, a fim de
fazê-lo entrar em si mesmo. Deu-lhe a comer do seu mesmo prato;
lavou-lhe os pés; e no momento mesmo em que este desgraçado
executava a criminosa traição, ainda o advertiu por estas bondosas
palavras: Judas, é então com um ósculo que me
trais? Pedro o renega; e como Jesus se vinga? Ao sair da casa do
Pontífice, sem repreender a Pedro sua infidelidade, volve sobre ele
um olhar de ternura, que o converte. (Lc 22, 68) E Pedro chorou toda
a vida a injúria que tinha feito a seu divino Mestre. Quando, em
casa de Caifás, Jesus foi esbofeteado e tratado de temerário,
contentou-se de responder: Se faltei mal dize-me em
que; se bem, porque me bates? (Jo 18, 23) E Jesus praticava esta
doçura até a morte: estando sobre a cruz, quando seus inimigos o
acabrunhavam de ultrajes, ele não fazia senão rogar a seu eterno
Pai que lhes perdoasse: Meu Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem, o que fazem. (Lc 23, 34)
Oh!
Quanto agrada ao Coração de Jesus um coração manso! Sim, ele ama
os corações cheios de mansidão, que sabem suportar as afrontas,
perseguições, calúnias, escárnios, e até as pancadas e feridas,
sem se irritar contra aqueles que os ultrajam ou ferem. Suas orações
são sempre agradáveis a Deus, (Jud 9, 16) isto é, são sempre
atendidas. O paraíso é prometido especialmente àqueles que são
mansos: Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra
prometida do céu. (Mt 5, 4) Segundo a expressão do padre Alvares, o
céu é a pátria daqueles que na terra são desprezados,
perseguidos, calcados aos pés. Com efeito, a eles e não aos homens
soberbos, honrados e estimados do mundo, é reservada a posse do
reino eterno. Davi assegura que os que são mansos, não somente
obterão a eternidade bem-aventurada, mas gozarão, ainda nesta vida,
paz inalterável. (Sl 36, 11) Porque os santos, longe de conservarem
ressentimento contra aqueles que os maltratam, mais os amam, o
Senhor, em paga de sua paciência, aumenta sua paz interior.
Jesus e o Sermão da Montanha |
Não
nos entreguemos, pois, aos ímpetos da cólera; não abramos jamais a
esta violenta paixão, sob que pretexto for, a porta de nosso
coração; porque uma vez entrando, não está mais em nosso poder
expulsá-la nem moderá-la. Quando somos tentados pela cólera, 1.
reprimamo-nos logo pensando noutras coisas e guardando silêncio; 2.
à imitação dos apóstolos quando viram o mar agitado pela
tempestade, recorramos a Deus, a quem pertence pacificar os corações;
3. se percebermos que a cólera já se introduziu em nosso espírito,
esforcemo-nos para readquirir a calma, e procuremos praticar atos de
humildade e doçura para com a pessoa contra a qual nos sentimos
irritados. Oh! Quanto este procedimento agradará ao Coração
mansíssimo de Jesus!
PRÁTICA
Praticarei
a mansidão para com os pobres, os enfermos, as pessoas que me
contrariam, e principalmente para com meus inimigos; praticá-la-ei
também comigo mesmo, evitando perturbar-me pelas faltas e defeitos
que me escapam, a despeito dos esforços contínuos que faço para
não recair. Assim é que chegarei insensivelmente a tornar meu
coração manso como o Coração de Jesus.
AFETOS
E SÚPLICAS
Amadíssimo Salvador meu, vós levastes com tanta doçura as ignomínias e as dores de vossa Paixão; e eu, por um nada, tantas vezes voltei-vos as costas! Agradeço-vos me terdes esperado até o presente: se eu tivesse morrido nesta desgraça, não poderia mais vos amar; já que o posso ainda, quero amar-vos de toda a minha alma. Ó Coração mansíssimo de Jesus, acolhei-me agora que me volto para vós, arrependido dos desgostos que vos tenho dado; não me rejeiteis.
Ah! Como me tendes deixado correr após meus próprios desejos, quando desprezava vosso amor, posso temer que me não aceiteis, quando vosso amor é o objeto de todos os meus desejos? Vós me haveis suportado com tanta doçura para vos fazer amar de mim. Pois bem! Quero vos amar. Sim, meu Deus, eu vos amo de todo o meu coração. Ó amor de minha alma, estou resolvido, de agora em diante, a não vos causar conscientemente mais desgosto algum, e fazer tudo o que de mim exigirdes; vossa vontade será meu único amor. Ensinai-me o que devo fazer para agradar ao vosso oração, pronto estou a executar. Quero vos amar verdadeiramente: abraçarei então todas as tribulações que me enviardes. Puni-me durante esta vida, a fim de que possa vos amar eternamente. Meu Deus, dai-me a força de vos ser fiel. Maria, minha terna Mãe, recomendai-me a Jesus; não cesseis de rogar-lhe por mim.
ORAÇÃO
JACULATÓRIA
Jesus,
manso e humilde de coração, tornai meu coração semelhante ao
vosso.
(300
dias de ind. uma vez por dia – 25 de Jan. de 1868)
EXEMPLO
Armella
Nicolas1,
conhecida pelo nome de – a boa Armella, nasceu em 1608, em
Campénéac, na Bretanha. Sua primeira ocupação foi a guarda de
rebanhos, emprego que lhe agradava mais que os outros, porque ela
ficava só e tinha mais tempo para rezar seu terço e outras orações.
Enquanto suas companheiras se divertiam, esta filha de bênção
recolhia-se atrás de uma cerca de vegetais, onde Deus lhe fazia
gozar mil doçuras. Um dia, ela achou, por acaso, junto de si, um
crucifixo; regando-o com suas lágrimas, amorosamente o beijou, e
desde então sentiu particular atrativo para a imagem de Jesus
crucificado, cujas chagas, principalmente a do Coração, davam-lhe
provas de tanto amor. Ela cria ouvir sem cessar no fundo de sua alma
uma voz que lhe dizia: «O
amor do Salvador para comigo é que lhe causou todos estes
padecimentos.»
Para ter a felicidade de comungar mais vezes, ela foi empregar-se
numa cidade vizinha, Ploërmel. De submissão sem igual a seus amos e
a seu confessor, ela dizia: «Contanto
que eu não faça minha vontade, de nada me incomodo; mas se eu
fizesse minha própria vontade, ter-me-ia por perdida.»
Inútil dizer que a cruz foi a sorte de Armella, pois Deus a dá a
todos os seus eleitos. Sabendo seu confessor que ela era muito
maltratada, disse-lhe um dia que podia abandonar o serviço. «Como
meu padre, respondeu, quereis então aconselhar-me a fugir das cruzes
que Deus me envia? Nunca o farei, se não me ordenais absolutamente.»
E onde ela ia haurir a coragem, senão no Coração mesmo de Jesus?
«Quando os homens
me perseguiam por suas maledicências e maus tratos, eu logo me
dirigia ao divino objeto de meu amor, que me mostrava seu Coração
para me encerrar nele; também eu me acolhia a ele como a uma
citadela.» Estas
eram suas palavras.
Armella Nicolas (Foto: Thy Mind, O Human!) |
Armella
falava com prazer de sua condição de criada. «Quando
considero, dizia ela, a felicidade do meu estado, não posso
cansar-me de bendizer meu divino Senhor por me ter posto nele, e não
acho no mundo coisa que seja mais amável. Feliz emprego em que a
gente é continuamente desprezada de todo o mundo! Quem poderia
estimar uma pobre serva? Todos têm direito de repreendê-la,
sobretudo o que faz e diz: Ai! Isto não é amável? Não ensina a
ser humilde? Quando alguém me repreende, sinto tanta alegria e tanto
amor para com ele, que beijo a terra por onde ele passa, com respeito
e amor, e é necessário fazer-me violência para não me lançar a
seus pés e agradecer-lhe o bem que me faz. Considero como meus
maiores amigos os que me desprezam.»
Todas as criaturas falavam de Deus a esta pobre moça educada na
escola do Espírito Santo. «Considerando
a beleza dos prados, dizia entre mim: Meu Amado é a flor dos campos
e o lírio dos vales; é a rosa sem espinhos; eu o convidava a fazer
de minha alma o Jardim de suas delícias. De manhã, quando com uma
faísca de fogo eu acendia um braseiro, dizia: Ó amor! Assim faríeis
nas almas, se elas vos dessem ação bem livre! Quando eu cortava as
carnes e as preparava para comer, a voz de meu Amado me ensinava que
ele tinha querido sofrer a morte para tornar-se o alimento de minha
alma. Se eu via cultivar e semear as terras, parecia-me ver meu
Salvador que tinha, em todo o curso de sua vida, suado tanto para
cultivar nossas almas e derramar nelas a semente de sua celeste
doutrina, e que todavia tão poucas pessoas davam bons frutos; o que
me causava dor inexprimível.»
Armella
tinha tal desejo da comunhão que dizia um dia ao seu confessor:
«Antes quisera
sofrer os mais horrorosos suplícios do que ser privada de tão
grande bem.»
Pouco tempo depois, o homem de Deus lhe disse: «Até
hoje vos permiti comungar mais vezes por semana; agora só
comungareis aos domingos; ficais contente?»
– «Sim, meu
padre, respondeu ela, farei o que for vossa vontade.»
E ao mesmo tempo acendeu-se na sua alma desejo tão ardente deste
divino alimento, que logo se manifestou em seu rosto. Perguntou-lhe o
confessor então se estava contente. «Sim,
meu padre, continuou ela, quero de todo o meu coração tudo o que
quereis; preferirei sempre a qualquer outra coisa a vontade de Deus.»
– «Ide, minha
filha, disse então o diretor, comungai não somente como antes, mas
todos os dias, sem falhar um só.»
Ela morreu cheia de merecimentos, em 1671. (Via des justes, par
Carron.)
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FONTE:
livro “O
Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou
Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a
Primeira Sexta-Feira do Mês”,
tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de
Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico
Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 337-343 – Texto revisto,
atualizado e adaptado para o português do Brasil)
___________
1
“Armella
Nicolas
(1606-1671),
foi uma serva que viveu na França no século 17, que passou a ser
realizada em alta veneração na Igreja Católica. Ela não sabia
ler nem escrever, mas contou aos amigos suas experiências
espirituais, incluindo a irmã Jeanne de la Nativite, que escreveu
suas experiências.” - cf.
https://thymindoman.com/2018/04/23/armella-nicolass-first-vision-account/
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