«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 10 de agosto de 2018


CATECISMO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
APRESENTAÇÃO


Estátua do Sagrado Coração de Jesus, Igreja Sainte-Sulpice - Paris
(Foto: Senza Pagari)


CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO


1) Qual é o fim deste catecismo?

É dar um resumo completo da doutrina de Santa Margarida Maria1, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.2

2) Como se divide este tratado?

Dividir-se-á em seis partes3:

1ª. O que é o Coração de Jesus.

2ª. O reino do Sagrado Coração.

3ª. As homenagens pedidas pelo Sagrado Coração.

4ª. As virtudes pedidas pelo Sagrado Coração.

5ª. O apostolado; como se deverá fundar o reinado do Coração de Jesus e por quem?

6ª. Os bens prometidos pelo Sagrado Coração àqueles que o servirem.

Antes de se expor a doutrina de Santa Margarida Maria sobre o Coração de Jesus, devemos dar algumas noções sobre a devoção propriamente dita, considerada de um modo geral.

3) O que vem a ser, pois, uma devoção?

Uma devoção é um conjunto de exercícios de religião, adaptados pelos fieis, com a aprovação da Igreja, para honrar uma pessoa, ou um objeto santo.

4) Quantas coisas se distinguem em toda e qualquer devoção?

Quatro: 1. o objeto a que se presta um culto religioso; 2. o fim que se procura atingir: 3. exercícios particulares, adaptados para honrar esse objeto sagrado e conseguir o fim que se procura e, finalmente, 4. os frutos que estes exercícios devem produzir.

5) O que é, então, a devoção ao Sagrado Coração?

É um exercício de religião, que tem por objeto o Coração adorável de Jesus Cristo, abrasado em amor pelos homens e ultrajado pela ingratidão dos mesmos homens; e que tem por fim honrar este Coração divino por meio de homenagens que o amor e o reconhecimento possam inspirar, e, especialmente, reparar as injúrias que recebe no Sacramento do seu amor.” (P. Croiset).

6) Qual é o duplo objeto da devoção ao Sagrado Coração?

Em todas as devoções que dizem respeito à humanidade santíssima de Jesus Cristo, há sempre dois objetos, diz o Padre Galifet: um sensível e material, outro invisível e espiritual, os quais, intimamente ligados, são indivisivelmente venerados, porquanto o objeto espiritual comunica a sua dignidade ao objeto material, e o objeto sensível conserva a propriedade de dar o seu nome à devoção.

7) Qual é objeto material da devoção ao Sagrado Coração?

O objeto material ou sensível é o próprio Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo: “O meu divino Salvador certificou-me que sente um prazer muito particular em ser honrado, sob o simbolo do seu Coração de carne.”, diz Santa Margarida Maria.

8) Qual é o objeto espiritual da devoção ao Sagrado Coração?

Ainda que esta devoção tenha o título de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, não quer isto dizer que se limita a honrar somente o Coração de carne. Este divino Coração, assim considerado, é apenas o objeto sensível, sendo o amor imenso que Jesus Cristo nos tem, o seu objeto principal.

Mas como este amor é todo espiritual, era preciso que houvesse um símbolo que o tornasse sensível. Sendo assim, qual o símbolo mais próprio do amor do que o coração?! (Pe. Croiset.)

9) Devemos honrar separadamente o objeto material do objeto espiritual, ou antes, reuni-los num mesmo culto?

Devemos observar que Santa Margarida quase nunca fala do Coração de carne, sem se referir, por qualquer forma, ao amor de Nosso Senhor. Mostra, portanto, deste modo que, o objeto material e o objeto espiritual, ainda que distintos entre si, devem estar perfeitamente unidos nas nossas homenagens, e que a devoção ao Sagrado Coração não tem, em realidade, senão um só objeto: “O Coração recordando de uma maneira simbólica o amor de Jesus, ou então, o amor de Jesus só representado no emblema do seu coração de carne” (Pe. Gallifet)
Coração de Jesus, símbolo do amor pelos homens

Nosso Senhor manifestou claramente nas seguintes palavras a união que existe entre o objeto material e o objeto espiritual: «Eis o Coração que tanto amou os homens, - disse ele a Santa Margarida Maria, que a nada se poupou até exaurir-se e consumir-se para lhes manifestar o seu amor!.»4

10) Que significa o amor do Sagrado Coração, proposto como objeto espiritual desta devoção?

O amor do Sagrado Coração compreende o amor divino e incriado de Nosso Senhor Jesus Cristo, e o seu amor humano e criado, isto é:

1º. O zelo que tem pela gloria de Deus, seu eterno Pai;
2º. O amor filial para com sua Mãe Santíssima;
3º. O amor que tem aos predestinados, os cuidados e vigilância sobre a Igreja;
4º. A imensa caridade e a compaixão do seu Coração pelos pecadores.

Ainda há outro ponto essencial que devemos notar bem, acrescenta o Padre Gallifet - isto é: na devoção de que tratamos, devemos considerar o amor em que este divino Coração está abrasado, sobretudo como um amor, desprezado e ofendido pela ingratidão dos homens. Esta circunstância está expressa naquelas palavras de Jesus Cristo a Santa Margarida: «E, em recompensa não recebo, da maior parte dos homens, senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, e indiferença com que me tratam.»

O Sagrado Coração de Jesus deve, pois, ser considerado, nesta devoção, sob dois aspectos: devemos considerá-lo abrasado em amor pelos homens, e ao mesmo tempo ofendido cruelmente por esses mesmos homens. Estes dois motivos, intimamente unidos, devem produzir em nós dois sentimentos igualmente essenciais na devoção a este Coração Sagrado, isto é, um amor que corresponda ao seu amor, e uma dor que nos leve a reparar as injúrias que sofre”.

11) Então o objeto espiritual encerra só o amor?

O objeto espiritual da devoção ao Sagrado Coração não encerra somente o amor deste Coração adorável, mas compreende também todas as maravilhas divinas, cujo centro é o Coração de Jesus.

Com efeito, diz a Irmã Joly, auxiliar de Santa Margarida: “O Coração adorável de Jesus é um abismo de tesouros, de graças e de glória; não é possível contemplá-lo muito tempo sem descobrir nele riquezas imensas, sem descobrir bens infinitos que podemos adorar, amar, imitar e receber”.

Todas estas maravilhas fazem parte do objeto espiritual da devoção ao Sagrado Coração. As principais são:

1º. A vida interior e os afetos da alma do nosso divino Salvador, tais como, o amor, a alegria, a tristeza, o ódio, a repugnância, o tédio etc.;
2º. As admiráveis virtudes que oferece à nossa imitação;
3º. Os favores e as graças que o Coração de Jesus reserva aos seus fieis devotos.

12) Como pode dizer-se que o amor é, ao mesmo tempo, objeto, motivo, ato e fim da devoção ao Sagrado Coração?

Nesta devoção tudo é amor, como nota o Pe. Croiset: “O objeto desta devoção é o Coração de Jesus, abrasado em amor pelos homens, e desprezado por esses mesmos homens. O amor imenso, que Jesus Cristo nos tem, é também o primeiro motivo, que nos atrai a esta devoção. O seu ato principal é um amor cheio de reconhecimento da parte dos homens, acompanhado de um vivo sentimento por ver este Homem-Deus tão pouco amado. De modo que esta devoção, falando propriamente, não consiste senão em ter um ardente amor a Jesus Cristo, e em testemunhar-lhe esse amor por meio das nossas frequentes adorações, das nossas homenagens, das nossas ações de graças, e por um verdadeiro pesar de o ver tão pouco amado e honrado.”

13) Por que razão o coração e o amor são propostos simultaneamente como o objeto da devoção ao Sagrado Coração de Jesus?

Os teólogos e os filósofos têm opiniões diversas relativamente à parte que o coração tem nos atos da amor, mas todos admitem que esses atos se fazem sentir com preferência no coração, onde tem com o que a sua repercussão. É neste sentido que Pio IX, no breve da beatificação de Santa Margarida Maria, chama ao Sagrado Coração: Sedem divinae Charitatis, a sede do divino amor”, assim como o Céu é chamado nos Livros Santos: Sedes Dei, - morada de Deus”, porque é ali que Ele manifesta maravilhosamente a sua glória. Diz o Pe. Croiset que o Sagrado Coração de Jesus foi escolhido como objeto sensível desta devoção, porque, como afirma S . Tomás, Ele é a sede daquele amor imenso, no qual Jesus Cristo se sentiu sempre abrasado pelos homens.

14) De que modo é o coração a sede do amor? Será porque o coração é o órgão do amor, ou simplesmente por que é o seu emblema?

São muito vivas as discussões filosóficas com relação à parte que o coração tem na produção dos atos do amor. A Igreja, para autorizar o culto prestado, simultaneamente, ao Coração material e ao amor de Jesus, e para mostrar a legitimidade da união do coração e do amor, como objeto de um mesmo culto, contenta-se em apresentar o Coração como símbolo do amor. «A essência da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, diz Pio VI, consiste em nos fazer venerar sob a imagem simbólica do Coração, o amor imenso do divino Redentor».

15) Que significação devemos dar a estas palavras: O coração é o símbolo do amor?

Não se trata aqui de um simbolismo puramente convencional – diz o Pe. Terrien; – porque tudo aquilo que tem por base simples condições arbitrárias não pode ter o caráter da universalidade. Para se compreender a razão de um simbolismo consagrado por um uso universal, é preciso procurar-lhe a causa na afinidade natural das propriedades existentes entre o emblema e o que representa. Que relação tão íntima tem pois o coração com o amor, que esteja ao alcance de todos os homens? O que faz que o coração seja o símbolo do amor é a relação sensível e sentida que há entre os movimentos de um e os movimentos do outro: é uma correspondência tão íntima, que os homens, ordinariamente falando, destes dois objetos fizeram apenas um.

Ora, sendo Nosso Senhor o mais perfeito dos homens, é evidente que nele o coração e os sentimentos estão na mais perfeita harmonia: «Eu te farei ler no livro do amor», disse ele um dia a Santa Margarida, falando do coração. Tolle, lege, «toma e » nos diz também a nós; lede no meu coração o amor que goza, mas lede sobretudo o amor que sofre; lede as impressões de tédio, de terror, de tristeza que experimentou na sua vida mortal. Este coração divino não pode sofrer novamente as comoções violentas, as afeições dolorosas, incompatíveis com o estado glorioso; mas é sensível a todos os sentimentos cuja influência não possa perturbar a perfeita beatitude do Céu. Portanto, e esta é a nossa mais doce consolação, podemos com o nosso amor, com os nossos sacrifícios, com a nossa dedicação, fazer palpitar o Coração de Jesus mais suave e amorosamente.”

16) Deverá o Coração de Jesus ser honrado na Pessoa de Nosso Senhor?

Todas as honras que se prestam a este Coração adorável, diz o Pe. Gallifet, não se referem simplesmente ao Coração corpóreo, mas indivisivelmente a toda a pessoa do nosso Senhor”.

Adoramos o Coração corpóreo vivendo no seio vivo do Filho de Deus, acrescenta o Pe. Terrien. Adoramos o Coração na Pessoa, e simultaneamente a Pessoa no Coração, com a única diferença de que adoramos a Pessoa por sua excelência própria, e o Coração pela excelência da Pessoa.” Eis a razão por que Santa Margarida Maria atribui ao divino Coração tudo quanto se diz da Pessoa do Salvador, e oferece a este Coração Sagrado todas as homenagens prestadas à Pessoa de Nosso Senhor. Não se limita ela a dizer que “Ele ama, sofre, que é angustiado e ultrajado, que é todo amor, etc.”, palavras que se aplicam perfeitamente ao Coração; mas acrescenta que “este divino Coração é luz, ciência e todo poderoso, etc.”, e enfim dirigi-lhe súplicas que sobretudo convém à sua Pessoa, por exemplo: Coração de Jesus, salvai-me, governai-me, ensinai-me, etc., etc., sendo esta maneira de falar inteiramente conforme às regras teológicas





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1 No original, em razão de data da publicação da obra (1907), Santa Margarida é tratada como “Beata”, pois sua canonização só ocorreu em 1920, pelo Papa Bento XV. Entretanto, como atualizamos o texto, tratá-la-emos como “Santa”.

2  De acordo com a fonte: “Este catecismo é um resumo da obra: O reinado do Sagrado Coração de Jesus, ou a doutrina completa da Beata Margarida Maria sobre a devoção ao Sagrado Coração, por um padre Oblato de Maria, Capelão de Montmartre. Obra em cinco volumes.”

3 Em razão da grande extensão de algumas partes da divisão adotada pela fonte, a fim de facilitar a leitura e a compreensão do tema, sem exclusão de nenhuma parte, realizaremos subdivisões.

4 Tratado do Pe. Terrien, Devoção ao Sagrado Coração, liv. 2, cap. 1.


FONTE: livro, em formato PDF: “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Preliminares – Considerações Gerais sobre a devoção ao Sagrado Coração, pp. 5 a 13 – Texto revisto e atualizado, sendo alguns destaques acrescentados por nós.

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