CATECISMO
DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
APRESENTAÇÃO
Estátua do Sagrado Coração de Jesus, Igreja Sainte-Sulpice - Paris (Foto: Senza Pagari) |
CONSIDERAÇÕES
GERAIS SOBRE A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO
1)
Qual é o
fim deste
catecismo?
É
dar
um resumo completo da doutrina de Santa Margarida Maria1,
sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.2
2)
Como se divide
este tratado?
1ª.
O que
é
o
Coração de Jesus.
2ª.
O reino
do Sagrado Coração.
3ª.
As homenagens pedidas pelo Sagrado Coração.
4ª.
As virtudes pedidas pelo Sagrado Coração.
5ª.
O
apostolado;
como se deverá fundar o reinado do Coração de Jesus e por quem?
6ª.
Os bens
prometidos pelo Sagrado Coração àqueles que o servirem.
Antes
de se expor a doutrina de Santa Margarida Maria sobre o Coração de
Jesus, devemos dar algumas noções sobre a devoção propriamente
dita, considerada de um modo geral.
3)
O que
vem a ser, pois, uma devoção?
Uma
devoção é
um
conjunto de exercícios de religião, adaptados pelos fieis, com a
aprovação da Igreja, para honrar uma pessoa, ou um objeto santo.
4)
Quantas coisas se
distinguem
em toda e qualquer
devoção?
Quatro:
1. o objeto
a
que se presta um culto religioso; 2. o fim que se procura atingir: 3.
exercícios
particulares, adaptados
para honrar esse objeto sagrado e conseguir o fim que se procura e,
finalmente, 4. os
frutos que
estes exercícios devem produzir.
5)
O que
é,
então,
a devoção ao Sagrado Coração?
“É
um
exercício de religião, que tem por objeto
o
Coração adorável de Jesus Cristo, abrasado em amor pelos homens e
ultrajado pela ingratidão dos mesmos homens; e que tem por fim
honrar este Coração divino por meio de homenagens que o amor e
o reconhecimento possam inspirar, e, especialmente, reparar as
injúrias que recebe no Sacramento do seu amor.” (P. Croiset).
6)
Qual é
o
duplo objeto da devoção ao Sagrado Coração?
Em
todas as devoções que dizem respeito à
humanidade
santíssima de Jesus Cristo, há sempre dois objetos, diz o Padre
Galifet:
um
sensível e material, outro invisível e espiritual, os quais,
intimamente ligados, são indivisivelmente venerados, porquanto o
objeto espiritual comunica a sua dignidade ao objeto material, e o
objeto sensível conserva a propriedade de dar o seu nome à
devoção.
7)
Qual é
objeto
material da devoção ao Sagrado Coração?
O
objeto material ou
sensível é o próprio Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo: “O
meu
divino Salvador certificou-me que sente um prazer muito particular em
ser honrado, sob o simbolo do seu Coração de carne.”,
diz Santa Margarida Maria.
8)
Qual é
o
objeto espiritual da devoção ao Sagrado Coração?
Ainda
que esta devoção tenha o título de devoção
ao Sagrado Coração de Jesus,
não
quer isto dizer que se limita a honrar somente o Coração de carne.
Este divino Coração, assim considerado, é apenas o objeto
sensível, sendo o amor imenso que Jesus Cristo nos tem, o seu objeto
principal.
Mas
como este amor é todo espiritual, era preciso
que houvesse um símbolo que o tornasse sensível. Sendo assim, qual
o símbolo mais próprio do amor do que o coração?!
(Pe.
Croiset.)
9)
Devemos
honrar separadamente o objeto material do objeto espiritual, ou
antes, reuni-los num mesmo culto?
Devemos
observar que Santa Margarida quase nunca fala do Coração de carne,
sem se referir, por qualquer forma, ao amor de Nosso Senhor. Mostra,
portanto, deste modo que, o objeto material e o
objeto
espiritual, ainda que distintos entre si, devem estar perfeitamente
unidos nas nossas homenagens, e que a devoção ao Sagrado Coração
não tem, em realidade, senão um só objeto:
“O Coração
recordando de uma maneira simbólica o amor de Jesus, ou então, o
amor de Jesus só representado no emblema do seu coração de carne”
(Pe.
Gallifet)
Coração de Jesus, símbolo do amor pelos homens |
“Nosso
Senhor manifestou claramente nas seguintes palavras a união que
existe entre o objeto material e o objeto espiritual:
«Eis
o Coração que tanto amou os homens,
- disse
ele a Santa Margarida Maria, que
a nada se poupou até exaurir-se e consumir-se para lhes manifestar o
seu amor!.»4
10)
Que
significa o amor do Sagrado Coração, proposto como objeto
espiritual desta devoção?
O
amor
do Sagrado Coração compreende o amor divino e incriado de Nosso
Senhor Jesus Cristo, e o seu amor humano e criado, isto é:
1º.
O
zelo
que tem pela gloria de Deus, seu eterno Pai;
2º.
O
amor
filial para com sua Mãe Santíssima;
3º.
O amor
que tem aos predestinados, os cuidados e vigilância sobre a
Igreja;
4º.
A
imensa caridade e a compaixão do seu Coração pelos pecadores.
Ainda
há outro ponto essencial que devemos notar bem, acrescenta o
Padre
Gallifet - isto é: na devoção de que tratamos, devemos considerar
o amor em que este divino Coração está abrasado, sobretudo como um
amor, desprezado e ofendido pela ingratidão dos homens. Esta
circunstância está expressa naquelas palavras de Jesus Cristo a
Santa Margarida:
«E,
em recompensa não recebo, da maior parte dos homens, senão
ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, e indiferença
com que me tratam.»
“O
Sagrado
Coração de Jesus deve, pois, ser considerado, nesta devoção, sob
dois aspectos: devemos considerá-lo abrasado em amor pelos homens, e
ao mesmo tempo ofendido cruelmente por esses mesmos homens. Estes
dois motivos, intimamente unidos, devem produzir em nós dois
sentimentos igualmente essenciais na devoção a este Coração
Sagrado, isto é, um amor que corresponda ao seu amor, e uma dor que
nos leve a reparar as injúrias que sofre”.
11)
Então
o objeto espiritual encerra só o amor?
O
objeto
espiritual da devoção ao Sagrado Coração não encerra somente o
amor deste Coração adorável, mas compreende também todas as
maravilhas divinas, cujo centro é o Coração de Jesus.
Com
efeito, diz a Irmã Joly, auxiliar de Santa Margarida: “O
Coração
adorável de Jesus é
um
abismo
de tesouros, de graças e de glória; não é
possível
contemplá-lo muito tempo sem descobrir nele riquezas imensas, sem
descobrir bens infinitos que podemos adorar, amar, imitar e receber”.
Todas
estas maravilhas fazem parte do objeto espiritual da devoção ao
Sagrado Coração. As principais são:
1º.
A vida interior e os afetos da alma do nosso divino Salvador, tais
como, o amor, a alegria, a tristeza, o ódio, a repugnância, o tédio
etc.;
2º.
As admiráveis virtudes que oferece à nossa imitação;
3º.
Os
favores
e as graças que o Coração de Jesus reserva aos seus fieis devotos.
12)
Como pode dizer-se que o amor é, ao mesmo tempo, objeto, motivo, ato
e fim da devoção ao Sagrado Coração?
Nesta
devoção tudo é
amor,
como nota o Pe.
Croiset:
“O
objeto
desta
devoção é
o
Coração de Jesus, abrasado em amor pelos homens, e desprezado por
esses mesmos homens. O
amor
imenso, que Jesus Cristo nos tem, é
também
o primeiro motivo,
que
nos atrai a esta devoção. O
seu
ato principal é
um
amor cheio de reconhecimento da parte dos homens, acompanhado de um
vivo sentimento por ver este Homem-Deus tão pouco amado. De modo que
esta devoção, falando propriamente, não consiste senão em ter um
ardente amor a Jesus Cristo, e em testemunhar-lhe esse amor por meio
das nossas frequentes adorações, das nossas homenagens, das nossas
ações de graças, e por um verdadeiro pesar de o ver tão pouco
amado e honrado.”
13)
Por que razão o coração e o amor são propostos simultaneamente
como o objeto da devoção ao Sagrado Coração de Jesus?
Os
teólogos
e os filósofos têm opiniões diversas relativamente à parte que o
coração tem nos atos da amor, mas todos admitem que esses atos se
fazem sentir com preferência no coração, onde tem com o que a sua
repercussão. É neste sentido que Pio IX,
no
breve da beatificação de Santa Margarida Maria, chama ao Sagrado
Coração:
“Sedem
divinae Charitatis,
a
sede do divino amor”, assim como o Céu é chamado nos Livros
Santos: “Sedes
Dei,
- morada
de Deus”, porque é ali que Ele manifesta maravilhosamente a sua
glória. Diz o Pe. Croiset que o Sagrado Coração de Jesus foi
escolhido como objeto sensível desta devoção, porque, como afirma
S . Tomás, Ele é
a
sede daquele amor imenso, no qual Jesus Cristo se sentiu sempre
abrasado pelos homens.
14)
De que modo é o coração a sede do amor?
Será
porque o coração é o órgão do amor, ou simplesmente por que é o
seu emblema?
São
muito vivas as discussões filosóficas com relação à parte que o
coração tem na produção dos atos do amor. A
Igreja,
para autorizar o culto prestado, simultaneamente, ao Coração
material e ao amor de Jesus, e para mostrar a legitimidade da união
do coração e do amor, como objeto de um mesmo culto, contenta-se em
apresentar o Coração como símbolo do amor. «A
essência
da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, diz Pio VI, consiste em
nos fazer venerar sob a imagem simbólica do Coração, o
amor
imenso do divino Redentor».
15)
Que
significação devemos dar a estas palavras:
O
coração
é o símbolo do amor?
Não
se trata aqui de um simbolismo puramente convencional – diz o Pe.
Terrien; – porque tudo aquilo que tem por base simples condições
arbitrárias
não pode ter o caráter da universalidade. Para se
compreender
a razão de um simbolismo consagrado por um uso universal, é preciso
procurar-lhe a
causa
na afinidade natural das propriedades existentes entre o emblema e o
que representa. Que relação tão íntima tem pois o coração com o
amor, que esteja ao alcance de todos os homens? O que faz que o
coração
seja o símbolo do amor é
a
relação sensível e sentida que há entre os movimentos de um e os
movimentos do outro: é uma correspondência tão íntima, que os
homens, ordinariamente falando, destes dois objetos fizeram apenas
um.
“Ora,
sendo Nosso Senhor o mais perfeito dos homens, é evidente que nele o
coração e os sentimentos estão na mais perfeita harmonia: «Eu
te farei ler no livro do amor»,
disse
ele um dia a
Santa Margarida,
falando do coração. Tolle,
lege,
«toma
e lê»
nos
diz também a nós; lede no meu coração o amor que goza, mas lede
sobretudo o amor que sofre; lede as impressões de tédio, de terror,
de tristeza que experimentou na sua vida mortal. Este coração
divino não pode sofrer novamente as comoções violentas, as
afeições dolorosas, incompatíveis com o estado glorioso; mas é
sensível a todos os sentimentos cuja influência não possa
perturbar a perfeita beatitude do Céu. Portanto, e esta é a nossa
mais doce consolação, podemos com o nosso amor, com os nossos
sacrifícios, com a nossa dedicação, fazer palpitar o Coração de
Jesus mais suave e amorosamente.”
16)
Deverá o
Coração
de Jesus ser honrado na Pessoa de Nosso Senhor?
“Todas
as honras que se prestam a este Coração adorável, diz o Pe.
Gallifet, não se referem simplesmente ao Coração corpóreo, mas
indivisivelmente a toda a pessoa do nosso Senhor”.
“Adoramos
o Coração corpóreo vivendo no seio vivo do Filho de Deus,
acrescenta o Pe. Terrien. Adoramos o Coração na Pessoa, e
simultaneamente a Pessoa no Coração, com a única diferença de que
adoramos a Pessoa por sua excelência própria, e o Coração pela
excelência da Pessoa.” Eis a razão por que Santa Margarida Maria
atribui ao divino Coração tudo quanto se diz da Pessoa do Salvador,
e oferece a este Coração Sagrado todas as homenagens prestadas à
Pessoa de Nosso Senhor. Não se limita ela a dizer que “Ele ama,
sofre, que é
angustiado
e ultrajado, que é todo amor, etc.”, palavras que se aplicam
perfeitamente ao Coração; mas acrescenta que “este divino Coração
é luz, ciência e todo poderoso, etc.”, e enfim dirigi-lhe
súplicas que sobretudo convém à sua Pessoa, por exemplo: –
Coração
de Jesus, salvai-me, governai-me, ensinai-me, etc., etc., sendo esta
maneira de falar inteiramente conforme às regras teológicas
Receba
o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.
___________________
1 No
original, em razão de data da publicação da obra (1907), Santa
Margarida é tratada como “Beata”, pois sua canonização só
ocorreu em 1920,
pelo Papa Bento XV. Entretanto, como
atualizamos o texto, tratá-la-emos como “Santa”.
2 De acordo com a fonte: “Este catecismo é
um
resumo da obra: O
reinado
do Sagrado Coração de Jesus, ou a doutrina completa da Beata
Margarida Maria sobre a
devoção ao Sagrado
Coração, por um
padre
Oblato de Maria, Capelão de Montmartre. Obra em cinco volumes.”
3 Em
razão da grande extensão de algumas partes da divisão adotada
pela fonte, a fim de facilitar a leitura e a compreensão do tema,
sem exclusão de nenhuma parte, realizaremos subdivisões.
FONTE: livro, em formato PDF: “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque”, por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre, Editor Manoel Pedro dos Santos, Lisboa/1907, Preliminares – Considerações Gerais sobre a devoção ao Sagrado Coração, pp. 5 a 13 – Texto revisto e atualizado, sendo alguns destaques acrescentados por nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário