«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 31 de julho de 2020

A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ENTRE OS JESUÍTAS

A DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ENTRE OS JESUÍTAS


O Sagrado Coração adorado por Santo Inácio de Loyola e São Luís Gonzaga

Neste dia 31 de Julho que a Igreja celebra a festa do fundador da Companhia de Jesus, os Jesuítas, oferecemos um brevíssimo histórico da devoção ao Sagrado Coração de Jesus entre os filhos de Santo Inácio de Loyola, os Jesuítas.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus será o fogo Sagrado, que há de purificar e inflamar o mundo resfriado na caridade, como disse o apóstolo amado a Santa Gertrudes. É obra de Deus; encontrará dificuldades, oposições, e perseguições de toda parte, mas triunfará porque Nosso Senhor deu sua palavra. «Eu reinarei apesar da raiva dos meus inimigos». Mas é lícita essa pergunta: - de onde há de vir o auxílio? Já almas cheias de zelo apostólico de muito terno amor ao Sagrado Coração de Jesus, têm se consagrado à missão de propagar a sua devoção: estas hão de continuar, e o movimento se observa, é consolador. Primeiramente nas casas religiosas, daí espalhar-se pelo mundo afora e a atrair tantos corações para este Coração Divino, centro de caridade.

Nosso Senhor, porém, não limita a missão dessas almas apostólicas, não dá a missão de propagar a devoção de seu Sagrado Coração exclusivamente a uma ordem religiosa. Contudo, a Santa Margarida Maria, que precisava de auxílio e conforto, manda o Padre de la Columbière da Companhia de Jesus e dá-lhe a entender que a devoção ao seu Divino Coração acharia apoio e defesa nos padres dessa Companhia. Disse-lhe ainda mais, que os filhos de Santo Inácio os tinha destinado para colaboradores especiais das Irmãs Visitandinas nesta propaganda. É célebre a visão que teve Santa Margarida e que ela conta em uma carta à sua antiga madre superiora, a Madre Saumaise.

Era 2 de Julho de 1688, festa da Visitação. Santa Margarida estava em adoração diante do SS. Sacramento exposto, e sentia alegrias inexprimíveis. Refere então o seguinte: «De repente me achei presente em um lugar espaçoso, elevado e encantador por sua beleza, no meio do qual se levantava um trono de chamas. Sobre este trono estava o amável Coração de Jesus, ferido, e da ferida saiam raios tão inflamados e resplandecentes, que aqueciam e iluminavam aquele lugar. De um lado estava a Santíssima Virgem, do outro S. Francisco de Sales com o Santo Padre de la Columbière; aí estavam também as Religiosas da Ordem da Visitação acompanhadas de seus Anjos da Guarda, e cada uma delas tinha um coração na mão.

A Santíssima Virgem convidava-nos, com estas palavras, a nos aproximarmos d'Ela: «Vinde, minhas Filhas bem-amadas; chegai-vos, quero fazer-vos depositárias deste tesouro, que o sol de justiça formou na terra virginal do meu Coração… E mostrando-lhes aquele Coração Divino, dizia: Eis o tesouro precioso, que foi descoberto especialmente para vós… «Voltando-se depois para o bom Padre de la Colombière, disse-lhe a Santíssima Virgem: Vós também, servo fiel do meu Divino Filho, tendes grande parte neste tesouro preciosos, porque se às Filhas da Visitação foi dado conhecê-lo e distribuir aos outros, aos Padres da Companhia é reservada a missão de mostrar e fazer ver sua utilidade a e valor e dispor os homens aproveitarem dele, recebendo-o com grande respeito e gratidão, que merece um tão grande benefício.

«Este Coração Divino, fonte de bênçãos e de graças, na mesma medida em que se esforçarem para dar-lhe este prazer, há de derramá-las tão abundantes sobre seu ministério, a ponto de torná-los mais frutíferos do que se podia esperar: e ao mesmo tempo, eficazes para a salvação e perfeição de cada um deles em particular».

A Companhia de Jesus escolhida para a missão, já se achava preparada.

SANTO INÁCIO DE LOYOLA, o santo fundador da Companhia (1491-1556) soube pôr as almas no caminho seguro de chegar ao Sagrado Coração de Jesus. No livro dos Exercícios, termina o estudo sobre os mistérios da vida do Redentor com a meditação sobre o amor divino. Recitava muito frequentemente, e recomendou vivamente a oração «Anima Christi»*, na qual pede que sejam lavadas as manchas de sua alma com a água puríssima saída da chaga do Costado de Jesus e, ainda mais, pede com todo fervor para entrar nas chagas do Salvador, para viver nelas oculto de todos. Escondido na chaga do costado, tão vizinha do Coração de Jesus, não terá ele sentido as ardentes chamas que saíam da fornalha ardente desse Sagrado Coração?

* Alma de Cristo, santifica-me. Corpo de Cristo, salva-me. Sangue de Cristo, inebriai-me. Água do lado de Cristo, lavai-me. Paixão de Cristo, confortai-me. Ó bom Jesus, escutai-me. Dentro das vossas chagas, escondei-me. Não permitais que de vós me aparte. Do espírito maligno, defende-me. Na hora da morte, chamai-me e mandai-me ir para vós, para que, com os vossos santos, vos louve para todo o sempre. Amém.

S. FRANCISCO DE BÓRGIA (1510-1572), compôs uma oração belíssima à chaga do costado**; nessa oração só fala a palavra – coração: Te saúdo ó chaga santíssima do costado do meu Senhor… fonte limpidíssima de eterna felicidade… a lança do soldado te abriu, mas a Onipotência divina te conserva. Eu fixo em ti minha morada… coloco em ti tudo quanto eu sou… e humildemente imploro a bondade do meu Senhor, que por tua virtude me curou e por ti me sustenta a cada momento.

** Entenda-se por “chaga do costado”, a “Chaga do Lado de Cristo”, aberta pela lança do soldado Longino (Jo. 19, 34)

O BEATO CANÍSIO (1521-1527), o apóstolo da Alemanha, o martelo dos hereges, alcançou o fervor do apostolado na fonte da água viva, que é o Coração de Jesus. Ele conta o seguinte fato: «No dia da minha profissão, dirigia-me para o altar, quando apareceu-me um anjo e descobriu-me a miséria e o abismo de minha indignidade. Então vós, ó meu divino Redentor, abriste-me o vosso Coração, convidaste-me a chegar-me a ele, junto às águas da salvação, e me ordenaste que bebesse nesta fonte santa. Que desejo ardente tinha eu de ser inundado pelas águas do amor, de esperança e de fé, que eu via correr dela! Que sede de castidade, de obediência e de pobreza! Pedi-vos que me purificásseis, que me vestísseis de inocência, como no dia de meu batismo; finalmente, chegando os lábios sequiosos ao vosso dulcíssimo Coração, ousei matar minha sede nesta divina fonte.

E vós me prometestes, ó meu Deus, de vestir minha miséria com uma veste celeste de pano de três qualidades, que são os santos votos, e me garantiste ainda a paz, a caridade e a constância. Adornado com esta veste de salvação, fiquei profundamente convencido de que mais nada me faltaria, e que em tudo havia ser bem sucedido para vossa maior glória.»

Esta visão deixou na alma do Beato Canísio uma lembrança indelével e desde aquele momento ele começou a invocar o Sagrado Coração de Jesus com toda familiaridade; como um amigo que fala com outro amigo. Todos os dias recitava esta devota oração: «Vos louvo, bendigo, glorifico e saúdo, ó Coração amabilíssimo e dulcíssimo de Jesus, meu fidelíssimo amigo; vos agradeço a fidelidade com que me protegestes e guardastes esta noite e prestastes a Deus Pai a homenagem do louvor e de agradecimento que eu lhe devia. E agora, meu único amigo, ofereço-vos os meu coração, esconjurando-vos que neste dia me concedais que minhas palavras, meus pensamentos e a minha vontade sejam conformes à vossa amabilíssima vontade.»

S. LUÍS GONZAGA (1568-1591), segundo a revelação de Santa Magdalena de Pazzi, vivia estreitamente unido ao Divino Coração de Jesus. «Exclama ela: 'quão grande é a glória de S. Luís! Eu não acreditaria se o mesmo Deus não tivesse revelado. Luís, aqui na terra, amou muito: eis o motivo do seu grande gozo de Deus na plenitude do amor. Quando estava no mundo, Luís despedia flechas de amor para com o Coração do Verbo: agora que está no céu, goza da união com Deus, que mereceu por sua vida de ardente caridade na terra.'»

S. Luís morreu em 21 de Junho, que era justamente a sexta-feira depois da oitava da festa de Corpus Christi, dia que mais tarde foi escolhido para festa em honra do Sagrado Coração de Jesus. Em 1675, S. Luís apareceu ao seu irmão de religião, noviço da Companhia de Jesus, Nicolau Celestini, e curou-o com a condição de empregar a saúde que lhe era concedida em propagar a devoção ao Divino Coração de Jesus, devoção gratíssima ao céu.

S. AFONSO RODRIGUES (1543-1617). Como S. Luís Gonzaga foi cheio de ternura e ardente devoto do Sagrado Coração de Jesus. Tratando dos vários modos de união e transformação da alma em Cristo, habitando Cristo no alma e a alma no Sagrado Coração de Jesus, dizia: «Quando meditares na paixão do teu Deus, entre dentro de seu aflito e angustiado Coração, e tendo tomado lugar nesta morada celestial do seu Coração, chora os teus pecados lá dentro; chora o grande o mau que eles fizeram.» E continua: «A alma tendo entrado no Coração de Jesus, entre outras coisas ele lhe comunicará estas, que tanto ama nas almas, grande pureza e limpeza da alma e ardente amor para o mesmo Cristo, fazendo contigo o que tantas vezes vemos acontecer com o ferro, que está no fogo, que se torna fogo.

Como o Coração de Jesus é fogo de amor, estando n'Ele, que inflama as almas, Ele fará de maneira que tu te transformes em fogo de amor. Dentro do seu Coração bendito, Ele te concederá a graça de imitá-lO… para que vivas e sofras com Ele com amor e por amor.»

Prossegue o Santo: «A primeira união e transformação da alma em Cristo, é quando a alma encerra-se em Deus. Para dizer melhor, é quando Jesus Cristo a põe dentro do seu Coração e a faz habitar n'Ele. E lá dentro, comunica-lhe um grande conhecimento de sua paixão… de si mesmo e de seu grande amor, e um grande conhecimento de si mesma; e dá-lhe um grande amor e uma verdadeira união co o mesmo Jesus Cristo… tudo isto é o resultado do grande amor que ganhou lá dentro do Coração de Jesus»… Outra transformação é quando a alma, dentro do Coração de Jesus, Ele mesmo acende nela o seu amor, assim inflamada se abandona inteiramente à vontade de seu Jesus amado e Ele a possui.»

O VENERÁVEL PADRE JOSÉ DE ANCHIETA*** (✞1597). Primeiro apóstolo do Brasil, em 1585, um século antes das grandes revelações de Paray, fez uma Igreja em honra do Sagrado Coração de Jesus, na Diocese do Espírito Santo. A Igreja, que sem dúvida, é a primeira consagrada ao dulcíssimo Coração de Jesus, restaurada e solenemente consagrada em 1880, apresenta ainda alguns vestígios da devoção amada de seu fundador. No frontispício da Igreja, existe uma antiga pintura, que representa um cálice e sobre ele a imagem do Sagrado Coração de Jesus com a Cruz em cima. No interior, em meio da arcada do coro, vê-se, ligeiramente apagada, mais uma outra imagem do Coração de Jesus, que tem na chaga uma cruz no lugar da lança. No ano de 1562 ele publicou uma oração em latim, na qual exprimia o desejo ardente de entrar pela chaga do costado no Coração de Jesus, no qual propunha viver.

    *** O Pe. José de Anchieta foi beatificado em 1980 pelo Papa João Paulo II, e canonizado, em 2014, pelo Papa Francisco. É tido como o Apóstolo do Brasil.

Muitos outros padres da Companhia de Jesus se destacaram na propagação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, como: o Pe. João Baptista de Sainte Jure (1588-1657), o Pe. Jacó Noute (1608-1680), o Missionário João Baptista Zappa (1651-1694), que teve uma vida muito semelhante a de Sta. Margarida Maria, o Pe. Mathias Hajnal (1578-1644), considerando o Apóstolo da devoção do Sagrado Coração de Jesus na Hungria, dentre outros, além dos que, em nossos dias, se dedicam a propagar e a reavivar esta preciosa devoção ao Divino Coração de Jesus.


Por Maria a Jesus!


Sou Todo teu, Maria.


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FONTEin Eu Reinarei A devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu Desenvolvimento Histórico, Pe. Fernando Piazza, OSC, tradução do Dr. Saladino de Aguiar, Edição da Escolas Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. XIII, pp. 168-173 – Texto revisto e atualizado, com destaques acrescidos e o título é nosso.

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