«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 10 de abril de 2020

NA SEXTA-FEIRA SANTA O CORAÇÃO DE JESUS FOI ABERTO COM UMA LANÇA


NA SEXTA-FEIRA SANTA O CORAÇÃO DE JESUS FOI ABERTO COM UMA LANÇA


O Coração de Jesus aberto pela lança do soldado (Foto: Wikimedia)

(Após a morte de Jesus) A multidão voltava arrependida batendo no peito, mas os príncipes dos sacerdotes continuavam a injuriar o corpo do Senhor.

Havia uma lei que dizia: Quando um homem tiver cometido um crime que deve ser punido com a morte, e for executado por enforcamento numa árvore, o seu cadáver não poderá ficar ali durante a noite, mas tu o sepultarás no mesmo dia; pois aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina. Assim, não contaminarás a terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança (Dt 21, 22-23).

O Senhor fazendo-se por nós maldição ( GI 3, 13), alcançou para nós a salvação. Os sacerdotes desejavam cumprir a lei, sepultando-o naquele mesmo dia, mas também havia outra razão, o dia seguinte era sábado, dia sagrado (cf. Ex 12, 16).

Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados (Jo 19, 31) .

Sendo sábado solene, não convinha estragar a festa com uma cena tão deprimente, corpos pendurados na cruz, contaminando a terra. A aparente preocupação religiosa era na realidade uma falsidade, queriam que o povo esquecesse todo o ocorrido e, principal mente, esquecessem de Jesus. Com os corpos visíveis a todos, muitos comentários surgiriam. Então pediram para que Pilatos apressasse a morte deles e que fossem retirados das cruzes. O costume era deixar os crucificados agonizando na cruz, muitas vezes durante dias, e depois deixar o corpo para que as aves de rapina se alimentassem. Quebrando-lhes as pernas, não teriam mais forças para respirar e morreriam rapidamente.

O eclipse solar, os tremores e o véu do templo rasgado, não foram capazes de abrir os olhos dos sacerdotes. Eles não sabiam que o Senhor já estava morto, e quebrando-lhe as pernas, além da crueldade, acabariam com tudo.

Tudo tinha que se cumprir: Não lhe quebrarás osso algum (Ex 12, 46); não quebrarão nenhum dos seus ossos (Nm 9, 12); Ele protege cada um de seus ossos: nem um só deles será quebrado (SI 33, 21). Assim se cumpriu a Escritura: nenhum dos seus ossos será quebrado (Jo 19, 36). Apesar dos inimigos desejarem o contrário.

O Senhor morreu quando quis, a pesar do esforço dos sacerdotes. Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas (Jo 19, 32-33). Naquela mesma hora o ladrão arrependido foi levado ao Paraíso.

Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança (Jo 19, 34) para ter certeza que estava morto. De igual modo, os nossos pecados atravessam o coração de Jesus.

Abrindo-lhe o lado, feriu seu coração, fonte da vida e da água eterna. A Igreja canta em seus hinos: doce madeiro, doces cravos que sustentaram tão preciosa carga.

No entanto, a lança é chamada de "ferro cruel". Ao abrir o seu lado, foi aberto a porta do amor, e o Senhor nos quer assim, com o seu Coração ferido.

Santo Agostinho comenta que o evangelista não diz feriram seu corpo, mas abriram indicando que se abria a porta da vida, de onde jorram os Sacramentos da Igreja, sem os quais não se alcança a vida eterna1.

Eva tinha nascido do lado do homem velho, Adão. Quando foi aberto seu lado, Adão dormia; Eva foi chamada mãe dos viventes.

O novo Adão, Jesus, também dormia, mas o sono da morte; e de seu lado aberto fez nascer a Igreja viva, mãe dos santos, mãe de todos os viventes.

Do lado aberto imediatamente saiu sangue e água (Jo 19, 34), da qual foi formada e enriquecida sua Igreja. Este mistério é grande (Ef 5, 32).

Este é o consolo dos a batidos, a fortaleza para os que sofrem tentações, o refúgio dos pecadores. A porta por onde os homens se santificam. É a porta que Deus mandou Noé fazer na lateral da arca, para que entrassem todos que haviam de se salvar do dilúvio (Cf. Gn 6, 16). É a porta do templo, chamada Formosa (At 3, 2), refúgio em que sempre se encontra misericórdia e salvação. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo (Jo 10, 9). É a porta cuja chave só os amigos de Deus possuem. É a porta que desce à adega, onde se embriagam com o vinho do seu amor. Esta é a porta do Senhor: só os justos por ela podem passar (SI 117, 20).

O nosso coração está todo ele aberto. Não é estreito o lugar que nele ocupais (2Cor 6, 11-12). Se São Paulo podia dizer isto, podemos imaginar como é o coração de Jesus, onde cabe toda humanidade. Para uma casa tão grande, era necessária uma porta igualmente grande, onde estão escritos os nomes de todos os homens.

Depois de ressuscitado, permaneceu com o lado aberto, troféu de sua vitória. Por isso, quando Tomé colocou os dedos na ferida o entendimento foi iluminado e acreditou; inflamado de amor, pode dizer: Meu Senhor e meu Deus (Jo 20, 28).

Como atrai suavemente esta ferida! O coração ferido abraça os homens e os tornam seus amigos. Por isso, o Senhor apareceu aos apóstolos depois de ressuscitado e mostrou as mãos e o lado aberto. Agora, além de ferido, o coração está todo aberto.



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1 Cf. Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João.



FONTE: in, A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, Sexta-Feira Santa – Abriu-lhe o Lado com uma Lança pp. 213-216. O título é nosso.

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