«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

19 DE AGOSTO – DIA DE SÃO JOÃO EUDES, CONFESSOR, “APÓSTOLO E AUTOR DO CULTO LITÚRGICO AO CORAÇÃO DE JESUS” + 1

 19 DE AGOSTO – DIA DE SÃO JOÃO EUDES, CONFESSOR, “APÓSTOLO E AUTOR DO CULTO LITÚRGICO AO CORAÇÃO DE JESUS” + 1

O Santo Padre Pio X chama-o Pai, Doutor e Apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Aceso ele mesmo de um ardente fogo de amor para com os Sagrados Corações de Jesus e Maria.


Autor do culto litúrgico

Entre os apóstolos, que com obra providencial prepararam as almas para o grande acontecimento que foi a revelação solene do Sagrado Coração de Jesus, merece um dos primeiros lugares São João Eudes*. A eficácia de seu apostolado foi reconhecida por dois Pontífices: por Leão XIII no decreto sobre a heroicidade de suas virtudes, e por Pio X, quando decretou sua beatificação. Leão XIII chamou-o o autor do culto litúrgico dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria: «Auctor cultus liturgici Sacrorum Cordium Jesu et Mariae». E Pio X chamou-o Pai, Doutor e Apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Aceso ele mesmo de um ardente fogo de amor aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, teve por primeiro e não sem uma inspiração divina, a ideia de um culto público para honrá-los, assim diz o decreto.

* Substituímos a expressão “Beato” por “São” João Eudes, pois foi canonizado em 25 de abril de 1925, por sua Santidade o Papa Pio XII, isto é, depois da publicação da obra fonte desta postagem.

Deve ser considerado como pai deste culto tão doce, tendo ele, pela fundação de sua congregação, feito que seus filhos celebrassem a solenidade destes Corações; como doutor, porque compôs o ofício e missa em sua honra; e como apóstolo, tendo trabalhado sempre com zelo infatigável em propagar a devoção destes Corações1.

João Eudes nasceu em Ri, num arrabalde de Argentan na diocese de Seez no dia 14 de Novembro de 1601. Quando menino frequentou o Colégio dos Jesuítas de Caen, e mais tarde entrou na Congregação do Oratório, e foi ordenado sacerdote no fim do ano de 1625. Discípulo dos santos sacerdotes Padres Berulle e Condren, aumentou sua devoção por Jesus e Maria, que tinha nutrido desde menino. E na aplicação ao estudo e na meditação das obras de Santa Gertrudes e Santa Mathilde, de Lansperge e de Blosio, descobriu um novo objeto da sua devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Nestes Corações encontrou tesouros de bondade e de amor, e arrebatado pela grandeza e suave beleza destes Corações, sentiu a necessidade de comunicar aos outros sua preciosa descoberta.

Para realizar seu intento, desligou-se da Congregação do Oratório e fundou o Instituto de Jesus e Maria e o das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade. O emblema destas congregações será um coração, encimado pela cruz e pelas imagens de Jesus e Maria; e devem ter exercícios e práticas especiais para honrar e fazer que sejam honrados os dois Corações de Jesus e de Maria. O Santo, na primeira parte de seu apostolado, ocupou-se especialmente do Imaculado Coração de Maria; celebrou e fez celebrar com pompa a sua festa pelos fiéis. Em seguida, o seu apostolado abrangeu o Sagrado Coração de Jesus. Fazia sua festa sempre com a maior solenidade possível, e quis que ela fosse a festa principal nas suas congregações.

São João Eudes, fundador das Congregações Instituto de Jesus e
Maria e das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade.

Em 1670, o Santo publicou um opúsculo intitulado: «A devoção ao Adorável Coração de Jesus» com acréscimo do Ofício e da Missa, como também muito tempo antes de 1637 tinha publicado um volume com o título: «O Reino de Jesus», no qual, em união ao seu amor ao Coração de Jesus, encontramos os pensamentos e algumas vezes as expressões que ele usava para cantar os louvores do Sagrado Coração de Jesus. A liturgia composta por ele em honra do Sagrado Coração de Jesus, em pouco tempo alcançou a aprovação de cinco Bispos, que permitiram também que se estabelece com oitava nos seminários da Congregação.

Festa do Sagrado Coração

No intuito de aumentar o fervor de seus religiosos a fim de celebrarem a festa solene do S. Coração, expediu-lhes, em 29 de Julho de 1672, uma circular, vibrante de amor pelo Coração Adorável de Jesus.

Dizia-lhes: «Nosso Senhor fez-nos uma graça inefável, dando à nossa Congregação o Coração admirável de sua Mãe Santíssima. Mas sua bondade não se contentou só com isto: ela foi ilimitada conosco, dando-nos além disso o seu Coração. Que este, com o Coração de sua gloriosa Mãe, seja o fundador e o superior, o princípio e o fim, o coração e a vida desta mesma congregação ...

A DIVINA PROVIDÊNCIA, que tudo governa com maravilhosa sabedoria, quis que a festa do Coração de Maria se fizesse antes da do Coração do Filho, a fim de preparar o caminho nos corações dos fiéis para veneração daquele adorável Coração, e para dispô-los a receber do céu a graça desta nova festa por meio por meio da grande devoção com que celebraram a outra ... Esta fervorosa devoção fez sim, que a Mãe alcançasse de seu Filho o favor assinalado de dar também Ele à Igreja a festa do seu Coração real, que será nova fonte de bênçãos para todos que se dispuserem a celebrá-la santamente, mas quem não fará a festa deste modo? ... E que Coração mais adorável e amável do que este, do Homem-Deus, que se chama Jesus? Que amor não merece este Coração Divino, que sempre deu e dará sempre a Deus maior glória e amor a todo instante do que todos os corações dos Anjos e dos homens poderão ter-Lhe dado em toda eternidade? Que zelo não devemos ter para honrar este Coração augusto, fonte de nossa salvação, origem de toda felicidade no céu e na terra, fornalha de amor por nós, que pensa dia e noite em fazer-nos benefícios infinitos e que se despedaçou na cruz por nosso amor? ...»

«Eis aí o oficio e a Missa que vos mando, aprovados por nossos Bispos. Empreguemos todo cuidado e diligência e todo fervor em bem celebrá-la. Convidai todos os amigos e pessoas piedosas a particparem da festa; e se receberdes em tempo esta minha carta, publicai-a; e se der tempo, pregai sobre ela; jejuai na vigília: na véspera ou no dia anterior, dai um jantar a doze pobres no refeitório. Comunicai-me como passou a festa». Neste ano de 1672 escrevia o Padre Du-Faur, secretário do Santo: «começamos a festa do Divino Coração de Jesus no dia 20 de Outubro, com as indulgências das Quarenta Horas»2. Cumpriu-se escrupulosamente tudo quanto o Santo tinha prescrito. As solenidades foram pomposas e houve um sermão sobre a grandeza e a bondade do Coração de Jesus para instrução dos fiéis.


A festa prescrita pelo Santo foi adotada por alguma Congregações religiosas. A Abadessa das Beneditinas de Montmartre, de quem o Santo Apóstolo era o diretor, apressou-se a adotá-la na sua comunidade; e fizeram o mesmo as Beneditinas do SS. Sacramento e algumas outras comunidades de Carmelitas, Visitandinas e Ursulinas.

Além da festa, o zelo do Santo, se exercitava, e também seus missionários, na direção das devotas confrarias do Sagrado Coração. Aproveitavam todas as ocasiões e todas as circunstâncias para inculcá-las e fundá-las por toda parte. E os fiéis correspondiam com entusiasmo ao apelo dos missionários.

O primeito Teológo e seu Testamento

Entretanto o homem de Deus continuava a trabalhar no conclusão de seu livro, que seria um resumo de toda a sua vida. Poucas semanas antes de sua morte, pôde escrever: «Hoje Nosso Senhor me deu a graça de acabar meu livro: Do Coração Admirável da SS. Mãe de Deus». Em 19 de Agosto de 1680 morria na idade de setenta e nove anos.

O livro do Santo foi publicado dois anos depois, em 1682. A obra era dividida em doze livros, dos quais onze tratavam do Coração Imaculado de Maria, e o duodécimo é consagrado ao Sagrado Coração de Jesus. «Não é justo, disse o Santo, separar duas coisas unidas por Deus tão estreitamente com mais forte vínculo, e com o mais estreito nó pela natureza, pela graça e pela glória: quero dizer, o Coração de Jesus, filho único de Maria, e o Coração virginal de Maria Mãe de Jesus, isto é, o Coração do melhor do Pai que possa haver e da melhor Filha que existe e que possa existir ... Estes dois Corações são tão intimamente unidos, que o Coração de Jesus é o princípio do Coração de Maria, como o Criador é o princípio da criatura, e o Coração de Maria é a origem do Coração de Jesus, seu Filho.»

Nas obras do Santo pode-se estudar o primeiro tratado teológico da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.


Como se não fosse o bastante ao Santo ter inculcado tão eficazmente com exemplo e com a palavra a cara devoção aos seus filhos, deixou-a em seu testamento como um legado que lhes fazia.

Não têm riquezas para deixar-lhes, todavia, possui um tesouro inteiramente seu, e este deixa-lhes como preciosa herança.

«Com toda energia da minha vontade, diz o Santo em seu testamento, me dou ao amor incomparável, com o que meu Jesus e a minha Mãe Santíssima, me têm dado de modo especial o seu amantíssimo Coração, e em união deste amor, dou este Coração como coisa minha, e de que posso dispor para a glória de meu Deus: eu lego-a à pequena Congregação de Jesus e Maria, para que seja a herança, o tesouro, a principal porção, o coração, a vida, e a regra dos vários filhos desta Congregação.»

«E do mesmo modo dou e dedico esta mesma Congregação a este Divino Coração, para ser consagrada ao seu amor e ao seu louvor no tempo e na eternidade; esconjurando-os e suplicando aos meus amados Irmãos a esforçarem-se por tributar-Lhe e fazerem que seja amado com todo amor que puderem e fazer-Lhe a festa, rezar o seu ofício nos dias destinados no nosso Próprio, com toda devoção de que forem capazes, que façam em todas as missões alguma prática sobre este assunto, de esforçarem-se por imprimir nos seus corações uma pequena imagem das virtudes deste Coração Santíssimo, e considerá-lo e imitá-lo como a primeira regra de sua vida e do seu comportamento, e que se deem a Jesus e a Maria em todas as suas ações para praticá-las no amor na humildade e em todas as disposições do coração3, para alcançarem por este meio de graça de amar e glorificar a Deus com um coração digno d'Ele 'corde magno et anima volente', tornando-se, assim, segundo o Coração de Deus e verdadeiros filhos do Coração de Jesus e de Maria.»

«De igual modo, dou este preciosíssimo Coração a todas as minhas filhas, as Irmãs de Nossa Senhora da Caridade, e às Carmelitas de Caen e a todos os outros meus filhos espirituais ... A todos, pois, e a cada um, dou este Coração suavíssimo com as intenções que acima tinha dito.»4

Um digno Precursor

Depois de tanto haver feito São Eudes para propagar a devoção ao S. Coração de Jesus, com exortações particulares, sermões, festas públicas, com a Missa e o ofício compostos por ele, com a fundação de confrarias e todo esse trabalho com a aprovação de sete Bispos e o concurso de Roma, não lhe caberá o título de apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, com tanto direito como a Santa Margarida Maria Alacoque?

A devoção solenemente aprovada pela Igreja e praticada pelos fiéis, nasceu em Paray, revelada por Nosso Senhor à humilde Visitandina e por uma missão particular que lhe foi confiada, ela espalhou às almas. Nosso Senhor, na sua economia, deixou de parte o teológo profundo e ardente missionário e escolheu para realizar o grande acontecimento à pobre religiosa da Visitação e a ela confiou a grande missão de espalhar a nova devoção, e a ela pediu a instituição da festa do Sagrado Coração de Jesus, e, por meio dela, dignou-se publicar as grandes promessas, que fez em vantagem dos devotos do seu Divino Coração.

Sem dúvida, entre os predecessores da Santa de Paray, foi São João Eudes quem mais se esforçou em dilatar a devoção ao Sagrado Coração e quem mais alcançou a piedade dos fiéis: mas fica sempre precursor. Seu mérito foi dispor os ânimos, preparando o terreno para que a nova devoção fosse recebida com fervor. A sua principal obra foi ocupar-se primeiramente de alcançar a aprovação da festa em honra do Sagrado Coração de Maria, e depois de vencer muitas dificuldades, conseguiu esta festa; de modo que a devoção e o amor das almas ao Coração admirável da Mãe de Deus se propagou especialmente na Borgonha e na Normandia.


Uma vez estabelecida a festa em honra do Coração da Mãe, era natural e lógico que se tratasse da festa do S. Coração de Jesus. A solenidade celebrou-se primeira nas cidades, onde havia religiosos de sua congregação, e só mais tarde, estendeu-se para outros lugares.

A devoção de São João Eudes cedeu campo à devoção de Paray. Mesmo a liturgia do Santo não sobreviveu senão nas casas dos seus religiosos, e mesmo aquelas Congregações que a tinham adotado, deixaram-na para abraçar a nova liturgia. Nos dois apóstolos é comum a santidade de vida e o ardor do apostolado. A missão da religiosa Visitandina difere da missão do Padre Eudes, no seguinte: ela se apresenta com fatos tão extraordinários de modo a impor-se à Igreja e determinar aquele movimento feliz das almas para o Sagrado Coração de Jesus, que aumentou cada dia mais e se estendeu por toda parte.



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1 Lebrun. Le Bienh etc., pg. 260.

2 Boulay vida, pg. 452.

3 O Santo usa de preferência esta expressão hoje em desuso: “Sagrado Coração”, para indicar o Coração de Jesus e de Maria.

4 Vida, pg. 545.


FONTE: in Eu Reinarei A devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu Desenvolvimento Histórico, Pe. Fernando Piazza, OSC, tradução do Dr. Saladino de Aguiar, Edição da Escolas Profissionais do Lyceu Coração de Jesus, São Paulo/1932, excertos do Cap. XI, pp. 143-153 – Texto revisto e atualizado, com destaques acrescidos, título e subtítulos são nossos.

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ORAÇÃO AO DIVINO CORAÇÃO DE JESUS DE S. JOÃO EUDES

(OC 11, 468, itens 159, 162 e 163)


Deus Pai das misericórdias,

E fonte de todo consolo,

Que pelo imenso amor com que nos amaste

Nos deste o Coração amantíssimo

De Teu Filho unigênito

Para que fazendo com ele um só coração

Amemos-te com amor perfeito,

Concede-nos viver em intensa caridade entre nós

E em união perfeita com este divino Coração,

Para que vivendo em seu amor e sua humildade

Se realizem os justos desejos de nosso coração.

Amém.



Coração de Jesus,

O Pai das misericórdias

E Deus de todo consolo

Ao dar-me a Jesus me deu teu Coração

Para que seja meu coração:

Ama por mim tudo o que eu devo amar

E da maneira como Deus quer que eu ame.

Escuta-me, Coração, fogueira de amor.

É uma humilde folha de grama quem o pede,

Com humildade e encarecimento,

Ver-se abismada, absolvida, perdida,

Devorada e consumida em tuas sagradas chamas para sempre.



Jesus, tu me deste teu próprio Coração

Para que seja o princípio da minha vida.

Rogo-te que seja também a única fonte

De meus sentimentos e afeto,

De tudo que faz meu espírito,

De meus sentimentos interiores e exteriores.

Faz com ele seja a alma de minha alma,

O Espírito de meu espírito

O Coração de meu coração.



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FONTE: opúsculo Oremos com São João Eudes, Edições Shalom, 2017, pp. 125-126 e 151 a 153.

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