«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 2 de abril de 2021

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE ABRIL DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEXTA-FEIRA SANTA

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE ABRIL DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEXTA-FEIRA SANTA

O CORAÇÃO DE JESUS ABERTO NO GÓLGOTA – SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

Vamos ao Calvário: aí acharemos o Coração de Jesus aberto para todos. Quando os soldados foram quebrar as pernas aos dois ladrões, vendo que Jesus já estava morto, não lhe aplicaram o mesmo tormento. Mas um deles abriu-lhe o lado com a lança, e no mesmo instante correu sangue e água. (Jo. 19, 34) Conforme S. Cipriano, a lança foi diretamente ferir o Coração de Jesus Cristo de tal modo que foi dividido em duas partes, segundo a revelação feita a Santa Brígida. Crê-se por conseguinte, que a água saiu do lado de Nosso Senhor com o sangue, visto que a lança, para atingiu o Coração, teve de ferir primeiro o pericárdio, isto é, a membrana que o cerca.

Santo Agostinho nota que o evangelista se serviu da palavra abrir: Aperuit, porque então se abriu no Coração do Salvador a porta da vida, por onde saíram os sacramentos, sem os quais não se pode chegar à vida eterna. Diz-se que o sangue e a água que correram do lado de Jesus Cristo, foram a figura dos sacramentos, porque a água é o simbolo do batismo, que é o primeiro dos sacramentos, e o sangue do divino Salvador é contido na eucaristia, que é o maior dos sacramentos.

S. Bernardo ajunta que Jesus Cristo quis receber a lançada que lhe fez uma chaga visível para nos dar a entender que seu Coração trazia uma chaga invisível de amor para com os homens. Quem, então, conclui este grande santo, não amaria este Coração ferido de amor?

Ó meu Redentor, de tal maneira tendes amado os homens, que não é possível que deixe de amar-vos quem pensa nisto, porque vosso amor faz violência a nossos corações, como diz o Apostolo. (2 Cor. 5, 14) Este amor do Coração de Jesus aos homens vem do amor que ele tem a seu Pai; por isso é que ele dizia depois da ceia: A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai, levantai-vos; vamos. (Jo. 14, 31) E aonde queria ir ? Morrer pelos homens sobre a cruz.

Nenhuma inteligência pode compreender o ardor deste fogo divino no Coração de Jesus Cristo. Se, em vez de uma só morte, necessário lhe fosse padecer mil, Jesus tinha amor bastante para sofrê-las. Se lhe fosse preciso sofrer para salvação de um só homem o que ele sofreu por todos, nosso Salvador não se teria negado a uma só de suas imensas dores. Se, enfim, em lugar de ficar três horas na cruz, necessária lhe fosse ficar até o dia do juízo, Jesus amorosamente padeceria ainda este longo suplício. De sorte que o Coração de Jesus amou muito mais do que padeceu. Ó Coração de Jesus, vossa ternura e muito maior do que todos os sinais que me tendes dado dela. Estes sinais são grandes, porque tantas chagas, tantas machucaduras, anunciam ardente amor; entretanto, só descobrem uma fraca parte da realidade nós temos visto sair apenas uma centelha deste imenso fogo de amor. A maior prova de amor é dar a via a pelos amigos; isto não bastou a Jesus para exprimir toda a ternura do seu Coração: ele foi morto pelos seus mais cruéis inimigos. Este prodígio de amor assombra as almas santas, e as arrebata fora de si mesmas; faz nascer nelas os abrasados afetos, o desejo do martírio, a alegria nos padecimentos; ele é que faz triunfar nas grelhas ardentes, caminhar sobre os carvões acesos como sobre rosas, suspirar pelos tormentos, amar o que o mundo teme, abraçar com alegria o que o mundo aborrece. Por quanto Santo Ambrósio diz que uma alma unida a Jesus na cruz, não acha nada mais glorioso que trazer sobre si as insígnias de seu Esposo crucificado. Como, ó terno Coração de meu Salvador, como poderei vos pagar este amor incomparável que me haveis testemunhado? Justo é que o sangue compense o sangue. Ah! não me ver eu coberto deste sangue divino e cravado nesta cruz que abraço! Ó Cruz santa, recebe-me com Aquele que em ti está cravado para minha salvação. Ó coroa, alarga-te, para que eu possa unir minha cabeça a do meu terno Senhor. Ó cravos crudelíssimos, saí das mãos inocentes de meu Deus, vinde penetrar meu coração de compaixão e amor.

S. Paulo nos afirma, ó meu Jesus, que vós morrestes para reinar sobre os vivos e sobre os mortos, não pelos castigos, mas pela doçura de vosso amor. Ó conquistador dos corações, a força de vosso amor soube quebrar a dureza dos nossos. Vós abrasastes o mundo inteiro com vosso amor. (Lc. 6, 37) Ó Jesus, vossa Cruz e um arco armado para ferir os corações. Saiba o mundo todo que eu tenho o coração ferido … Ó Coração amantíssimo, que fizestes? Viestes para me curar, e me feristes!... Viestes para me ensinar a bem viver, e me tornastes como insensato!... Ó loucura cheia de sabedoria, não viva eu jamais sem vós! Senhor, tudo o que meu olhar descobre na Cruz, convida-me a vos amar; os cravos, os espinhos, o sangue, as chagas, principalmente vosso Coração traspassado, tudo me convida a vos amar e a não vos esquecer jamais.

Prática

Por amor do Sagrado Coração, perdoo desde já a todos os meus inimigos. Minha reconciliação com eles se fará quanto antes possível; procurarei até esquecer as ofensas que eles me fizeram. Perdoai, e sereis perdoados, diz Jesus. (Lc. 6, 37)

Afetos e súplicas

Eu meu compadeço, ó Mãe aflitíssima, da dor pungente que sentistes, quando vistes traspassar o doce Coração de vosso Filho morto, e morto por esses ingratos que, depois de lhe terem tirado a vida, procuravam ainda atormentá-lo. Por este cruel tormento, cuja pena sentistes, ó Mãe das dores, eu vos suplico me obtenhais a graça de habitar no Coração de Jesus ferido e aberto para mim, nesse Coração, que é o belo asilo, o retiro de amor, onde vão repousar todas as almas que tem verdadeiro amor a Deus, e onde Deus só, enquanto eu aí ficar, será o objeto de meus pensamentos e afetos. Virgem Santíssima, vós podeis alcançar-me esta felicidade, de vós a espero.

Oração Jaculatória

Ó Coração aberto para ser o refúgio das almas, recebei-me.

Exemplo

S. Atanásio referiu a historia seguinte aos Padres do Concilio de Nicéa. Um cristão de Beryto, devendo mudar de habitação, esqueceu levar consigo, por descuido, uma bela imagem de Nosso Senhor em tamanho natural. A Providência quis que, depois de sua partida, um judeu fosse habitar na mesma casa, sem dar atenção a imagem que aí ficara. Tendo outro judeu visto a imagem, correu a avisar os rabinos do fato que presenciara. Estes, indignados, foram à casa indicada, e, vendo a imagem de que lhes tinham falado, exclamaram referindo-se a Cristo: «Como outrora ele serviu de joguete a nossos pais, a nós também sirva agora.» E começaram a lhe escarrar no rosto, a lhe dar bofetadas, a ferir a santa imagem, dizendo: «Tudo o que nossos pais fizeram ao Nazareno, façamos à sua imagem.» E então meteram cravos nas mãos e pés do Salvador. Continuando na sua impiedade, disseram: «Consta-nos que lhe darão a beber fel e vinagre; façamos nós também a mesma coisa.» Depois disseram: «Sabemos que nossos pais feriram sua cabeça com uma cana, firamo-la da mesma sorte.» E, tomando uma cana, feriram a cabeça do Salvador. Enfim, acrescentaram; «Afirmam que nossos pais traspassaram seu lado e seu Coração com uma lança. Façamo-lo também, e ajuntemos este ultraje aos outros.» E um deles feriu com uma lança o lado do Senhor. Mas, ó prodígio! eis que grande quantidade de sangue e água corre por esta abertura... Vendo isto, disseram entre si: «Aqueles que adoram o Crucificado faliam muitas vezes de curas por ele operadas. Tomemos deste sangue e desta água, levemos à sinagoga, reunamos todos os doentes, unjamo-los, e veremos si é verdade o que dizem.» Eles aproximaram então um vaso do lado aberto pela lança, encheram-no de sangue e água que corriam dele, e o levaram. Proferindo blasfêmias. E tendo reunido todos os enfermos, ungiram primeiramente em presença de todos os outros, um paralítico de nascimento, e de repente este se ergue e salta diante dos assistentes: estava perfeitamente curado. A esta notícia comoveu-se toda a cidade, os habitantes se deram pressa em levar para o lugar toda sorte de enfermos: paralíticos; coxos, cegos, leprosos, e, à medida que os enfermos eram ungidos, cobravam saúde. À esta vista todos os Judeus exclamaram: «Glória ao Cristo, que nossos pais crucificaram, e nós crucificamos na sua imagem! Glória ao Filho de Deus, autor de tão grandes milagres! Nele cremos.» Eles então pediram o batismo, e o bispo aquiescendo ao seu desejo, passou muitos dias batizando-os. Santo Atanásio, por esta narração, comoveu todos os Padres do Concílio e fez correr as lágrimas. Desta sorte é que ele mostrou que se deve honrar as santas imagens, e que elas eram a fonte das maiores graças. (Labbe. Conc. t. 7) Imitemos nosso divino Mestre, cujo coração foi tão benfazejo para com seus mais cruéis inimigos, e demos, como ele, o bem pelo mal.



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FONTE: livro “O Sagrado Coração de Jesus Segundo Santo Afonso Maria de Ligório ou Meditações Para o Mês do Sagrado Coração, a Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês”, tradução portuguesa da 83ª edição, por D. Joaquim Silvério de Souza, Quinta Edição/1926, Ratisbona Typographia de Frederico Pustet, Impressor da Santa Sé, pp. 130-136 – Texto revisto e atualizado, e o título desta postagem é nosso)

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