«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 16 de abril de 2021

GARCÍA MORENO, UM PRESIDENTE MORTO POR CONSAGRAR O PAÍS AO SAGRADO CORAÇÃO

GARCÍA MORENO, UM PRESIDENTE MORTO POR CONSAGRAR O PAÍS AO SAGRADO CORAÇÃO



No dia seis de agosto de 1875, na principal praça de Quito, Equador, morria um homem. Era a primeira sexta-feira do mês. Um pouco antes, depois de passar um tempo em adoração ao Santíssimo Sacramento na Catedral, o homem dirigiu-se ao Palácio Presidencial para reunir-se com seus ministros. Quando aproximava-se do Palácio, uma emboscada o esperava e ele foi abatido por golpes de facão, com gritos de seus algozes: “Morra, assassino da liberdade!” ao que respondia o homem: “Deus não morre”. Ele viveria tempo suficiente para receber a Extrema Unção e fazer as pazes com seus carrascos, perdoando-os sinceramente. Assim foram as últimas horas de Gabriel García Moreno.

García Moreno havia acabado de ser reeleito Presidente da República do Equador para um terceiro mandato. Seus amigos alertaram-no insistentemente sobre as conspirações maçônicas para assassiná-lo e pediram que o homem arrumasse um guarda-costas. A este último pedido, terminantemente ele negou. Descartando tais admoestações, dizia ele:

Não posso consentir em ter uma guarda. Meu destino está nas mãos de Deus, Aquele que irá me levar deste mundo na hora e da forma que mais agradá-lO.”

Gabriel García Moreno é conhecido como o maior estadista católico da era moderna. Diferente de muitos políticos modernos que avaliam a grandeza de uma civilização pelo seu progresso material, García Moreno entendeu que o critério decisivo para uma civilização de verdade estava na perfeição moral e religiosa de seu povo.

Os primeiros anos

Em meio às guerras sul-americanas pela independência, nascia o jovem García Moreno em Guayaquil, no quarto dia de dezembro de 1821. Seu pai era emigrado da região de Castela e sua mãe era de família cujos membros ocupavam importantes cargos civis e eclesiásticos tanto na Espanha quanto no Novo Mundo. Ambos foram fervorosos na Fé católica e criaram oito filhos, sendo Gabriel o mais novo.

Por ter perdido o pai enquanto ainda era menino, García Moreno não teve a mesma educação que seus irmãos mais velhos. Foi então que um monge de um mosteiro local tomou o jovem sob sua tutoria e educou-o nos assuntos elementares. O garoto, assim, daria grandes passos. Ao mudar-se para Quito para cursar o ensino médio, ele estudou matemática, filosofia e ciências naturais no Colégio de San Fernando, dentro da Universidade de Quito, além de adquirir fluência em francês e inglês nesta mesma época.

Naqueles anos, a piedade de García Moreno já era notável entre seus amigos. Ele estava presente em todos os exercícios religiosos e recebia a Sagrada Comunhão semanalmente. Ele chegou a pensar que teria uma outra vocação e, brevemente, fez uma experiência clerical. No entanto, ele depois descobriria que seu chamado era de o de estar no mundo.

Por amar a justiça e ver nesta disciplina um meio para entrar na vida pública, García Moreno iniciou os estudos do Direito. Ele chegou ao grau de Doutor em Direito aos 23 anos. Como advogado, ele recusava em absoluto qualquer caso que a justiça não estivesse ao seu lado. Uma vez solicitado por um juiz para defender um famoso assassino, ele rejeitou e disse: Seria mais fácil tornar-me eu mesmo um assassino do que defender um.

Ele não exerceu a advocacia por muito tempo e logo mudou para o jornalismo. Pouco tempo depois da volta dos Jesuítas ao Equador, uma polêmica emergiu quando a maçonaria publicou um panfleto desonesto onde caluniava a ordem religiosa. García Moreno, então, escreveu uma brilhante resposta, intitulada “Defensa de los Jesuitas”, onde ele, indignado, declarava:

Presidente Gabriel García
Moreno

Vocês fingem querer exterminar os Jesuítas alegando ser por amor e para a maior glória da Igreja Católica. Mentiras e falsidade! Vocês apenas atacam os Jesuítas, porque querem atacar o Catolicismo. É um fato histórico este o de todos os inimigos da Igreja Católica abominarem a Companhia de Jesus.

À medida em que o mal começava a querer triunfar no Equador, García Moreno continuava com o jornalismo de maneira admirável. Dentro do governo corrupto de Vicente Ramón Roca, vociferava ele: “Próximos desses traidores, há uma porção de homens nobres e corajosos, dispostos a sacrificar até a última gota de sangue para não abandonar Deus e seu país”. Munido de um talento considerável, ele empunhava sua caneta para desmascarar os vícios dos líderes do país. Ao protestar contra o tirano José María Urbina, ele disse: Nenhum vício ou crime é desconhecido dele. Traição, falso testemunho, fraude, roubo, crueldade, deslealdade, nada falta. Sua vida ignóbil é escrita aos poucos no código penal.

Depois de ter sido eleito senador em 1853, ele foi forçosa e ilegalmente retirado do posto pelo general Francisco Robles, um dos militares próximos ao presidente Urbina. García Moreno seria enviado para o exílio, passado na França.

Enquanto morava em Paris, ele viveu um tempo de conversão ainda mais profundo. Ele, agora, passaria mais tempo dedicado ao estudo e a oração. A frequência diária na Missa, a oração diária de uma dezena do Rosário, ele evitava todas as distrações. Em Paris, ele morava como um eremita em um pequeno apartamento, onde estudava noite adentro. Nesta época, ele dizia: Eu estudava dezesseis horas por dia e, se um dia tivesse quarenta e oito horas e não vinte e quatro, eu ficaria feliz em dedicar quarenta horas para o meu trabalho. Em que consistiam estes estudos? Dentre outras coisas, ele estudou cuidadosamente a legislação social em vários países europeus. Ele também leu a obra de Abbé Rohrbacher, L’Histoire universelle de l’Église Catholique, de onde aprendeu como a Igreja e o Estado podem trabalhar juntos de forma harmoniosa.

Foi então que os amigos de García Moreno solicitaram ao General Robles que providenciasse um salvo-conduto do exílio para sua pátria. Ao retornar, ele foi escolhido como reitor da Universidade de Quito. Nesta academia, ele ministrou aulas brilhantes de química, doando seu laboratório pessoal para a universidade.

Durante os governos anteriores de Vicente Roca, José María Urbina e Francisco Robles o país havia sido submetido a ditaduras tirânicas e assolado pela guerra civil. De tempos em tempos, a eleição de bons homens para a Câmara era invalidada por estes tiranos. Enquanto que, ao mesmo tempo, o tesouro era saqueado por tais líderes e seus comparsas. Não havia orçamento estatal, muito menos responsabilização por tudo isso. Além disso, o ensino superior foi depreciado e destruído. Durante a intervenção do presidente Urbina, os estudantes foram admitidos a colar grau sem nenhum estudo ou exame. Por último, mas não menos importante: a Igreja foi duramente perseguida. O bispo de Guayaquil foi expulso e substituído por um “fantoche” clerical de Urbina. Aqueles “suspeitos de costume”, os Jesuítas, foram ajuntados e todos expulsos de uma vez do país. Conventos tornaram-se quartéis e instituições eclesiásticas foram secularizadas. As escolas primárias foram abolidas. O que dizer dos louvados mantras do “Iluminismo” e do “Progresso”? Se a Revolução encontrasse continuidade, o Equador, certamente, seria impelido como sendo a “Idade das Trevas” moderna.

Enquanto isso, García Moreno foi novamente eleito para o Senado. Por sua eloquência como senador em 1857, ele encabeçou a aprovação de uma lei que determinava a dissolução de todas as lojas maçônicas no Equador. Sua razão era simples: o caráter antirreligioso. De forma dissimulada, o governo declarou que as lojas não tinham caráter irreligioso e recusou aplicar a lei. Este era o estado daquela nação pouco antes de García Moreno ser eleito presidente.

Sua vida espiritual

O segredo por trás do sucesso de García Moreno como líder e estadista estava em sua vida interior. Um homem de profunda piedade, ele percebeu que, para recompor o povo equatoriano, ele precisaria primeiro formar um relacionamento com Cristo através da oração e, também, santificar sua alma. Sua vida interior bem determinada estava claramente revelada em sua Regra de Vida escrita na última página de seu exemplar de A Imitação de Cristo, encontrado junto de si depois de ter sido assassinado. Entre as diretrizes de sua Regra, via-se as seguintes:

Toda manhã ao fazer minhas orações, vou pedir, em especial, por humildade.

Todos os dias vou ouvir a Missa, rezar o Rosário e ler, além de um capítulo d’A Imitação, esta regra e as instruções anexas.

Terei o cuidado de me manter, ao máximo, na presença de Deus, especialmente em conversas, assim evito falar palavras inúteis. Vou constantemente oferecer meu coração a Deus, principalmente antes de iniciar qualquer ação.

Farei um exame de consciência específico, duas vezes por dia, quanto a prática de virtudes e um exame geral todas as noites. Vou me confessar toda semana.

Sua Regra de Vida também demonstra a disciplina empregada em sua rotina. Seu dia era ordenado e regrado. Levantava às cinco da manhã, ia à igreja às seis para Missa e meditação. Sete horas da manhã ele visitava os doentes no hospital e, depois, trabalhava em seu quarto até dez horas da manhã. Após um simples café, ele trabalhava com seus ministros até três horas da tarde. Depois do jantar, às quatro da tarde, ele fazia as visitas necessárias e resolvia problemas. Entre seis e nove da noite, ele já estava em casa para passar um tempo com a família. Quando todos descansavam ou buscavam os divertimentos noturnos, ele retornava ao seu escritório para trabalhar até onze horas da noite, às vezes até a meia noite.

García Moreno certamente não era perfeito. Ele poderia ser impaciente e imperioso. No entanto, ele realmente tinha a humildade de admitir quando estava errado. Certa vez, quando estava submerso em questões do trabalho, um sacerdote o abordou sobre um assunto insignificante. Ao que, de maneira brusca, respondeu ele: Não valeu a pena incomodar-me com assunto tão pequeno. O sacerdote, humilhado, saiu depressa. Na manhã seguinte, porém, García Moreno visitou o sacerdote e pediu perdão por sua “conduta apressada e desrespeitosa”. Ele não era conhecido por gabar-se de qualquer conquista própria. Além disso, por correspondências, ele solicitava correção fraterna de prelados ou até de almas com odor de santidade.

Sagrado Coração de Jesus.Equador
(Quadro do Sagrado Coração, com o qual
Dom José Inácio C. y Barba  e Gabriel
García Moreno fizeram a consagração
 do Equador)

Conquistas como presidente

Durante o primeiro mandato como presidente (1861-1865), García Moreno tentou limpar a bagunça política, financeira, educacional e eclesiástica que os liberais e radicais egocêntricos haviam legado ao país.

Um dos primeiros objetivos de García Moreno era justamente a negociação de uma concordata junto da Igreja Católica. Do ponto de vista da Igreja, esta concordata (1862) foi um dos acordos mais favoráveis já feitos com qualquer Estado.

Quando ele chegou ao ofício, ele tinha três tarefas importantes. Era preciso reformar a governança, o estado financeiro do país e o exército. O governo estava repleto de oportunistas que devoravam, de forma voraz, a riqueza do Estado às custas do povo. García Moreno dispensou estes e substituiu-os por homens honestos que ele esperava trabalhar regular e diligentemente.

Ele também concentrou sua atenção no desastre financeiro do país. O governo tomou empréstimos sem limites, taxou o povo impiedosamente, não conseguiu controlar os gastos e não manteve um orçamento. Depois de trabalhar incansavelmente para zerar a dívida, García Moreno introduziu um método melhor para registro contábil, criou um Conselho de Controle para atuar na fiscalização de fraudes no órgão executivo e removeu todos os oficiais envolvidos em desvio de verba pública. Ele mesmo recusou receber o salário presidencial: ele devolveu uma parte para o tesouro nacional e outra doou para obras de caridade.

Depois de restaurar a ordem e a paz no Equador, García Moreno iniciou a implementação de seus planos para a restauração social de uma civilização cristã. Dessa forma, ele debruçou-se na educação. Ao passo que os revolucionários e a maçonaria desejavam laicizar a educação ao erradicar qualquer influência de moralidade ou religião nos jovens, ele decidiu fazer exatamente o oposto. Ele convidou congregações religiosas francesas para formar o intelecto e os corações dos jovens, para cuidar dos doentes nos hospitais e dos criminosos nos presídios. Os Jesuítas, outrora dispensados, também foram recebidos de volta.

García Moreno acreditava ser muito difícil continuar a reformar o país e manter a estabilidade com aquela velha constituição; assim, ele fez pressão para a composição de uma nova. Em 1869, a nova constituição foi estabelecida no Congresso. Entre as principais mudanças: maior poder do governo sobre as forças armadas; poder de veto do governo sobre o Congresso; e a permissão para o governo estabelecer uma lei marcial durante revoltas. “A Fé Católica Apostólica Romana era a religião do Estado e dispensava-se todas as outras”. O Estado daria suporte à Igreja em todos os seus direitos e privilégios. Para garantir esta medida, somente católicos seriam admitidos para ocupar cargos públicos. Surpreendentemente, o Congresso aprovou esta última cláusula quase de maneira unânime, com apenas dois votos contrários. Por último, membros de sociedades secretas foram privados dos direitos civis.

O governo de García Moreno no Equador alcançou um sem número de reformas, porque incluíram mudanças significativas nas forças armadas, na educação e no atendimento aos pobres e doentes. Ele tratou com singular atenção o bem-estar dos índios e dos pobres de zona rural, no interior do Equador, patrocinando missões de Jesuítas e Redentoristas para proteger este povo simples da exploração. Ele também dedicou esforço considerável para melhorar a infraestrutura do país por meio da construção de estradas e torres de farol, pavimentação de ruas e a restauração da beleza da capital do país.

Ilustração do assassinato do Presidente Gabriel García Moreno

Últimas considerações

Após o assassinato de García Moreno, toda a cidade de Quito entrou em luto e os sinos tocavam ininterruptamente. Os conspiradores pensaram que o assassinato desencadearia uma revolução. Tamanha seria a frustração destes. Por três dias, enquanto seu corpo era velado na Catedral, milhares de pessoas, aos prantos, foram prestar condolências ao homem que tanto havia feito pelo país. Na sessão de 16 de setembro de 1875, o Congresso equatoriano emitiu um decreto onde prestava homenagem a García Moreno, “O Restaurador de seu país e Mártir da civilização católica”.

Passados apenas dois anos do assassinato de García Moreno, outro assassinato escandalizava o país: o do Arcebispo de Quito. No dia 30 de março de 1877 – uma Sexta-Feira Santa –, o Arcebispo José Ignacio Checa y Barba purificava o cálice com vinho após consumir a Hóstia durante a Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor e notou que o vinho tinha um sabor amargo. Pouco depois do culto, ele morreria com dolorosas convulsões. Uma autópsia revelou que o vinho havia sido envenenado com estricnina. Apenas algumas semanas antes do assassinato, o governo de Ignacio de Veintemilla começou a perseguir a Igreja. Em particular, os sermões sofreram censuras por parte do governo. Tal medida levou o gentil bispo a protestar vigorosamente contra estas injustiças do governo. Nunca ninguém foi acusado do assassinato, entretanto, a suspeita recaiu sobre o governo. Junto de García Moreno, o Arcebispo Checa y Barba foi quem consagrou o Equador ao Sagrado Coração.

Como García Moreno ajudou avidamente a Igreja a influenciar a sociedade, ele foi chamado de “teocrata”. Entretanto, o estadista não fazia nada além de propagar o Reinado Social de Cristo – este seria, precisamente, o assunto que Pio XI trataria em sua carta encíclica Quas Primas, cinquenta anos mais tarde. Tal qual seu contemporâneo, o Cardeal Louis Pie de Poitiers, García Moreno também reconheceu que, se “a época não é favorável para o reinado de Cristo, ela também não é favorável para que governos perdurem”. Ao consagrar seu país ao Sagrado Coração de Jesus em 1873, o presidente construía a base sólida para a futura prosperidade e sucesso do Equador.



☞ Nota da Fonte: A maioria das citações foram retiradas de García Moreno, President of Ecuador, do Pe. Augustin Berthe.



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FONTE: Centro Dom Bosco. Alguns destaques foram acrescidos.


2 comentários:

  1. Gabriel Garcia Moreno, exemplo de presidente. Modelo de Presidente. O tipo de Presidente que queremos.

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    Respostas
    1. Boa noite caro Orlando Tualho.

      Salve Maria!

      de fato, felizes e ditosos seríamos se tivéssemos um presidente como GARCIA MORENO, exemplo de homem católico, virtuoso e devo do Sagrado Coração. Mas não percamos a esperança!

      "Feliz a nação cujo Deus é o Senhor e o povo que ele escolheu para sua herança." (Sl, 32[33], 10).

      Abraços fraternos.

      Por Maria a Jesus!

      Sou todo teu, Maria.

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