«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS: A DEVOÇÃO DO VENERÁVEL PADRE MANUEL BERNARDES À CHAGA DO LADO (OU DO COSTADO)

É próprio de quem espera, pôr-se à porta. O mendigo põem-se à porta do rico, esperando esmola; o litigante à do ministro, esperando despacho; o amante à da esposa, esperando a fala. Logo, se neste mundo só vivo das esperanças de algum dia ver a Deus, Expectantes beatam spem, et adventum gloriae magni Dei;[1] quero pôr-me também às portas da Divindade, que espero se me há de revelar. Quais são estas, senão as preciosas Chagas de meu Jesus Crucificado? Cinco são as portas deste sagrado Templo: dai-Me, Senhor, licença para me chegar à principal; não porque eu me veja mais digno, senão porque a vejo mais aberta. Chegarei pecador, e poderá ser que entre justo: pecador por misericórdia Vossa: Haec porta Domini, justi intrabunt in eam.[2] Aqui farei a minha assistência e morada: como lá Mardoqueu fez a sua à porta do Palácio de Assuero: Mardocheus manebat ad januam Regis.[3]

Pe. Manuel Bernardes foi
presbítero da Congregação
do Oratório (1644-1710)

Adoro-te ó Chaga preciosíssima do Lado de meu Senhor Jesus Cristo. Tu és verdadeiramente a porta do meio, que disse o Profeta Jeremias: Porta media;[4] pois, foste à violência de uma lança rasgada no meio do Corpo do Senhor, e no meio das outras quatro portas. E, contudo, também és verdadeiramente a porta do Ângulo: Porta anguli;[5] porque és porta daquele Divino Coração, em cuja caridade se juntam, e concorrem, como em pedra angular, as linhas do edifício místico da Igreja dos Anjos e dos homens, dos Israelitas e das Gentes: Lapis angularis qui facis utraque unum.

Adoro-te, e te dou reverentes ósculos, ó Chaga de meu amorosíssimo Jesus; porque Tu és a porta do juízo que diz a Escritura: Porta judicij;[6] pois, em ti e por ti podem os homens fazer juízo do amor que nos teve este Senhor: e este Senhor o fará da ingratidão com que O tratam os homens.

Adoro-te e glorifico, ó Chaga amorosíssima e suavíssima, em ti assento os fundamentos da minha esperança; porque tu verdadeiramente és a porta do fundamento: Porta fundamenti;[7] pois, de ti saiu Sangue e Água; Sangue, que é o fundamento de nossa Redenção; e Água, que representa o Batismo, fundamento de toda a Religião Cristã.

Adoro-te e te dedico todos os meus afetos, ó Chaga amorosíssima e suavíssima, porque tu és a porta que leva e guia para o jardim do Rei: Porta quae ducit ad hortum Regis.[8] Pois, guias e levas, para o Coração de Cristo, que é o jardim das delícias de Deus; guias e levas para a Divindade, que é o jardim onde o Rei da Glória introduz as almas puras.

Adoro-te, ó Chaga preciosíssima, em ti me banho e refresco, porque tu és mui propriamente a porta da fonte e aqueduto real: Porta fontis et aquaedctus Regis;[9] pois, por ti sairão e se nos comunicarão as fontes do Salvador, donde bebem e se refrigeram todos os que tem sede da vida eterna.

Adoro-te, ó Chaga formosíssima, e contigo me abraço confiadamente, em ti me revejo, consolo e glorio: porque tu és certamente a porta de Jerusalém fabricada de safira e esmeralda, como disse Tobias: Porta Jerusalem ex sapphiro et smaragdo;[10] pois, em ti temos a esperança de lograrmos o Céu, e no Céu ver ao mesmo Deus, que é visão de paz: Jerusalem, id est visio pacis; e também, porque em ti se mostra a Divindade e a Humanidade de Cristo; aquela figurada na cor celeste da safira, esta na cor terrena da esmeralda.

Adoro-te e te magnífico, ó Chaga santíssima de meu Senhor Jesus Cristo; junto a ti quero assistir e morar, porque tu és a porta da Casa do Deus das Conversões e Sumo Sacerdote: Porta domus Eliasib, Sacerdotis magni.[11] Ó quantas conversões admiráveis, tem feito Deus desde a porta desta casa e com a Chaga do seu Lado! Oh, quantas almas chama desta porta, e reconcilia com Deus, este Sumo Sacerdote!

Adoro-te, e de todo meu coração te amo, ó Chaga formosíssima e nobilíssima; tu me arrebatas os olhos e os afetos, porque tu és verdadeiramente a porta especiosa, que estava no Templo de Salomão;[12] não só por tua incomparável formosura, senão, porque junto a ti se põem os necessitados a pedir esmola dos favores e graças celestiais.

Adoro-te, ó Chaga seguríssima do Lado de meu Salvador Jesus Cristo: por ti e em ti quero me recolher, porque tu és a porta do rebanho: Porta gregis;[13] pois, por ti entram nos pastos da vida eterna todas as ovelhas do rebanho escolhido do Senhor: Per me si quis ingredietur, inveniet pascua.

Adoro-te, ó Chaga amabilíssima e suavíssima do Lado de meu Senhor Jesus Cristo: em ti quero me recolher, defender e assegurar dos perigos deste mundo, porque tu és a porta dos arraiais em campo: Porta castrorum;[14] pois, em ti se recolhem, alojam e fortificam todos os justos da Igreja militante, a quem o mesmo Senhor comparou a arraiais em campo e esquadrões formados: Ut castrorum acies ordinata.

Eu vos adoro, glorifico e exalto, ó Chagas Santíssimas, cinco siclos da Redenção humana,[15] cinco pedras de Davi figurado, cinco pórticos da melhor piscina, cinco talentos da negociação das almas. Em meu peito guardo as esperanças de algum dia ver-vos e tocar na Pátria bem-aventurada, porque vós sois as portas eternas: Portae aeternales da Jerusalém viva, que é a Humanidade sacrossanta de meu Salvador Jesus Cristo, as quais não se hão de fechar jamais: Portae ejus non claudentur;[16] pois, vos conservará para sempre o Senhor em seu Corpo sacratíssimo, para selos do seu amor e memorial da nossa Redenção.

Agora, Senhor, já que estou aqui a vossa porta como mendigo, mandai-me dar esmola da vossa graça: não despeças este pobre desconsolado. Já que espero a vossa porta, como litigante ou pretendente, sede servido de despachar minhas súplicas, fundadas na vossa justiça que me concedestes por vossa misericórdia. Peço, amorosíssimo Jesus, que me ponhais no número de vossos fiéis servos; peço que me deis coração benigno, manso, fiel, humilde, sofredor e constante; peço que se logre em minha alma o fruto dos Sacramentos que desse Lado saíram. Finalmente, já que estou a vossa porta esperando como amante (ou como quem o deseja ser) abri-me, Senhor, e fazei-me digno de que ouça eu a vossa voz suave e doce, e de que sinta a vossa presença santa e amável; para que me unais convosco por transformação de amor perfeito.

 

(“Luz e Calor – Obra Espiritual para os que Tratam do Exercício de Virtudes e Caminho de Perfeição”, 2ª Parte, Opúsculo IV, Solilóquio XV, Ponto 390, pp. 438-440; escrita pelo Rev. Pe. Manoel Bernardes, Oratoriano, Nova Edição, Lisboa, 1871.)



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[1] Tit. 2, 13.

[2] Salm. 17, 20.

[3] Judit. 21, 9.

[4] Jer. 39, 3.

[5] Rs. 14.

[6] Deut. 21, 19.

[7] Paralip. 2, 3, 5.

[8] Jer. 52, 7.

[9] Esdr. 2, 14.

[10] Tob. 13, 21.

[11] Esdr. 3, 20.

[12] At. 3, 2.

[13] Esdr. 3, 1.

[14] Êxod. 32.

[15] Lev. 27, 6.

[16] Apoc. 21, 25.



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FONTE: blog Cum Petro et sub Petro: Semper - O título da postagem é nosso assim como alguns destaques.

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