«Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-se e consumir-se, para lhes testemunhar seu amor; e por reconhecimento não recebe da maior parte deles senão ingratidões.»(Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque)

sexta-feira, 19 de julho de 2019


DIFUNDIR O CULTO AO CORAÇÃO DE JESUS


Mosaico da Capela de São Cláudio La Columbière, em Paray-le-Monial

DURANTE minha peregrinação a Paray-le-Monial, desejei vir rezar na capela onde se venera o túmulo de são Cláudio la Columbière. Ele foi o servo fiel que, em seu amor providencial, o Senhor deu como diretor espiritual a santa Margarida Maria Alacoque. Tornou-se, então, o primeiro propagador de sua mensagem. Em poucos anos de vida religiosa e de ministério intenso, revelou-se um filho exemplar da Companhia de Jesus, a qual, segundo o testemunho de santa Margarida Maria, Cristo confiara o encargo de difundir o culto de seu Coração divino.

Sei com que generosidades a Companhia de Jesus acolheu essa admirável missão e com que fervor se encarregou de cumpri-la, o melhor possível, ao logo destes três últimos séculos. Desejo, nesta ocasião solene, exortar todos os membros da Companhia a promover, com maior zelo ainda, essa devoção que corresponde plenamente às expectativas de nosso tempo.

Com efeito, se o Senhor quis, em sua Providência, que no limiar dos tempos modernos, no século XVII, partisse de Paray-le-Monial um impulso poderoso em favor da devoção ao Coração de Cristo, sob as formas indicadas nas revelações recebidas por santa Margarida Maria, os elementos essenciais dessa devoção pertenciam já à espiritualidade da Igreja ao longo de sua história. Desde o princípio, a Igreja voltou seu olhar para o Coração de Cristo traspassado na cruz de onde jorraram sangue e água, símbolos dos sacramentos que constituem a Igreja. No Coração do Verbo encarnado, os padres do Oriente e do Ocidente viram o começo de toda a obra da nossa salvação, fruto do amor do divino Redentor. O Coração traspassado é símbolo particularmente expressivo desse amor.

O desejo de conhecer intimamente o Senhor e de fazer um colóquio com ele, coração a coração, é característica, graças aos Exercícios Espirituais, do dinamismo espiritual e apostólico inaciano, todo a serviço do amor do Coração de Deus.

O Concílio Vaticano II, enquanto nos lembra que Cristo, Verbo encarnado, nos amou com um coração de homem”, assegura-nos de que “sua mensagem, longe de diminuir o homem, serve para seu progresso, infundindo luz, vida e liberdade; fora dele, nada pode satisfazer o coração humano (cf. Gaudium et spes, 22, 21).

O Sagrado Coração de Jesus, São Cláudio La Colum-
bière e Santa Margarida Maria

Junto do Coração de Cristo, o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único de sua vida e de seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a se guardar de determinadas imperfeições do coração humano, a unir o amor filial para com Deus ao amor do próximo.” Assim – e esta é a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador –, sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e pela violência, poderá ser construída a tão desejada civilização do amor, do reino do Coração de Cristo.

Por esses motivos, desejo vivamente que prossigais, com perseverança, a difusão do verdadeiro culto do Coração de Cristo e que estejais sempre prontos a dar uma ajuda eficaz a meus irmãos no episcopado a fim de promover esse culto em todos os lugares, preocupando-vos em encontrar os meios mais adequados de apresentá-lo e de praticá-lo, para que o homem de hoje, com sua mentalidade e sensibilidades próprias, descubra nele a verdadeira resposta a suas interrogações e expectativas.

Como no ano passado, por ocasião do congresso do Apostolado da Oração, eu vos tinha particularmente confiado esta obra estreitamente unida à devoção ao Sagrado Coração, hoje, nesta minha peregrinação a Paray-le-Monial, vos peço que empregueis todos os esforços possíveis para realizardes cada vez melhor a missão que Cristo vos confiou, a difusão do culto de seu Coração divino.

Os abundantes frutos espirituais produzidos pela devoção ao Coração de Jesus são amplamente reconhecidos. Expressando-se, principalmente, pela prática da hora santa, da confissão e da comunhão da primeira sexta-feira do mês, ela contribuiu para estimular gerações de cristãos a rezar mais e participar mais frequentemente dos sacramentos da Penitência, da Eucaristia. Estes são os caminhos que, ainda hoje, devem ser propostos aos fieis.

Que a proteção maternal da Santíssima Virgem Maria vos assista. Foi na festa da Visitação, em 1688, que essa missão vos foi confiada. Que a bênção apostólica que, de coração, dou a toda a Companhia de Jesus, desde Paray-le-Monial, seja para vós apoio e conforto em vosso trabalho apostólico.

5 de Outubro de 1986.

João Paulo II


______Carta do santo padre, João Paulo II,
enviada ao Pe. Peters Hans Kolvenbach, prepósito geral da Companhia de Jesus


* * *

Dentre os comentários do Pe. Gerárd Dufuor, Capelão de Paray-le-Monial, à época, destacam-se os seguintes:

Os laços entre a Companhia e a Visitação são antigos e profundos. Foi por iniciativa dos jesuítas que santa Joana Francisca de Chantal fundou o mosteiro de Paray, em 4 de setembro de 1626. As visitandinas se beneficiaram constantemente da ajuda espiritual dos filhos de santo Inácio. Um acontecimento providencial iria associar as visitandinas e os jesuítas na difusão do culto ao Coração de Jesus.

Não é possível compreender a carta de João Paulo II ao Pe. Kolvenbach sem mencionar a visão de santa Margarida Maria, em 2 de julho de 1688. Numa carta dirigida à sua antiga superiora, madre De Saumaise, poucos dias depois daquela data, ela escreve ter passado 'boa parte do dia em oração diante do Santíssimo Sacramento'. É agraciada com uma visão (lembrada por um grande mosaico da capela de São Cláudio La Columbière, em paray-le-Monial) em que o Sagrado Coração é representado sobre um trono de chamas – o fogo significando a ardente caridade do Coração de Jesus –, cercado pela Santíssima Virgem, são Francisco de Sales e Pe. La Columbière.

A 'Mãe de bondade' começa dizendo às visitandinas que elas são 'depositárias do precioso tesouro' que é o Coração de Jesus; que elas devem procurar 'dele se enriquecer e fazer que todo o mundo dele se enriqueça, sem temer que ele se exaura. E, 'quanto mais dele se servirem, mais encontrarão'.

Em seguida a Virgem se dirige ao Pe. La Columbière: 'Quanto a vós, fiel servo do divino Filho, tendes grande parte neste precioso tesouro, se foi dado às filhas da Visitação conhecê-lo e distribuí-lo aos outros, foi reservado aos padres de vossa Companhia fazer conhecer sua utilidade e valor, para dele tirarem proveito, recebendo-o com respeito e o reconhecimento devidos a tão grande benefício. E, na medida em que eles lhe derem esse prazer, esse divino Coração, fonte de bênção e de graças, as derramará tão abundantemente sobre as funções de seus ministérios que produzirão frutos além de seus trabalhos e esperanças. E até mesma para salvação e perfeição para cada um deles em particular'.

Tal é a origem dessa missão suave, munus suavissimum, confiada à Companhia de Jesus e assunto da carta de João Paulo II.

A mensagem do papa se apresenta como recordação de um difícil passado apostólico e apelo a uma fidelidade renovada.”






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FONTE: livro Na Escola do Coração de Jesus com João Paulo II, Pe. Gérard Dufuor, Edições Loyola, São Paulo/2000, pp. 38-40 e 61-62.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JULHO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


NECESSIDADE DA FÉ

(Pe. Mateo Crawley-Boevey)

Senhor, aumentai a nossa fé” (Lc 17, 5)

A fé é a base de toda vida espiritual e de toda ação apostólica.

Não se pode persuadir aos outros senão na medida em que se está já persuadido: para convencer é preciso estar convencido.

E onde encontrar a persuasão, onde a convicção sobrenatural, divina?

Naquele e somente naquele que Jesus esclarece; naquele e somente naquele que conhece a Jesus Cristo; que o conhece, digo, não de um conhecimento qualquer, vago, superficial, mas de um conhecimento sério, íntimo, integral e profundo. Naquele e somente naquele a quem Jesus Cristo dignou-se revelar os mistérios de seu amor e os segredos de seu Coração, e que se mostrou dócil à sua voz. Pois só Jesus Cristo disse, só ele pôde dizer: “Vós sois meus amigos… Eu vos disse tudo o que ouvi de meu Pai...” (Jo 15, 15).

Eu sou a luz do mundo: aquele que me segue não anda nas trevas, mas possuirá a luz da vida” (Jo 8, 12).

Só ele é a luz porque só ele é a sabedoria de Deus. A sabedoria dos homens, o que eles chamam por esse nome, não passa de loucura, de trevas, a menos que ela seja uma irradiação daquele sol e derive daquela sabedoria mais alta.

Desgraçadamente, somos sábios demais segundo o mundo. Raciocinamos demais. Seria preciso que não tivéssemos cabeça.

A mais sublime sabedoria é a da fé. Somos cheios de sabedoria e de ciência quando cremos. Neste sentido, os grandes sábios, os únicos sábios são os santos.

O que é necessário em todos os tempos, mas principalmente em nossa época, não são sábios segundo o mundo, políticos, pensadores. Se a sua sabedoria não vem de Deus, se ela não deriva da Sabedoria, se ela não é mais que o fruto de sua experiência e de seus trabalhos, se eles só a extraem de si mesmos, ela servirá pouco ou nada.

Sabeis o que é preciso para reerguer o mundo?

Almas de fé, almas de santos, luminosas e simples! …

Precisamos de curas d'Ars! Eles farão mais para o bem da sociedade que todos os sábios e todos os gênios. Por quê? Porque eles participam da luz de Deus; eles a distribuem; eles irradiam o Cristo Jesus e fora de Jesus só há trevas e ilusões.

Vede como eu vos prego, em estilo simples mas afirmativo: eu não discuto, não argumento. Por quê? Será porque eu conto comigo mesmo? De modo algum. Estou convencido, - eu seria um grande criminoso e não o estivesse - afirmo, porque o que digo, não o digo por mim mesmo: é Jesus Cristo quem o diz por mim; é a fé quem ensina o que digo.

Insisto, é preciso viver de fé, não de uma fé vulgar, mas de uma fé luminosa e ativa.

Isso é certo, para todos os cristãos, mas de um modo especial para nós, os apóstolos. Uni apóstolo, com efeito, deve ser um homem todo divinizado pelo espírito de fé. Obrigado como é, por vocação, a mostrar o Filho, a torná-lo conhecido para que ele seja servido e amado, ninguém lhe poderá jamais dar esse conhecimento a não ser o dom do Alto que ele deve obter pela violência de suas súplicas e de seus sacrifícios. Pois está escrito: “Ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo” (Mt 11, 27).

A primeira etapa dessa vida é pois o espírito de fé. Nos é necessário esse espírito para conhecer a Deus.

Deus! Só o verbo é que no-lo pode revelar: arranquemos-lhe o seu segredo.

Essa grande fé nos é necessária para penetrarmos no Coração de Jesus, na sua intimidade; para encontrarmos, não um Jesus diminuído, reduzido – perdoai-me a palavra – um Jesus caricaturado, mas para o encontrarmos na plenitude da beleza, na “magnificência do seu amor”.

É preciso penetrarmos mais fundo que a lança de Longino, para compreender, através dessa grande luz, os tesouros que ele reserva para os seus íntimos e os seus apóstolos.

Se é verdade que "servir o Senhor é reinar", ouso acrescentar: é mais que reinar, é tornar-se conquistador. Sim, conquistador de um mundo que será preciso lançar convertido, transformado, aos pés do Rei de amor. Mas conquistador principalmente do seu Coração, eis aí uma glória maior que a de reinar. E essa glória, caros apóstolos, é vosso apanágio.

Servir ao Senhor é ser dono de seu Coração, é arrebatar-lhe pela fé; e recebe-se essa graça na medida em que se progride no espírito de fé, no desejo de ver a Deus, e só ver a ele. Aquele que está impregnado dessa luz não tem necessidade de nada. Chega um momento em que ele repousa em Deus, vendo-o por assim dizer; e então, o resto: sofrimentos, imolações, perseguições, passam a ser detalhes… ou antes, transformam-se em riquezas de um valor inestimável.

Mas onde e como Jesus Cristo nos ensina a conhecer a Deus?

Na vida íntima com ele, na oração: eis aí por que é que os ignorantes segundo o mundo sabem às vezes sobre este assunto que os sábios.

Uma simples criança, um homem ignorante, mas que sabe verdadeiramente rezar. tem conhecimentos e luzes na ordem divina que nenhum doutor pode jamais nos dar.

Lembro-me de um aldeão que encontrei em Lourdes.

Ele vem a mim:

-- Padre, foi o senhor que pregou?

-- Sim, fui eu.

-- Ah! que belas coisas o senhor nos disse: Jesus Cristo, Rei de amor, Jesus Cristo, Rei de misericórdia! Sim, é bem isso. Há vinte anos que comungo todos os dias, que todas as quintas-feiras faço a Hora Santa, e Jesus Cristo me parece sempre mais Rei de misericórdia e de amor. Há vinte anos, peço a Deus que ele faça conhecer ao mundo essas grandes coisas que o senhor pregou hoje.

Ouvis? Há vinte anos ele pedia que fosse pregado o reino do Coração de Jesus – Quem sabe se, diante de Deus, não foi esse humilde, esse pobre que começou a obra?…

Marquei um encontro com ele no hotel, de propósito para fazê-lo conversar.

Durante duas horas ele me falou com o coração transbordante. Eu ouvia emocionado, admirado; ele me dizia coisas admiráveis e cheias de uma teologia que me confundia.

Quase à meia noite, quando ele já estava para ir embora, eu queria apanhá-lo em minha rede, pois precisava a todo preço guardar por escrito, como substância para uma pregação sobre o Coração de Jesus, a dissertação desse extraordinário camponês. Disse-lhe então: Antes de nos separarmos, quer o senhor aceitar-me como seu amigo?" Então, com uma expressão tão sincera quanto ingênua e um ar um pouco protetor, ele me respondeu delicadamente:

Pois bem, sim... não tenho inconvenientes e tornar-me seu amigo!

Obrigado... mas se nós devemos ser amigos, ser-nos-á necessário de qualquer modo um laço, tanto mais que o senhor fica aqui, e eu continuarei a ser por toda parte o judeu errante… Esse laço não pode ser outra coisa senão correspondência… Escute; prometa-me que o senhor me escreverá, não digo cartas, não. Mas em grandes folhas de papel, e se o quiser, a lápis, escreva-me todas as noites tudo que lhe vier à cabeça sobre o Coração de Jesus, Rei e Deus das famílias; de um certo modo, tudo o que o senhor incidisse longamente esta noite. Eu lhe deixarei papel, envelopes preparados com o meu endereço, tudo enfim. E então, de quinze em quinze dias ou de três em três semanas, o senhor colocará no correio essa conversa escrita... Quanto a mim, eu lhe responderei por meio de cartões postais. Depois, o senhor recomeçará a conversa por escrito, longas conversas a lápis, mas sempre e tudo sobre o Rei de amor... Eis aí todo um pedido, prometa-me que o senhor me dará esse prazer; quero ainda ouvi-lo dizer essas belas coisas que tornarei a ler, a meditar. O senhor promete, não é verdade?"

Ele deu uma gargalhada e disse: “É impossível, padre, eu não sei ler nem escrever!...”.

Eu pensei a princípio que ele me enganava e insisti: “Se o senhor não sabe ler, quem então lhe ensinou todas essas coisas que acaba de dizer-me?… Quem?” Tomando nesse momento um ar sério e respeitoso, ele me disse: "Padre, o senhor diz a missa todas as manhãs; nós temos portanto ambos o mesmo Mestre. Se eu sei e o senhor não sabe, não é por culpa do Mestre, por culpa sua, padre!" E como eu ficasse boquiaberto com a maravilhosa resposta, ele pensou na sua simplicidade que eu não tinha compreendido bem. Acrescentou então esta comparação de uma beleza e de ma justeza notáveis: “Escute, padre, digamos que esta mesa é o altar... O senhor está aí desse lado e segura a sagrada hóstia entre os dedos. Quanto a a mim, estou aqui, do outro lado, à mesma distância – entre nós dois, a um passo, o Sol que é Jesus… Eu vejo e o senhor não… Oh! não é certamente por culpa do Sol, de Jesus, mas dos seus olhos!… – Contei esse fato ao grande cardial Sevin, de Lyon, que me ouviu admirado e disse-me: “Escreva essa história, querido padre, com letras de ouro; conte-a principalmente aos teólogos e aos seminaristas, pois ela é uma
página de alta teologia”.

O delicado quadro que acabo de apresentar, com o ensinamento doutrinal que dele decorre, não precisa de comentários.

Quem então conhece o Mestre? Quem? o letrado?… O sábio?… O doutor?… Nem sempre. Quem, então? O ignorante ou o doutor que se sabe aproximar-se do Sol que é Jesus, que procura, na sua intimidade, segredo que nenhum livro lhes dará… Só quem ouviu os segredos do Alto, aos pés do Mestre, através dos muros do tabernáculo, no íntimo contato de corações que a oração permite, oh! só esse, é um Verdadeiro conhecedor das coisas divinas, seja embora Um varredor de rua.

E se perguntásseis agora: “Mas como rezar para que a nossa oração tenha o poder de rasgar os véus e de fazer a luz?” Eu vos responderia sem hesitação:

Reza-se do mesmo modo que se ama!”

Como é então que uma criança fala à sua mãe? Com grandes raciocínios e frases estudadas? – Não, mas com o coração nos lábios. Uma palavra, e menos ainda, um olhar basta, quando é um amor que vai ao encontro de outro amor, quando é um coração que bate à porta de outro coração. E Jesus não quer ser, não quer ser considerado menos acessível, menos fácil de compreender, de ouvir, que uma mãe. É ele que faz as mães serem o que elas são, e todas juntas não igualam, oh não! um Jesus! Gravai, pois, em vosso coração, esta resposta, tão simples quão bem fundada: “Reza-se do mesmo modo que se ama!”

E não esqueçais, caros apóstolos, que a vossa oração, o vosso espírito de oração é o grande segredo das luzes sobrenaturais que vos são indispensáveis em vosso ministério e que não podeis haurir senão no Coração do vosso Amigo divino.

Mas também para vós, a elite, como para a multidão, oração deve ser simples, bem simples, já que ela é lei obrigatória, tanto para a criança e o camponês como para o teólogo.

Para se chegar até Deus não é indispensável escolher um sistema, um modo especial de rezar; também não é preciso penetrar num dédalo inextricável, em caminhos escuros ou perigosos como os das catacumbas; tomai sempre a linha reta, o caminho em plena luz, segui o impulso espontâneo de uma alma pr0eterna. Sim, ainda uma vez, a oração está ao alcance de todas as inteligências, do mesmo modo que o poder de amor, que é a base de toda a nossa religião. Eis por que eu tive razão de dizer:

Reza-se do mesmo modo que se ama! A vossa oração é o vosso amor!”

Dessa oração amorosa, dessa aproximação de nosso Senhor por uma fé viva, jorra ainda uma outra luz: a do conhecimento de nós mesmos. Quem se conhece verdadeiramente? Aquele que faz dois ou três exames de consciência? Nem sempre, mas aquele que vive de fé e que, vivendo de fé, vê na luz que é Jesus, no espelho de seus olhos, com uma clareza espantosa, o abismo de sua consciência. Ele aí vê as suas misérias e também as suas qualidades, aí se encontra todo inteiro, tal qual é diante de Deus. Nós temos, com efeito, defeitos, misérias, mas também qualidades. Seríamos ingratos se não os reconhecêssemos: foi ele quem no-las deu. Nós somos miséria, vasos de barro; mas ele, por uma misericórdia infinita, quis neles depositar grandes tesouros. Por que? Porque ele o quis por misericórdia.

Nos é, pois, necessária uma luz mais forte que a luz humana para que nos conheçamos verdadeiramente, sinceramente, a nós mesmos, sem orgulho e sem desalento. É a fé que nos mostra nossas misérias, nossos defeitos e nossos erros, e faz-nos encontrar para eles o remédio em Jesus Cristo. É ela também que nos faz. Conhecer os dons de Deus e o uso que deles devemos fazer para realizar os seus desígnios.

Enfim, temos necessidade da fé, para sermos apóstolos, para reconhecermos os direitos de Jesus Cristo, a sua soberania sobre nós, sobre as almas… Como cumpriríamos noa vocação, se a fé não nos em auxílio?

É a falta de fé que nos faz dizer: “Se eu tivesse saúde, se eu tivesse fortuna, se eu tivesse tempo faria muito pela glória de Deus e a salvação das almas, mas eu sou doente, sou pobre, sou ocupado…”

Como esses raciocínios revelam uma miserável unia fé pobre e titubeante!

Quando Jesus Cristo quis conquistar o mundo, por acaso escolheu, para apóstolos, sábios e ritos, pessoas de crédito, grandes segundo o mundo?

Não, ele escolheu pobres, ignorantes, desconhecidos E' com esses elementos que ele trabalha, é por pessoas dessa espécie que ele é glorificado.

Quis Deus, diz São Paulo, confundir aquilo que é, por aquilo que não é” (1 Cor 1, 18) e “convencer de loucura toda a sabedoria humana pela loucura da cruz" (1 Cor 1, 25).

Tais instrumentos o glorificam, pois vê-se bem então que não são eles que atuam e sim ele.

Acaso a conversão das almas é obra dos homens?

O mundo está cheio de bibliotecas e nessas bibliotecas existem obras notáveis… que não convertem ninguém.

A conversão das almas é obra de Deus, de sua graça.

Na nossa ignorância, atribuímos o êxito ao instrumento visível, ao pregador. Ah! sim, o pregador! O verdadeiro instrumento, sabeis quem é? – Alguma alma ignorada, ignorante, escondida, que reza, que sofre, que irradia a sua fé… Eis aí o instrumento de Deus.


O mundo, espantado por certas conversões, atribui-as à eloquência, aos argumentos de um lógico... Oh! não é isso! Assisti a uma conversão de que não posso esquecer-me.

Um simples pai de família estava à morte. Tendo voltado para Deus, de bem longe, ele fazia a sua primeira comunhão, e com ele comungavam também pela primeira vez sua mulher e seus três filhos. Num canto do quarto estava de joelhos uma humilde mulher, a cozinheira; ela chorava de emoção.

De repente ela se levanta, aproxima-se do leito do moribundo e diz-lhe entre soluços:

O senhor permite à sua velha cozinheira que o abrace nesta hora tão bela e solene?”

O doente, todo emocionado, aperta-a entre seus braços.

Então a pobre mulher, sem parar de chorar, diz: “Há vinte anos e mais que eu estou a seu serviço, mas durante esses longos anos fui alguma coisa mais que a pobre cozinheira da casa, eu quis ser a apóstola do Coração de Jesus!… Há vinte anos que eu lhe ofereço as minhas comunhões quotidianas, as minhas orações, os meus sofrimentos e sacrifícios, com um grande amor, pedindo-lhe uma só e grande graça, a de não partir para o céu antes de ter visto o céu aqui nesta casa, isto é, a vitória do Coração de Jesus. Está feito; eu estou vendo essa grande vitória; agora, Senhor, posso morrer!”

Vitória do Coração de Jesus, mas por intermédio dessa humilde mulher, que teve fé na misericórdia desse Coração adorável e que não se cansou de rezar e esperar.

Que pensais, piedosos leitores, deste "Nunc dimittis” da pobre cozinheira apóstola? Vós vedes que eu procuro impregnar-vos de uma doutrina que, sendo uma loucura, tem as claridades ofuscantes de um sol em pleno meio-dia, as claridades da fé.

No vosso caminho de apostolado, encontrareis muitas vezes diante de vós corno que uma montanha a ser deslocada. Quem fará o milagre? Quem dirá: “Retira-te ?”

Aparecem tantas dificuldades, tantos obstáculos; como dizer a essas dificuldades, a esses obstáculos: "Afastai-vos"?... Como? – Pela fé.

Tende fé naquele que disse:

Eu venci o mundo” (Jo 14, 38).

Ele o venceu e vencê-lo-eis com ele!

Tende uma grande fé, não somente nos dias de vitória – ela é fácil então – mas nos dias de aparentes derrotas, aparentes, digo, pois não há verdadeiras derrotas. A vitória está assegurada, a grande vitória do Coração de Jesus o do seu amor.

Aquele que tem fé nunca poderia ser vencido nem enganado.

Vós tendes ainda, como São Paulo, escamas sobre os olhos; que o retiro as faça cair, que todo o vosso retiro seja um ato bem vivo de fé. É preciso que ao sairdes daqui, sintais o poder do seu Coração.

De quem duvidareis?… De vós? – Mas não sois vós… dele? – Olhai para Jesus e, para frente! Que ele reine!


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FONTE: livro Jesus Rei de Amor, Pe. Mateo Crawley-Boevey, Editora Vozes, 2ª edição/1939, Cap. II-Vida de Fé, pp. 123-135 – Texto atualizado e os destaques são do original)

quinta-feira, 4 de julho de 2019

HORA SANTA DO MÊS DE JULHO

(Pe. Mateo Crawley-Boevey)

HOJE SE CELEBRA A FESTA DO CORAÇÃO EUCARÍSTICO DE JESUS

Coração de Jesus, Eucaristia e o Espírito Santo
(Foto: Aleteia)
 

Mil vezes felizes os desgraçados que, ao dobrar um caminho estreito, se encontraram a sós com Jesus!... Que bem puderam, esses ditosos afligidos de Jerusalém, de Naim ou Betânia, desafogar a alma nesse celestial instante, com liberdade de súplica e pranto, no coração de Jesus!... Assim nos encontramos conVosco nesta Hora Santa venturosa, Jesus de Nazaré e do Sacrário, assim!... Olhai-nos: os que aqui estamos somos cabalmente esses ditosos azarados que viemos em busca de Vós, para nos esquecer, por um momento, de nós, aqui a Vossos pés, à Vossa sombra deliciosa.

Viemos só por Vós, chegamos em Vossa defesa, porque um clamor de raiva e de blasfêmia nos advertiu que Vossos carrascos não se dão trégua com o propósito de Vos desterrar da sociedade e das almas. E se haveis de sofrer, se haveis de agonizar, se haveis de morrer, Jesus, eis aqui o rebanho que quer ser ferido ao lado e por causa do pastor! Vós o dissestes com amargura de alma à Vossa serva Margarida...: “Quero compartilhar minha agonia, tenho necessidade de corações vítimas!” Disponde, pois, de todos estes, Senhor: amamo-Vos muito, amamo-Vos todos...

(Breve pausa)

Retrocedei, Jesus, o véu de Vosso peito, o Santo dos Santos, e consenti que Vossos filhos contemplemos, nesta Hora Santa, a paixão e ultraje, a dor da sentença dos mesmos que resgatastes com Vosso sangue... Fazei à luz nesse Tabernáculo e permiti-nos seguir-Vos, passo a passo, nesta incruenta Via Dolorosa, que começa nas sombras do Getsêmani e terminará, unicamente, no derradeiro ocaso da Terra... E ainda que não sejamos dignos, permiti que estes confidentes e consoladores Vossos, participemos do cálice de Vossos opróbrios e agonias... Deixai-nos, oh amável Prisioneiro do altar!, um só e único direito: amar-Vos na ignomínia de Vossa Cruz, nos unir na Hora Santa à Vossa agonia, amar-Vos até à morte e morrer amando com delírio a loucura o Getsêmani incessante de Vosso Coração Sacramentado...

(Peçamos luz e amor para contemplar a Jesus Cristo na misteriosa paixão de Vosso Sacrário)

JESUS

(Pausa)

Vivo, alma querida, envolto no silêncio e mudo, porque estou, aqui onde me vês, perpetuamente encadeado ante os modernos Herodes da terra... Não ouves como se levanta até ao céu seu insolente interrogatório, a Mim, que sou o poder, a verdade e o único Mestre?... calo por teu amor, pensando em ti, a quem redimo com a condenação ignominiosa dos governantes... juízes dos homens, mas não de minha doutrina... Oh!, eles ambicionam autoridade de tirania para descarregá-la em Mim, e Eu sou sua perpétua vítima... Para eles o trono..., para Mim o trono da vergonha...; para eles o cetro de ouro... e Eu sempre com o cetro da zombaria...; para eles cortejo de aplausos e incensadores...; para Mim a corte do desprezo e os carrascos...; para eles diadema e homenagens...; para Mim uma coroa de espinhos..., para Mim o esquecimento, sempre o esquecimento!

E, se alguma vez, recordam a este Rei nas alturas fictícias da terra, somente Meu Nome atrai a tempestade do ódio, a perseguição e a blasfêmia... Aqui me tens, posto em roupas de réu por um mundo que vive de meu alento... Emudeço porque no Sacrário Sou a encarnação da misericórdia e do amor... E esse desacato à Minha soberania, o desconhecimento de Minha realeza nas leis que regem os povos, é o ultraje direto, blasfemos, à Minha pessoa, a Mim, que vivo abatido, sacramentado entre os humanos. Essa injúria é o desafio a este Jesus-Eucaristia, que te fala desde um altar, convertido com frequência no pretório de Pilatos...
Coração do Menino Jesus, cativo do Sacrário

Aqui, alma consoladora, aqui no Tabernáculo, recebo manso as afrontas do escravo e a sentença do vilão...; daqui, deste calabouço, em que vivo perdoando, Me tiram unicamente quando os tribunais da terra decretam Me flagelar, para Me apresentar logo, ensanguentado, às iras populares... Como se sente aliviado Meu Divino Coração com vosso desagravo!... Esse escárnio dos poderosos, o compensa nesta Hora Santa o amor ardente dos meus...; o reparais vós, os ricos humildes e os pobres resignados... Desde aqui, desde o altar, Eu vos bendigo amigos fidelíssimos... Por isso, falai, Meus filhos, exigi milagres de Meu amor, vós, os predestinados de Meu Coração... Falai, sou o Rei das misericórdias infinitas.

(Pausa)

A ALMA

Senhor Jesus, Vossa alma enternecida pela adesão deste rebanho pequenino, nos oferece agora milagres e perdão. Oh!, sobretudo, o mundo dos poderosos, dos governantes e dos ricos, necessita o grande prodígio de Vossa luz, necessita conhecer-Vos, Senhor Sacramentado, conhecer-Vos nessa Hóstia, e aceitar desde aí a imposição de Vossa realeza salvadora. Pela afronta, pois, que padecestes ante o iníquo Herodes, na mansão dos que se chamam magnatas da terra:

(Todos, em voz alta)

Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
No santuário das leis e nos tribunais tão falíveis da justiça humana...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
Na consciência daqueles que influem nos destinos dos povos...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
Nos conselhos de tantos governantes, levantados em oposição a Vosso Calvário...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
Nas sedições populares explodidas em ultraje a Vossa doutrina redentora...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
No jogo de tantos interesses de soberba e de fortuna, dos azarados gozadores da terra...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
No satânico complô, estourado com sigilo, em ruína de Vosso sacerdócio e de Vossa Igreja...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
Na imprudente segurança de tantos bons, na apatia e indolência dos que quiseram adorar-Vos, mas longes do Calvário...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!
Na ambição desenfreada de ganhar alturas e dinheiro, à custa de Vosso sangue e da condenação eterna de tantas almas infelizes...
Cumpri Vossas promessas de vitória, oh Divino Coração!

JESUS

Eu sou a santidade, assim m’O dizeis vós, de joelhos ante esta Hóstia, assim m’O canta o céu, que repete neste templo o clamor da Hora Santa... Sim, Eu sou a santidade, e fui trocado, no entanto, pelo assassino Barrabás... Ah, e ainda sou preterido, muitas vezes, por ódio, por desdém e por esquecimento!...

(Pausa)

Que angústia tão cruel a de meu Coração, vexado nesta afronta! Eis-Me aqui, oculto num Sacrário...; sou Jesus, o Deus da humildade... O mundo vão vive de soberba, e não perdoa que Eu seja nazareno escondido, nascido num estábulo... Vede como passam as almas orgulhosas por diante de meu altar, como vão desoladas, sedentas de ostentações, ambicionando estimação e aplausos... Passam... e Me pospõem a uma honra falsa... Nesta penumbra de meu templo, vivo relegado; desde aqui vou pregando estas palavras; “aprendei de Mim, que sou humilde e pobre”. Ah, sim, sou pobre!, pois entreguei os tesouros da terra para vos abrir a vós a imortalidade do paraíso... Sou pobre, sou mendigo...; por isso vivo desdenhado do grande mundo, que necessita do ouro, e se não o tem, de seu brilho mentiroso... O que valho Eu para ele, entre as palhas de Belém, na obscuridade de Nazaré, nudez e abatimento do Calvário e da Eucaristia? Que amarga decepção!... Me fiz pobre por amor..., e sou um pobre repudiado, posposto à fortuna miserável deste mundo.

(Breve pausa)

Estou chagado... Minhas mãos, que chamam e bendizem, estão atravessadas...; Meus pés, feridos...; Minha frente, destroçada; lívidos, Meus lábios; sem luz, Meus olhos...; ensanguentado o corpo...; aberto, como larga ferida, o peito apaixonado... Ah, como tremem os mortais ao ver a este Deus perpetuamente ensanguentado!... Eles quiseram as delicias de um Éden antecipado no deserto... Quem me pôs assim?... O amor que vos tenho... Assim estou, assim vivo no Sacrário, oferecendo paz e céu, mas entre espinhos e na Cruz... E onde estão os amigos, os crentes, os discípulos?... Onde?... Se foram..., Me deixaram, em busca de prazeres; Me legaram ao lodo da culpa... Barrabás, o vilão, vai triunfando pelo mundo, e atrás dele, os soberbos convencidos, os de costumes levianos; atrás de Barrabás, aclamando-o em sua liberdade e em seu delito, os licenciosos, os corruptores da infância, os que mentem aos povos, os que envenenam pela imprensa... Vitorioso Barrabás, lhe dão vitória todos aqueles que me renegam e maldizem nas leis, os políticos que sobem, cuspindo-Me no rosto sua blasfêmia...

Todos estes vão ufanos, livres; o mundo lhes joga flores...; para eles palmas de vitória... E aqui, em Meu solitário Tabernáculo, Eu, Jesus, atado por amor, abandonado pelos bons, negado pelos débeis, esquecido dos demais..., condenando pelos governantes, flagelado pelas multidões desencadeadas contra Mim... Eu amei aos Meus, sobre todas as coisas do céu e da terra..., e os de Meu próprio lar Me pospuseram ao pó..., ai!, ao lodo dos caminhos... Decidi vós, Meus amigos, se há afronta mais ardente que a Minha!... Considerai e vede se há dor semelhante a esta dor!...

(Pausa)

A ALMA

O discípulo, Jesus divino não há de ser mais que seu Mestre... Vós, que nos deu o exemplo, quereis que, seguindo a Vós, nos neguemos, levando com amor a Cruz que salva... Vo-lo pedimos nesta Hora Santa, com a caridade ardente de Maria Dolorosa, Vo-lo exigimos para Vosso consolo e para a Redenção dos pecadores, com o entusiasmo de Margarida Maria; sim, nos abraçamos à Cruz pelo triunfo de Vosso Coração na Santa Eucaristia... Escutai-nos, Jesus, nesta Hóstia...; vamos oferecer a Vós a prece de Getsêmani, que é a oração de Vosso sacrifício de aniquilamento no altar. Ouvi-nos, benigno e manso.

(Cortado e lento)

Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos a glória de sermos preteridos, por Vosso entristecido Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a dita de sermos confundidos, por Vosso amargado Coração.
Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos a graça de sermos desatendidos, por causa de Vosso misericordioso Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a honra imerecida de sermos zombados, por Vosso angustiado Coração.
Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos a recompensa de sermos desprezados, pela glória de Vosso ferido Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a distinção preciosa de sermos injuriados, pelo triunfo de Vosso Sagrado Coração.
Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos a fruição incomparável de ser algum dia perseguidos, pelo amor de Vosso Divino Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a coroa de sermos caluniados, no apostolado de Vosso Sagrado Coração.
Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos a amável regalia de sermos traídos, em holocausto a Vosso Divino Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a honra de sermos aborrecidos, em união com Vosso agonizante Coração.
Amamo-Vos, Jesus; concedei-nos o privilégio de sermos condenados pelo mundo, por vivermos unidos a Vosso Sagrado Coração.
Amamo-Vos, Jesus; outorgai-nos a amargura deliciosa de sermos esquecidos, pelo amor de Vosso Sagrado Coração.
Oh, sim!... Suplicamo-Vos: dai-nos a parte que de direito nos corresponde nos vilipêndios e agonias de Vosso Coração Sacramentado... Consolai-Vos, Mestre... cada um destes, pondo em Vosso Lado aberto uma palavra de humildade e confidência, Vos protesta, que Vós sois a única fortuna e seu único paraíso...

(Breve pausa)

Que tenho eu, oh, Divino Coração!, que Vós não me haveis dado?
Que sei eu, que Vós não me haveis ensinado?
Que valho eu, se não estou a Vosso lado?
Que mereço eu, se a Vós não estou unido?
Perdoai-me os erros que contra Vós cometi.
Pois me criastes sem que o merecesse.
E me redimistes sem que Vo-lo pedisse.
Muito fizestes em me criar.
Muito em me redimir.
E não sereis menos poderoso em me perdoar...
Pois o muito sangue que derramastes,
E a acerba morte que padecestes,
Não foi pelos anjos que Vos louvam,
Senão por mim e demais pecadores que Vos ofendem...
Se Vos neguei, deixai-me reconhecer-Vos,
Se Vos injuriei, deixai-me louvar-Vos,
Se Vos ofendi, deixai-me servir-Vos,
Porque é mais morte que vida a que não está empregada em Vosso santo serviço.

(Pausa)

JESUS

Posto que vós que estais aqui comigo sois meus íntimos, deixai que em vós desafogue Meu Coração, tão amargurado...; ouvi-Me. Há nEle uma pena funda, uma ferida que chega até à divisão de Minha alma. Israel, o povo de Meus amores, Israel pediu a sentença, exigiu Minha morte e levantou a Cruz... Israel, por quem Eu flagelei o Egito, Me flagelou... Despedacei suas cadeias e as pus nas mãos de seu Salvador...; lhe dei maná no deserto e me teceu uma coroa de espinhos...; tirei a água milagrosa da rocha, para aplacar sua sede, e insultou a febre abrasadora de Minha agonia... Baixei do céu, e na arca misteriosas quis morar com eles nos deserto... Quantas vezes os tive protegidos sob Minhas asas!... E vede-Me, ferido de morte por Israel...

Por que Meu povo ainda segue Me despojando de Minha soberania?... Por que ainda segue tirando a sorte sobre Minhas vestes e atirando ao vento do desprezo Meu Evangelho de caridade e de consolo? Como se agitam as multidões rugindo contra Minha lei!... Como povos inteiros, seduzido pela soberba, romperam a unidade sacrossanta de Minha doutrina, túnica inconsútil de Minha Igreja!... Meu Coração soluça dentro de Meu peito desgarrado, ao ouvir como no átrio de Pilatos, o clamor de tantas raças, de tantas sociedades, que, apontando a Mim neste pobre altar, exclamam: “Não queremos, não, que esse Nazareno reine sobre nosso povo!”. Eu te perdoo, oh, Israel!

(Breve pausa)

Meu Vigário é perpetuamente vítima dessa multidão enlouquecida...; ele é Meu rosto terreno..., nele sigo sendo esbofeteado pelos insultador de Minha Igreja... Esse agravo me é particularmente doloroso; ai daquele que põe a mão no Pontífice, o ungido de Meu Pai!... Detende seu braço justiceiro..., interponde esta Hora Santa, em união com Meu ultrajado Coração, pois quero fazer piedade... Sim, pela apostasia cruel de tantos povos, pela apostasia pública em tantas sociedades, pela descarada afronta a Meu Vigário, pelo ódio aberto e legalizado a Meu sacerdócio, pela iníqua tolerância e os favores de que gozam todos os modernos sinedristas, por todo esse acúmulo de pecados, por essa plebe e essa corte que Me ferem... com uma só voz e uma só alma, pedi piedade a Meu Coração, pedi-Lhe misericórdia...

AS ALMAS

Prisioneiro de amor, Jesus Sacramentado, passe nossas orações as grades de Vosso cárcere, como um incenso de adoração e desagravo, que Vos oferecemos pelas mãos de Maria Imaculada...

Ladainha

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.

Deus, Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sóis um só Deus,

Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno,
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe,
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus,
Coração de Jesus, de majestade infinita,
Coração de Jesus, templo santo de Deus,
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo,
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu,
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade,
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e de amor,
Coração de Jesus, cheio de amor e bondade,
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes,
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor,
Coração de Jesus, Rei e centro de todos os corações,
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência,
Coração de Jesus no qual habita toda a plenitude da divindade,
Coração de Jesus, no qual o Pai põe as suas complacências,
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos,
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas,
Coração de Jesus, paciente e misericordioso,
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam,
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade,
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados,
Coração de Jesus, saturado de opróbrios,
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes,
Coração de Jesus, feito obediente até a morte,
Coração de Jesus, atravessado pela lança,
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação,
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição,
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação,
Coração de Jesus, vítima dos pecadores,
Coração de Jesus, salvação dos que esperam em Vós,
Coração de Jesus, esperança dos que expiram em Vós,
Coração de Jesus, delícia de todos os santos,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

V. Jesus, manso e humilde de coração,
R. Fazei nosso coração semelhante ao Vosso.

Oração
Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração de Vosso Filho diletíssimo e para os louvores e as satisfações que Ele, em nome dos pecadores Vos tributa; e aos que imploram a Vossa misericórdia concedei benigno o perdão em nome do Vosso mesmo Filho Jesus Cristo, que conVosco vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Pausa)

JESUS

Tudo, em meu amor pelos humanos, está consumado já pela Santa Eucaristia, tudo. Oh! mas a ingratidão humana consumou também Comigo, neste maravilhoso Sacramento, a obra dar dor suprema... Meus filhos, onde estáveis vós quando no Calvário se Me envolveu no silêncio de uma solidão, mais cruel que a de Minha tumba?... Amigos de Meu Coração, que era de vós quando Meus olhos, nublados pelo pranto derradeiro da agonia, não contemplavam senão semblantes iracundos de verdugos?... Onde estáveis?... E quando, pensando em vós, os predestinados, tive sede de que consolassem Minha alma, infinitamente angustiada, por que então, se umedeceram Meus lábios, abrasado com fel de ausência... de esquecimento... de covardia..., de tibieza daqueles mesmo que foram os regalados do banquete de Meu lar?... Bem o sabeis: essa não é, por desgraça, uma história de séculos atrás; contemplai-Me nesta Hóstia, e decidi se a ingratidão não é pão amargo e cotidiano deste Deus feito Pão pelos mortais... Quanto e em que vos contristei cárcere voluntário, para que seleis suas portas com o abandono em que se deixa um sepulcro destruído e vazio?

Oh!, vinde, rodeai-Me, estreitai-vos a Meus pés; quero sentir-vos perto, muito perto, na mística agonia de Meu Coração Sacramentado... Hora ansiada, Hora venturosa, a Hora Santa, na qual este Deus recobra Sua herança, o preço do Seu sangue!... Eu vos bendigo, porque tive fome e, deixando o repouso, viestes partir-Me o pão da caridade...; vos considero Meus porque tive sede e Me destes compaixão e lágrimas; vos abraço sobre
Meu peito lastimado, porque estive tristíssimo na solidão desta prisão e viestes fazer-Me deliciosa companhia. Em verdade, em verdade, vos digo que vossos nomes estão escritos para sempre com letras de fogo e sangue no mais recôndito de Meu Coração enamorado... Descansai sobre Ele, como eu descanso agora entre vós, os filhinhos preferidos de Meu amor.

(Pausa)

A ALMA

Viemos, não para descansar, Mestre, senão para sofrer conVosco, para compartilhar Vosso cálice e para reparar pedindo o reinado de Vosso Divino Coração... Por isso não nos retiramos de Vosso lado, levando-Vos na alma, sem Vos haver confiado antes um anelo ardoroso, o único anelo de Vossos consoladores e amigos... e é dizer-Vos que venhais, que aproximei-Vos triunfador por Vosso Sagrado Coração..., que Vos reveles a estes Vossos apóstolos humildes, porque sentem ardores inefáveis, que só Vossa posse e Vosso reinado podem mitigar. Acedei, pois, Jesus amabilíssimo, e nas naturais aflições e sombras da vida:

(Todos, em voz alta)

Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nos afetos caducos e enganosos da terra...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas desilusões da amizade terrena, nas fraquezas do amor humano...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas seduções brilhantes da vaidade, nos obstáculos incessantes do caminho...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas castas e legítimas alegrias dos lares que Vos adoram...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas veleidades da adulação e da fortuna sedutora...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas horas de paz da consciência, nos momentos de um arrependimento saudável...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas tribulações dos nossos, ao ver sofrer os que amamos...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nos desfalecimentos do amor terreno, ao sentir a fadiga do desterro...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
Nas contradições incessantes, nos dias de incerteza ou de quebranto amargo...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.
No momento da tentação e na hora da suprema despedida da terra e da Hóstia Santa...
Vinde!... sentimos sede de Vosso adorável Coração.

(Pausa)


AS ALMAS

Ao ver-Vos de perto e tão benigno, longe de exclamar como Vosso apóstolo: “Apartai-Vos, Senhor; afastai-Vos, porque somos miseráveis pecadores...” queremos, pelo contrário, lançar-nos a Vosso encontro, encurtar as distâncias e estreitar a ditosa intimidade entre Vosso Coração e os nossos...

(Lento e cortado)

Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor, quando os soberbos governantes da terra maldisserem de Vossa lei e de Vosso nome... lembrai-Vos que somos Vossos..., que estamos consagrados à glória de Vosso Divino Coração... Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor quando as multidões, agrupadas por Lúcifer e os sectários seus sequazes, assaltem Vosso santuário, e reclamem Vosso sangue... lembrai-Vos que somos Vossos, que estamos consagrados à glória de Vosso Divino Coração...

Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor...; quando gemerdes pelo vitupérios e pelas cadeias com que ultrajam a Vossa Igreja santa, os poderosos e aquele falsos sábios, cujo orgulho condenastes com dulcíssima firmeza..., lembrai-Vos que somos Vossos..., que estamos consagrados à glória de Vosso Divino Coração...

Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor, quando milhares de cristãos fizerem pouco caso de Vossa pessoa adorável..., e Vos lastimem cruelmente com uma tranquila renúncia, que é um punhal de frieza cravado em Vosso peito sacrossanto...., lembrai-Vos que somos Vossos..., que estamos consagrados à glória de Vosso Divino Coração...

Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor; quando tantos bons e virtuosos Vos meçam com avareza vosso carinho, Vos deem com mesquinhez aborrecível sua confiança... e Vos neguem consolo em sacrifício e santidade... lembrai-Vos que somos Vossos..., que estamos consagrados à glória de Vosso Divino Coração...

Vinde, Jesus, vinde descansar em nosso amor; quando Vos oprime a deslealdade, quando Vos amargue a tibieza das almas predestinadas, que, por vocação, deveriam ser inteiramente Vossas, sendo santas..., então como nunca, nessa hora de desolação ímpar, lembrai-Vos que somos Vossos..., restitua aqui os olhos entristecidos, suplicantes..., não esqueçais que estes filhos estão consagrados para sempre à glória de Vosso Divino Coração...

(Pai-Nosso e Ave-Maria) pelas intenções particulares dos presentes.
(Pai-Nosso e Ave-Maria) pelos agonizantes e pecadores.
(Pai-Nosso e Ave-Maria pedindo o reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, à Hora Santa, e a Cruzada da Entronização do Rei Divino em lares, sociedades e nações).

(Cinco vezes)
Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

(Lento)

Vós sois, Jesus, o Deus oculto... Escondei-Vos em minha alma, e convertido eu numa Hóstia, noutra Eucaristia humilde, vamo-nos, Senhor, vamo-nos eternamente unidos, como na Comunhão, como na Hora Santa... Vós em meu pobrezinho coração..., e eu perdido para sempre no abismo de dor, de luz do céu, de Vosso Sagrado Coração: venha a nós o Vosso Reino!

FÓRMULA DE CONSAGRAÇÃO INDIVIDUAL AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, COMPOSTA POR SANTA MARGARIDA MARIA

Eu N. Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto de meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte.

Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém.




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FONTE: blog Sendarium