FESTA
DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
O
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Quem
nunca ouviu contar, alguma vez, a história daquele irmão leigo que,
entrando na religião para servir a Deus, mas não podendo fazê-lo
como os outros monges, tinha uma vida interior sumamente
simplificada?
Durante
o seu trabalho, não sendo capaz de ter pensamentos elevados sobre
Deus, limitava-se a dizer repetidamente: “Creio em Deus, espero
em Deus, amo a Deus”. Quando ele se retirava para a igreja, não
sabia como meditar como os outros religiosos, e por essa razão
continuava recitando sua jaculatória favorita: “Creio em Deus,
espero em Deus, amo a Deus”. Depois de algum tempo, aquele
irmão, que em nada brilhara de especial durante sua vida, morreu e
foi enterrado no cemitério da comunidade. E qual não foi a surpresa
dos religiosos quando se deram conta de que, em cima do túmulo do
humilde leigo, brotara uma flor de extrema beleza. Uma vez crescida a
flor, perceberam que tinha três pétalas, e em cada uma das pétalas
estava escrito com letra de ouro um dos três lemas do humilde irmão:
“Creio em Deus, espero em Deus, amo a Deus”. Admirado pelo
prodígio, o superior ordenou que cavassem para ver de onde brotava a
flor; e então se pode ver que a flor estava enraizada no coração
do humilde irmão leigo.
Algo
semelhante acontece com o Sagrado Coração de Jesus. A história
testemunha a repentina aparição de belíssimas flores: • de
Apóstolos
que pregaram o nome de Jesus até os confins da terra; • de Virgens
que lhe consagraram toda sua vida, e de Mártires
que não hesitaram em sacrificá-la por ele; • de Doutores
que ensinaram aos povos as verdades divinas; • e de um sem
número de almas que, amando e
confessando a Cristo, começaram a viver cristãmente. E essas flores
começaram a crescer de tal forma que toda a sociedade se viu
transformada e, acabou por aceitar as leis do divino Crucificado.
Pois bem, se nós, por uma santa curiosidade, quiséssemos descobrir
onde se encontram as raízes dessas flores, veríamos que estão no
Sagrado Coração de Jesus.
1º
Coração de Jesus fonte da religião católica.
Toda
a religião católica tem sua razão de ser e sua origem no Coração
de Jesus, isto é, no infinito amor que esse Coração tem por Deus e
no infinito amor que esse Coração tem por nós.
1º
O amor que o Coração de Jesus tem por Deus: já que o Verbo
encarnou antes de tudo para reparar a ofensa que o pecado havia feito
a seu Pai, e para tributar-lhe a glória que toda a criação lhe
deve; e esta glória lhe é dada aos impulsos de um amor infinito,
ainda que seja um amor que assume a forma humana e, por isso, tem a
sua sede num coração humano, de carne, o Coração de Jesus.
2º
O amor que o Coração de Jesus tem por nós: pois o Verbo
também encarnou para nos dar vida e vida abundante; e esta vida nos
dá também impulsos de seu amor, do amor que reside em seu sagrado
peito, desse amor que nunca deixou de arder por nós, e fez o Coração
que assim o contém sucessivamente misericordioso, paciente, generoso
em dons, compassivo, amante até o extremo, perdoador de faltas e de
inimigos.
Esse
Sagrado Coração, esse amor divino em sua manifestação humana, é
realmente o resumo de Deus encarnado, de Deus que, sendo caridade,
fez-se homem por nós.
E
para que assim o entendamos, a Igreja quis escolher como evangelho na
festa do Sagrado Coração o episódio da perfuração pela lança
que Jesus recebe na cruz depois de morto, chaga que lhe abriu o
coração e de onde manou sangue e água. Todos os Padres da Igreja
veem neste acontecimento um sentido típico de altíssima
importância: o nascimento da Igreja a partir do Lado ou do Coração
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com
efeito, a Sagrada Escritura nos conta como, para criar a mulher, Deus
mergulhou o primeiro homem em um profundo sono, um sono em que Adão
percebia o que Deus estava fazendo com ele; e já dormindo, o Senhor
tirou carne e osso do seu lado, e com isso formou o corpo da mulher,
que depois apresentou a Adão para ser uma ajuda totalmente
semelhante a ele. Do mesmo modo, dizem os Santos Padres, a Igreja,
que devia ser a nova Eva, devia ser formada como a primeira a partir
do novo Adão, que é Cristo; e o momento de ser formada foi o
momento em que Nosso Senhor Jesus Cristo, já adormecido na Cruz,
recebeu a lança que lhe abriu o lado e o Coração, e do qual
verteram sangue e água, isto é, os dois sacramentos pelos quais
somos incorporados em Nosso Senhor Jesus Cristo: a água, figura de
batismo e o sangue, figura da Eucaristia.
Desta
maneira, toda a Igreja tem suas raízes e sua origem no Coração de
Jesus: toda ela é fruto do imenso amor de Nosso Senhor, e toda ela
foi formada e continuará a ser com as graças e os sacramentos que
brotam do Sagrado Coração de Jesus.
2º
A devoção ao Coração de Jesus supõe imitação e reparação.
Assim,
pois, a Igreja quer que, nesta festa e solenidade do Sagrado Coração,
contemplemos o infinito amor do qual nós próprios somos frutos. Mas
também quer nos incentivar a duas coisas: a imitação e a
reparação.
1º
A imitação. Sendo todos nós os filhos do amor que arde no
Coração de Jesus, devemos imitá-lo nesse mesmo amor: “Amai-vos
uns aos outros… Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos,
se vos amardes uns aos outros”.
Como
a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo é esclarecida se for
considerada, nos próprios Evangelhos, sob a luz e a ótica do
Sagrado Coração!
O
próprio Nosso Senhor se propõe como modelo de todas as
virtudes: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim
façais também vós”. Pois bem, para aprender a fazer como Jesus
fez, não há melhor maneira do que entrar e permanecer em seu
Sagrado Coração, segundo aquelas outras palavras: “Aprendei
de mim, pois sou manso e humilde de coração”.
Na
Última Ceia, exorta seus apóstolos a permanecer Nele, e Ele neles:
“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”. Estas palavras
são um claro apelo a uma perfeita intimidade com Ele,
ou, como diria São Paulo, a uma total identificação e compreensão
de sentimentos: “Tende em vossos corações os mesmos
sentimentos que Jesus Cristo tinha no seu”.
2º
A reparação. Assim nos pedia o mesmo Coração de Jesus ao
aparecer a Santa Margarida Maria:
“Eis
o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se
esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como
reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões,
pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo
que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais
sensível é que há corações consagrados que agem assim”.
O
amor infinito que arde no Coração de Jesus não é correspondido
pela maior parte dos homens. Nós, como fiéis amantes do Sagrado
Coração de Jesus, teríamos que nos sentir consternados ao ver Deus
tão ofendido e ultrajado, sua graça pisoteada, suas leis
transgredidas, seus dons desprezados; do mesmo modo, ver tantas almas
a caminho da sua condenação eterna.
E
por essa razão, a devoção ao Sagrado Coração nos é apresentada
como um meio de oferecer ao amor de nosso Senhor um digno desagravo
por tanta ingratidão, esquecimento e desprezo.
Conclusão
Nesta
festa do Sagrado Coração de Jesus, e durante todo o mês de junho,
que lhe é especialmente consagrado, peçamos a Nosso Senhor que nos
comunique uma ardente devoção ao seu Sacratíssimo Coração; uma
devoção tal que, inundando-nos cada vez mais de seu santíssimo
amor, estimule-nos a uma perfeita imitação de suas virtudes,
especialmente aquelas que mais nos tornam parecidos com o Sagrado
Coração, e nos faça sentir a necessidade da reparação, pelo
oferecimento de tudo o que há de penoso em nosso dever de estado, e
pela prática de penitências voluntárias.
E
para nos encorajarmos a adquirir esta devoção, não há nada mais
oportuno do que recordar as excelentes promessas que o Sagrado
Coração fez a Santa Margarida Maria para aqueles que lhe sejam
devotos:
1º
Reinarei apesar de meus inimigos e daqueles que a ele se opõem.
2º
Darei aos meus devotos todas as graças necessárias ao seu estado.
3º
Estabelecerei a paz em suas famílias.
4º
Eu os aliviarei em suas fadigas.
5
Abençoarei todos os seus empreendimentos.
6º
Eu os consolarei em suas tristezas.
7º
Serei seu refúgio durante a vida e sobretudo na hora da morte.
8º
Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte e o infinito
oceano da minha misericórdia.
9º
As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.
10º
As almas fervorosas elevar-se-ão a grande perfeição.
11º
Abençoarei as casas nas quais minha imagem seja exposta e honrada.
12º
Não deixarei morrer eternamente nenhum devoto que se tenha
consagrado ao meu divino Coração.
13º
Derramarei a unção da minha caridade nas Comunidades religiosas que
se colocam sob minha especial proteção, e serei sua salvaguarda em
suas quedas.
14º
Aqueles que trabalham na salvação das almas o farão com êxito, e
conhecerão a arte de mover os pecadores mais endurecidos, se tiverem
uma terna devoção ao meu Coração divino e trabalham para
inspirá-la e estabelecê-la em todos os lugares.
15º
As pessoas que propagarem esta devoção receberão grandes
recompensas, e terão seu nome escrito em meu Coração, de onde
jamais será apagado.
16º
Prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que meu amor
todo-poderoso concederá a todos aqueles que comunguem seguidamente,
por nove primeiras sextas-feiras de mês, a graça da perseverança
final; não morrerão em minha desgraça nem sem receber os
Sacramentos, e meu Coração será seu refúgio seguro naquela hora.
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“É
uma desgraça do nosso século
ter
tão bem os direitos aprendidos,
e
tão esquecidos os próprios deveres”.
(São
Francisco de Sales)
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Hojitas de Fe, 94. | Seminário Nossa Senhora Corredentora
FSSPX. Tradução: Dominus Est
FONTE:
in Dominus Est - Fiéis Católicos de Ribeirão Preto - Alguns
destaques acrescidos.