PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE MARÇO, DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
O
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS É O MODELO AO QUAL DEVE AJUSTAR-SE O
NOSSO CORAÇÃO*
No
adorável Coração de Jesus há um profundo sentimento de desprezo e
ódio à corrupção, às vaidades e loucuras do mundo. Detesta tanto
o mundo, em outras palavras, aos homens que se unem a Satanás contra
Deus, que lhe maldiz formalmente: “Ai do mundo por causa dos
escândalos”.
É
uma verdade indubitável que o Rei da glória, Jesus Cristo, nos ama
tão misericordiosamente, que cada um de nós pode dizer com toda
segurança: “O Coração do meu Jesus é meu; eu possuo o
Coração do meu Salvador”.
Sim,
esse vivo tesouro de amor é meu. Meu, porque seu Pai eterno deu-o a
mim; meu, porque a Santíssima Virgem, sua Mãe, deu-o a mim; meu,
porque o Espírito deu-o a mim e me une inteiramente a ele no
inefável mistério da graça; meu, enfim, porque o próprio Salvador
deu-o a mim mil e mil vezes.
Deu-o
a mim, não só para que seja meu refúgio e meu oráculo, mas também
o modelo e a regra de minha vida e de minhas ações. Este modelo
santíssimo quero contemplar e estudar continuamente para imitá-lo
com fidelidade.
Bem,
o que encontro no adorável Coração de Jesus? É de suma
importância que eu o saiba claramente para que possa amar o que ele
ama e detestar o que ele detesta. Acerca disto, eis o que me ensinam
o Evangelho, a Igreja e os Santos.
O
Coração de Jesus nunca aborreceu nem rejeitou senão o mal, ou
seja, o pecado em todas as suas formas. Teve o menor ódio aos seus
perseguidores e verdugos? De modo algum; ao contrário, perdoou-lhes
ante seu Pai celestial no momento mesmo de seu horrível deicídio:
“Pai, perdoai-os, pois não sabem o que fazem”.[1]
Esta é a regra que devo seguir de agora em diante, oh, meu bom
Mestre. Como Vós e convosco não quero aborrecer senão o pecado;
por amor vosso amarei aos que me aborrecem, perdoá-los-ei de todo o
meu coração, e lhes devolverei sempre o bem pelo mal.
O
Coração de Jesus detestou com toda a energia de sua divina
santidade os fariseus, os hipócritas, os inimigos da verdade e os
sedutores das almas. Com ele e como ele detestarei os ímpios e os
blasfemos, os inimigos da fé, da Igreja e da Santa Sé; amarei suas
almas, e rogarei por sua conversão; mas enquanto permanecerem em sua
maldade “odiá-los-ei com ódio perfeito”;[2]
detestá-los-ei e combaterei como Jesus Cristo os combate e os
detesta. Não é, com efeito, tão vivo no Coração de Jesus o santo
horror ao mal e aos que o fazem como o santo amor ao bem e aos que o
praticam? Obrar de outro modo não seria caridade, senão debilidade,
covarde complacência.
Sendo
o divino Coração meu modelo, devo, segundo o preceito de São
Paulo, “ter em meu coração todos os sentimentos que
plenificaram o de Jesus”.[3] Sem isto não
teria o seu Espírito, nem seria d’Ele.[4]
Quais
são estes sentimentos?
São,
em
primeiro lugar, os sentimentos de inefável amor que tem
Jesus a seu Pai e à santíssima vontade de seu Pai. Tem tanto amor a
esta divina vontade, que nunca, durante sua vida, fez sua própria
vontade, mesmo sendo impecável, senão única e amorosamente a
vontade de seu Pai celestial. “Eu faço sempre, dizia, o que
agrada a meu Pai; e minha comida é fazer a vontade d’Aquele que me
enviou”.[5]
É,
em segundo lugar, o
sentimento de horror e abominação, de que acabamos de falar,
relativamente ao pecado, e que o fez preferir toda sorte de
humilhações e sofrimentos antes que deixá-lo reinar no mundo.
Combatido a todo transe por Jesus Cristo e seus fiéis, ainda quando
o pecado triunfe momentaneamente, de antemão está vencido,
aproxima-se o dia em que será completamente extirpado da face da
terra. A exemplo de Nosso Senhor e com o socorro de sua graça, de
agora em diante sofrerei tudo antes que cometer voluntariamente um só
pecado, nem mesmo venial.
Em
terceiro lugar, são os sofrimentos de amor que têm à cruz e
aos sofrimentos. Seu Sagrado Coração foi, por assim dizer, mais
crucificado ainda, que sua carne: o Coração de Jesus crucificado é
o mais profundo das profundezas da cruz. Ademais, Jesus ama tanto os
sofrimentos, que o Espírito, falando do dia de sua Paixão,
denominava-o “o dia da alegria do Coração de Jesus”.[6]
Não ama os sofrimentos e as humilhações em si mesmas, pois são um
mal; senão que as ama, busca-as e as suporta com alegria por causa
dos efeitos divinos que produzem. Assim quero, meu Jesus, amar a cruz
por vosso amor.
São
ademais os sentimentos de amor que tem à sua amadíssima Mãe, a
qual ama, como tenho dito, mais do que a todos os Anjos e Santos
juntos.
São
também os sentimentos de caridade, de bondade e de compaixão que
tem para conosco, e de uma maneira muito especial para com os
pequenos e humildes, as crianças, os desgraçados, os pobres e os
aflitos.
Por
último, o que a fé me descobre no adorável Coração de Jesus, é
um profundo sentimento de desprezo e ódio à corrupção, às
vaidades e loucuras do mundo. Detesta tanto o mundo, em outras
palavras, aos homens que se unem a Satanás contra Deus, que lhe
maldiz formalmente: “Ai do mundo por causa dos escândalos”.[7]
Declara que o mundo é para Ele, como um excomungado! “Não rogo
pelo mundo”.[8] Disse aos seus Discípulos
que “não sou do mundo, assim como Ele tampouco é do mundo”.[9]
E isto é muito natural. Que é, com efeito, o mundo senão um
composto satânico de orgulho e de vaidade, de concupiscência e de
curiosidade, de impureza e de sensualismo?[10]
Tais
são os sentimentos de que está pleno o Coração de Jesus;
sentimentos que Ele quer e que devo querer também que inundem meu
coração. Meu Deus, meu Deus! Concedei-me a graça de compreender
bem estas regras de verdade e de santidade em que se resume a vossa
lei; fazei que as medite sem cessar e que as pratique sempre. Oh,
Salvador meu! Vosso Coração é a minha regra por excelência; e
quanto mais eu me conformar a ela, mais repousarão em mim a paz e a
misericórdia de Deus.[11]
Notas
[1]
Pater, dimitte illis, non enim sciunt quid faciunt. (Luc, XXIII, 34.)
[2]
Odio perfecto oderam illos. (Psalm. CXXXVIII, 22.)
[3]
Hoc sentite in vobis quod et in Christo Jesu. (Philip. II, 5.)
[4]
Si quis Spiritum Chiristi non liabet, hic non est ejus. (Rom. VIII,
9.)
[5]
Quae placita sunt ei, facio semper………..Meus cibus est ut faciam
voluntatem ejus qui misit me. (Joan. VIII, 29; IV, 34.)
[6]
In die letitiae cordis ejus. (Cant. III, 11.)
[7]
Vae mundo a scandalis! {Matth. XVIII, 7.)
[8]
Non pro mundo rogo. (Joan. XVII, 9.)
[9]
De mundo non sunt, sicut et ego non sum de mundo. (Ibid. XVI.)
[10]
Omne quod est in mundo, concupiscentia carnis est, et concupiscentia
oculorum, et superbia vitas. (I Joan. II, 16.)
[11]
Quicumque hanc regulam secuti fuerint, pax super illos, et
misericordia, et super Israel Dei. ( Galat. YI, 16.)
(*)
Monsenhor de Ségur. El Sagrado Corazon de Jesus. pp. 150-155. Casa
Editorial de Manuel Galindo y Bezares. 1888. Tradução: Sensus
Fidei.
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(Fonte:
blog O Segredo do Rosário –
Destaques acrescidos)
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